A Vida e as Mentiras de Alvo Dumbledore escrita por Vinícius
Durante meus anos ensinando Transfiguração em Hogwarts posso dizer com plena certeza que foram poucos os alunos que se destacavam comigo. Mas uma sempre me chamou a atenção. Seu nome era Minerva McGonagall. Foi a única que conseguiu nota máxima em minha disciplina nos N.O.M.s e nos N.I.E.M.s.
Pouco tempo depois tive a honra de ser nomeado vice-diretor de Hogwarts. Armando Dippet confiava muito em mim. Mesmo assim, eu ainda tinha que continuar recrutando jovens bruxos, nascidos de pais trouxas, para a escola.
Certo dia fui para Londres. Me lembro de usar um belo vestido cor de ameixa nesse dia. Eu fui até um orfanato. Ao chegar fui cumprimentado por uma moça desleixada.
– Boa tarde. Tenho hora marcada com uma Sra. Cole, que acredito ser a governanta daqui.
– Ah - exclamou a moça. - Um momentinho... SRA. COLE!
Entrei em um corredor azulejado de preto e branco. Uma mulher muito magra e aflita veio caminhando depressa em minha direção.
– Boa tarde! - eu disse, estendendo minha mão. - Meu nome é Alvo Dumbledore. Enviei uma carta pedindo para marcar uma hora e a senhora gentilmente me convidou para vir aqui hoje.
– Ah, sim. Bem... bem, então, é melhor vir à minha sala. É...
Ela me conduziu a uma salinha que aparentemente se dividia em sala e escritório. Me sentei e logo disse:
– Estou aqui, conforme disse em minha carta, para discutir sobre o menino Tom Riddle e as providências para o seu futuro...
– O senhor é da família?
– Não, sou professor. Vim oferecer a Tom uma vaga em minha escola.
– E que escola é essa?
– Chama-se Hogwarts.
– E por que se interessou por Tom?
– Acreditamos que tenha qualidades que procuramos.
– O senhor quer dizer que ele ganhou uma bolsa? Como pode ter ganhado? Nunca pedimos uma bolsa para ele.
– Bem, o nome dele está inscrito em nossa escola desde que nasceu.
– Quem o inscreveu? Os pais?
Não havia dúvidas de que ela era muito astuta. Por isso apanhei uma folha de papel em branco da escrivaninha dela.
– Veja – eu disse, fazendo um aceno com a varinha e passando o papel à senhora – Acho que isto esclarecerá tudo.
Os olhos da Sra. Cole saíram de foco e tornaram a entrar enquanto examinava, atenta, a folha de papel por um momento.
– Parece perfeitamente em ordem – disse calma, devolvendo o papel.
Então seu olhar recaiu sobre uma garrafa de gim e dois copos, que digamos, haviam aparecido com uma ajudinha minha.
– Ah... o senhor aceita um cálice de gim? – perguntou a mulher em tom elegante.
– Muito obrigado - aceitei - Eu estava imaginando se a senhora não poderia me contar alguma coisa da história de Tom Riddle? Creio que ele nasceu aqui no orfanato, não?
– Certo - confirmou, servindo-se de mais gim - Lembro muito claramente, porque estava começando a trabalhar aqui. Era véspera de ano-novo, fazia muito frio, nevava, sabe. Uma noite tempestuosa. E essa moça, que não era muito mais velha do que eu, chegou com dificuldade à nossa porta. Bem, ela não foi a primeira. Nós a acolhemos e ela teve o bebê em menos de uma hora. E na hora seguinte morreu.
– Ela disse alguma coisa antes de morrer? Alguma coisa sobre o pai do garoto, por exemplo?
– Por acaso, disse – Ela confirmou - Lembro que ela me disse: “Espero que ele pareça com o pai”, e não vou mentir, a moça tinha razão em desejar isso, porque ela não era nenhuma beleza... e então me falou que o bebê deveria receber o nome de Tom em homenagem ao pai e Servolo em homenagem ao pai dela... é, eu sei, é um nome engraçado, não é? Ficamos imaginando que tivesse vindo de um circo... e ela disse que o sobrenome do garoto era Riddle. E sem dizer mais nada, morreu pouco depois. Bem, demos ao bebê o nome que a mãe tinha pedido, parecia tão importante para a coitada, mas nunca nenhum Tom nem Servolo nem Riddle veio procurar a criança, nem família nenhuma apareceu, então ele ficou no orfanato e está aqui desde aquela época.
Ela se serviu de mais uma saudável dose de gim. Duas manchas rosadas apareceram nas maçãs do seu rosto.
– É um garoto engraçado.
– Sei – eu disse – Achei que fosse.
– Foi um bebê engraçado também. Quase nunca chorava, sabe. Depois, quando foi crescendo ficou... esquisito.
– Esquisito, como? - perguntei.
– Bem, ele...
Mas ela se calou, e não havia nada confuso ou vago no olhar que ela me lançou.
– O senhor diz que ele tem vaga garantida em sua escola?
– Certamente.
– E nada que eu disser pode mudar isso?
– Nada.
– O senhor o levará seja qual for a informação que lhe dê?
– Seja qual for a informação - respondi.
– Ele mete medo às outras crianças.
– A senhora quer dizer que ele as intimida?
– Acho que deve intimidar, mas é muito difícil pegá-lo em flagrante. Tem havido incidentes... bem desagradáveis...
Não a pressionei, mesmo estando interessado. Ela tomou mais um gole de gim.
– O coelho de Carlinhos Stubbs... bem, Tom disse que não fez nada e não vejo como poderia ter feito, mas o bicho não se enforcou nas traves do teto sozinho, não é?
– Eu diria que não – concordei.
– Mas o diabo é saber como foi que ele subiu lá no alto para fazer isso. O que sei é que Tom e Carlinhos tinham discutido no dia anterior.
E então, a Sra. Cole tomou mais um gole e depois de um tempo voltou a me contar.
– No passeio do verão... saímos com eles, sabe, uma vez por ano, vamos ao campo ou à praia... bem, Amada Benson e Dênis Bishop nunca tiveram muita certeza, e só o que conseguimos extrair deles foi que tinham ido a uma caverna com Tom Riddle. Ele jurou que só foram explorar o lugar, mas alguma coisa aconteceu lá dentro, tenho certeza. E, bem, têm acontecido muitas coisas, coisas engraçadas...
Ela tornou a me encarar e embora seu rosto estivesse corado, o olhar era firme.
– Acho que muito pouca gente vai lamentar ver este garoto pelas costas.
– Estou certo de que a senhora compreende que não vamos mantê-lo na escola o ano inteiro, não? – lembrei – Ele terá de voltar para aqui, no mínimo, a cada verão.
– Ah, bem, isso é menos ruim do que levar uma pancada no nariz com um ferro enferrujado – respondeu a mulher com um leve soluço.
Ela se levantou e ainda estava conseguindo andar.
– Presumo que o senhor gostaria de ver o garoto, não?
– Muito. – respondi.
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