So Let The Games Begin. escrita por Anne


Capítulo 2
Culpa.


Notas iniciais do capítulo

Aqui é seguro, e aqui é um abrigo
Aqui as margaridas te protegem de todo perigo
Aqui seus sonhos são doces
E amanhã serão lei
Aqui é o lugar onde sempre lhe amarei

Bem no fundo da campina, bem distante
Num maço de folhas, brilha o luar aconchegante
Esqueça suas tristezas e aquele problema estafante
Porque quando amanhecer de novo ele não será mais tão pujante.



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Mais um dia de colheita. Mais um dia idêntico ao de todos os anos. As pessoas acordam assustadas, pois em seus pesadelos seus filhos são os escolhidos, ou no caso de adolescentes como eu, seus nomes são chamados, e então elas não conseguem voltar a dormir. Bem, eu não sou uma dessas pessoas. Nunca fui. Por um simples motivo: O meu nome não vai para a colheita. Meu pai não permitiria isso, e não tem permitido desde que completei meus doze anos. É uma coisa que geralmente a Capital não permite, a não ser que você saiba um terrível segredo deles. Mas a Capital também não permite ser ameaçada, se alguém tivesse essa ousadia, seria decapitado.

O trato é o seguinte: Você é nosso amigo, e não queremos de forma alguma que sua filha vá para os jogos. Confiamos em você.

Um trato muito mal dito e mal contado. Só quer dizer que a Capital está te dando uma chance, sendo amigável. Mas se você quebrar a confiança deles, eles terminam de matar sua mulher que já está por si só quase morrendo. Porque se fossem mesmo amigos do meu pai, teriam mandado remédio de fora para curá-la. Eles tem tecnologia suficiente pra isso. Tecnologia. É tudo o que nós, do Distrito 12, não temos.

Mas na verdade, em dias de colheita, eu sempre acordo cedo como todos que tem pesadelos. Por vontade própria, cá estou eu. Sentada na grama da campina, observando o sol, o dia, a natureza. Tudo isso me fascina muito, mas em dias de colheita tudo isso me entristece, só de pensar que quem quer que seja escolhido, tem noventa e nove porcento de chances de nunca mais ver nada disso outra vez. E pode ser qualquer um. Matt. Esther. Anne. O filho do padeiro, Peeta. Um trabalhador de minas. O filho do dono do mercado. Katniss. Gale. Qualquer um, menos eu, a filha do prefeito. E isso é mais do que injusto, eu sei. Mas também não é minha culpa. Não fui eu quem inventei nem pedi nada disso. Só preciso colocar isso na minha cabeça.

Preciso também me arrumar, pois já devem ser quase duas da tarde. Então levanto da grama e vou em direção a minha casa, que não é muito longe.

— Madge, aonde você estava?

— Só dando uma volta, pai.

— Você precisa se arrumar. Kate está te esperando em seu quarto com seu vestido, seu banho está preparado. Suba.

Não respondo e apenas subo as escadas, enraivecida. Como é que até no dia em que duas pessoas estão certamente marcadas para morrer ele pode pensar em algo como: A filha do prefeito tem que estar arrumada, pois gente da Capital está vindo aí? Digo porque sei que ele está pensando. É sempre assim. Sou só um padrão de beleza, não estou ali pra nada. Não vou ser chamada. Não que me queixe por isso, sei que ele fez o que fez pra me proteger. Mas ao mesmo tempo, não era pra ser assim... Eu não queria me sentir assim a cada ano.

Ao chegar em meu quarto Kate está sentada ao lado de minha cama, numa cadeira. Peço pra que ela se retire. Tiro minha roupa suja de grama e tomo meu banho de banheira, lavo meu cabelo com um shampoo que contém um suave aroma de baunilha. Assim que termino o banho, passo um creme no corpo e visto o vestido branco que estava em cima da cama. Era bonito.

— Kate, pode entrar. — Grito não muito alto, tendo a certeza de que ela devia estar esperando ao lado da porta. Kate adora arrumar as pessoas, e é muito bem paga pra isso. E como não sou a única que ela vai arrumar hoje, certamente deve estar com pressa de ir embora logo daqui.

— Oi, Senhorita. O que vai querer fazer?

— Qualquer coisa.

Assim que ela termina, agradeço e peço pra ela ir. Olho no espelho da minha penteadeira. Ela fez um coque meio diferente e prendeu com uma fita rosa, bonitinha. Visto um sapato e decidindo que não preciso de mais coisas, desço as escadas e vou até a sala.

— Madge, pode abrir a porta dos fundos pra mim? Tem alguém chamando, mas estou meio ocupado. — Meu pai pede, não respondo-o mais uma vez, apenas vou até a cozinha e abro a porta. Gale e Katniss, na companhia de alguns morangos. A fruta preferida de meu pai.

— Bonito vestido. — Diz Gale.

Eu não entendo se ele estava sendo irônico ou se era mesmo um elogio, já que Gale não é lá a pessoa que lá tem muitas afeições por mim.

Bem, se eu acabar indo para a Capital, vou querer parecer bem, não é? — Digo, e olho para os dois de relance e imediatamente me arrependo do comentário. Não pela expressão confusa no rosto de ambos, que era evidente. Mas por mentir tão descaradamente, por caçoar de algo que não poderia de maneira nenhuma ser verdade. Mas bom, eles não sabem disso.

— Você não vai para a Capital. — Diz ele friamente. — Quantas vezes precisou colocar seu nome lá? Cinco? Eu coloquei seis quando tinha apenas doze anos de idade.

— Não é culpa dela. — Diz Katniss. Mas então eu me sinto imensamente culpada, e ao mesmo tempo com raiva.

— Não, não é culpa de ninguém. Só é assim.

— Boa sorte, Katniss. — Eu digo e coloco o dinheiro dos morangos na mão dela.

— Você também. — Ela responde, e eu imediatamente fecho a porta.


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Notas finais do capítulo

Se alguém ler, comentem, por favor.



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