O dia no shopping havia acabado e para Jade e Beck (tirando o momento dentro do provador) nada foi tão interessante. Até porque Tori puxou Jade para comprarem coisas e Daniel decidiu mostrar a Beck uma loja de esportes nova e explicar-lhe todas as funções de cada material. Quando acabaram as compras, ao invés de Jade passar o resto da tarde com Tori e com Beck, ela decidiu ficar em casa sozinha, pois estava cansada. Não sabia qual seria a próxima vez se veria o namorado secreto... Ela se sentia muito ansiosa com isto, mas não deixaria Beck saber.

Ela deitou em sua cama e olhou para o teto. Lembrou-se das mãos dele em seu corpo e sorriu. Que loucura! Mas se tivesse a oportunidade de fazer isto novamente, ela faria.

Beck Oliver feria e iria contra todos os princípios dela, mas de qualquer forma, Jade não ligava. Quando ele estava perto, tudo ficava confuso e do nada era apenas ele que importava.

--

Ela acordou naquela manhã com um extremo bom humor. Poderia ir à casa da Vega depois da aula e então falaria com Beck. Pareceu uma boa ideia.

- Meu Deus, Jade! – Ela murmurou rancorosa para si mesma enquanto descia as escadas de casa. – Pare com esta paixonite... Tente não pensar nele. Você vai se arrepender...

É o resto do dia seria longo. Jade só não queria animar demais o seu coração para não acabar como sempre acabou, ela pensou que deixar as coisas irem por si próprias seria mais fácil. Só que aquele fogo todo que tinha para ver o Oliver outra vez estava a torturando.

E mais uma vez: Ela não esperava que fosse encontrar o seu namoradinho secreto de brincadeira na escola.

- Jade! – Tori anunciou trazendo Beck consigo em direção à amiga. O garoto só se permitiu sorrir amigavelmente. – Bom dia.

- Ugh. – Ela gemeu em desgosto, fingindo ignorar Beck e olhar para a Vega  – Por que está num bom humor fatal hoje?

- Meu brilho oculta você? – Tori perguntou com um sorriso brincalhão. Jade apenas revirou os olhos.

- Por que ele está aqui? – Ela perguntou ao apontar o dedo para Beck.

- Porque sexta-feira à tarde Lane ligou para nós dizendo que havia liberado uma vaga temporária para um aluno temporário. Ele disse que seria outra boa oportunidade para Beck se acostumar com a futura nova escola. – Tori respondeu sorridente e orgulhosa desses acontecimentos. Jade apenas bufou.

- Eu tenho certeza que ele só fez isto porque é homossexual e necessitava de alguém bonito para perseguir, como este garoto aí. Mas como sabe que Beck realmente vai ficar aqui? – Jade foi amarga. – Não disse que ficaria apenas três meses?

- E são durante estes três meses que a vaga estará aberta! Por que não aproveitar? – A morena anunciou antes do irmão, contente outra vez. O sinal tocou e foi o suficiente para Jade sair irritada de braços cruzados e Tori atrás dela, puxando Beck consigo.

- Agora é a aula do Sikowtiz!

POV Jade.

Sentei-me em uma das cadeiras da sala e cruzei meus braços, tentando não sorrir. Então ele ocuparia uma vaga aqui durante este tempo, não é? Acho que é uma coisa boa e ruim... Boa porque eu vou ter Beck Oliver comigo. E ruim porque pode acontecer de tudo.

Não que eu espere que esta coisa de ‘namoro escondido’ dure para sempre. Ou dure um tempo. Ou uma semana. Eu acho que é algo errado, mas é algo que pode dar certo também. Eu só não quero botar todas minhas expectativas ai, então eu já estou me preparando mentalmente para outro término e se por acaso doer mais do que os outros doeram, não seria tão difícil, pois não era um namoro de ‘verdade’. Acho que esta era a única vantagem.

Na verdade, beijar Beck Oliver era a segunda vantagem.

Ouvi Tori e Beck logo chegando e pareciam absortos enquanto conversavam sobre alguma coisa engraçada, percebi que os dois eram tão idênticos que poderiam ser realmente irmãos de sangue, ou até gêmeos.

Ele era só um pouquinho menos irritante do que ela.

- Jade você já viu o novo vídeo que o Sinjin postou no site dele? – Tori me perguntou sentando ao meu lado, e Beck sentou ao meu outro lado. Esconda sua animação, Jade.

- Não. É idiota?

- É como ele. – Ela deu de ombros meio pensativa.

- Então é idiota. – Cruzei novamente os meus braços e me voltei para frente à espera do Sikowtiz.

- Bom... Este tal Sikowtiz... Como é que ele é? – O Senhor Curioso perguntou ao meu lado.

- Ele é bem legal. – Tori respondeu ao irmão.

- Ele é louco. – Eu fui fria outra vez e fiz a questão de juntar o meu joelho com o do Beck, encostando nossas pernas inocentemente. Ele sorriu para o gesto.

- Vocês já estão de bem novamente? Eu espero que sim! Não quero aguentar briguinhas de vocês... – A Vega murmurou e eu revirei meus olhos. Era bom mesmo ela nem imaginar que existia este segredo nosso... Ela poderia ser mais irritante do que é ao descobrir nosso ‘namoro’.

Sikowtiz entrou pela janela e Beck fez uma careta estranha. Eu sorri e comecei a prestar atenção na aula do meu professor favorito e o Oliver pareceu gostar bastante dele também.

- Oh! – Sikowtiz parou sua frase. – Vejo que temos um novo Elvis em nossa classe? 

- É! – Umas meninas lá no fundo responderam idiotamente. Eu tentei não revirar meus olhos de raiva.

- Elvis? – Beck perguntou confuso, mas de forma adorável e amistosa. Cara, eu to parecendo a Cat...

- Sim. Sim. – Ele anunciou quando veio até nossa frente e puxou Beck para o palco. – Qual é o seu nome?

- Beck Oliver. – Ele se virou para a turma ao dizer isto. Eu fiz o possível para continuar séria.

- E o porquê você está aqui, Beck? Ouvi dizer que é um aluno temporário. – Sikowitz perguntou enquanto se sentava a beira do palco e olhava para a gente. E depois fez uma dança estranha com as mãos e apontou para a Vega. – E é meio-irmão da Toro, não é mesmo? O que gosta de fazer de artístico?

- Toro? – Ele fez uma careta. - Bom... É verdade, e eu vou ficar aqui uns três meses para decidir se eu me mudo definitivamente para Hollywood Arts. – Ele passou a mão no cabelo. – E, ah, eu gosto de atuar.

- Você tem um cabelo tão bonito! – Sikowtiz anunciou enquanto olhava para ele. Eu levantei uma sobrancelha em confusão. Tori apenas riu.  – Pois bem... Você gosta de atuar não é? – Ele perguntou e Beck apenas assentiu com a cabeça. – Já jogou alguma vez Improviso Alfabético?

Beck negou com uma careta. Sikowtiz se levantou com um riso orgulhoso. – É claro, só se joga isto aqui. O jogo do Improviso Alfabético consiste em você atuar com uma frase usando a letra seguinte no alfabeto. Quem do grupo usar a primeira palavra com a letra errada, perde e sai. Ganha quem restar. Entendeu?

Ele assentiu e Sikowtiz voltou a falar, olhando para a gente novamente. – Então vamos jogar. Uh... A irmãzinha Tori pode subir ao palco e... – Ele deu uma boa olhada ao redor. – Leve a sua amiga Jadey.

Tori se levantou e me pegou pela mão com um sorriso. Eu apenas soltei com grosseria o meu braço e fiz uma cara feia para Sikowtiz.

- Meu nome é JADE! – Gritei e ele levantou as mãos no ar, se rendendo.

- Pois bem pessoal... – Sikowtiz pareceu pensativo. - Robbie... Uma letra e um cenário?

O nerd pareceu feliz ao ser escolhido. – Hm... A letra “E” e o cenário é uma rua com uma casa pegando fogo!

- Puxa, quanta criatividade! – O boneco dele zombou e eu sorri malvadamente.

- Então, Tori pode começar. Valendo! – O Erwin disse ao se sentar no canto.

- E notaram que a casa está pegando fogo? – Tori apontou estupidamente para frente. Meu personagem e o do Beck olharam para a direção.

- Falharam na tentativa de apagar o incêndio. – Eu respondi pasma.

- Gatos viviam lá dentro, sabiam? Que pena! – Beck continuou e nossa... Ele é bom.

- Helicópteros estão voando ao redor da casa, acho que vão salvar os gatinhos! – Tori tentou o seu melhor.

- Idiotice a sua... Acha que uma dúzia de helicópteros estão ali apenas por gatinhos fedorentos? – Sorri maliciosamente ao final... Na verdade eu poderia agir como ‘Jade’ até mesmo no improviso.

- Jade, notou que seus olhos são lindos? – Beck anunciou e chegou mais perto de mim. Bom... Era só atuação, não era?

- Karamba, realmente são lindos! – Tori disse na presa. Eu me virei para ela e Sikowitz anunciou.

- Errado Tori! Lembra que não pode inventar palavras, não é? E caramba é com ‘C’. – Ele cruzou os braços.

- Ugh! – A menina se zangou. – Eu sei, tá legal? – Ela voltou para o seu lugar. Sikowtiz disse que éramos para continuarmos dali.

- Lugar muito criativo para começar a flertar, não acha? Uma casa em chamas vai ser o fundo de nosso amor? – Zoei enquanto me aproximei dele com outro sorriso malvado. Beck apenas me fitou com expectativas, poderia ser revanche?

- Mesmo com todo este teu rancor eu ainda consigo te amar. – Ele me puxou para mais perto. Isto é ousadia!

Revirei os olhos. – Nada disso, por favor. – Tentei me afastar e ele só me puxou mais, como se estivesse apaixonado.

- Ópera hoje a noite pode dar num grande encontro? O que me diz? – Ele aproximou seu rosto do meu.

- Porque insiste nesta idiotice?

- Queria muito te beijar, sabia? – Ele perguntou novamente e a sala, inclusive Sikowtiz, anunciaram um grande ‘ooooh!’ e algumas meninas ainda reclamaram. Eu só não acreditava que Beck estava forçando isto bem aqui... Que idiota! Qual é o problema dele?

- Rato! – Apontei para o chão com medo, e na tentativa de escapar disto. – Um rato!

O problema foi que Robbie achou que era de verdade e colocou os pés em cima da cadeira, amedrontado. Eu revirei os olhos e continuando o nosso improviso, Beck me empurrou para mais perto da parede. Oh Deus, onde isso iria dar?

- Sorria para mim mais uma vez... Seu sorriso é tão lindo e doce. – Ele olhou nos meus olhos e eu não sabia como agir.

- Tudo que você quer é algo impossível para mim. Entende?

- Ultrapassado você achar que é impossível para você, já eu posso tornar possível. – Ele passou os braços ao meu redor e eu não sabia se o amava ou se sentia ódio dele. Mas a turma deu gritinhos outra vez.

- Walder! É Walder é o nome do meu namorado. – Eu respondi na presa e tentei sair de perto dele. Eu não queria uma cena em público.

- Ygriega é como se diz ‘Y’ em espanhol, sabia? Esqueça este cara e venha comigo passar nossa lua de mel na Espanha. – Então além de tudo Beck ainda falava espanhol?

- Xadrez será como você ficará se continuar insistindo nisto. – Eu sorri estupidamente, acho que o Oliver estava me desconcentrando com toda sua babaquice teatral e amorosa.

- Zebras são brancas com listras pretas ou pretas com listas brancas? – Ele segurou minha mão e eu sorri.

- Acho que são pretas com listras brancas, é o que minha mãe diz. – Eu anunciei e nossa conversa estava ficando sem pé e nem cabeça, e eu adorava isto, pois afastava aquela paixonite encenada.

- Boneca de Porcelana foi o que a sua mãe criou. E aqui está você. – Ele voltou com aquele papo todo meloso e eu tive vontade de gritar e Beck ainda passou o dedo pelo meu rosto!

- Como você pode agir dessa maneira idiota para cima de mim? Eu posso lhe causar dor, sabia? - Tentei meu ‘Usual Jade’ novamente.

- Dor? – Ele sorriu. – Eu adoraria que você me causasse dor.

- Elefantes vão cair em cima de você para lhe causar dor. – Respondi com um sorriso e Sikowtiz riu alto.

- Deixe o Beck mostrar todo o seu amor por você, Jade. – Meu professor disse aquilo na brincadeira só que para a nossa situação foi a mais pura verdade. E, além disto, ele ficou sorrindo para mim.

- Faça qualquer coisa que gostaria para me causar dor, mas depois eu quero um beijo seu. – Ele se aproximou mais.

- Ganhador hoje e perdedor amanhã. Você pode ter o seu beijo, mas não vai me ter para sempre. Só pode escolher um dos dois.

- Eu quero os dois. Ter o seu beijo e você para sempre. – Ele pegou minhas mãos e me fitou.

- Errado, Beck! A próxima palavra deveria começar com ‘H’ e não com ‘E’. – Sikowtiz anunciou cruzando os braços e chegando perto da gente. – E afinal vocês formam um belíssimo casal!

Nunca ninguém saberia se era sarcasmo ou não, então eu só cruzei minhas sobrancelhas e olhei com uma raiva discreta para Beck, indo me sentar e esperando a aula acabar.

Sim, eu estava com muita raiva do meu ‘namoradinho secreto’.