So Let The Games Begin. escrita por Anne


Capítulo 4
O garoto do pão.


Notas iniciais do capítulo

A coisa complicada
É que ontem eramos apenas crianças
Brincando de soldados, apenas fingindo
Sonhando sonhos com finais felizes

Em quintais,
Vencendo batalhas com nossas espadas de madeira
Mas agora caimos em um mundo cruel
Onde todo mundo se levanta
Para fazer pontos

Mantenha seus olhos abertos.



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Eu não sei pai. Bem, você sabe. Faz sentido, e ao mesmo tempo não faz. Por que alguém iria querer ir para os jogos? Por que alguém iria se voluntariar para morrer? Bem, acontece que ao contrário do que muitos pensam, eu não tenho medo da morte. Mas também não tenho vontade de morrer. Mas é uma escolha minha. E não me arrependo, pai. Me desculpe por todo seu esforço não ter valido a pena, mas eu nunca pedi por ele. Eu te amo.

Bem, eu diria isso a ele, se dois pacificadores não o tivessem tirado dali. É claro, a Capital não iria querer expor em frente as câmeras um prefeito que não tem orgulho por sua filha ir para os jogos. Porque isso devia ser um orgulho para todos, mas não é. Exceto para os Carreiristas, que treinam a vida toda por isso. Mas nós não temos essa vantagem, não temos esse direito. Se tivéssemos, não treinaríamos por vontade de ir, mas só para o caso de que se fossemos chamados um dia, teríamos como nos defender na arena pelo menos.

Então quando já estou em cima do palco, ao lado de Effie e Haymitch, Effie dá continuidade ao seu discurso.

— E agora, vamos conhecer nosso corajoso cavalheiro que irá lutar ao lado de nossa corajosa...

— Madge Undersee. — Digo em resposta ao olhar dela de "qual é seu nome?", ela não sabia. Como poderia saber?

— Madge Undersee! — Ela vai até o globo com os nomes masculinos, e retira um pedaço de papel. — E o nosso corajoso tributo é... Peeta Mellark!

Não. Ele não. Não quero lutar com ele, não posso. E não é pelo o que vocês estão pensando. É só que, Peeta é a pessoa mais doce que eu conheço, mesmo sem conhecer. É evidente isso, mesmo sem eu nunca tendo falado com ele. Ele não pode ir para os jogos, não, isso não é justo.

Mas acontece que nessa vida, nada mais é justo. Aceite, Madge.

Peeta sobe ao outro lado de Effie no palco, e ela pede para apertarmos as mãos. E quando nossos olhos se cruzam ao colocarmos as mãos uma sobre a outra, é evidente no rosto dele o quão está assustado e surpreso, certamente ele não por esperava isso. Mas ele também parecia estar aliviado. Eu só não entendia o porquê. Peeta é o filho do padeiro, garoto da cidade, com aparência semelhante a minha. Cabelos loiros cinzentos que caem em ondas sobre sua testa. E tinha olhos azuis. Olhos azuis de profundo espanto, olhos azuis que ameaçavam produzir lágrimas de desespero a qualquer momento. Assim como os meus naturalmente fariam, se a fixa do que eu acabara de fazer tivesse caído. Mas acontece que ainda não caiu.

Então meu pai volta ao palco, agora mais calmo, mas no fundo posso sentir seu coração se quebrando em mil pedaços, e começo a me odiar por isso. Chegou a hora de ler o Tratado de Traição novamente, como ele faz todo ano nesse ponto. Mas eu simplesmente paro de escutar, fico totalmente alheia ao mundo e a multidão de pessoas a minha volta. Apenas me desligo, com medo de enfrentar o que estar por vir.

Meu pai termina o sombrio Tratado de Traição e gesticula para Peeta e eu apertarmos as mãos, então fazemos isso... Outra vez. Nós nos voltamos para encarar a multidão enquanto o hino de Panem toca.

No momento em que o hino acaba, somos levados em custódia. Um grupo de Pacifistas nos escolta até as portas dianteiras do Prédio da Justiça. Então sou conduzida para uma sala e deixada sozinha, eu já vim algumas vezes aqui com meu pai antes. Então a porta se abre. Uma hora. É o tempo que tenho para me despedir de quem quer que venha se despedir de mim.

— Pai? — Eu dou um pulo e vou até ele, e o envolvo num abraço, que não é correspondido. — Me desculpa pai. — Ele não responde. Assim que me afasto, posso ver o cansaço nos seus olhos e a expressão em seu rosto é... Como se a alma dele não estivesse mais ali.

— Sua mãe não vai poder vir, você sabe o estado em que ela está, mas pediu pra que te entregasse isso. — Ele coloca entre meus dedos uma carta. Dobrada, e escrita em tinta azul na dobra o nome de minha mãe.

— Pai... — Foi só o que consegui dizer, e a partir daí não pude conter as lágrimas. O abraço novamente, mas ele não retribui outra vez. Fico assim com ele por um minuto inteiro, até ele ceder, e me abraçar. Com muita, muita força. — Não posso falar muito, eu sei, não posso me explicar. Mas eu quero que você saiba que foi preciso. E que eu te amo. Diga a mamãe que eu a amo também, e que foi uma coisa mal pensada. Nunca quis a machucar. Não deixa ele ficar preocupada comigo, pai. Acalma ela.

— Você sabe que isso é impossível. — A porta se abre, e dois Pacificadores o tiram dali, dizendo "acabou o tempo, prefeito." — Ganhe. — É a última coisa que ouço ele dizer.

Se o tiraram em três minutos, significa que tem mais gente querendo se despedir de mim. Ou... Só estão castigando ele a mandado da Capital, não o deixando ficar comigo, pela humilhação que eles os causou. Mas então antes mesmo de eu enxugar as lágrimas a porta se abre outra vez, e eu me surpreendo. Gale.

— Gale?

— Para a sua surpresa, não é mesmo? — Ele diz e sorri, um sorriso pouco convincente. — Eu não podia deixar você ir sem pedir... Desculpas. E te agradecer.

— É, você me deve desculpas mesmo. — Eu tento enxugar as lágrimas com as mãos, suspiro e pergunto a ele, finalmente — Mas agradecer, por que?

— Por ter ido no lugar... Dela. Foi muita coragem da sua parte.

— Muita coragem da minha parte mesmo, mesmo sabendo que não vou ganhar, não é? E que ela talvez iria. Sabe atirar e tudo mais, e eu não sei fazer nada. Olha Gale, eu sei o que você pensa sobre mim, então nada do que você disser para se redimir vai adiantar. Então, fique com a culpa de que daqui algumas semanas uma garota vai ter morrido, em plena consciência de que você a odiava sem motivo nenhum, certo? Agora pode ir e me deixar aqui, por favor?

— Eu não te odeio, Madge. Eu juro. Eu odeio eles. Boa sorte.

— Obrigada. — Simplesmente respondo, de modo seco, e observo ele ir embora.


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Notas finais do capítulo

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