O Passado Nos Condena escrita por Fernanda Melo


Capítulo 6
Talvez Eu Te Daria Meu Mundo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/368465/chapter/6

Havia enfim chegado a tão esperada sexta feira. Alguns felizes por ser o ultimo dia de expediente de trabalho e outro nem tanto, até porque não faria muita diferença. As duas irmãs na casa dos Cullen haviam acordado cedo. Alice foi se arrumar para o trabalho e Riley, sentindo-se encorajada decidia o modo certo de pedir desculpas ao amigo.

                Por mais que ela achasse que Ben estivesse errado e que ela não havia dito nada de mais, não queria perder aquela amizade. Eles se conheciam desde muito pequenos e aquela amizade não deveria acabar assim por um motivo que nem ao menos ela entendia bem.

                Hoje teria aula de educação física, pegou o uniforme para atividades físicas e colocou organizadamente dentro da mochila em meio aos seu caderno. Arrumou-se de uma maneira encantadora, com o cabelo esvoaçante, prendendo somente pequenas mechas em um singelo grampo, mantendo sempre um prendedor de cabelo no pulso caso precisasse.

                Após todos tomarem café cada um tomou seu rumo, Alice foi para o trabalho, Emmett foi organizar as coisas em sua casa e Carlisle deixaria Riley no colégio. Ele notara a presença de muito bom humor em sua garotinha e mesmo sem saber o porquê sentiu-se feliz por ela, mas algo estava errado consigo uma sensação ruim em seu peito e como pai tratou de pensar, achou que aquele singelo sorriso no rosto de Riley fosse talvez momentâneo, que no fundo sabia que sua garotinha não estava tão bem assim como aparentava.

                - Estude direitinho...

                - Pai, não tenho mais dez anos.

                - Pra mim sempre terá, agora me dê um beijo.

                A menina olhou seriamente para o pai, mas em seguida não agüentou e o beijou na bochecha de bom grado.

                - Não sei se terei tempo para lhe buscar, ligue para sua mãe caso eu já não esteja aqui.

                - Tudo bem, tchau.

                Ambos se despediram ao mesmo tempo, Riley saiu do carro e foi em direção ao colégio, estava um pouco atrasada e assim que entrou na sala o sinal tocou dando tempo apenas para uma estranha troca de olhares com Ben, que lhe causou arrepios.

                Mais tarde tentara se aproximar dele mais algumas vezes, mas sempre tinha uma barreira chamada Molly em seu caminho, não queria conversar com ele com aquela mesquinha ao lado.

                Tentou então no horário de intervalo, viu a oportunidade perfeita quando Ben estava escolhendo algumas frutas para comer.

                - Ben...

                - Porque você não me deixa em paz?

                - Calma eu apenas queria te pedir...

                - Desculpas? Não faz mais do que sua obrigação, afinal não fui eu quem magoou um amigo.

                Ela permaneceu quieta por alguns segundos, com a boca aberta em um formato de ‘o’ perfeito, estava mais do que surpreendida, e se perguntava desde que dia Ben havia se transformado naquele menino tão ignorante.

                - Eu sinto muito por ter feito aquilo, sei que você estava de cabeça quente por causa de seu pai.

                - Seu pai deve ter lhe contado isso não é? Olha não precisa ficar com peninha de mim não, está bem? Eu me viro, sempre consegui seguir em frente sem você, não será agora que vou precisar de você.

                - Ben...

                - Olha me deixa em paz garota, você já explorou de mim demais você não acha?

                Ele desvencilhou o braço quando ela tentou encostar-se a ele, alterou um pouco o tom de voz, fazendo com que todos ali presentes sentados naquelas mesas olhassem para eles. E a presença de uma nova pessoa ali não passaria despercebida.

                - Ben vamos sair daqui, acho que o ambiente está poluído demais aqui.

                - Apenas me deixe em paz, finalmente estou conhecendo outras pessoas, o que antes você não me permitia fazer.

                - Eu não era sua dona Ben... Nunca fui você que criou esta historia e... – Ela parou por um instante, Molly estava logo a sua frente com um sorriso vitorioso no rosto que enfurecia Riley, seria ela... – Você ainda não consegue enxergar quem é a culpada disso tudo não é mesmo?

                - Poxa Riley, deixe de ser psicótica... – Ele colocou as mãos na cabeça como se estivesse nervoso demais. – Sempre é a Molly a culpada de tudo, será que ela não é uma desculpa de sua mente para as coisas que você mesmo faz?

                Ele dizia alto demais para ela, gritava, estava diferente de um jeito que jamais pensara em presenciá-lo.

                - Você parece uma velha louca. Louca, você entendeu? – Ele apontava para a própria cabeça enquanto aproximava seu rosto do dela e gritava. Ele a estava humilhando, estava fazendo-a servir-se de piada pelo resto dos dias.

                Não percebera o seu erro muito menos quando viu os olhos dela enchendo-se de lágrimas que não demoraram muito para descerem. Não tendo mais força alguma para continuar ali correu até a saída, ao vê-la passando no outro lado do vidro sentiu uma fisgada dolorida em seu coração, sabia que o que havia feito não era certo, mas não voltaria atrás, algo que aprendera de errado com Molly e seu grupinho de pessoas populares era que nunca deveria passar por cima de seu orgulho.

                No lado de fora Riley ainda chorando desesperadamente sentou-se na grama e cobriu seu rosto com sua blusa. Não conseguia encaixar em sua mente que Ben, seu amigo de infância havia se tornado em um menino tão mesquinho daquela forma, não sabia se sentia pena dele ou raiva de tê-la humilhado em frente ao colégio inteiro e pensando de cabeça quente e com precipitação optou por fazer a primeira coisa que sua mente lhe dizia para fazer.

                “Vingue-se, use a arma que mais irá feri-lo” – Era isso que se ouvia nos pensamentos de Riley e querendo ou não ela faria aquilo que sua mente ordenava.

                Caminhou a passos firmes até o banheiro feminino observando que todos estavam na sala de aula, trocou seu uniforme para o de ginástica, estava na aula de educação física. Achou que estava delicadinha demais, muito meiga e com carinha de gentil. Deu um nó em sua blusa que deixava a mostra uma pequena parte de sua barriga, tirou os grampos do cabelo e os jogou fora jogou o cabelo de lado e ajeitando o short caminhou até a quadra que era logo ali perto.

                Quando chegou lá olhou para todos que lhe observava que faziam questão de rir e até cochichar sobre o assunto anterior, os únicos que não fazia nada ali eram Molly, Josh e Ben. Molly e Ben deveriam estar surpresos por vê-la ali tão cedo e ele principalmente por ver sua amiga tão inocente e com mente infantil vestida daquele jeito. Josh por sua vez observava a beleza do corpo de Riley com um sorrisinho lateral disfarçado.

                Para dizer a verdade o time de futebol de Josh todo a olhavam, a comiam com os olhos se assim bem dizer. Meninos do terceiro e primeiro ano do ensino médio, ali presentes para o treino do campeonato, que tiveram suas atenções focadas em uma pequena distração.

                Ela ignorou todos ali presentes focando somente em uma pessoa, apenas em um menino. Caminhou com passos leves, flutuava como uma modelo na passarela e aproveitando a ausência da professora foi aproximando-se cada vez mais dele. Seus cabelos esvoaçavam como nunca e ela fez questão de jogá-los para trás quando passou perto de Molly atingindo o rosto da mesma. Ben apenas olhava boquiaberto enquanto via Riley indo embora em direção ao Josh e sua expressão de surpresa ficou ainda pior quando viu a cena que nunca pensou que presenciaria.

                Riley puxara Josh para um beijo no qual jamais sonhara que lhe daria um dia, o garoto que não era bobo e nem nada do gênero passou a mão pela cintura da menina e continuou beijando-a até quando perderam o fôlego, ela sorriu para ele enquanto o mesmo tinha um sorriso de vitória bem expresso em seu rosto.

                Algumas pessoas ali estavam surpresas demais para dizerem qualquer coisa, outras começavam a cochichar novamente sobre o fato ocorrido e se teria mesmo haver com o que aconteceu alguns minutos atrás. Riley deu as costas para Josh e com um sorriso satisfatório olhou para Ben e sentiu uma gargalhada fluir dentro de si.

                Enquanto voltava para a mesma direção o ele estava passou devagar ao lado dele como quem que não quisesse exatamente nada, mas foi puxada pelo braço por Ben que estava com uma cara de poucos amigos.

                - O que você pensa que está fazendo?

                - Eu? Apenas levando minha vida sem um fardo em minhas costas.

                Estas palavras ao serem ouvidas pelo garoto soou como lâminas em seus ouvidos, não conseguia acreditar que aquela menina doce e gentil havia se transformado naquilo a tão pouco tempo e no fundo, mesmo não querendo admitir sabia que o culpado de tudo aquilo era ele.

                - Eu sou um fardo para você?

                - Era porque agora o fardo disse que queria criar pernas e sair voando, mas mal sabe ele que se voa é com asas e com certeza não sou eu que vou avisá-lo novamente que ele irá levar um tombo feio.

                Ela tirou a mão dele de seu pulso expressando a sua raiva.

                - Você disse que era para lhe deixar em paz e é o que eu estou fazendo. Agora faça o mesmo e me respeite.

                - Não vou deixar você fazer estas loucuras você nem ao menos gosta de Josh.

                - Isso é papo de corno manso amigo. – Josh disse em voz alta tirando risadas de seus amigos ali presentes. – Você tinha a menina mais gata ao seu lado, ai eu digo para você... Você não quis vish bem feito, seu amigo aqui quis e com certeza vai ser daquele jeito, agora me faça um favor, deixe a minha menina em paz.

                Josh disse com um ar ameaçador e segurou na mão de Riley e por mais que antes ela não gostasse dela, havia percebido que Josh não era tão bruto assim, sabia de seu jeito e se quisesse continuar com aquilo teria que colocá-lo nos eixos. Riley acenou para Ben enquanto saia junto com Josh para o lado de fora da quadra.

                - Aonde você vai Riley?

                - Vou telefonar para o meu pai, não estou sentindo-me bem.

                - O que foi? É a diabetes, posso te levar no hospital se quiser.

                - Não é preciso, eu acho que consigo esperar meu pai chegar.

                - Você tem certeza?

                - Tenho sim... Obrigada pela preocupação. – Ela sorriu para ele docilmente enquanto ele apenas acariciou seu queixo olhando-a nos fundos dos olhos. – Josh... – Ela o chamou enquanto o menino já ia virando-se para voltar para o treino. – Me desculpe.

                - Pelo o que?

                - O beijo. Não devia ter feito aquilo.

                - Olha eu sei que foi mais por vingança, mas não precisa se desculpar, eu gostei e por mais que você não perceba, bem... Eu gosto de você então... Estarei à disposição sempre que precisar. – Ele piscou para ela e voltou correndo para o treino de futebol. Ela sorriu e logo em seguida mordeu o lábio inferior de nervosismo. Ele sabia o motivo pelo qual ela fizera aquilo, todos sabiam e agora ela sentia-se envergonhada.

                O que pensariam dela de agora em diante? Talvez de fosse uma oferecida como Molly.

                - Não a Molly não, eu ainda não consegui beijar mais de vinte e cinco meninos, foi somente um. – Ela disse para si mesma enquanto voltava em si. Notou a presença da professora ao seu lado.

                - Está tudo bem Riley?

                - Pra dizer a verdade não estou me sentindo muito bem... Com essa movimentação toda acabei esquecendo de aplicar a insulina. – Ela dizia com a boca seca.

                - Vem eu lhe acompanho até seu armário... Seu pai havia alertado o diretor que a por sorte avisou todos seus professores, se dependesse de sua responsabilidade.

                - Mas Carly, eu apenas esqueci, até ontem eu estava fazendo tudo certo.

                - Vem, você precisa aplicar sua insulina e rápido. – Carly ficou um pouco assustada pela inquietação da menina.

                - Calma... Eu não consigo... Estou me sentindo zonza. – Ela encostou-se rapidamente na parede, a professora colocou a mão em seu rosto. Carly tentou segurar a menina quando ela perdeu o controle sobre as pernas e neste momento pediu ajuda a alguém.

                A primeira pessoa a olhar na direção fora Ben, que fez menção de correr, mas fora impedido por Molly.

                - Você tem certeza que irá ajudá-la mesmo depois de tudo que ela lhe disse?

                - Ela está passando mal Molly, não tenho um coração de pedra.

                - Tudo bem, acho que tomei as dores demais, você tem razão vá lá.

                Molly dizia com um falso sorriso no rosto e quando o menino virou de costas ela semicerrou os olhos e manteve sua expressão de ódio evidente no olhar.

                - Sempre chamando a atenção...

                Em seguida com toda aquela algazarra acontecendo Josh olhou para onde a professora estava e em seguida correu quando viu Riley perdendo o equilíbrio.

                - Riley... – Ele ultrapassou Ben o empurrando para um pouco longe. – Riley, o que está acontecendo?

                - Ela precisa da insulina dela, leve-a para a enfermaria para mim Josh.

                - Eu estou bem...

                - Estou vendo... Deixe de tentar ser durona e vem comigo. – O garoto disse puxando a menina que estava quase sem força alguma para seus braços, suspendendo-a no ar.

                - Eu posso andar. – A voz dela era arrastada, algo que quase ninguém ao redor conseguia entender.

                - Não está conseguindo nem falar... – Ele ironizou com a voz firme enquanto adentrava no prédio da escola com a menina em seus braços.

                - Já passou, sério Josh, foi apenas um tontura momentânea.

                - Sendo momentânea ou não irei ligar para seu pai enquanto você fica na enfermaria.

                - Qual é a senha do seu armário Riley? – Carly perguntou ao se aproximar da porta do armário da garota.

                - 1053.

                - Josh pode indo para a enfermaria, eu já vou logo em seguida.

                - Tudo bem professora.

                O garoto caminhou até a enfermaria e colocou a menina na maca, avisando ao enfermeiro da escola o que havia acontecido e não demorou muito para a professora aparecer com a mochila de Riley e seus pertences. A professora tirou a pequena bolsa que continha a seringa e as insulinas entregando para o enfermeiro, enquanto Josh procurou em meio as coisas dela o celular.

                - Tome ligue para seu pai. – Ele a entregou o celular e ela o pegou ainda não se esquecendo do comentário dele.

                - Pensei que você fosse falar com ele.

                - Seu pai surtaria ao ouvir a voz de um homem no telefone, ele iria pensar que te raptei.

                A menina soltou uma doce gargalhada enquanto ela digitava o numero do pai e sentia um incomodo em seu braço.

                - Você é muito estúpido.

                - Eu sei. – Ele sorriu. – Eu já vou indo. – Ele beijou a testa dela, mas Riley sentia que não queria deixá-lo ir, mas talvez seria melhor.

                - Tudo bem... Obrigada.

                - Me faça um favor?

                - O que?

                - Pare de agradecer a cada ato meu, gosto de você é por isso que faço tudo isso por você.

                Ela sorriu e em seguida ele saiu, Josh estava sentindo-se o garoto mais realizado, conseguira enfim o que ele tanto queria, beijou a menina na qual faltava em sua lista das mais complicadas e poderia acrescentá-la em sua lista de maior pegador do colégio.

                Riley conversou com seu pai, pensava que teria que tranqüilizá-lo, mas logo percebeu a diferença que nunca havia notado entre seu pai e sua mãe, ele estava tranqüilo por ter ouvido a voz dela assim criando uma confiança maior de que estava mesmo tudo bem. Se tivesse conversado com sua mãe ela entraria em pânico.

                Não demorou muito até Carlisle chegar a escola, professora Carly teve uma conversa séria com Carlisle e ele puxou a orelha da menina por não ter aplicado a insulina no horário certo, ela permaneceu em silêncio apenas não querendo revelar o motivo no qual a fizera esquecer-se de aplicar a insulina, pelo menos não na frente de sua professora de ginástica.

                Carlisle caminhava ao lado da filha com um braço em torno de seus ombros sem tirar o seu emprenho como um bom pai carregava a mochila da filha. Abriu a porta para que ela entrasse no carro e no banco de trás deixou a mochila da jovem.

                No trajeto até a casa Carlisle fazia perguntas sobre o que havia acontecido com sua filha e Riley respondia com a voz tranqüila e serena. Carlisle teve tempo apenas para deixar a filha na porta de casa, tinha que voltar rapidamente para o hospital, havia até mesmo arrumado uma desculpa para ele mesmo poder ir buscar a filha, dizendo que Esme não estava na cidade naquele momento.

                Quando Riley entrou surpreendeu a mãe que estava lendo atenciosamente a uma pesquisa na revista. Dona Esme de imediato olhou para a filha, aquela sua roupa de ginástica desta vez comportada. Fechou a revista e jogou-a ao seu lado no sofá.

                - Aconteceu alguma coisa querida?

                - Nada muito preocupante, apenas senti-me um pouco zonza e a professora Carly alarmou o papai.

                - Tem certeza que é apenas isso.

                - Sim... Nada que mereça sua extrema preocupação está bem? Agora vou aproveitar tomar meu banho e terminar de arrumar minhas coisas para o final de semana.

                - Vai lá querida, qualquer coisa estarei aqui.

                - Tudo bem. – A menina disse já subindo a escada e indo diretamente para seu quarto, deixaria o banho para depois, tirou de sua mochila o fone de ouvido e o celular ligou em uma música qualquer e começou a procurar por itens que estavam faltando para o seu final de semana quase perfeito.

                Escova de cabelo, roupas leves algumas poucas de frio, nunca sabia como o clima ficaria nesta época. Seus biquínis, protetor solar, creme para o cabelo, shampoo e o condicionador, toalha e seus outros vários apetrechos. A mala de mão estava quase cheia e em um ponto de vista ela pensou que seu pai tinha razão, os homens são tão práticos.

                Assim que terminou de arrumar tudo sua estava prestes a terminar o almoço, entrou rapidamente para o banho, lavando o cabelo. Saiu do banheiro com uma roupa simples, um shortinho, regata comum e um chinelo confortável, deixou o cabelo meio úmido e desceu para a cozinha.

                O almoço era pouco somente as duas comeriam ali. Alice e Carlisle almoçariam no hospital, Emmett comeria qualquer besteira em sua própria casa enquanto organizava tudo. As duas tiveram uma deliciosa conversa enquanto estavam sentadas à mesa. Em seguida Riley foi para a sala acompanhada pela mãe assistiram alguns programas de TV, mudando de canal a cada dez minutos, nada prendia a atenção de ambas.

                O telefone de Riley apitou avisando que uma nova mensagem de texto havia chegado. Ela pegou seu celular rapidamente não reconhecendo o número que estava presente em sua tela. Abriu a mensagem lendo-a em seguida.

                “Espero que esteja melhor e, por favor, trate de não me assustar daquela maneira... Sei que você deve pensar que não sou uma boa companhia, mas irei lhe mostrar que não sou este Josh que todos conhecem... Até segunda gatinha!”

                Riley não resistiu em dar uma gargalhada alta, que mesmo ela não querendo chamou a atenção de sua mãe. Ela achou irreverente o modo como Josh lhe chamou. Não era um típico apelido que recebia, detestava os que tinha e certamente nem sua mãe e muito menos seu pai gostariam de ver um garoto mais velho lhe chamando assim. A forma como ele a chamou atraiu sua atenção de imediato achando aquilo engraçado, fofo e ao mesmo tempo sexy e não entendia porque estava pensando naquilo, sendo que até mesmo ontem odiava Josh Campbell.

                - Posso saber o motivo dessa sua cara de sapeca mocinha?

                - Nada mãe, apenas Kate contando suas piadas estúpidas. Você sabe muito bem como aquela serelepe é.

                - Claro, conheço bem aquela figurinha e quando vocês duas estão juntas nem Deus mesmo agüenta.

                - Ah mãe, somos apenas... Diferentes.

                - Sei... Porque você não a chama para ir conosco para o sítio.

                - Ela está viajando, faltou de aula hoje, foi para o México. – Riley fez cara de esnobe jogando os longos cabelos para trás enquanto ria juntamente com sua mãe. – Mãe já ia quase me esquecendo... Está quase chegando o baile de primavera tenho que olhar algum vestido, mas tem que ser aqueles assim... Bem a minha cara e que chame a tenção toda para mim.

                - Nossa o que está acontecendo com minha menininha discreta?

                - Nada, apenas querendo mudar um pouco, cansei de tentar ser apagadinha, algo que ninguém me deixa ser, então vou começar a dançar de acordo com a música.

                - Tome cuidado, às vezes estas músicas nem sempre são do ritmo que conseguimos dançar.

                - Tudo bem, eu arrisco alguns pacinhos. – A menina disse contrariando completamente a mãe.

                ***

                Mais tarde quando todo mundo havia voltado do trabalho, foram se arrumar para enfim poderem ir para o sítio, menos Alice iria hoje pelo seu tão especial encontro, no qual ela desejava mortalmente que fosse desmarcado. Para sua enorme decepção James havia lhe ligado para confirmar o encontro e ela não pôde recusar, achava que faria feio fugir do rapaz.

                Tomou seu banho e ficou em um dilema incrível em qual vestido colocaria um longo simples ou um curto. Pensava que curto para esse jantar seria uma péssima idéia e que um longo ficaria formal demais, mas lembrando do local combinado até que não tanto, era um restaurante mais caro de Forks, em nível de absurdos, lá era o ponto de encontro de médicos e empresários, pessoas de alta classe e com bastante dinheiro para se desperdiçar.

                Optou rapidamente antes que se arrependesse pelo vestido curto, de um tom azul marinho incrivelmente inconfundível, pensou em como queria ousar um pouco escolhendo uma meia pata vermelha e um simples anel de cruz para incrementar ainda mais seu belo visual. Uma maquiagem não muito pesada com apenas um delineador e um batom vermelho opaco.

http://fernanda-melo-silva.polyvore.com/

Enquanto ainda se arrumava Riley apareceu em seu quarto e vendo tudo aquilo estranhou, ninguém havia ainda lhe informado que Alice não iria junto com eles, iria mais a noite ou até amanhã cedo, o sítio não era muito longe dali, mas Esme ficaria preocupada se ela pegasse a estrada muito a noite.

     - Aonde você vai nessa produção toda? – Riley perguntou cruzando os braços e acertando seu cabelo de um jeito diferente do cotidiano que até mesmo Alice havia percebido algo de diferente em sua pequena irmã.

                - E desde quando você joga seu cabelo de lado em um estilo mulherão? – Alice perguntou sorrindo e Riley revirou os olhos, seria Alice apenas a 15º pessoa a notar isso, até mesmo o papa que estava no vaticano ligaria para ela perguntando sobre essa sua súbita modificação.

                - Nada. - Ela disse séria esperando pela a resposta da irmã.

                - Eu vou jantar.

                - Huum com suas amigas?

                - Não... Com um amigo.

                - Amigo? Sei, essa expressão era usada na época de nossa ta tara avó. Agora me conta o que está rolando e que eu sou a única que não está sabendo.

                - Nada apenas encontrei com James algumas vezes e ele me convidou para jantar.

                - Espera aí o James? James de Niro? O cara da locadora?

                - É ele mesmo, qual o problema?

                - Fala sério Alice... Ele me parece ser maior furada. Não tinha ninguém melhor não? Acho que até o desocupado do irmão do Ben é melhor que este cara.

                - Você está comparando um homem com um moleque Riley. James não é uma má pessoa.

                - E você conhece a vida dele para poder dizer isso?

                - E você? Conhece? – Alice disse meio furiosa, não entendia porque todo aquele teatro da irmã em relação a um simples jantar. Riley ficou em silêncio, ela havia feito um touchdown certeiro e não tinha como dizer que era fim de jogo.

                - Tudo bem... Saia com quem quiser, depois não diga que eu não avisei. – A menina apenas se virou ao ver que sua irmã tentou argumentar algo e saiu do quarto descendo para a sala para pegar as suas coisas e colocar no carro.

                Alice havia ficado realmente chateada com a irmã, não esperava esta reação dela, queria que ela a incentivasse a ir a este jantar, porque até mesmo ela estava com medo do que poderia acontecer. Ignorou toda aquela cena e voltou a se maquiar e um pouco antes que estivesse pronta com o céu já quase enegrecido Esme e Carlisle apareceram na porta dizendo que já estavam indo.

                - Está muito bonita princesa.

                - Obrigada pai.

                - Não parece muito animada meu amor.

                - Não é nada mãe é apenas que... – Pensou muito bem em alguma desculpa que pudesse dar, por mais que estivesse chateada com Riley não deixaria a sua irmã encrencada. – Estou nervosa.

                - Dará tudo certo, é apenas um jantar.

                - Eu sei...

                - Tem certeza que não quer que fiquemos, podemos ir amanhã cedo.

                - Está tudo certo, vou ficar bem.

                - Tudo bem então, se cuide mocinha, você pode ter 23 anos, mas ainda é meu bebê.

                - Tudo bem mãe. – Alice abraçou a mãe enquanto ria da situação. Em seguida despediu-se do pai e voltou a se arrumar. Poucos minutos depois enquanto esperava por James, revisava as coisas que tinha em sua mala para ir ao sítio e parou somente quando ouviu um barulho de carro chegou até a janela de seu quarto e viu James sair de dentro de seu nada modesto carrinho, simplesmente um bugatti veyron preto.

                Se não estivesse tão surpresa teria se engasgado ao ver o carro. Imaginava que James tivesse muito dinheiro, mas que não fosse a ponto de gastá-lo com um carro como aquele. Ele tocou a campainha da casa, observando o designer. Era uma coisa meio rústica e moderna ao mesmo tempo, as madeiras e as várias fachadas de vidro eram impressionantes.

                Quando Alice apareceu na porta ele se surpreendeu, abriu um sorriso lateral e ficou realmente encantado com a beleza da mesma. Seus olhos escondiam uma malícia e um desejo imenso de tomá-la para si, mas teria que se comportar caso quisesse realmente conquistá-la. Alice demonstrara para ele ser uma mulher difícil de lidar e ele adorava desafios.

                - Está muito bonita e elegante, devo deixar claro que estou abismado com tanta beleza.

                Alice sorriu meio sem jeito, não era acostumada a receber elogios assim e se pudesse se ver em algum mero espelho qualquer ela constataria o óbvio, que estava vermelha de vergonha.

                - Obrigada, você também está muito elegante. – James vestia um terno cinza escuro e por baixo uma blusa social azul claro e um simples sapato social preto. Estava mesmo elegante e um belo galanteador, se não estivesse acompanhando aquela noite conseguiria milhares de mulheres para acompanhá-lo à mesa ou até sua casa depois do jantar.

                - Tenho que admitir que fui escolher a roupa de ultima hora, mas fico feliz que tenha gostado. – Ele sorriu para ela ainda segurando sua mão. – Vamos?

                - Claro.

                Então ele a conduziu até o carro abrindo a porta para ela como um devido cavalheiro, em seguida partiu para o lado contrário do carro, sentando no banco do motorista e dando a partida em seu potente carro de 1.200 cv de potência.

                ***

                A conversa fluía entre ambos, comentando sobre fechamento de negócios nas empresas alimentícias de James e os dias chatos de trabalho cansativo que ele considerava uma total tortura na qual se via obrigado a permanecer pelo resto da vida.

                 - Eu realmente odeio ter que cuidar dos super mercados do meu pai, mas é o que me proporciona a boa vida que tenho.

                - Não deveria trabalhar em algo que não goste apenas pelo dinheiro. – Ela bebeu mais um pouco de água esperando que o homem completasse ou simplesmente disse-se que não havia gostado de seu comentário.

                - Acho que iria perder meu tempo fazendo uma faculdade agora, tempo e dinheiro e meu pai com toda certeza não gostaria de ver seu passarinho criando asas para voar livre por aí, ele sempre podou minhas penas, nunca quis que eu fizesse algo a não ser cuidar de suas empresas.

                - Que pena, devo dizer que é satisfatório trabalhar em algo que você goste. Sempre sonhei em ser médica como meu pai, porém percebi que cuidar de pacientes em alas de hospital não era meu forte. Até que decidi ajudar as pessoas de outra forma ali dentro.

                - Sua família deve ter orgulho de você.

                - Isso devo dizer que sim. Minha mãe sempre sente orgulho igual a cada um dos três filhos, nunca amou demais um ou outro e Carlisle, mesmo não sendo meu verdadeiro pai me amou como sua filha, sempre deixou explícito que Riley, eu e Emmett não tínhamos diferenças alguma, que meu irmão e a mim éramos filhos dele como Riley é.

                - Você diz com um orgulho dele em seu tom de voz.

                - Foi ele quem salvou a vida de minha família, foi ele que me proporcionou esperança em um lugar onde eu achava que jamais existiria.

                - Você nunca mais ouviu falar sobre seu pai?

                - Não. Por um lado me sinto preocupada e por outro completamente aliviada.

                - Você tem medo que ele volte não e mesmo?

                - Quem não teria? – Ela suspirou e parou de dizer quando o prato de entrada havia chegado servido pelo garçom. Olhou para a cara boa que estava sua salada e a fome lhe bateu fortemente, uma luta estava travada com seu estômago. – Ele dizia que nunca nos deixaria em paz, então minha mãe procurou por nossa paz bem longe dele.

                - Um dia isso não passará de resquícios de uma velha e dolorosa lembrança e quem sabe você não se esqueça de boa parte dela? – Ele dizia enquanto acariciava as costas da palma da mão de Alice com seu polegar, sentindo a pele macia daquela jovem moça.

                - Quem sabe um dia... – Ela disse com um olhar vago sobre a mão de ambos, sentindo um arrepio subir pelo seu braço.

                ***

                Após jantarem permaneceram por mais alguns minutos no restaurante colocando o papo em dia, mas Alice não queria passar a noite ali em Forks sozinha naquela enorme casa e queria logo ir embora, teve que fazer a indelicadeza de chamar James para irem e ele não se importou. No caminho até a casa dela ele não tirava os olhos dela e principalmente em suas pernas descobertas.

                Ele parou no mesmo lugar de antes, saiu do carro primeiro para ser educado e abrir a porta novamente para ela e assim que ela saiu virou-se para ele para se despedir.

                - Não tem ninguém em sua casa?

                Alice não sabia o que responder, certamente não o chamaria para entrar não tendo ninguém ali então optou pelo modo mais fácil de distração, a mentira.

                - Meu pai e minha mãe saíram, mas meus irmãos estão em casa. Emmett chega muito cansado do trabalho e fica no quarto e Riley deve estar conversando com uma de suas amigas pelo celular.

                - Tudo bem. Espero que tenha gostado do jantar.

                - Ah gostei, bastante. – Uma pequena brisa atingiu os dois em meio ao tempo, fazendo o cabelo de Alice se esvoaçar, ela colocou para trás da orelha enquanto percebia James se aproximar demais. Temia por este momento, o momento do beijo no qual ela não estava pronta.  Ele segurou o braço dela trazendo-a para mais perto, o toque dele a fez perder completamente os sentidos e a noção do tempo. Quando ele já estava próximo demais do rosto dela ela se esquivou. Não se sentiu a vontade em beijar James, não estava preparada.

                - James não, por favor.

                - É apenas um beijo. – Ele apertou os pulsos dela, tentando beijá-la novamente. Ela tentou puxar os braços, mas não conseguia se soltar. – Não dê uma de difícil. – O tom de voz dele havia mudado completamente assustando Alice.

                - James me solta. – A voz dela era firme porém trêmula mostrando seu medo, deixando-o evidente. – Você está me machucando... Para. – Ela tentou empurrá-lo, mas ele era forte demais.

                - Porque você está fugindo assim de mim? – Ele beijou o pescoço dela, fazendo-a sentir-se suja por este pequeno ato e temendo pelo o que poderia acontecer em seguida. Não tinha ninguém em sua casa, ninguém a recorrer. – Não tem ninguém em casa não é mesmo?

                - Claro que tem, as luzes estão acesas.

                - Somente a da sala.

                - Emmett deve estar dormindo e o quarto de Riley é nos fundos.

                - Você mente muito mal. – Ele olhou nos olhos dela, fazendo Alice engolir seco, sentindo medo, sentindo seus olhos encher-se de lágrimas, queria gritar e sair correndo, mas a voz não saia e não conseguia soltar-se dele.

                - James... Por favor, para. – A voz dela já era misturada com os soluços baixos. Ela viu através dos olhos dele que ele não era a mesma pessoa que havia conhecido na praia, com um olhar doce e gentil, preocupado com ela. – Está me machucando. – E como se fosse certas palavras necessárias para despertá-lo do passe de mágica seu olhar sobre ela mudou, ele soltou os braços dela e passou as mãos no cabelo demonstrando que havia feito algo errado demais. Alice afastou alguns passos, deveria entrar correndo para casa e trancar a porta, mas estava ainda paralisada pelo medo.

                - O que eu estou fazendo? – Ele olhou para ela tentando se aproximar, mas ela recuava. – Me desculpe, me desculpe, por favor, eu não queria... – Ele pegou na mão dela com muito custo, levantando um pouco a manga do vestido para ver os pulsos dela. As marcas vermelhas eram evidentes, era sua mão marcada na pele dela com a total precisão. – Alice, me perdoa, não sei o que me deu, eu não deveria ter feito isso. Veja como lhe deixei.

                Ele acariciou o rosto dela, enxugando as lágrimas dela. Ele a puxou para um abraço, carinhosos por sinal. Alice estava confusa e não sabia como reagir, estava em silêncio a todo momento querendo apenas sair dali.

                - Me perdoe, não queria fazer isso, não devia ter bebido aquele vinho, sou fraco para certas bebidas. Não me leve a mal Alice, estou realmente gostando de você.

                - Está tudo bem. – Foi à única coisa que ela conseguiu dizer, mesmo não estando tudo bem, mesmo ela tendo medo, mesmo tentando disfarçar, não conseguia deixar tudo aquilo bem. – Vai para casa, esfrie a cabeça e depois conversamos.

                - Tudo bem. Mas saiba que eu nunca seria capaz de lhe fazer sofrer. Não me leve a mal, perdi a cabeça, sei que fiz errado, não devia ter agido assim.

                - Está realmente tudo bem. Agora vá para casa e tome um banho para que isso passe e outro dia nós conversamos, eu prometo.

                A conversa finalizou-se ali, ela virou assim que terminou de dizer aquilo com a incerteza de que dar as costas para alguém como James seria seguro, mas felizmente conseguiu entrar em casa e trancar a porta sem nada acontecer e quando chegou à parede de vidro do segundo andar que dava de frente para a escada ela viu James mais uma vez, dizendo algo para si mesmo e na leitura labial ela conseguiu entender um apenas “Você consegue sempre estragar tudo, seu grande idiota.” Ela esperou o vendo partir, correu até seu quarto, tirando o salto em meio do caminho segurando-o na mão o tempo todo. Pegou sua mala e desceu as escadas até a garagem, tirou o alarme do carro e certificou-se de que seus sapatos estivessem ali como previsto, jogou a mala no banco de trás e foi rapidamente para o banco do motorista. Dirigiria descalça, estava com pressa e acima de tudo, medo de que ele voltasse. Antes de sair com James já havia certificado se cada janela e cada porta havia sido trancada e quando fechou a porta que dava acesso da casa para a garagem acionou o sistema de alarme de segurança.

                Apertou o botão do controle para abrir o portão e saiu fechando-o em seguida e quando viu o ultimo centímetro do portão encostar-se no chão acelerou o carro de tal forma que o contato do pneu no chão contra o asfalto havia causado um barulho estridente.

***

                No sítio todos estavam na sala Esme, Carlisle, Rose, Emmett e Riley jogando truco. Os homens haviam feito uma promessa de não se empolgarem na comemoração quando ganhassem, poderiam assustar Rose e isso não faria nada bem para o bebê.

                Depois de algumas tacadas, Carlisle terminara com o jogo e com a graça de todos ali, já completando a quarto de seis partidas ganhas por ele. Riley fechou a cara e disse que não jogaria mais enquanto estava deitada no colo da mãe.

                - Mamãe, estou preocupada com Alice. – Riley disse com uma voz inocente.

                - Também estou meu anjo, mas ela disse que ficaria bem e talvez ela deve estar quase para nos ligar.

                - Liga pra ela mãe, meu celular acabou a bateria e não posso conversar com ela, acabamos brigando antes de sair de casa.

                - Então era por isso que Alice estava estranha. – Carlisle disse olhando repreensivamente para a filha. – Qual foi o motivo desta vez?

                - Alice sair com James. Não gosto dele.

                - Riley, você não devia ter feito isso. – Esme a repreendeu.

                - Digo o mesmo baixinha, James me parece ser um bom homem. – Emmett concluiu entrando na conversa enquanto acariciava a barriga de Rose.

                - Você devia ter apoiado a sua irmã Riley, não a julgado.

                - Eu apoio Alice em tudo o que ela faz mamãe, mas nesse relacionamento com James jamais. Ele não me parece ser um bom homem para Alice.  – A menina se levantou do sofá sentindo-se completamente contrariada e sentindo seu coração apertar ainda mais. – Alguém pode ligar para ela? Tem que ser rápido.

                - Isso se chama peso na consciência. – Emmett disse rindo da irmã.

                - Fique quieto Emm. Acho que tem alguma coisa errada.

                Ela dizia enquanto andava de um lado para o outro e esperava por ouvir a voz de seu pai conversar com Alice no outro lado da linha, mas ela demorava demais para atender deixando a pequena loira um pouco receosa com o que poderia vir.

***

Alice não conseguia conter as lágrimas, toda aquela cena que James fizera com ela apenas servira para desencadear uma dúzia de sofrimentos, uma dúzia de lembranças que lhe fazia lembrar de tudo que havia passado com seu pai. As memórias vinham como flash, fazendo com que as lágrimas aumentassem gradativamente.

“- Por favor, para papai, não me bate. – A menina dizia enquanto o homem amargurado segurava seu fino braço o torcendo sem dó e nem piedade. Ele pegou sua cinta e bateu na menina, deixando marcas vermelhas que logo dariam lugar para as manchas roxas, assim como ficaria seu braço quando ele soltasse. No outro lado, a porta era surrada por Esme, na tentativa falha de abri-la, cada gritinho, cada choro de sua menininha partia seu coração.”

Alice enxugou suas lágrimas rapidamente voltando à atenção para a estrada, mas mesmo assim as lembranças insistiam em voltar, não a deixando em paz.

“As crianças já dormiam, Alice na cama junto com Esme por estar passando mal, estava com febre alta e Estava com medo do que aquilo poderia ser. Esme acabou cochilando, acordando somente com os berros do marido no quarto. Alice acordou assustada vendo uma cena que criança jamais deveria presenciar. Seu pai enforcava Esme sem nenhuma dó ou piedade. A menina chorava e Emmett apareceu no quarto, já se sentia um homem com apenas seis anos de idade, partindo para cima do pai.”

As lágrimas atrapalhavam a visão de Alice, o que a deixava ainda mais apreensiva. Uma luz veio forte em seu rosto e entrou em desespero quando entrou na curva e um carro entrou em sua pista para tentar ultrapassar o caminhão ao seu lado, Alice se assustou e pisou fortemente no freio sentindo seu corpo ser impulsionado para frente com violência. O carro parou um pouco antes de se chocarem e ela pôde só então soltar o ar preso em seu pulmão, encostou a cabeça no volante enquanto esperava o cara sair de sua frente, ela não tinha força alguma para xingar ou para fazer qualquer coisa. Apenas sentiu-se enjoada por estar tão nervosa, voltou a dirigir e chegou à pequena estrada que dava acesso ao sítio da família.

Ouviu seu telefone chamar vendo que era uma ligação de Carlisle não poderia recusá-la, tratou de forçar a voz para ficá-la normal, mas não ajudou muito. Ela estava muito nervosa.

- Você não me parece bem filha, aconteceu alguma coisa.

- Nada.

- Alice. – Ela ouviu a voz de sua irmã no telefone, pensando que ela deveria ter roubado o telefone de seu pai das mãos dele. –Você está bem?

- Estou sim. – Ela enxugou a ultima lágrima.

- Não minta para mim, estou vendo seu nariz crescendo daqui.

- Eu estou chegando aí. – Ela desligou o telefone, enquanto forçava para parar de chorar e antes de abrir o portão do sítio ela se olhou no espelho, não teria como disfarçar, seu olho estava muito vermelho. Não queria falar que quem desencadeou isso fora James, também não diria que quase sofreu um acidente, sua mãe seria capaz de vender seu carro e mandá-la andar a pé. Mas tinha que pensar em uma boa desculpa, a de sempre ninguém acreditaria. Apenas não sabia o que dizer, então abriu o portão e entrou, estacionou seu carro e percebeu sua irmã aparecer na porta.

- Quer ajuda? – Ela disse enquanto acendia a luz do lado de fora da casa. Alice apenas acenou e ela foi prontamente ajudar com a mala, Alice tentou desviar o rosto de Riley, mas não conseguiu disfarçar, o que diria? Teria que passar na sala onde todos estavam presentes e eles também perguntariam.

- O que aconteceu Alice? Foi o idiota do James?

- Não foi nada.

- Se você não me contar será difícil te ajudar inventar uma mentira para contar para a mamãe...

- Eu apenas me assustei na estrada vindo para cá. Por pouco não bati de frente com um carro, ele apareceu do nada na minha pista, acho que fiquei nervosa demais.

- Mamãe, vai surtar. – Riley fez uma careta, mas ao mesmo tempo pensando em uma boa desculpa para os olhos vermelhos de Alice. – Já sei discute comigo.

- O que?

- Grita comigo e sai correndo, se esconde por um tempo, ai depois você entra, mamãe irá achar que você chorou por discutir comigo. Diga que briguei com você por causa do James e que eu não aprovo que você saia com ele.

- Vamos mentir para nossa mãe?

- Olha 50% é mentira para você não perder seu carro e os outros 50% é verdade, eu não aprovo que você saia com ele.

- Pelo menos você é sincera.

- Tudo bem... – Riley respirou fundo pensando em algo para começar a briga. – NEM VEM ALICE, não quero saber desse seu encontro com James, você sabe muito bem o que eu acho sobre ele.

                Alice tentou pensar em uma resposta e ficou nervosa ao ver a cabeça de alguém aparecer na janela, Riley chutou sua canela fazendo um simples gesto para que ela continuasse.

                - Você devia me apoiar... O que está acontecendo com você hein?

                - Só estou cansada, das pessoas discutirem comigo por eu tentar abrir os olhos delas, primeiro o Ben, agora você, na hora que você se ferrar não venha me pedir ajuda.

                - Riley... James não é o homem que você pensa está bem? Ele... – A voz de Alice falhou aí e ela sentiu as lágrimas voltarem, foi aí sua deixa para sair correndo.

                Esme chamou pelo seu nome e Riley sentiu um aperto em seu coração, “Você devia me apoiar”, a frase de Alice ecoou em sua cabeça inúmeras vezes e mesmo sabendo que aquilo tudo havia sido planejado de alguma forma tinha uma pontada de verdade em cada coisa que ambas disseram. Mas ela sabia que James não era um bom homem e faria de tudo para proteger sua irmã dele.

                - Riley venha já para dentro. – Carlisle gritou com a voz firme, expressando seu nervosismo e demonstrando estar bravo e ao mesmo tempo chateado com sua filha.

                Riley permaneceu no mesmo lugar. Sentindo seu coração falhando a cada batida. Sua respiração estava pesada.

                - Riley... – Carlisle a chamou mais uma vez. Esme olhou para o marido como se lhe pedisse calma. – Você pode esquecer suas regalias nesse fim de semana, eu deveria fazer você voltar para casa. – Carlisle disse repreendendo a filha. – Entra, agora.

                Riley passou direto pelo pai, indo diretamente para o quarto, ouviu seu pai chamar pelo seu nome pelo menos umas três vezes, mas ignorou.

                Alice e ela eram ligadas, ela sentia que não era somente por causa daquilo que Alice estava chorando, quando ela começou a dizer sobre James ela parou bruscamente, congelou e voltou a chorar. Sabia de alguma forma que ele havia lhe feito alguma coisa e faria qualquer coisa para descobrir.

                ***

                Esme procurou por Alice perto das arvores ouvindo os soluços da filha, ela ajoelhou ao lado da filha que olhou para ela com seus olhos vermelhos. Esme puxou a filha para poder abraçá-la. Não souberam dizer quantos minutos ficaram ali. Esme ouviu cada palavra que Alice queria dizer, não disse nada sobre Riley, a não ser que estava um pouco chateada com a irmã.

                Aproveitou para dizer que tentaria ir a um psiquiatra novamente, já não agüentando mais seu passado sendo seu pior pesadelo. Esme disse que apoiaria a filha em qualquer escolha que ela fizesse.

                ***

                Na hora de dormir, Alice caminhou até o quarto observou Riley deitada em sua cama lendo um livro.

                - Obrigada.

                - Para deixar bem claro, não gosto de sua escolha quanto a James, mas jamais irei brigar com você... Você é minha irmã.

                - Sério, muito obrigada.

                - Por nada inconseqüente. – A menina riu e jogou o livro de lado afundando-se na cama.

                - Onde esta seu celular, você não vive sem ele.

                - Vou ter que viver... Papai o confiscou de mim até achar que o mereço de volta.

                - Sinto muito, eu posso ir lá falar com ele...

                - Não precisa está tudo sobe controle, até porque eu tenho meu celular antigo que todo mundo acha que exterminei ele. – Riley balançou o aparelho enquanto ele vibrou avisando mais uma mensagem que havia acabado de chegar, voltou sua atenção para ele enquanto Alice trocava seu vestido, agora sujo, por um roupão para ir tomar um banho.

                E Riley não resistiu ao ouvir o celular de Alice apitar, viu na tela o nome de James na tela uma mensagem dele, não sabia se deveria ou não abri-la, mas estava curiosa demais, talvez por um deslize dele naquele momento fizesse que ela descobrisse tudo.

                “Alice, espero que não tenha ficado com medo de mim, o que aconteceu hoje foi lastimável e prometo que nunca mais irá se repetir. Eu juro que nunca faria algo contra alguém que gosto tanto assim como você.”

                - Que droga, seu imbecil custava dizer o que você fez?! – Ela olhou para a porta ainda fechada e apagou a mensagem. Colocando o telefone de Alice em seu devido lugar. Voltou para a cama e escondendo o telefone debaixo do cobertor continuou respondendo as constantes mensagens de Josh.

                Alice voltou de seu banho e quando ambas já estavam prestes a irem dormir, enquanto conversavam Carlisle apareceu no quarto, sentindo-se um pouco feliz por ver suas meninas conversando novamente.

                - Espero que esteja mesmo arrependida do que fez Riley, não se trata um irmão assim.

                - Eu entendi pai.

                - Está tudo bem? – Ele redirecionou a pergunta mais para Alice.

                - Sim, tudo bem.

                - Ótimo. Durmam bem... Riley, amanhã nada de piscina para você.

                - Aaah não pai... Isso é injusto.

                - Ainda está de castigo.

                - Mais que droga.

                - Quer ficar sem seu celular pro resto do mês?

                - Argh. – A menina esbravejou.

                - Pai não acha que está sendo rígido demais com a Riley? Ela já me pediu desculpas, estamos bem, brigas entre irmãos sempre acontecem.

                -Tudo bem, mas qualquer passo falso mocinha você sabe. Tenham uma boa noite.

                Ele fechou a porta elas se entreolharam, Alice pediu desculpas pela enrascada que meteu a irmã e Riley apenas disse que não era necessário isso.

                - Você é minha irmã, pularia de um penhasco para te salvar.

                E Alice sentiu o quanto era amada por sua irmã. Sabia que os sentimentos dela por Riley seriam os mesmos e disse para ela também o que sentia. Porém adorava ouvir da boca de sua irmã caçula tudo aquilo que ela custava dizer. Riley era diferente, era uma menina especial, sua irmãzinha que sabia que não havia sido bem planejada, chegou de surpresa, porém mudou tanto a rotina daquela casa de um jeito tão bom que Alice sentia-se incapaz de sentir raiva dela. Sabia que jamais, em hipótese alguma Riley daria as costas para alguém quando mais precisasse dela, por mais que tenham errado com ela, por mais que tenham feito algo ruim contra ela, ela estaria ali para estender a mão. Riley era incapaz de ser ruim para alguém, se fazia de durona, fingia não se importar, mas seu coração é puro demais para deixar de ajudar qualquer pessoa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Passado Nos Condena" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.