Alexya estava sentada dentro do carro, estacionada em frente à casa de Lucian. Em sua mente, o chamado do sangue ressoava insistindo pra que ela chegasse mais perto do seu mestre.

Mais próximo até do que ela gostaria de estar, depois da noite de ontem.

Em sua mão, seu celular mostrava o numero de Kyle enquanto ela tentava se convencer que era a coisa certa a ser feita. Ela tinha que ligar pra ele.

– Merda, garota. Acabe logo com isso. – Alexya murmurou pra si mesma. Nos últimos dias andava falando muito consigo mesma, mas ainda não tinha decidido se isso era uma coisa boa.

Alexya moveu seus dedos pelas teclas até que pudesse ouvir a ligação sendo completada.

Kyle atendeu no terceiro toque.

– Hospital do Aborto, posso ajudá-lo?

Alexya girou os olhos para a forma como Kyle atendia ao telefone. Se não soubesse melhor, poderia pensar que havia ligado para o numero errado.

Quantas pessoas será que ele enganou com essa saudação?

– Kyle, corta o papo furado. – Alexya respondeu sem se identificar. Tão fácil como ela reconheceu a voz dele, ele poderia reconhecer a dela, ela tinha certeza.

– Olha, olha... Se não é a senhorita Isabela Swan! – Kyle riu do outro lado da linha.

– O que? Não, seu idiota. É Alexya. – Alexya franziu o cenho.

– Yep. Eu sei. Por isso, Bella Swan. – Ele riu novamente.

Finalmente a ficha de Alexya caiu, e ela entendeu o que ele queria dizer. Isabella Swan, ou melhor, Bella Swan,era a mocinha idiota do filme crepúsculo.

– Pelo amor de Deus, Kyle. Eu pensei que você tivesse mais criatividade do que isso para apelidos, sério. – Ela respondeu, virando os olhos.

– Hey, não me culpe. Não sou eu que estou presa entre um lobo e um vampiro, sou?– Ele perguntou.

– Isso não é da sua conta. – Alexya resmungou, sentindo seu humor mudar pra irritado.

– Certo, como quiser. Mas e ai, pra que você me ligou? Eu tenho certeza que não foi só por que você queria ouvir minha voz incrivelmente sexy, não é mesmo?

Alexya pensou seriamente em chamar Kyle de cachorro sarnento e mandar ele latir pra lua, mas algo lhe dizia que ofender Kyle não seria a maneira mais fácil de conseguir o que ela precisava dele.

– Nem nos seus melhores sonhos, totó. – Não adianta, ela não conseguia não usar o fato dele ser um lobo contra ele.

– Foi o que eu pensei. Então, o que ta pegando?

– Digamos que eu preciso de uma ajuda sua com uma coisa. – Alexya respondeu meio vaga.

– Olha, eu sei que você não tem nenhum respeito com os lobos, mas eu não sou um cão de caça e eu não vou cavoucar seu quintal atrás de algo que você enterrou quando criança, entendeu? – Ele soava levemente entediado.

– Não é nada disso, embora seja bom saber que nesses casos é melhor não perder tempo te ligando.

– Ótimo. Agora, o que você precisa?

Alexya pensou novamente em quão louco era recorrer a Kyle sobre isso. Provavelmente ela estava só perdendo tempo e dando mais munição pra ele pegar no pé dela.

– Eu acho que a Brittany já deve ter te avisado sobre a festa pra comemoração da nova capitã das Wolf’s amanhã a noite, não é?

– Ela disse. Mas mesmo se não tivesse dito nada, eu saberia pelos panfletos espalhados pela faculdade. Eu espero que vocês não destruam a casa dos meus pais.

– É, que seja. Não somos vândalos, de qualquer forma.

– Nunca disse que eram. Mas enfim, você esta me ligando pra me convidar pra ir com você, Alexya? Tenho que te levar pra jantar primeiro? Devo levar camisinhas?

Alexya virou os olhos novamente. Sério, como ele podia ser tão idiota?

Se lembre o porquê de você estar fazendo isso. Sua consciência disse a ela. Se concentre, caralho.

– Não, Kyle. – Ela disse calmamente, como você fala com uma criança. – Mas como você sabe, já que a festa é basicamente pra mim, é necessário que eu esteja lá.

– Isso é lógico.

– E a festa é amanhã. À noite.

– Sim, e...?

– E, que durante a noite Lucian está acordado. E o vinculo me força a estar com ele.

– É, tem isso. Mas eu ainda não cheguei na parte em que eu entro na história.

Alexya suspirou. – Eu preciso que você convença Lucian a me deixar ir pra festa. Você vai estar lá, também. E uma noite longe dele não vai me matar.

– Por que eu preciso convencê-lo? Você já está ao redor dele essa noite, conversa com ele você.

– As coisas não estão... Boas, entre a gente.

– Entendo. Mas eu ainda não me vejo convencendo ele.

– Bom, se eu simplesmente não aparecer amanha, ele vai mandar você atrás de mim, como da ultima vez, certo?

– Sim. Provavelmente.

– Então você pode simplesmente não me levar até ele. Vai até a festa e fique por lá.

Kyle soltou uma gargalhada do outro lado da linha. – Você não tem nem uma maldita idéia de quem Lucian é, tem?

– O que você quer dizer com isso? – Alexya perguntou confusa.

– O cara tem trezentos anos de idade! Alexya, não é a toa que ele é o líder do maior clã da cidade. Ele é tipo, muito, muito forte. O clã dele é o único que contém uma matilha, além disso.

– Ta, ele é forte e você esta com medo dele, entendi isso. Mas eu preciso estar na festa amanhã!

– Então fale com ele. Se as coisas não estão boas entre vocês, não é como se ele fosse ficar triste de você se afastar. Mas ao invés de agir como uma garota mimada e bater o pé, avise ele que você não vai ir.

– Você acha que isso vai dar certo? Que ele vai me deixar ir?

– Eu sinceramente não faço idéia. Desde que você apareceu, Lucian não tem agido muito como ele mesmo.

– Como assim “agido como ele mesmo”?

– Vampiros como Lucian não transformam muitos escravos de sangue. Camilla tem estado com ele por 80 anos, pelo que eu sei.

– O que? 80 anos? Mas ela não parece ter mais de 28! – A voz de Alexya soava levemente histérica.

– Sim, mas esse é um efeito do sangue dele. Ela envelhece muito, muito, de vagar. Na verdade, quanto mais ela beber, mais lentamente ela envelhece.

– Okay, mas onde está a mudança de atitude dele?

– Você. Em uma noite qualquer, ele aparece com uma nova escrava de Sangue a tira colo que ninguém conhece ou ouviu falar. Uma garota que, pelo que tudo indica, não quer ser escrava de sangue e abomina o mundo das sombras. Que escolhe um namorado humano ao seu mestre vampiro. A essa altura, você já deveria estar morta, sabia?

– Como que é? Você disse morta? – Alexya soava tão chocada quanto se sentia.

– Sim. Quando uma escrava de sangue começa a dar muito trabalho, geralmente os vampiros se livram delas. Me surpreende que com tudo que esta acontecendo Lucian ainda esteja te mantendo por perto. Mas, como eu disse antes, ele não está agindo como ele mesmo.

– Por que será que ele está agindo de forma diferente? Não me entenda mal, eu amo o fato de ainda estar viva, mas eu não vejo por que de ele não ter me matado ainda, se as coisas são como você diz.

– Eu não sei. – Alexya podia sentir Kyle dar de ombros. – Se eu não o conhecesse melhor, diria que está apaixonado por você.

Alexya pensou sobre as palavras frias de Lucian na noite anterior. Como ele jogou na cara de Alexya os erros dela e depois de tê-la machucado correu pros braços de Camilla.

– Não, eu duvido que ele esteja apaixonado por mim.

– De qualquer forma, a única forma de você ir a festa é falar com ele. Por mais assustadora que essa perspectiva possa parecer, ela é muito fraca comparada ao que ele vai mandar fazer se você simplesmente não aparecer como fez na outra noite. E então, mais pessoas podem se machucar, além de você.

– Nossa Kyle. Obrigado por me deixar mais assustada do que eu já estava. Eu realmente aprecio isso!

Kyle solta uma gargalhada. – Tudo por você, baby. Agora eu tenho que desligar.

E então, ele desliga sem dar a oportunidade de Alexya se despedir. Não que ela tivesse algo a dizer. Sua mente girava em torno das coisas que ele havia dito a ela e pairava sobre a perspectiva de enfrentar Lucian.

Merda. Ela pensou. Eu não sei se posso fazer isso.

Como se Deus estivesse respondendo seus medos, a porta da frente da casa de Lucian se abre e ele paira na porta.

– Você vai entrar, ou vai passar a noite no carro revendo os prós e contras de falar comigo? – A voz de Lucian flutuou até ela.

Bom, acho que isso já tinha sido decidido por ela, não é mesmo?