Já estava previsto o que aconteceria. Eu poderia fugir, sair, me esquivar... mas por incrível que pareça, eu queria aquilo. Eu precisava daquilo. E pelo modo brusco que me empurrou, ele também precisava. E como nós precisavamos. Ele hesitou um pouco antes de se aproximar, como se estivesse me dando um tempo para decidir se eu realmente queria fazer. Também de modo brusco, o puxei para mim.  Um tanto desesperado de minha parte, agora que estou me lembrando. Nossos lábios estavam a centímetros de distancia, e eu me sentia como se aquele fosse meu momento nos contos de fada. Não me lembro de quem foi que se aproximou primeiro, ou de quem estava mais apressado. Apenas me lembro de sentir seus lábios irem de encontro em um choque. Quando senti o gosto salgado de sua boca na minha, fui ao delírio. Como eu sentia saudades daquilo. Mais saudade do que imaginava. Ele parecia estar ainda apreensivo quanto a mim, e eu achei isso realmente fofo. O que me é um tanto estranho, porque se me lembro bem sempre detestei gente fofa. Talvez, em um mês, eu tivesse mudado. Amadurecido. Esquecido os problemas do passado e me preparando para viver o presente. Sua lingua pediu passagem, e é óbvio que eu cedi. Ele parecia estar explorando cada canto da minha boca, como se fosse o nosso primeiro beijo. E eu estava adorando. E eu nunca tinha experimentado nada parecido, e isso apenas tornava tudo mais especial. Ele parou o beijo, e eu soltei um gemido de reprovação.
- Você é apenas minha agora. - ele sorriu, e eu enrruguei a testa.
- Tenho cara de objeto por acaso? Se ficar de palhaçada eu te sento o pau na cara - eu disse. Ele riu.
- Sabe de uma coisa? Acho que isso é o que eu mais gosto em você, desde que te conheci. - ele abriu um sorriso grande, e tão bonito. Não acho que já tenha visto ele sorrir tanto. 
- O que? Tome cuidado com o que vai dizer, rapaz - olhei enfezada pra ele, e este beijou a minha testa.
- Você faz aquilo que tem de fazer, na hora certa. E não muda. Continua sendo a mesma garota irritada e violenta que eu conheci no primeiro dia de aula. - ele disse. O olhei confusa.

- E isso... é bom? - perguntei. Ele me beijou outra vez. - Isso responde sua pergunta? - eu ri. 

- Olha aqui, se for pra ficar enfiando essa sua língua na minha boca toda vez que eu te fizer uma pergunta, isso não vai dar... - ele selou nossos lábios - EI! Eu sei que me ama, (quem não ama) mas pare de demonstrar esse amor a cada segundo! - bufei. Nós saímos daquele lugar, e fomos andar entre as barracas.

- Aposto que Connor Stoll ronca -  soltei uma risadinha. E era verdade! Connor roncava como um porco.  

- E eu aposto que Nico baba enquanto dorme - ele disse, e eu revirei os olhos.

- VOCÊ baba enquanto dorme. - ele fez uma falsa cara de espanto.

- Você coloca as pernas em cima de mim enquanto dorme. - ele riu.

- Você fala enquanto dorme... sobre peixes ou algo do tipo - eu disse.

- E você é chata até dormindo. - eu parei de rir.

- E você é um babaca mesmo acordado. - ele parou de rir. 

- Argh. - ele suspirou. - Você é ridícula. 

- E eu te odeio - eu disse.

- E eu te amo. - se ele queria me deixar vermelha, não conseguiu. Eu estava roxa, azul, amarela, de todas as cores do arco íris!

- Problema seu. - abaixei o rosto, com vergonha. Ele riu fraco.

- Acho que devemos voltar. - ele disse.

- Mas eu não quero voltar pra lá. Você vai tentar me assediar - eu disse, rindo um pouco.

- Nah... okay. Talvez eu possa tirar uma casquinha de você hoje -  virei um tapa no braço dele.

- Se ficar de palhaçada, vai apanhar com a barra de ferro. E dessa vez vou fazer questão de que não acorde! - eu disse. Ele apertou minhas bochechas até que ficassem muito vermelhas.

- Eu SEI que você me ama. - "E como descobriu?", pensei.

- Sonhar, mais um sonho impossiveeeeeeeeel - cantarolei.

- Cala essa boca, antes que eu mesmo a cale. Vem, vamos voltar. - ele me puxou pela cintura. 

Voltamos para a barraca. Ele se deitou ao meu lado, e eu o adverti.

- Cuidado com essa mão boba, otário. Você pode ter... você pode ter me... AQUILO pode até ter acontecido, mas saiba que minha opinião sobre você não muda. - mentira, muda sim.

- Só me deixe saber uma coisa, antes de dormir. Você me ama, assim como eu te amo? - ele perguntou. Eu não queria responder, até mesmo porque não sabia como responder. Fingi já ter dormido.

Segundo o meu relógio mental, eram duas da madrugada. Ele estava dormindo, mas eu estava longe disso. Olhei para ele. Tão suave e sereno, preso em seu precioso sono. Dei-lhe um beijo na testa.

- Sim...eu te amo.