Amor De Irmãos escrita por Minori Rose


Capítulo 23
Naquele dia


Notas iniciais do capítulo

To aqui rs
Bom, com uma gripe terrível, quase morrendo, mas consegui concluir finalmente o capítulo. Eu não demoro pra escrever, eu demoro pra passar pro pc e editar tudo direitinho; não se chateiem.
Eu terminei de ler Lolita (de Vladimir Nabokov) há algumas semanas e por isso, talvez (eu não posso alcançar o nível desse homem!) eu esteja nessa vibe, escrevendo parecido, indo no rumo, não na conclusão hein! Enfim, boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/367426/chapter/23


Teus dedos enlaçarão outros dedos

e tu desabrocharás para a madrugada

Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu,

porque eu fui o grande íntimo da noite

Porque eu encostei a minha face

na face da noite e ouvi a tua fala amorosa


Pequeno aviso: As cenas que se seguem talvez estejam confusas, truculentas com os seus desejos ou até mesmo menos produtivas. Mas que seja, entendam que a culpa é deles, não minha.

Ponto de vista – Violetta

Não pude deixar de rir depois que ele terminou de falar; não era um tipo de riso de quem acha graça, mas de quem precisa disfarçar a dor e o medo que aquelas perguntas me causavam. Todas elas. Adam disse com uma voz falha, concluída e acentuada por um riso e um balanço de cabeça em negação, como se aquilo fosse impossível. E era.

– Um dia eu vou te seqüestrar. Vai aparecer em todos os jornais, mas se eu for pego assumirei a culpa como crime passional.

– Você não ser pego... E eu vou ir de livre e espontânea vontade, não haverá crime algum.

Céus, uma novela.

Ele sorriu, já se desprendendo de mim e se afastando. Eu odiava aquele sorriso; era mais triste que choro, mais descompromissado que um flerte. Me afetada mais que socos. Era óbvio que a primeira pergunta foi a sua de mais caso pensado; não entendi na hora, não me foi explicado depois, no entanto as perguntas que se seguiram a mais dura eram tão mais doces e agradáveis de se ouvir... E tão mentirosas e torpes.

Adam somente se afastou de mim depois de beijar minha testa e sussurrar algo sobre eu ser uma gata, naquele maldito tão de irmandade. Sem aquela maldita lascívia que eu admito que era musica aos meus ouvidos; passou a mão carinhosamente no topo da minha cabeça, bagunçando meu cabelo, me fazendo fechar um dos olhos por costume. Mas ele nunca me olhava nos olhos.

Pareceu procurar depressa a chave do carro nos bolsos da calça; quando finalmente achou – sem olhar pra mim! – deu um tapinha sem jeito em meu ombro e deu a voltar até entrar no carro. Fiquei parada no calçadão, não fiz nada, não disse mais nada. E um certo momento ouvi Adam chamar-me o nome... Com a janela aberta, acendia um cigarro com sua velha mania de canastrão.

– Vá dormir em sua cama. Nada de bagunça até tarde.

Bati continência, coisa que fazia aos 10 anos. Se ele queria assim, que fosse. Estava com o celular as mãos agora e entre uma tragada e outra batia os dedos no aparelho. Alguns segundos depois – apenas fleches em minha cabeça – jogou a coisa no banco do carona e me encarou com uma expressão de contentamento. Não dava pra entender aquele cara, ele estava feliz?

Em uma ultima tragada deu a partida falando algo sobre perdão. Eu não quis ouvir. Já estava andando. E assim Adam foi embora para uma nova etapa do nosso ultrajante amor, a etapa mais ruim que já vimos. Foi embora para se matar aos poucos, se é que já não estava morto. Foi embora para a sua mulher. Ele era mesmo burro.



– Desculpa pela demora Sam... – falei, me sentando ao lado dele em uma mureta.

Assentiu com a cabeça. Suspirei. Me entregou uma água de coco e segurei com firmeza, até mais do que o necessário. Ajeitei o canudinho – vermelho – e o pus na boca, sugando a bebida com certa gentileza. Nada. Olhei para ele durante todo o processo e o Doutor por sua vez admirava o céu... Com algumas estrelas de um branco cintilante, saltavam aos olhos com o fundo negro. A lua sequer apareceu aquela noite. Parecia meio perdido em seus pensamentos...

Para calar as vozes em nossas mentes, curvei-me para beijá-lo. Por incrível que pareça, Samuel parecia meio perdido em como aplicar-se aos meus lábios, parecia não querer me amparar. Me beijou com uma intensidade baixa, com uma rapidez irritante, quase que obrigatória as suas perguntas que estalavam a garganta do homem ao meu lado.

Eu podia entender. Ele não me conhecia á fundo. Apertou minhas mãos antes de começar a indagar coisas que pelo que me lembro me ferrariam mais tarde; eu não estava bem para levar diálogos a sério, talvez não quisesse ver e expor meus medos a um cara que podia me amar.

– Eu sempre me perguntei o porquê do seu silencio no hospital, desses seus olhos perdidos no nada. Se me chamou aqui porque não me conta?

Hesitei antes de responder.

– Não tenho nada pra contar, Samuel.

– Esses seus relances depressivos, seus olhos se perdem do nada, se recusou a falar por semanas, essa reação estranha de agora á pouco. Isso é perturbante, entende?

Passei a entender o quão difícil seria namorá-lo. Eu sabia como a mente humana, psique e tudo abrangente dessa área era uma espécie de paixão para Samuel; mas que ele adentrasse na mente de seus pacientes, não na minha. Era obscura demais, visitantes não eram bem-vindos.

Sorri.

– Não tenho relances, recaída, ou seja, lá o que for depressivo. Relaxa Sam.

Olhou para mim com o ceticismo estampado no rosto. Tudo que eu menos precisava era falar de minha paixão; precisava de seus braços. Continuei a tomar a água de coco calmamente, mesmo tudo estando indo de mal a pior. Lembro-me de que naquele dia eu nunca fui tão forte; consegui ser uma verdadeira atriz por mais tempo do que o meu certificado afirmava e tarde tanto a chorar.

Vou poupar o nosso tempo, leitor, deixando de dizer como o a conversa se finalizou para depois proceder-se, afinal, na verdade, nada de muito importante foi dito. Samuel apenas disse que arrancaria as respostas de mim mesmo que fosse à força. “Pode vir.” Respondi, dando de ombros. E veio mesmo. Também vou encurtar o meu trajeto “entre beijos e abraços” até o quarto do infeliz e sedutor Doutor.



Samuel empurrou a porta com o pé; as mãos envoltas na cintura de Violetta, ocupadas demais até para trancar o mundo do lado de fora do tão bem mobiliado Hotel Mirana. O quarto era de uma vista encantadoramente impecável; uma cama de casal tão bem arrumada que a dó chegava a atormentar caso os lençóis fossem desarrumados com truculência; alguns moveis e um frigobar com varias bebidas de muito bom porte. O que vai querer querida?

Bebiam alguma coisa com considerável teor alcoólico. Violetta tirou os sapatos e sentou-se na cama, largando a latinha no criado-mudo; Sam a puxou algumas vezes pelos pés rindo. A menina disse alguma coisa sobre fechar a porta direito, alguém podia bisbilhotar; logo em seguida afundou a cabeça no travesseiro macio e fechou os olhos. Tão mal orientada.

– Tem certeza de que quer ficar aí? – ele perguntou, referindo-se a sua ida á um banho.

Riu antes de balançar o dedo indicador em negação ao seu pedido; Samuel caminhou até a cama, não se sentou, mas pôs as mãos em volta dela e a beijou no rosto. Viu a boca dela se contrair em um sorriso e o fez também; sentiu suas mãos femininas arranhar-lhe o pescoço quando seus próprios lábios proferiram a Violetta um beijo lentamente carinhoso. A loira bateu os pulsos nos ombros do cara de um jeito que para ele parecia timidamente excitável, e sorriu de novo, agora um pouco mais empolgado. Olhou-a nos olhos sem dizer absolutamente nada por alguns minutos... Se encantava pela simplicidade daquele rosto, ansiava pelo toque naquela língua.

Prendendo-se agora a realidade a beijou ultimamente na testa, digerindo-se ao banheiro; lá dentro encontrou alguns sabonetes e toalhas brancas. Ligou o chuveiro pensando se fazia certo em manter uma menina ainda menor de idade em seu quarto; agora escorregando os dedos sinuosamente nos cabelos imaginava que doce menina em lascívia o esperava do lado de fora. Cheia de segredos e tão transbordante em desejos.



Do outro lado da cidade Adam se mordia de ciúme. Quase não conseguia acreditar que havia deixado-a lá, com ele. A morbidade dominava seu coração de uma tal forma que, qualquer morte era lucro; sentia vontade de dar fim ao doutor e dar fim a sua agonia. Como podia ser tão egoísta... Naquele momento as mãos – não tão gentis quanto as da Violetta – de sua noiva massageavam seus ombros tensos queria privar Violetta de seus próprios prazeres. Nunca foi um poço de calma e perfeição – pelo contrario – e justamente por isso o que tinha de lindo por fora, mantinha de feio por dentro. Inclusive seus pulmões.

Precisa desistir mesmo dela. O ser humano precisa saber até onde pode agüentar. E queria, e não queria. O mal respiratório de sua irmã parecia passar para ele com facilidade, passando a maltratá-lo também. Até o barulho do relógio, mostrando as horas que avançavam, a noite que fluía, atos que poderiam estar sendo consumados o maltratavam.

– Preciso resolver isso... – disse em voz baixa, sem querer.

– O quê? – Bárbara perguntou, abaixando a cabeça por cima dos ombros dele.

– Nada, pensei alto.

– Você anda estranho ultimamente, está tudo bem?

Adam suspirou impaciente. As circunstâncias faziam dele a pessoa mais estúpida do mundo.

– Está tudo bem querida. – falou se levantando para atender o celular.

Era Agnes. Violetta havia sumido há algumas horas, poderiam estar juntos? Não. Ela ainda não voltou pro quarto? Palavrão. Liga pra ela até que atenda, mãe, se ela não voltar me liga de novo. Vou tentar, ela provavelmente está bem, sabe que anda se comportando assim ultimamente? Sei; é a cara dela, na verdade está crescendo... Crescer não é deixar de avisar quando vai sair, Adam. Deixe de pegar no pé dela. Vai no saguão, vê se ela já entrou com aquele doutorzinho medíocre, e isso a senhora permite? Não é questão de permitir, não foi você que disse que ela está crescida? Dammit. Resolva isso pelo amor de Deus.

Desligou o celular pensado no que faria quando encontrasse sua menina cheiro de amêndoas, cor do sol. Nunca cogitou que seria tão – mais tão – difícil ser daquele jeito, demoníaco. Tudo que ele havia pensado antes de abrir a boca ou beijá-la pela primeira vez estava caminhando á se cumprir, nada de bom logicamente. A linha tênue de desgraça só se desenrolava, e todos os envolvidos não se dariam bem nessa empreitada.

Estava tentando cumprir e agir como um irmão (o que era de fato), que se importa e quer o melhor para sua irmãzinha mesmo que na base do ciúmes, mas ele nem conseguia disfarçar mais. O nome de Violetta e perguntas sobre ela o deixava tão nervoso e transbordante em amor. Irritação a flor da pele. Distancia. Qual a parte do “durma em sua cama” ela não havia entendido?

Adeus a castidade? Adeus á vida, Doutor.



Violetta havia bebido não sei quantas latas. Sorriu de forma sensual olhando para Samuel com a toalha amarrada na cintura; o corpo salpicado por gotículas de água davam-lhe um ar tão sexy que para ela, até olhar-lhe era difícil. Bebia, mas deitou-se novamente quando ele saiu.

Antes disso, perdida sobre o que fazer, com dor no coração, tomou não sebe o que, e o que mais encontrou pela frente. Sam talvez tivesse razão; ela tinha mesmo relances depressivos. Deitada entre um gole e outro, ouvia a água do chuveiro cintilar ao chão, podia até imaginar. Os passos de Samuel e suas mãos rodando a maçaneta da porta.

– Que cara de decepcionado. – disse em falsete – esperava-me nua, ou coisa do tipo?

Sorriu tão maliciosamente enquanto tentava achar o que vestir, como se quisesse.

– Prefiro fazer esse trabalho por ti...

Foi a vez dela de rir.

Sam não se prestou ao papel de tentar seduzi-la ali; trocou-se no banheiro. Sabia ser paciente, não era um piá apressado. Assim que encaixou a camiseta no corpo e sem perceber a elevação alcoólica da menina; ouviu um barulho e voltou depressa para o quarto. Violetta estava chorando. Com os joelhos encostados no busto, e a testa por sua vez apoiada sobre os joelhos antes citados ela soluçava como criança.

Sentia um embrulho terrível por dentro. Agora, nesse parágrafo, quero que você que está lendo isso pare e tente entender o sofrimento de todas as personagens; só assim você, caro leitor, entenderá o que passou e o que se passará agora. Eu não entendi o que ela disse. A bebida, os soluços, a língua enrolada, os “fique calma” que Samuel dizia, os “Eu não posso mais” que ela própria tentava dizer. As mãos nos ombros, o rosto molhado, o abraço sem jeito, uns sussurros mal contados. Um ultimo suspiro antes de ele descobrir um segredo de sua melhor e pior paciente. Um ultimo suspiro antes de ela contar a verdade que mais ninguém sabia.

– Sabe o que me perguntou mais cedo? – Violetta questionou, tentando respirar – o que anda matando há alguns anos?

Balançou a cabeça em sim.

– Tudo isso se resume ao amor que eu sinto por aquele desgraçado. – disse deixando as lagrimas rolarem.

Com a visão embaçada, via os olhos escuros de Samuel mudarem de preocupação excessiva á frieza mórbida. Havia mesmo outro.

– Eu não queria isso...

– Isso o quê? – perguntou ainda calmo.

Ela calou-se. Não podia falar, não devia. Adam iria matá-la. Que se dane aquele tosco. Iria explodir se não contasse, ia morrer.

– Isso o que? – ele repetiu a pergunta em um grito que a fez enxugar o rosto com as costas das mãos depressa.

Tentava aparar desesperadamente suas lagrimas e seus sentimentos.

– Eu... – choro. – Eu sou apaixonada pelo meu irmão.



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Já sabem né?
Ah, sim, sabem u.u
Como eu agora só vou atualizar uma vez por semana, talvez os capítulos sejam maiores, certo?
É isso ae, beijos. ♥
obs.: Obrigada pra quem leu, deu trabalho.