Não demora um minuto para que eu veja a porta se abrindo novamente. Já não está bom de visitas por hoje? Penso, mas sei que daqui a algumas semanas tudo que mais vou querer são as pessoas do meu Distrito comigo. E dependendo, só terei Peeta. Ou nem isso. E mesmo que daqui algumas semanas ele esteja vivo, mesmo que estejamos vivos, um estará pronto para matar o outro ou ser morto, a qualquer momento. Então essas visitas são de extrema importância, mas... Tudo que eu quero por hoje é me trancar num quarto e chorar. Essas duas visitas já me abalaram o suficiente. Tudo que aconteceu hoje me abalou o suficiente. Mas não tanto a ponto de me fazer entender tudo que está acontecendo, não tanto a ponto de me fazer entender o que eu fiz, tudo que ocorreu hoje. Eu simplesmente não consigo. Minha ficha não cai, é isso.

— Oi. — Katniss finalmente diz, após apenas me observar por alguns segundos. — Como você está?

— Bem. — Bem mal Katniss, e você? Se te conheço, está preocupada comigo e tudo mais, mas não se preocupe, eu estou bem, fiz o que fiz porque como você sabe, sou uma tremenda idiota, como você e todos acham. Não fiz exatamente por você, então não precisa fingir que somos as melhores amigas irmãs que todos pensam que somos, mas que na realidade nunca fomos. Não, espera? Que pensamentos são esses? Katniss não tem culpa de nada para que eu pense sobre ela dessa forma, Madge, sua falsa. Não, ela não tem. — Hum, você sabe. Na medida do possível. — Digo quando finalmente paro de falar comigo mesma e me repreender em meus pensamentos.

— Que bom. Não precisava ter feito aquilo, você sabe.

— Eu só fiz o que tinha que fazer, e foi o certo Katniss, acredite.

— Minha mãe pediu para eu te dar isso. — Mãe. Como eu queria que a minha estivesse aqui. Ah, mãe. Espero que algum dia ela possa me perdoar. — É uma pulseira, que ela ganhou do meu pai. — Ela estende o braço para me dar, é uma pulseira de ouro, linda. Mas não posso aceitar. — Aceite. É a única pulseira que ele deu pra ela, nunca teve muito dinheiro para essas coisas. Por favor, aceite.

— Quer mesmo que o presente da sua mãe suma junto comigo na arena, quando eu morrer?

— Não seja tão pessimista.

— Estou sendo realista.

— Bom, de qualquer forma, digamos que ela não gosta mais tanto dele. Toda vez que ela vê essa pulseira ela fica daquele jeito, louca. É melhor ela se manter longe.

— Mas isso daria um bom dinheiro a vocês.

— O dinheiro não importa vindo de algo com valor sentimental, Madge. Nem mesmo para os da Costura, os pobres. Ok? Entenda isso. — Sinto um tom de raiva em sua voz, e logo me arrependo pelo que disse. Porque estou agindo como eles. Estou julgando pelo nível prefeito, e eu estou tendo pena dela por ser pobre.

— Eu aceito, é lindo, muito obrigada. — Eu pego a pulseira e a de dinheiro. É o que fazem, me julgam por eu ser rica, filha do abraço. Nunca nos abraçamos antes, mas essa me pareceu uma boa oportunidade para a ocasião. Talvez a última.

— Acabou o tempo. — Dois pacificadores estão entrando na sala, mas antes que eles a peguem, Katniss se vira e saí.

Espero mais alguém entrar pela porta, mas minutos se passam e não vem ninguém. As visitas acabaram. Mas não se passou uma hora. Então o que eles estão fazendo?