Hurricane escrita por Lauriel


Capítulo 3
Capítulo 3




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- Há alguma coisa de muito, muito errado nessa história – comentou Beckett, enquanto voltavam para a mesa dela.

- Bom, você há de convir que ele não era exatamente um discípulo de Gandhi.

- Não é isso. Foi uma execução, foi coisa de profissional, e ele de alguma forma conhecia o assassino, foi se encontrar com ele.

- Mais um amigo político ressentido com seu sorriso encantador, como no caso da bomba no carro?

- Não sei, talvez. Mas algo me diz que a coisa agora é maior. Muito maior.

- Beckett! – Ryan se aproximou, balançando uma folha de papel – Consegui os extratos e uma conta em particular teve movimentações suspeitas nos últimos seis meses. – ele apoiou o papel sobre a mesa, entre Castle e Beckett – Veja. Uma série de transferências, sempre no valor de U$ 500.000, foi feita semanalmente para esta conta nos últimos 6 meses.

- Uau! – exclamou Castle – Isso é MUITO dinheiro!

- De onde ele vem? – Beckett perguntou

- Pois é, esse é o problema – respondeu Ryan – Não temos como rastrear. É de uma conta particular na Suíça.

- Merda. – ela bateu com o punho na mesa. – Mas seja o que for, Bracken estava envolvido com algo realmente importante. – neste momento o celular de Kate tocou. – Hey, Espo. Dê-me uma boa notícia.

- Sinto muito, Beck, mas as notícias são as piores e mais estranhas possíveis. – ele respondeu.

- Como assim? O que aconteceu?

- Quando cheguei com a equipe no escritório do Bracken ele estava limpo. Vazio. Trancado. Tiraram TUDO de lá: Móveis, arquivos, tudo. E sem impressões digitais.

- Espera, como assim tiraram? Quem tirou?

- Aí a coisa fica complicada. O chefe da segurança do prédio disse que foram os federais.

Castle soltou um assobio.

- Alguma coisa me incomoda no FBI. Essa mania deles se meterem no trabalho dos outros sem serem convidados! Vocês não acham inconveniente e irritante? – ele comentou. Ryan e Kate o encararam.

- E tem mais – continuou Esposito, pelo viva voz do celular – A equipe que foi pro hotel. A mesma coisa. Tudo limpo, nem sinal que Bracken sequer existiu ou passou por ali. Até o registro de entrada dele sumiu. Foi completamente apagado.

- Tudo bem, Espo. Pode voltar, não há nada que se possa fazer aí agora.

- Certo.

- Estamos no zero, é isso? – perguntou Beckett, mais pra si mesma do que pros outros.

- Talvez. – disse Rick, levantando-se e encaminhando-se para o quadro – Temos que encontrar a história por trás disso. O que temos? Bracken, um famoso político em vias de se candidatar à presidência, tem negócios internacionais que lhe rendem muito dinheiro, negócios escusos, arrisco dizer. Ele faz alguma coisa em troca desse dinheiro; repassa informações, espiona alguém importante, se infiltra em algum setor da política pra, de alguma forma, influenciar decisões... Mas o que quer que ele faça tem que ser muito bem coberto, porque senão isso afetará sua candidatura; e ele só se arrisca a algo internacionalmente sujo se isso for lhe dar alguma vantagem na corrida presidencial. Então o dia de repassar essas informações chega, ele combina com o seu contato um encontro próximo ao escritório, porque assim não levanta suspeitas tendo que dispensar os seguranças por muito tempo, leva o que podem ser documentos, mas algo dá errado. Talvez já tivesse dado antes, mas ele não sabia. Ele foi atraído deliberadamente para aquele beco e então executado. E as informações que ele levava consigo foram para as mãos desse contato. Agora, o problema é: Quem é e de onde vem esse contato e que informações são essas? Se vocês me perguntarem, minha resposta é: ET’s.

Beckett revirou os olhos, apoiando a cabeça em uma das mãos.

- É claro, como senador ele tem acesso a documentos secretos das forças armadas. Ele provavelmente estava vendendo segredos de tecnologias de armas extraterrestres para outro país... Ow, talvez os próprios ET’s tenham descoberto isso e o executado!

- Mas nesse caso eles não deveriam ter usado, não sei, uma arma laser, ao invés de uma pistola? – perguntou Ryan.

- Se eles fizessem isso se denunciariam, e a presença deles na Terra precisa ser mantida em segredo pra não prejudicar seus planos!

- Que seriam...?

- A dominação mundial, é claro!

- Muito bem, chega vocês dois. – disse Beckett, levantando e pegando o casaco. – Ryan, você e Esposito amanhã tentem verificar com os funcionários do escritório e do hotel se eles viram ou ouviram algo estranho, inclusive nessa ação do FBI. Alguma coisa de muito errada está acontecendo. Peça também um mandato pra acessarmos os e-mails dele. Precisamos de alguma conexão, qualquer uma.

- Não creio que os ET’s tenham entrado em contato com ele por e-mail...

- Castle, não são ET’s, ok?! São humanos, terráqueos, que estavam negociando alguma coisa muito importante com Bracken e algo deu terrivelmente errado pra ele nessa negociação. Só precisamos descobrir quem são e o que deu errado. Só isso. Eu vou pra casa.

- Espere – ele disse, se aproximando. E baixou a voz – Você não quer vir comigo? Esse caso tem te deixado muito tensa. Tenho boas ideias sobre como posso fazer você relaxar um pouco. Mais relaxada eu tenho certeza de que vai conseguir pensar melhor.

Beckett não conseguiu evitar um sorriso.

- E eu posso saber que ideias são essas?

- Isso é segredo. Mas posso dizer que envolvem um banho de espuma com ervas aromáticas indianas, um bom jantar a dois, vinho...

- Parece-me interessante. Sinto-me tentada a aceitar...

- Venha comigo que eu tenho certeza de que você não vai se arrepender.

- Você é um bom negociador.

- Você nem imagina o quanto. – com um sorriso, ele ofereceu o braço a ela.

**

Beckett suspirou. Realmente se sentia mais tranquila agora, mergulhada numa banheira cheia de espuma com um leve aroma de flores. Sorriu ao pensar em Castle na cozinha, preparando-lhe uma surpresa gastronômica. Ela sabia que a maneira dele demonstrar preocupação eram esses cuidados, muitas vezes extravagantes, mas extremamente carinhosos. Não havia do que reclamar nesse relacionamento. Exceto... As palavras de Meredith infiltraram-se insidiosamente em sua memória. Mais uma vez ela se deu conta de que nada sabia sobre o passado de Rick, além de coisas superficiais. A única vez em que ele se abriu um pouco mais foi quando falou sobre o trabalho comprado no colegial, e o impacto daquilo em sua vida, na sua decisão de escrever ele mesmo coisas que realmente mereceriam aplausos. Isso foi tocante, mas era muito pouco pra alguém que ela conhecia há quatro anos e com quem namorava há um. Ela sequer sabia o que ele esperava desse relacionamento. Estavam juntos, era muito bom, mas... Era isso? Isso era tudo que tinham a oferecer um para o outro? Até então ela não havia considerado seriamente a possibilidade de se casar, de ter filhos. Mas já passara dos 30, se fosse o caso de pensar a sério nisso, teria que começar a fazê-lo agora. E na verdade ela não estava certa de que queria isso. Ter uma criança com o tipo de trabalho dela... Era arriscar talvez deixá-la órfã a qualquer momento. E como Castle lidaria com isso? Ele certamente era o melhor pai do mundo, mas criar outra criança sozinho? E ainda havia Alexis; Kate sabia que ela sempre a tratara bem, mas tinha dúvidas sobre sua reação se algum dia ela e Castle resolvessem se casar e, mais ainda, terem um filho. Ela era agora uma mulher adulta, mas, ainda assim, uma filha única extremamente mimada por um pai amoroso. A vida de Castle fora dedicada à filha nos últimos 19 anos. Será que ela aceitaria dividir a atenção do pai agora?

- Hey. – Castle apareceu na porta – Sente-se melhor?

- Sim – ela sussurrou, sorrindo – Bem melhor.

- Eu disse que tinha meus truques, não disse? – comentou, sentando-se ao lado da banheira. – E eles estão só começando. Há um jantar lá fora esperando você.

Ela esticou a mão pra alcançar a dele. Entrelaçou os dedos e o fitou durante alguns momentos.

- Obrigada, Rick.

- Pelo que?

- Por tudo. Por estar ao meu lado todo esse tempo. Por saber quando preciso de apoio mesmo quando não admito isso, por saber quando me deixar sozinha e quando não deixar.

- Always – ele sorriu. Ela também.

- Agora, é melhor você terminar seu banho de beleza antes que o jantar esfrie – ele se levantou e pegou um roupão – Eu particularmente gosto mais do que você está vestindo agora, mas, caso prefira, vou deixar seu roupão aqui. – e, dizendo isso, pendurou-o próximo à banheira.

- Vou preferir o roupão sim. Por enquanto.

- Isso é encorajador!

- Mas não agora. Antes vamos ver o que você preparou nesse jantar. Já estou indo.

Depois que ele saiu, Kate levantou-se e tomou uma ducha. Havia decidido tocar em todos esses assuntos com Rick, embora não soubesse como ou quando fazê-lo.

- Uau, isso está cheirando bem. – Beckett comentou, aproximando-se da mesa enquanto ele colocava os talheres.

- Ei! Você está mais vestida do que eu esperava! – reclamou Castle, ao olhar para o pijama dela – Que forma de me retribuir!

- Agora é hora de jantar, lembra? – ela sorriu, abraçando-o – Estou curiosa pra saber o que você preparou.

- Vou entender isso como uma promessa. Bom, preparei um romântico jantar francês para nós. Como entrada temos um vol au vent de queijo feta, caviar e mostarda em grãos, no prato principal um delicioso boeuf bourguignon e, de sobremesa, o clássico crème brûlée.

- Nossa, Castle – Kate estava surpresa – Isso é...

- Incrível, não? Eu sei. – respondeu ele, puxando a cadeira para ela sentar.

- Sim, incrível...

- Et voilà. Bon appetit, ma belle.

Comeram durante algum tempo em silêncio.

- Então – começou Castle, cuidadosamente – Como você realmente está se sentindo sobre esse caso?

- Precisamos mesmo falar de trabalho agora?

- Não estou falando sobre trabalho. Estou falando sobre você. – como ela não respondeu, ele continuou – Vamos, Kate. Eu sei que a morte de Bracken a afetou. Entendo tudo que está envolvido nisso. Mas estamos juntos há um ano, por quanto tempo mais eu vou precisar continuar quebrando esse muro que você levantou dentro de si pra enfim conseguir vislumbrar o que se passa no seu coração? Você me disse que ele tinha desmoronado, mas ambos sabemos que foi só parcialmente. Você continua reticente pra muitas coisas.

- Já que você tocou no assunto – ela comentou – Você também não é a pessoa mais transparente que conheço.

- O que quer dizer com isso?

- O que eu sei sobre você, Castle? Praticamente só o que vivemos nesses quatro anos. Seus hiatos criativos, suas dúvidas como pai... Sua vida antes de nos conhecermos continua uma página em branco pra mim.

- Muito bem – ele repousou os talheres no prato e apoiou os braços sobre a mesa – O que você quer saber?

- Por exemplo, o que você sente a respeito do seu pai? O fato de não conhecê-lo nunca foi um problema pra você? Você nunca quis procurá-lo?

Rick ficou alguns minutos em silêncio, fitando a mesa.

- Já foi um problema sim – ele começou – Quando criança, principalmente. Depois de um tempo deixou de ser. E só voltei a pensar nisso quando Alexis nasceu, porque fiquei preocupado por não ter referência do que era ser pai, então resolvi que seria o melhor que pudesse. – fez uma pausa hesitante – Mas recentemente isso se tornou algo mais incômodo.

- Por que?

- Há algo que não lhe contei. Sobre o sequestro de Alexis.

Castle então contou tudo o que havia de fato acontecido. Na época, achara melhor poupar Beckett de todos os perigos porque passara na França. Já estava tudo resolvido, e ele só queria virar aquela página e não pensar mais naquilo. Mas não tinha sido tão fácil e, no final da narrativa, sentiu um misto de alívio e preocupação. Alívio por ter afinal desabafado toda a tensão que vivera, e preocupado pela reação de Kate ao saber que ele omitira aquilo. Ela ouviu tudo em silêncio e, quando ele terminou, ficou ainda alguns momentos sem dizer nada.

- Quer dizer – ela murmurou finalmente – Que mais uma vez você escondeu algo de mim?

- Kate...

- Como exatamente vamos levar essa relação em frente se ficarmos escondendo as coisas um do outro?

- Responda-me você.

- Como assim?

- Se vamos falar de omissões, você omitiu durante um ano que se lembrava do que havia acontecido no dia do tiro.

- Castle, nós não...

- Sim, nós não estávamos juntos. Eu sei. Mas agora estamos e, você mudou de assunto, mas deve se lembrar que esta conversa começou porque eu perguntei como você está se sentindo a respeito da morte de Bracken. Ao que você ainda não respondeu.

- Isso não tem nada a ver com...

- Não tem nada a ver, Kate? Não tem nada a ver com o que? Com o que sentimos? O fato de eu não ter lhe contado o que aconteceu em Paris também não tem nada a ver com nós dois, tem a ver com minha relação com meu pai. Você julgou importante saber como me sinto a respeito disso, e aqui estou eu, me abrindo. Eu não sei o que sinto com relação a ele. Não sei se me sinto decepcionado por saber que ele esteve próximo durante todo esse tempo, mas sempre escondido, e nos momentos em que precisei de um pai ele estava só me observando de longe. Não sei se me sinto orgulhoso por ele ser quem é. Não sei se gostaria de ter um contato mais próximo, agora que o conheci, porque isso colocaria todas as pessoas que amo em risco. Eu não sei, ok? É assim que me sinto com relação a isso. E também não sei como você se sente com relação a esse caso, porque dificilmente sei como você se sente com relação ao que quer que seja. – dizendo isso ele jogou o guardanapo sobre a mesa, se levantou e caminhou em direção ao quarto.

Beckett ficou algum tempo ruminando tudo aquilo, perguntando-se o que fazer. Por fim levantou-se e foi atrás dele. Quando chegou ao quarto, Castle estava trocando de roupa para dormir.

- Castle... – ele não respondeu. Terminou de trocar de roupa e enfiou-se embaixo das cobertas. Ela se sentou na cama, de frente pra ele e esperou até que ele a olhasse. – Você quer saber como estou encarando esse caso, certo? Eu... De certa forma estou aliviada, porque temia que, de alguma forma, ele descobrisse que não tenho o dossiê do Montgomery. E aí meu pai, você, as pessoas que amo correriam riscos, assim como eu mesma. Tenho certeza de que você sabe como é essa sensação.

Ele não respondeu. Continuou encarando-a, sério.

- Então, sim, eu me sinto aliviada com a morte dele. E ao mesmo tempo culpada por esse sentimento. E também um pouco frustrada, porque ele não pagou pelo que fez. Essa morte foi uma solução muito rápida, mas não foi uma solução justa. E isso me incomoda, me deixa frustrada porque, se eu tivesse encontrado algum meio de pegá-lo antes, agora ele poderia estar preso. E ainda não consigo relaxar totalmente, apesar desse tal alívio, porque não sei quem está por trás disso, não sei se estou segura, não sei se você está seguro. E não vou saber enquanto não descobrir quem fez isso e por que.

Ele a encarou alguns minutos.

- Mas isso não é tudo. Alguma coisa mais a está incomodando – ele comentou.

- Bem... Sim – ela estava hesitante – Sobre nós dois...

- O que há de errado?

- Nada... De errado, nada. Temos vivido momentos maravilhosos juntos...

- Mas?

- Mas... É só isso?

- Kate, eu não estou entendendo. Mesmo.

- Rick, o que você espera desse relacionamento? Quer dizer, você já foi casado duas vezes. Tem uma filha adulta. Se envolveu milhares de vezes com um sem número de mulheres. Eu preciso saber o que eu posso esperar de você. E o que você espera de nós dois.

Castle respirou fundo. Não sabia o que responder.

- A única coisa que eu posso lhe assegurar é que eu quero você. E tudo que envolva poder ter você por perto.

- E isso incluiria, não sei... Um terceiro casamento na sua vida? Um outro filho, a esta altura?

- É o que você quer?

- Eu não sei. Nunca antes pensei em me casar ou ter filhos.

- Mas tem pensado agora?

- Acho que... Às vezes me pergunto como seria.

- Sabe – ele disse, enquanto a puxava para si – Lembro de quando você me perguntou quantas vezes eu tinha sido casado. Eu respondi e então perguntei sobre você. Lembra o que me respondeu?

- Não estou bem certa – ela sorriu, enquanto aninhava-se em seus braços – Ou muito me engano ou nessa época tudo que eu queria era que você calasse a boca.

- Não minta pra si mesma. Você me disse que não era do tipo de mulher que se casava pra “ver se daria certo”. Que era do tipo “uma vez e para sempre”.

- É, acho que posso ter dito isso.

- Então posso me gabar de ser o candidato eleito?

- Você não é do tipo que precisa de motivos pra se gabar.

- Ei, isso é injusto!

- Não, não é. Mas... Então você não vê problemas em se casar mais uma vez? Quer dizer, pra você tudo bem casar, se não der certo se divorcia mais uma vez e...

- Não é assim que funciona. Eu era muito jovem quando me casei com Meredith, e havia Alexis. Depois veio Gina, e até hoje eu não sei exatamente como, mas de repente me vi casado com ela. Em nenhum dos dois casos foi algo pensado, planejado, realmente desejado. Eu apenas... Fiz.

- É, esse é o tipo de coisa que tem a sua cara mesmo. E é justamente o que não quero que aconteça comigo. Conosco.

- Não vai – ele a deitou lentamente – E não vai porque, se isso significar ter você comigo, então é o que eu realmente quero. – e a beijou.


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