Alvo Potter E O Mensageiro De Boráth escrita por Amanda Rocha


Capítulo 26
Na alma de um Mensageiro


Notas iniciais do capítulo

Falei que não ia demorar u.u Mas e aí, queridos amiguinhos, prontos para mais respostas? Bom, pelas minhas contas esse deve ser o penúltimo capítulo, mas falamos disso lá em baixo.
Enfim, suas dúvidas restantes estão prestes a serem esclarecidas logo abaixo, então boa leitura e.e



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/368067/chapter/26

Todos conhecem aquela sensação que você tem quando acorda de um cochilo de tarde e simplesmente não lembra mais quem você é, o que está fazendo ali ou que mundo é esse.

O sol já estava se pondo - segundo dissera um guarda – quando Alvo acordou, mas, logo ao abrir os olhos, ele já se lembrou de tudo o que havia acontecido. As lembranças lhe vieram à mente ao mesmo tempo em que sentiu sua garganta apertar. Pelo menos estava feliz por não ter tido pesadelos.

Scorpius estava de pé, os braços para fora da grade, observando os outros prisioneiros. Brubock dissera que ele passara a tarde toda gritando como um louco para o soltarem, até que os guardas (Alvo tinha a leve impressão de que não eram Aurores) ameaçaram cortar sua língua fora e, por fim, ele perdera a voz.

Rosa já não estava mais chorando, mas se mantivera sentada no chão, encarando os pés, exatamente como estava antes de Alvo adormecer.

– Essa prisão... – disse Alvo, encarando Brubock, que permanecia tranquilamente sentado em seu beliche. – É a única prisão da França? Parece tão pequena...

– Não, senhor, aqui nós temos quatro prisões ao todo, cada uma de acordo com o crime. Esta é a menor, para delitos mais leves. Em sua maioria, viajantes ilegais, menores de idade, embarcadores e pequenos roubos. Por isso se encontra logo na beira da praia de desembarque. Facilita muito o trabalho...

Alvo concordou, coçando a cabeça. Seu cabelo estava cheio de areia. Notou que sua roupa também não estava das mais limpas. Entretanto, a sujeira maior não era a física, era a que estava dentro de sua cabeça.

– Por que você foi preso mesmo? – perguntou, sentando ao lado do Mensageiro.

– Por ser pego ajudando ingleses – disse Brubock, com um tom de orgulho na voz.

Alvo o encarou. Por mais que entendesse que este tempo todo o garoto só estava tentando o ajudar, não conseguia deixar de culpa-lo por aquilo.

– Mas se a França é tão rígida como dizem que é... Como você veio parar aqui? Quer dizer, não deveria estar em uma prisão maior?

– É uma longa história... – respondeu Brubock, suspirando e olhando rapidamente para a cela da frente.

Alvo também suspirou. Como a sala era subterrânea, não havia paredes, e isso o fazia sentir ainda mais preso. Viera aqui com um único objetivo: salvar Lilí e Carlos. Agora estava atrás das grades esperando... Bem, apenas esperando. Sem ter bem um “pelo quê” esperar. E isso o irritava muito. E o ódio que queimava seu coração doía, porque não gostava de ter esse tipo de sentimento.

– Bom, acho que vou ter muito tempo para ouvir... – ponderou ele, encarando o menor.

Brubock deu um leve sorriso e fechou os olhos.

– Há muito tempo atrás... – começou, e Alvo viu que realmente seria uma longa história. – O maior Mensageiro de Boráth era Heron. Ele fora previsto por uma profecia e, como foi dito, se tornou o herói do povo. Sabe, um Mensageiro de Boráth nasce com esse dom. Um pouco de clarividência e a clareza para enxergar além o que os outros não veem. Para enxergar a resposta nas vias temporais. Logo ao nascer se nota essas coisas. E foi assim com Heron. Ele não só evitava grandes catástrofes, como também ajudava a todos nas mínimas coisas. Era cercado de bondade. E todos o amavam, porque a paz reinava na França. E tudo estava bem... Ele foi um viajante do tempo tão bom que, ao chegar na velhice, o povo inteiro o elegeu digno de usar a Pedra Filosofal, para que pudessem usufruir de suas bondades por mais um bom tempo. Bem, o povo inteiro, menos o Ministério. Questão de poder, acredito. Conforme o Mensageiro de Boráth ia ganhando o amor dos franceses, mais influente ficava. Logo estaria mais poderoso que todo o Ministério, e não era o que eles queriam. Foi aí que houve o início do que seria a maior revolta de todos os tempos na França. E Heron viu essa revolta se aproximando nas vias temporais, e viu tudo o que isso causaria. E, por mais que ele amasse servir ao povo com seu dom, ele sabia que havia coisas que não deveriam acontecer.

“Então um dia foi feito um grande tribunal. Onde seria decidido o que seria feito de Heron, pois os bruxos se recusavam a acreditar que um homem tão bom quanto ele fosse simplesmente aposentado de um cargo que beneficiava tanto a humanidade. Mas no exato momento em que iria ser dado o julgamento final, Heron levantou e disse a todos estas únicas palavras “depois da batalha o viajante descansa”. E desaparatou. E nunca mais foi visto”.

– E o que significa?

– Na época? Pode ser muitas coisas – disse Brubock, abrindo os olhos e fitando Alvo. – Provavelmente que sua missão como o Mensageiro já estava cumprida, e que agora ele ia finalmente descansar. O que também pode ser interpretado de várias maneiras. Mas hoje essa frase tem um significado muito maior do que isso. Hoje é a frase daqueles que ainda acreditam num amanhã onde todos sejam beneficiados pela magia das vias temporais.

Alvo refletiu sobre isso, por um momento. Ponderando em sua mente se mudaria ou não seu conceito sobre Brubock.

– Você diz essa frase bastante... – contestou.

– Para me lembrar de meus princípios, senhor – explicou Brubock, em sua voz calma -, e me manter forte na jornada...

Alvo encarou Scorpius, que parecia sibilar alguma coisa para o guarda, mas já não saía som de sua boca. Rosa ouvia atentamente a tudo o que o Mensageiro falava, mas ainda estava com o semblante cansado.

– Você ainda não me explicou porque está aqui... – lembrou Alvo, tossindo levemente.

– Verdade... – concordou o menor. – Quando já tinha pouco mais de uma década de trabalho como Mensageiro eu...

– Uma década? – riu Alvo, pois Brubock não aparentava ter mais de sete ou oito anos.

– Uma década, senhor – afirmou ele, sem entender o porquê da graça. – Bem, com este tempo de serviço, eu fui mandado ao departamento de Equipamentos Temporais, uma grande honra. No entanto em... Em um acidente... – ele disse “acidente” de uma forma que pareceu a Alvo ser muito mais de um acidente. - Acabei sofrendo o que os especialista gostam de chamar de “desvio de idade”. É algo que tem vários efeitos colaterais. Em mim fez com que eu voltasse no tempo, porém apenas fisicamente, até os sete anos, como todos os acidentes desse gênero, menos que isso mexeria demais com o psicológico mágico do bruxo, então a magia no sangue regurgita o objeto em defesa do organismo.

Brubock fez uma pausa, provavelmente para ver se Alvo estava o acompanhando.

– E por que você está nesta prisão é...? – disse o garoto, que ainda não via a ligação de todos aqueles fatos.

– Bom, senhor, você tem que entender que tudo o que acontece naquele departamento é extremamente confidencial, principalmente... Principalmente como foi comigo... Eu só tinha dois caminhos a seguir, mas o acidente era irreversível... Eu teria de abandonar meu maior tesouro do mesmo jeito, minha família...

– Por quê? – perguntou Alvo, ainda confuso.

Brubock franziu a testa, como se aquilo fosse óbvio.

– Bem, logo meus filhos estariam do meu tamanho... Não era justo que minha esposa tivesse que criar mais uma criança... E, bom, senhor, como um garoto de sete anos seria o chefe de uma família?

Alvo finalmente compreendeu. E de repente sentiu pena de Brubock. E, ao olhar em seus olhos, notou o porquê deles passavam tanta sabedoria. Ele podia ser apenas uma criança fisicamente, mas sua alma era muito mais madura.

– E o que você fez? – perguntou.

– Fiz o que achei ser o certo – disse Brubock, olhando mais uma vez para a cela à frente deles. – Abandonei minha família. Eu sempre vou os amar muito, mas foi o que achei ser o melhor para todos. O mundo precisava mais de mim como o Mensageiro do que eles como um pai e marido. Foi enviado um bilhete à minha esposa dizendo que eu havia morrido em viajem... Mas ela não aceitou... Sabia que morrer era algo difícil para alguém que possui a clarividência das vias que eu tenho... E então ela se revoltou contra o Ministério... Disse poucas e boas e o ameaçou com segredos dos poderosos que eu somente havia contado à ela... E bem, o Ministro, com medo de que isso se espalhasse... Mandou que prendessem toda a minha família, de modo que os seus segredos também estariam presos com ela, o que serviu como punição à mim por ter compartilhado com mais alguém o que havia visto nas vias.

Alvo olhou para o garoto, hesitante, porque ainda estava faltando algo para se encaixar nessa história toda.

– Ao ajudar vocês... – prosseguiu Brubock, a voz um tanto que vacilante. – Eu sabia do risco que estava correndo. Mas meu chefe foi cruel. Ele não me mandou somente para uma prisão qualquer. Você os vê? – ele apontou para a cela à frente.

A luz era fraca, e havia alguns guardas na frente, mas Alvo pôde distinguir uma senhora de meia-idade, um jovem adulto que devia ter menos de vinte anos e uma adolescente loira muito bonita, um pouco mais velha que Alvo.

– Sim, estou vendo... – confirmou o garoto.

– Eles são a minha família.

***

Comida de prisão não era nada boa, mas a da França até que estava saindo melhor do que a comida do navio. Não havia peixe nem comida enlatada, então ele estava mais que satisfeito com seu purê de ervilhas.

Também havia esfriado um pouco sua cabeça quanto a Carlos e Lilí. Ele estava preso, não havia nada que podia fazer além de rezar para que seu pai se concentrasse em procurar os dois em vez dele, afinal, ali ele estava seguro, diferente dos outros.

E, além do mais, Alvo pensara muito sobre a situação de Brubock. Ele estava sentindo muita falta de sua família, mas deveria ser mil vezes pior ter a sua a poucos metros de distância e não poder abraçá-los porque eles simplesmente não acreditariam. Alvo ficou um bom tempo pensando sobre isso. Perguntou se o Mensageiro já pensara em contar para eles, mas o garoto (ou senhor, o que preferir) disse que não era o tipo de coisa que você faz acreditar com uma simples conversa, eles o chamariam de louco. E Alvo teve que concordar – até porque já estava adquirindo uma certa experiência na área da loucura. Porém, não pôde deixar de se sentir mal quando o mesmo lhe disse que tudo o que queria era que eles soubessem da verdade, era o mínimo que os devia.

Naquela noite, Alvo, Rosa e Brubock ficaram sentados no chão, encarando a cela da frente (Scorpius continuava debruçado na grade, fazendo cara triste para os guardas, provavelmente esperando que um deles se compadecesse e o soltasse, pois ele já havia cansado de pedir seu direito a um berrante para a família).

E, enquanto encarava a família de Brubock, Alvo voltou a pensar na sua. Especialmente em seu irmão e em como o deixara. Em como prometera... Fechou a mão e levantou somente o mindinho, pensando no valor sentimental que isso tinha para os dois. E em como ele quebrava, tantas vezes. E, ao abaixar o dedo, notara a pulseira em seu pulso: um presente que ganhara de Baddy no Natal. Uma pulseira que pingava tinta à base de Veritasserum...

– Ei, Brubock, sei de algo que pode te ajudar!

***

Enquanto Alvo se sentia melhor por poder estar fazendo alguma de útil, não muito longe dali, Bob Rondres admirava um peculiar objeto retangular do mesmo jeito que uma criança olha cobiçosa para um brinquedo novo.

– Senhor... – disse um homem, hesitante. Era alto, careca e tinha uma marca feia de queimadura no lado esquerdo do rosto. – Não seria mais sensato dar esta tarefa a mim?

Rondres desviou o olhar do objeto e olhou seu Comensal como se a pergunta fosse ridícula.

– Por mais que eu tenha vacilado no passado – acrescentou ele, incapaz de olhar diretamente nos olhos do mestre -, acredito que minha punição tenha me feito aprender a lição – ele fez um sinal para a enorme cicatriz no rosto.

Bob Rondres cruzou os braços e franziu o cenho, parecia estar ponderando esta ideia, porém era difícil decifrar suas rígidas feições.

– E também – prosseguiu o outro, começando a ficar nervoso. – Bem... Acha mesmo que deve dar esta... Esta honra... Ao McLaggen? Quero dizer, ele trouxe o garoto errado. Foi um erro inaceitável... Não foi?

– De fato, foi... – concordou Rondres, depois de um longo silêncio. Sua voz estava neutra, de modo que ainda não era possível dizer se continuava tão irado quanto estava antes. – Mas já estou acostumado com erros inaceitáveis de meus servos, não estou? – ele olhou para Clodeck, ameaçadoramente. O comensal, por sua vez, suspirou e baixou os olhos novamente. – No entanto, há uma razão para eu mandar o McLaggen no seu lugar.

Clodeck encarou seu mestre, curioso.

– E qual seria, mestre?

Rondres voltou sua atenção para o objeto, apenas o observando dentro da redoma de vidro.

– Provavelmente não voltará – disse, com descaso.

– Não voltará? – o servo perguntou, confuso. – O que isso quer dizer, exatamente, senhor?

O bruxo deu um risinho de desdém.

– Se conseguir mesmo dar um fim ao menino, Potter com certeza dará um jeito de mata-lo – objetou Bob.

Clodeck estremeceu ao finalmente entender e, por um instante, se sentiu imensamente grato em não ser o encarregado de tal missão.

– E como o garoto ganhará um fim, senhor? – perguntou. E, ao perceber que poderia estar sendo muito atrevido, completou: - Se o senhor me permite saber, mestre...

Rondres apontou para o objeto.

– Você o vê? Foi forjado por Impier – disse, e só este nome já fez com que Clodeck se arrependesse de perguntar porque não era um homem com o qual ele gostaria de se meter. – É apenas uma barra de metal... Embora carregada de magia negra, praticamente inofensiva para qualquer bruxo normal. No entanto, em um simples contato com a pele d’O Escolhido é capaz de mata-lo instantaneamente.

O comensal engoliu em seco.

– Essa ideia te desconforta, Clodeck? – desdenhou Rondres. – Não há porque eu mesmo sujar minhas mãos... Além de toda a complicação que causaria. Tenho meus próprios negócios a cuidar agora, e meus planos são muito mais importantes que um fedelho desprezível.

Clodeck concordou com a cabeça.

– E como ele vai chegar até o garoto? Ele não está preso? – tornou o bruxo.

– Certamente – afirmou o mestre. – No entanto, estamos falando de Alvo Potter. Seu sobrenome maldito tem tanto peso que me admiro de ter ficado um dia sequer atrás das grades... Logo será salvo pelo papai. E quando isso acontecer, Malfoy se encaminhará do resto...

Clodeck deu um último olhar para o objeto na redoma antes de deixar a sala, pensando nas coisas horríveis que estavam destinadas a acontecer logo, logo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

#HeronHeróiDoPovo
Espero que a história do Brubock tenha ficado clara, porque eu criei ela de um jeito, mas por ter feito ela contada pela visão dele, não sei se deu pra entender.
Sem comentários sobre esta última parte do capítulo, tirem suas próprias conclusões u.u
Então, o próximo provavelmente será o último capítulo, então vai demorar mais porque quando posto o último já deixo o link da temporada seguinte. Não sei ainda se vou fazer isso, porque não tenho muita coisa bolada para a próxima temporada, então ainda estou decidindo isso, mas se eu demorar, já sabem.
É isso, deixa um review aí embaixo, porque pra mim vale muito, ok? u.u Shusahshaush, até, amiguinhos :v