Causa Perdida? escrita por Gabriela Maria


Capítulo 1
Capítulo 1




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Era uma noite fria e os pesados flocos de neve a cair anunciavam para todos os alunos de Hogwarts que a temporada de aproveitar dias ensolarados e ventosos no jardim da escola estava temporariamente encerrada.

Sentado numa mesa junto a uma janela do salão comunal da Grifinória, James Potter olhava assustado para a pilha de livros à sua frente. No trimestre anterior, ele passou com relativo sucesso nos Níveis Ordinários em Magia (NOM’s), reprovando apenas em Adivinhação. O que James não tinha imaginado era que o sexto ano em Hogwarts seria tão puxado e o pressionaria tanto a estudar.

De fato, o garoto popular e inconsequente passara os últimos meses numa condição que seu melhor amigo, Sirius Black, apelidou de “aposentadoria por invalidez”. Naturalmente, Sirius não foi ameaçado por uma das monitoras grifinórias, Lily Evans, de passar o resto do ano de detenção caso tornasse a jogar bombas de bosta nos corredores.

À frente de James, do outro lado da mesa, estava um garoto mais baixo, com cabelos cor de rato e uma pele flácida, que indicava seu grande ganho de peso em pouco tempo. Peter Pettigrew estava debruçado sobre o pergaminho em que escrevia seu longo e complexo trabalho de Poções. Desde os resultados alarmantes que conseguiu nos NOM’s, Peter estava extremamente dedicado aos estudos. Talvez por isso ele fosse o único Maroto que não estava ansioso pelos acontecimentos daquela noite.

Entediado com o silêncio de Peter e com a monotonia dos deveres, James correu os olhos pela sala, encontrando a figura de Sirius recostada a uma parede. Alto e charmoso, com aqueles cachos escuros e crescidos, Sirius retribuiu o olhar do amigo e sorriu confiante, mas James não conseguiu demonstrar tanta tranquilidade.

A conversa visual dos dois foi interrompida pelo barulho de uma garota voltando do dormitório feminino. Era uma jovem de estatura mediana, longos cabelos ruivos, pele clara e olhos muito verdes. James já estava acostumado a acompanhá-la com os olhos, ainda que Lily Evans fingisse não vê-lo. Na verdade, a última vez em que eles trocaram mais que cinco palavras, aconteceu quando ela o flagrou jogando bombas de bosta num corredor perto da sala de Filch, o zelador. Desde então, James decidiu que não valia a pena correr o risco de passar o resto do ano letivo de detenção e parou com o que Lily julgava serem “atitudes estúpidas e infantis”.

Ela trazia consigo dois livros: um grande e pesado e outro menor e mais grosso. Parou diante de um sofá próximo à lareira, onde uma garota de longos cabelos lisos e escuros e rosto arredondado estava sentada com uma expressão aborrecida.

- Alice – Lily chamou cautelosamente –, trouxe o livro de Astronomia que você pediu.

A garota chamada Alice resmungou alguma coisa em agradecimento, apanhou o livro que a amiga lhe estendia e pôs-se a folheá-lo. Lily pareceu ligeiramente preocupada.

- Alice, você quer mesmo continuar aqui?

- Claro – a outra respondeu decidida. – Frank deve aparecer a qualquer instante.

Considerando o ar irritado de Alice, James imaginou que ela e o namorado, Frank Longbottom, continuavam numa fase delicada. Aparentemente, Lily também chegou a essa conclusão, pois ela desistiu de mudar a cabeça da amiga e se acomodou numa poltrona mais afastada para ler.

- Segura a baba, James...

Era Marlene McKinnon quem falava. Ela tinha acabado de chegar ao salão comunal e sentou ao lado de James com um ar muito cansado.

- O que está acontecendo com o Peter? – perguntou assustada.

- Pela primeira vez, James prestou real atenção ao amigo. Peter agora estava com o rosto contorcido de concentração.

- Não se preocupe – James respondeu. – Ele só está terminando um trabalho do Slughorn.

- Qual o problema, James?

- Nenhum – ele disse de forma pouco convincente.

Embora fosse uma das melhores amigas de Lily, Marlene sempre se deu bem com os Marotos. Na verdade, Remo e Lily gostavam de dizer que, no ano anterior, ela “se deu bem até demais” com Sirius.

- E então, Lene, passeando acompanhada pelos corredores?

- Nem tanto – Marlene respondeu decepcionada. – A Claire insistiu em estudar Herbologia hoje e eu acabei trancada na Biblioteca desde quando saímos do jantar até agora.

Novamente, James teve sua conversa interrompida. Dessa vez, a causa era Frank Longbottom, que vinha do dormitório masculino. Alto, magro, um tanto desengonçado e de cabelos escuros, Frank tinha um ar irritado quando parou em pé ao lado de Alice.

- Eles estão brigados desde a visita a última Hogsmeade – Marlene lamentou. – Parece que uma ex-namorada do Frank andou enchendo a paciência da Lice.

Frank era colega de Casa, turma e dormitório dos marotos e, desde os primeiros anos em Hogwarts, ele era um dos alunos mais talentosos e esforçados, junto com Lily e Remo. Segundo Marlene, há séculos, Alice esperava que ele a convidasse para sair e, quando as coisas pareciam estar se encaminhando, tudo deu errado.

- Alice, será que você pode me ouvir? – James, Marlene e Lily pararam o que estavam fazendo para observar.

Para preocupação geral, Alice pareceu subitamente concentrada em estudar Astronomia.

- Alice, chega disso – Frank começava a ficar nervoso, mas ela pouco se importou. – Então é isso? Você vai continuar sem falar? Vai fingir que não está me vendo?!

A única resposta foi o barulho de Alice virando lentamente a folha de seu livro. O rosto de Frank ficou muito vermelho e, soltando uma exclamação de impaciência, ele voltou para o dormitório batendo os pés.

Alice não mudou de expressão. James e Marlene se entreolharam. Do outro lado da sala, Lily abanou a cabeça e retomou sua leitura.

- É, James, acho que as cosas estão muito paradas por aqui – Marlene falou, ficando de pé. – Boa noite.

Mal ela se retirou, e Remo Lupin desceu do dormitório masculino. Alto, magro, de cabelos alourados e ligeiramente pálido, ele estava confuso ao falar com James.

- O que deu no Frank? Eu pensei que ele fosse derrubar o dormitório.

- Parece que ele e Alice continuam brigados – James resumiu. – Quando você...?

Mas sua pergunta foi interrompida pela voz de Lily.

- Remo, vem aqui um instante!

Logo que Remo se afastou, James chutou freneticamente as pernas de Peter por baixo da mesa.

- Rabicho! Rabicho!

Inicialmente, Peter se assustou e borrou a maior parte do trabalho que estivera fazendo. Depois, ele olhou furioso para James.

- O que foi? – indagou.

- Vai lá ver o que o Remo e a Evans estão falando! – James falou com urgência.

- Pra quê?! – Peter resmungou irritado. – O Sirius já está lá.

James se virou para conferir. De fato, Sirius estava parado perto da poltrona ocupada por Lily, fingindo observar um quadro de avisos. Peter reclamou em voz baixa e tentou salvar o próprio trabalho, enquanto um James muito aflito esperava por Sirius para descobrir se o plano estava funcionando.

- Eles vão sair para a ronda daqui a quinze minutos – Sirius informou a James poucos minutos depois. – O Remo foi buscar o distintivo no dormitório e já volta.

- E a Capa? – James perguntou ansiosamente.

- O Remo tá trazendo. Assim que ele chegar e nos entregar o que precisamos, nós saímos discretamente para a Evans não perceber.

- Isso tem que dá certo, não é? Quero dizer, eu não tenho opção...

- Bom, na minha opinião, qualquer resultado que não envolva sua morte ou tortura seria positiva, Pontas.

James tentou ignorar o comentário. Ele não precisava ficar nervoso. Gostava de Lily há séculos...

Remo voltou pouco depois com um ar impaciente. Ele sentou ao lado de James e puxou um embrulho das vestes ao dizer:

- Frank está insuportável! Se as coisas continuarem assim, sou capaz de implorar à Alice para que fale com ele.

- Quem vê, Aluado, pensa até que você fala normalmente com a Claire – Sirius alfinetou.

- Mantenham o foco! – James exclamou impaciente após pegar o embrulho. – Já está tudo pronto, Aluado?

- Tudo certo – Remo confirmou. – Vão saindo. Daqui a pouco, eu mando o sinal.

James e Sirius já estavam prestes a se levantar quando Remo os conteve.

- James – ele começou em voz baixa e cautelosa –, você tem certeza do que está fazendo, não é? – James assentiu. – Bem, então mantenha a calma, ok? Pense no quanto você detesta ficar longe da Lily.

Não foi preciso falar duas vezes. Alguma coisa dentro de James acordou e, pela primeira vez naquela noite, ele teve plena consciência do que estava prestes a fazer. Não pode evitar um misto de nervosismo e animação.

- Anda logo, Pontas – Sirius apressou. Em seguida, ele se virou para Peter. – Certeza que não vem, Rabicho?

- Não – Peter respondeu, sem desgrudar os olhos do pergaminho. – O Pontas já quase acabou com meu trabalho hoje.

Por fim, James e Sirius trocaram um último olhar cúmplice com Remo e saíram pelo buraco do retrato.


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