II-Bia

–O que é isso? –Falei assustada.

A nossa frente estavam as duas, mas não as garotas feias de antes, e sim duas horríveis monstrengas transformadas em pedra e tomando um aspecto cada vez mais sinistro. Um bico se alongava nas duas e a cada momento seus troncos se tornavam mais parecidos com o de um leão. Sabia que eram perversas, mas não chegava a pensar que eram assim, tão... Tão... Arg!

– Bia, não pode ser! Você também está as está vendo como pedras? – falou Nicole que também parecia bastante assustada.

– Sim, acho que estão virando gá-gárgula – não acreditava, meus olhos só podiam estar me traindo, gárgulas vivas!?

– Temos de fugir daqui, rápido – Nicole falou já correndo para porta afora, mas para nossa infelicidade ela estava trancada.

– O que faremos agora?

– Calma Bia, não perdíamos pra elas antes não é agora que vamos nos abalar. – deu dando um de seus melhores sorrisos de confiança.

– Você tem razão, mas antes elas eram só monstros em teoria não era pra ser assim – apontei – tão real.

Agora as duas estavam em perfeita forma de gárgulas, Rebecca possuía o corpo de leão de uma gárgula, mas continuava musculosa como sempre e Mariana ainda era menor que eu, as duas com cara de águia, mas com seus antigos aspectos feios de meninas que foram.

Mariana voou por cima de mim e caiu em cima de Nicole que não teve tempo de reagir. Também não tive tempo de ficar preocupada, pois logo Rebecca vinha voando pra mim também. Agora nós duas estávamos caídas no chão. Quase que morro sem ar com o peso daquela nojenta.

– Você está bem Bia? – Nicole estava caída ao meu lado com alguns arranhões pelo corpo, afinal eram duas “pedras” bastante afiadas.

– Estou, temos que dar um jeito de arrombar a porta – falei em um sussurro.

– Também estava pensando nisso, mas vai ser um pouco difícil, seria melhor distraí-las e pular pela janela, estamos no térreo, não devemos ter problemas com a queda – ela deu outro sorriso confiante.

– Certo!

– O que vocês estão cochichando? É bom que falem alto pra que possamos lembrar-nos de suas últimas palavras e contar como a queda do teto as deixou soterrada – Rebecca deu uma gargalhada enquanto Mariana falava com uma voz rouca.

– Assim que terminarmos nosso trabalho aqui o derrubaremos e assim vocês realmente serão soterradas, não deixaremos vocês escaparem de forma...

Ela não terminou de falar, neste momento Jonathan arrombou a porta.

– Vocês estão bem? – mesmo acabando de nós salvar estava envergonhado, seu rosto mantinha seu tom corado de quando falava conosco.

– Estamos, mas pra ficar melhor temos de sair daqui, não podemos continuar assim por muito tempo. – Nicole se levantou.

– E-eu já informei o acampamento, os reforços j-já estão a caminho - Falou enquanto nos ajudava a levantar.

– Que acampamento? – falamos em uníssono.

– Depois eu explico para vocês duas, agora temos que derrotá-las e partir para o acampamento.

Neste instante, chegam duas pessoas quebrando a janela, uma menina e um garoto que usavam camisas laranja, com os dizeres “acampamento meio-sangue”. A garota vinha com uma faca em sua mão e o garoto com um martelo, as duas armas brilhavam com o reflexo do sol fazendo-as parecer de bronze.

O garoto lançou seu martelo em direção a gárgula menor, Mariana, e assim que o martelo encostou em seu pescoço ela virou pó. Quando a segunda avançou em direção a garota, ela desviou de seu ataque. Mas, sua intenção definitivamente não era de atacar a menina, ela abriu suas asas assim que passou por ela e saiu voando céu afora.

– Oi, meu nome é Leo - disse dando uma piscadela para Nicole. – E o dela é Piper, vamos?

Ele ajudou Nicole a se levantar e Jonathan foi falar com Piper. Levantei-me, não estava entendendo nada, como foi que essas pessoas ficaram sabendo onde nós estávamos? Como poderiam existir gárgulas em nosso mundo? Até onde sei não passam de criaturas escritas em livros sobre histórias antigas, apenas como decorações de antigos edifícios.

– Com licença, alguém poderia explicar o que está acontecendo?

– Bom, vocês duas são semideusas, sabe... Filhas de um deus ou deusa e um mortal. Creio que estudaram sobre algo assim na escola – Leo explicou.

– Mas isso são só mitos, não existem essas coisas na vida real – Nicole exclamou incrédula.

– Bom, vamos logo, a cada momento que se passa vocês correm mais perigo. – Falou Piper.

– Não vou a lugar algum em quanto não explicar o que esta acontecendo. – falei com raiva.

– Calma Bia, a gente vai explicar tudo quando chegarmos lá, estando aqui vocês podem ser atacadas novamente, agora temos que partir direto ao acampamento, não fica muito longe daqui.

– O Jonathan tem razão, Argos está nos esperando no ônibus – Piper pulou a janela seguida de Leo e Jonathan.

– Então, vamos?

– Não sei Nicole, você quer mesmo ir?

– Por hora acho melhor seguirmos eles, não acho que seja normal tudo que temos visto desde que fomos adotadas pelo papai. O que eles disseram explica aqueles homens altos e de um olho só na rua que vimos quando éramos mais novas, esta claro que eram ciclopes, eles também fazem parte da mitologia.

– Verdade, lembro também de termos visto um menino montado em um cavalo com asas no teto do apartamento ao lado, eles estavam cobertos até as pernas com umas plantas esquisitas.

– Ok, vamos lá, não temos nada a perder.

– Vamos – concordei e nos duas pulamos a janela.

Chegamos ao tal acampamento em cerca de 15 minutos, realmente não era muito longe, ficava do meio de uma colina logo após uma vasta plantação de morango e um pinheiro, com algo brilhando em seu galho, protegido por um... dragão.

Passamos pelo dragão e Leo o cumprimentou. Eles nos guiaram ate a varanda de uma mansão, lá se encontrava um homem em uma cadeira de rodas, e o outro de camisa de onça. Chegamos perto deles, e quando o homem de cadeira de rodas ia falar o outro falou:

– Chalé 11, vocês duas.

Olhei para Nicole com cara de duvida, e Piper puxou a gente.

– Vamos, vou mostrar o acampamento.

Piper nos levou até onde os chalés ficavam, e falou:

– E ai? É um pai ou uma mãe olimpiano?

– Bem, nós não sabemos nem quem são nossos pais de verdade, desde pequenas fomos deixadas em um orfanato até sermos adotadas pelo nosso pai de criação – Nicole se pronunciou.

– É, mas ele morreu, então continuamos vivendo no colégio interno da cidade, o diretor era amigo do nosso pai e nos deu uma bolsa pra continuar a estudar lá – completei.

– Então vamos ter de esperar até vocês se tornarem determinadas, normalmente não demora graças a um acordo feito com os deuses, vocês chegaram em um bom momento, antes, eu soube, só existiam os chalés dos 12 olimpianos. Agora, como vocês podem ver, existem para todos os filhos de todos os deuses.

– Então, qual é o deus do chalé 11? – perguntei.

– Hermes, deus dos ladrões, viajantes e mensageiro dos outros deuses.

– E de quem você é filha? – Nicole indagou.

– Afrodite, minha mãe é a deusa do amor e da beleza, chalé 10.

– E o outro menino? – perguntei.

– Chalé 9, filho de Hefesto.

Caminhamos até chegar à porta do chalé 11.

– Pronto, aqui estão... Nos vemos outra hora.- Piper se despediu. – se arrumem, pois daqui a pouco esta na hora do jantar.