Péssimas decisões. Essas duas palavras resumiam exatamente o que ele havia feito. O que acontece é que quando se está em meio a problemas chega uma hora em que você tem vontade de jogar tudo para o ar e deixar as coisas acontecerem. Sem pensar no que os outros vão pensar, sem pensar no que você fará depois e sem pensar em todas as possíveis consequências para esse erro terrível. Claro que na hora isso tudo parece uma coisa inocentemente boba, da qual depois você dará um jeito, ou simplesmente uma coisa que você nem se importa se terá jeito, mas então, como em um sonho maravilhoso, alguma coisa ou alguém te acorda e você volta à terrível realidade.

Enquanto corria desesperadamente pelo jardim da escola, passando por alunos que ainda sorriam e gritavam “Ei, é o Novo Tiago!”, Alvo Potter tinha todos esses pensamentos em sua cabeça de cabelos negros bagunçados, um pouco pela velocidade com que estava correndo e também porque havia os bagunçado mais cedo, uma ideia ridícula que tivera do que Tiago faria. Para falar a verdade, agora que havia pensando nisso, essa fora a única coisa que o irmão realmente faria.

Alvo desviou de mais um bolinho de alunos e viu os dois que estava procurando. Praticamente se atirou em cima deles e desatou a falar muito depressa:

- Me desculpem, eu fui um completo babaca, aliás, sempre fui, tive a ideia ridícula de que talvez se eu agisse como o Tiago as coisas iam melhorar, mas pelo visto eu não conheço meu próprio irmão, bom, quer dizer, nisso sim, porque ele realmente não se importa com os problemas, mas não na parte de fazer todas essas besteiras que eu fiz hoje, o que prova que eu sou um grande idiota, eu reconheço, mas... Ah, isso não justifica nada eu sei, e vou entender se quiser me bater, Carlos, eu mereço depois de não ter te defendido e te dito aquelas coisas idiotas, então... Vai em frente.

Alvo fez um leve movimento com a mão protegendo o rosto e apertou os olhos com força, mas logo os abriu. Carlos e Rosa trocaram um olhar desconfiado, mas nenhum dos dois bateu nele. Rosa mudou a expressou, mas Carlos cruzou os braços e fechou a cara.

- Bem vindo a bordo novamente. – ela estendeu a mão para Alvo e deu um leve sorriso.

- O que? – Alvo e Carlos exclamaram.

Alvo esperava que Rosa fosse lhe dar um tapa ou provavelmente lhe fazer um discurso sobre o quão idiota ele fora e o quanto aquilo havia lhe custado, mas lhe estender a mão e o aceitar de volta? Não que ele não esperava que isso não ia acontecer, já que tinha ótimos amigos que com certeza o perdoariam depois de um tempo, mas não assim, de uma hora para outra.

- Todos erram, Al. Você se arrependeu, é isso o que importa, não adianta agora ficarmos te julgando. E nós também erramos, devíamos saber que era muita pressão também.

- Mas nós não nos bandeamos para o lado dos sonserinos. – Carlos grunhiu.

Rosa revirou os olhos e Carlos apertou o olhar.

- Eu sei, eu fui um idiota em fazer aquilo. – Alvo admitiu. – Rosa estava me mandando ver o lado bom da coisa e eu fiz a primeira coisa que me veio na cabeça. E eles começaram a me dizer que eu podia ser popular e respeitado, aquilo mexeu comigo, quando se tem o mundo inteiro te chamando de louco você começa a gostar de qualquer pessoa que te diz algo de bom.

- Me chamou de idiota. – Carlos lembrou, endireitando a mochila no ombro e franzindo o cenho. – Disse que meu lugar não era com você.

- Eu estava errado! Eu é que fui um idiota, só queria ter o meu momento de fama e...

- Momento de fama? – repetiu Carlos num tom sarcástico, erguendo a sobrancelha. – Espera aí, o filho de Harry Potter estava querendo ter seu momento de fama?

Alvo deu um muxoxo irritado consigo mesmo por não estar escolhendo as palavras certas. Rosa apenas observava, olhando de um para outro.

- Olha, eu só quis ter um momento em que eu me sentisse como o Tiago, entende? Ser o valentão da escola, as pessoas terem medo de você, ser temido...

- Ser o Tiago não é colocar medo nas pessoas. – Carlos o cortou. – É impor respeito. Ele nunca andou com os sonserinos para ter fama. Você estava rindo do Ethan e do Elliott, Alvo! Eles eram nossos amigos, gente que confiou em você, que te apoiaram mesmo antes de toda a sua fama! E o que você fez? Ficou do lado daqueles que riam, que te xingavam e que te bateram um monte de vezes!

Alvo não falou nada. Havia feito tudo errado! Tudo! E agora a burrada estava feita, Carlos nunca mais olharia na sua cara. Ele trocara o garoto que o ajudara a levantar pelo garoto que o derrubara há dois anos atrás.

- Certo, eu fiz tudo errado. – ele assumiu. – Não precisa andar mais comigo, eu prometo que não vou dizer mais que bom dia para você, não se preocupe, você pode dizer para todos que eu sou um idiota e não precisa dizer que fomos amigos, eu só...

- Do que você está falando? – Carlos ergueu a sobrancelha.

Alvo o olhou desconfiado.

- Você não quer mais ser meu amigo, certo? Eu entendo, não se preocupe. A partir de agora não...

O garoto revirou os olhos e Alvo se calou.

- Eu não disse que não seríamos mais amigos. Disse que você foi um idiota. – ele encolheu os ombros.

Fez-se um silêncio no qual os três olhavam de um para o outro. Carlos parecia estar sofrendo um conflito interior, e olhava de Alvo para Rosa como se estivesse decidindo se iria ou não perdoar o amigo. Por fim, deu um longo suspiro e colocou as mãos nos bolsos.

- Faça isso de novo e eu juro que te mato. – disse Carlos, dando um sorriso de lado.

Alvo quase soltou uma exclamação, mas apenas sorriu aliviado. Rosa deu um pulinho de felicidade e um silêncio desconfortante reinou entre eles por um tempo. Alvo olhou para os lados e parou o olhar em um ponto bem distante. Ou melhor, em um garoto bem distante.

- Ainda tem uma coisa que eu preciso consertar. – Alvo disse aos dois, que entenderam imediatamente do que ele estava falando.

Ele saiu em disparada até o irmão. Scorpius estava certo em uma coisa: a escola estava mesmo de cabeça para baixo. Os alunos não estavam em seus devidos lugares, o maior bebê chorão de Hogwarts estava fazendo sucesso e o maior valentão da escola de repente passara para a maior piada dos sonserinos. E é claro, tudo isso havia começado com a mudança repentina de comportamento de Tiago, pois se você consegue derrubar o rei, o reino fica desestruturado.

Alvo chegou ofegante e sentou-se ao lado do irmão, que lia um livro de frente para o lago. Tiago estava tão concentrado na leitura que nem notou que ele havia chegado.

-Hum... O que está lendo? – Alvo perguntou.

Tiago se assustou e fechou o livro imediatamente.

- Os mistérios da Bola de Cristal, dever de casa de Adivinhação. – respondeu, alisando o cabelo.

Alvo olhou para os lados, imaginando como começar.

- Você odeia Adivinhação. – disse, encarando o irmão. Estava completamente diferente. Aquele cabelo lambido para trás lhe deixava parecendo outra pessoa.

Tiago se endireitou e, mirando o lago com atenção, respondeu em um tom muito formal:

- Eu era completamente desiludido, a Adivinhação é necessária na nossa vida. Posso fazer uma Profecia sobre onde Bob Rondres está, com um pouco de treinamento. O mundo inteiro seria grato à mim.

- Por que está fazendo isso? – Alvo perguntou. – Andando com os inteligentes, usando essas roupas e penteando o cabelo? Você não é assim, Tiago.

- Eu? – o irmão questionou. - Hoje em dia há muitas definições para mim. O antigo Tiago, o novo nerd, o monitor chato...

- E o Novo Tiago? – Alvo o interrompeu.

- Se quer a minha opinião sobre sua nova reputação, saiba que eu te acho um idiota andando com os sonserinos.

Alvo sorriu.

- As coisas estão erradas. As pessoas não estão nos seus devidos lugares. – Alvo encarou o irmão esperando alguma resposta, mas Tiago apenas ergueu a sobrancelha. – Os sonserinos estão dominando a escola...

Tiago corou levemente e tossiu alto.

- E o que você quer que eu faça? Não posso dar uma detenção a eles por isso, eu já tentei...

- Mas você é o Tiago. – Alvo chegou direto ao ponto. – Você consegue tudo o que quer! Bota medo em qualquer um! Ou melhor, impõe respeito.

- Tanto respeito que apanhei do Joshua. Sou a nova piada dessa escola. – Tiago bufou, mostrando a revolta que estava guardando e disfarçando. – Você viu a cara da Lilí quando eu não defendi ela? Ela nunca mais vai ter orgulho de mim! Essa escola nunca vai se lembrar de mim como o Grande Tiago, eu irei ser apenas o monitor mesquinho. Eu fui um covarde, é incrível como umas palavras conseguem abalar você... Eu perdi meu trono.

- Então conquiste ele de volta! – Alvo se levantou. – Só riem de você porque você é o novo monitor, e isso mexeu com sua confiança. Mas esse... – Alvo apontou para o cabelo lambido do irmão – Esse não é você. O Tiago que eu conheço não liga para os outros, e dá um bom soco no primeiro que ri da sua cara. Tá na hora de voltar a ser esse Tiago e fazer todos acharem a coisa mais legal do mundo ser monitor!

Alvo sentiu-se em uma daquelas cenas emocionantes daqueles filmes onde o bem vence o mal. Estendeu a mão para o irmão e este olhou para os dois lados, suspirou e apertou a sua.

- Ah... Já ia me esquecer! – Tiago levou a mão ao cabelo e o bagunçou. Sorriu e deu outro longo suspiro. – Tiago Sirius Potter está de volta, baby!

Alvo reprimiu uma gargalhada e em vez disso disse:

- É bom te ter de volta, Grande Tiago!