A Tale Of War escrita por Liechstein


Capítulo 2
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Nesse prólogo não é postado a morte do rei. Mas é mostrada uma situação em que vocês devem começar a suspeitar se a morte do rei foi realmente natural.



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Após a reunião do conselho real, o rei Rikard Castenhul foi abordado por Lorde Sullivan.

− Encontre-me no jardim, Vossa Majestade. Tenho que lhe falar uma coisa – disse e saiu.

Rikard desceu as escadas perguntando-se o que Sullivan queria dele. O castelo estava movimentado, como sempre. Criados passavam pelos corredores – sem antes reverenciar-se diante do rei, claro −, desciam escadas correndo, cavaleiros andavam com um passo apressado com suas armaduras tinindo, e os membros do conselho já haviam se separado, cada um fora ao lugar que devia ir, resolver os assuntos que tinham que tratar. Escutavam-se murmúrios por todos os corredores, de modo que parecia que as pedras estavam sussurrando para ele.

Mas todo o movimento era normal, e fazia parte da rotina do rei – já que sentava-se no trono de Windermere há quase dez anos.

Conquistara a coroa devido à abdicação de seu irmão mais velho, Donnavan, que era o primeiro na linhagem de sucessão. Porém, após a morte de seu pai, seu irmão fugira sem revelar seu destino. Abandonou a coroa, a esposa, o castelo e o irmão. E, como havia perdido sua esposa há mais de dois anos, Rikard casou-se com Maryn Bayforth, a esposa de seu irmão. O pai da mulher arranjara o casamento para os dois, e Rikard, não poderia discordar, mesmo que não a amasse, pois ela vinha de uma família rica e poderosa.

Rikard atravessou o jardim e passou por dois criados apressados, que rapidamente o reverenciaram e voltaram a concluir seus afazeres.

A fonte que ficava no centro do jardim jorrava água por toda ela. Rikard atravessou-a e sentou-se no banco de madeira que havia próximo a ela. Encantado com tamanha beleza do jardim, mergulhou em profundos pensamentos sobre os prós e contras de ser rei. Claro, haviam muitos prós, como também haviam muitos contras.

Achou mais contras do que prós.

− Que bonita paisagem, não acha, Vossa Majestade? – Lorde Sullivan perguntou, pegando-o de surpresa. Não notara a presença dele.

− Realmente, Lorde Sullivan – concordou.

− Teria a bondade de me acompanhar em um passeio por esse belo jardim?

Rikard se levantou em resposta, e os dois saíram andando em um passo lento, um ao lado do outro, pelo jardim.

− Vossa Majestade, permita-me perguntar: quantas moedas de ouro gasta para manter esse jardim tão belo?

Rikard o encarou e viu que Sullivan estava realmente maravilhado com o jardim, olhando-o de canto a canto, uma extremidade da muralha que circulava o castelo à outra. Mas Rikard não tinha tempo para ficar conversando sobre o jardim.

− Creio que tem algo mais importante a me dizer, Lorde Sullivan, pois se me chamou até aqui para ficar perguntando do jardim, tenho que ir – disse. Era um homem velho, que assumira o trono aos quarenta, devido à boa saúde de seu pai. Seu cabelo e barba já estavam grisalhos, sua pele enrugada e achava que a idade estava tomando até sua estatura. Achava que seu último dia estava próximo.

− Se assim desejar, Vossa Majestade, assim o farei. – Lorde Sullivan era um homem culto e conhecia as palavras tão bem quanto Rikard seria capaz de imaginar. Era três anos mais velho que o rei, embora sua aparência o fizesse parecer com fosse cinco anos mais novo. – Ah, por favor, Vossa Majestade, não me chame de Lorde Sullivan. Apenas Sullivan. Obrigado.

− Como desejar. Mas conte-me o motivo de nosso encontro.

Sulivan respirou profundamente.

− O motivo, Vossa Majestade, é cruel. Mas a intenção é boa.

− Então conte-me da intenção, primeiro.

− Como desejar, Vossa Majestade. Minha intenção é livrá-lo de uma carga que sei que lhe atrapalha há anos. E sei que se não fizer algo, irá continuar lhe atrapalhando.

Demorou um segundo, mas o rei foi capaz de descobrir o assunto.

− Exatamente. Permita-me dizer que não acho que ela faça bem a Vossa Majestade. Nem ao reino. Eu sei que é sua esposa, porém sei que ela também pode ser perigosa. Mais do que imaginamos. Você conhece os Bayforth.

E realmente conhecia bem os Bayforth. Pelo menos, mais do que gostaria.

Os Bayforth eram uma dinastia antiga que governavam a província de Hibrick e por centenas de anos assumiram o trono, porém o haviam perdido devido a uma traição por parte da esposa, que assassinou o último rei da dinastia. Obviamente, isso acabou em guerra, e, obviamente, eles perderam. Os Bayforth também eram conhecidos por serem uma família um tanto quanto briguenta. Há até dois anos antes, eram uma família em guerra com Lorde Sarvyn. Lembrava-se bem desses tempos de guerra, pois cedera soldados do Exército Real para a família. Não gostara nada disso, mas não poderia recusar apoio. Acabou que os Bayforth ganharam.

O rei ficou quieto. O discurso não lhe era desconhecido.

− Você sabe que os Bayforth deram um prejuízo enorme à Coroa. E todos sabemos que não há nada mais do que política em seu casamento com a rainha.

Nisso Sullivan também tinha razão. O casamento entre Rikard e Maryn não passava de política arranjada para melhorar a imagem do rei. Os Bayforth eram conhecidos em cada canto de Windermere, por isso, Donnavan Castenhul teve a ideia de casar-se com Maryn Bayforth, um mês antes de desaparecer do mapa.

Eles estavam no pátio da entrada do castelo quando Sullivan voltou a falar.

− Ela é perigosa, Vossa Majestade, e você muito bem disso.

Sullivan deixou Rikard olhando para o chão, refletindo, e foi-se sem nem se despedir.

O rei sabia de tudo que Sullivan lhe havia contado. Mas não pôde deixar de ficar inquieto. Sabia da ambição de Maryn pelo poder e da obsessão pelo luxo. E sabia também que Maryn seria capaz de fazer qualquer coisa pela coroa. Qualquer coisa.

Ele emergiu de seus pensamentos e entrou no hall do castelo. Subiu a escada principal e entrou pela gigante porta da Sala do Rei.

O que viu o deixou perturbado.

Maryn estava sentada lá do outro lado da sala, no gigante trono de madeira, usando sua coroa. Ela parecia estar bem acomodada, com a coluna reta e a postura rígida. Abriu um sorriso perverso quando o viu entrar. O inchaço de sua barriga indicava que não demoraria mais de dois meses para o bebê nascer.

Guardas estavam plantados ao pé da escada do trono.

Rikard atravessou a sala com um passo acelerado em direção ao trono, enquanto Maryn apenas sorria.

A gigante vidraça vermelha por trás do trono, banhada pela luz do pôr-do-sol, fazia parecer com que o chão estivesse todo manchado de sangue. Era assustador. As sinistras armaduras postas embaixo das janelas pareciam zombar dele, mesmo estando imóveis.

À medida que se aproximava do trono, foi sendo coberto pela luz vermelha. Quando chegou ao pé da escada, dois guardas desembainharam suas espadas e seguraram-nas na frente do rei, impedindo sua passagem. Não pôde recuar, pois antes mesmo de sequer pensar em fazê-lo, outros dois guardas apareceram e seguraram seus braços. Maryn achou aquilo engraçado; estava se deliciando com a cena.

Antes que pudesse falar, a porta gigante de madeira se fechou por trás dele, com um estrondo que ecoou pela sala silenciosa. Rikard virou-se e viu dois guardas, um de cada lado da porta.

Cansado de esperar, perguntou:

− O que está acontecendo aqui?

A Rainha se levantou, mas permaneceu em frente ao trono.

− O quê? Uma rainha não pode simplesmente sentar em um trono?

− Onde estão meus guardas?

− Lá fora, cumprindo seus deveres.

− Os deveres deles são me proteger, não me parar.

− Ah, então olha de novo, meu amado marido.

Rikard olhou os guardas à sua frente e viu que o manto da armadura que usavam eram mantos dos Bayforth, que era preto com uma lua branca estampada, não os do Exército Real, que eram vermelhos com uma coroa estampada. Eram guardas que trabalhavam para Maryn, e nunca iriam obedecê-lo.

− Guardas! – gritou, procurando por ajuda.

− Sor Kelvin! – Maryn gritou, e o guarda à direita de Rikard deu-lhe um soco na bochecha. – Muito obrigada.

Depois de recuperar a noção – o que demorou alguns segundos – e cuspir o sangue em sua boca, ele encarou a Rainha e perguntou:

− Você ainda não respondeu minha primeira pergunta.

− Eu preciso? – A Rainha desceu a escada do trono e circulou seus guardas, com o olhar perverso fixo no Rei. Seus cabelos pretos esvoaçavam enquanto seu vestido verde era arrastado pelo chão.

− Não compreendo.

− É apenas um aviso do que pode acontecer se vossa real pessoa – ela disse com um jeito zombeteiro – ousar encostar um dedo em mim de novo. – Sabia do que ela estava falando. Eles brigavam com bastante frequência, e ele sempre acabava a briga dando um tapa em seu rosto. – Está vendo esses guardas? Eles não hesitariam em matá-lo se eu o pedisse.

− Você não seria estúpida o suficiente para mandá-los me matar; meu exército acabaria com você, pois estão em maior número.

− Ah, tolo Rikard. Têm mais traidores que se nomeiam cavaleiros naquele exército do que você imagina.

− Mesmo assim. Têm mais de mil homens guardando este castelo.

− Não tenho medo. – E virando-se para os guardas, disse: − Matem-no.

Nesse mesmo instante, os guardas o forçaram a ficar de joelhos e Sor Kelvin apoiou sua espada sobre a nuca de Rikard, que logo sentiu um fiozinho de sangue escorrendo pelo pescoço. O Rei entrou em desespero. E, de alguma forma, Maryn percebeu.

− Levantem-no – disse, rindo. Os guardas o puseram de pé. Maryn subiu a escada do trono e sentou-se nele. – Ah, pobre Rikard, o desespero estava evidente em seus olhos.

E riu de novo.

− Isso é só uma pequena amostra do que pode acontecer a você se... – ela pensou, e mudou de conclusão – se algum dia me deixar irritada de novo.

− Sabe que posso contar ao meu exército tudo o que fez.

− Não acho que seja tolo o suficiente para fazê-lo. Tenho certeza de que se lembra de que eu sei de um segredo seu, e que posso destruir sua vida inteira dizendo apenas uma frase.

Rikard na hora soube do que ela está falando.

− Você não se safaria se contasse meu segredo, pois é tão parte dele quanto eu.

− Você tem alguma prova? Acho que não. Além de que eu não teria motivos para fazer o que foi feito.

− E por que você o fez?

− Você deveria mudar sua pergunta para: e por que nós o fizemos? – Rikard não achou resposta para aquilo. Então ela prosseguiu: − Lembre-se, Rodrik Castenhul, uma palavra sua do que aconteceu aqui, e eu conto o que aconteceu há uma década.

− Isto é uma ameaça?

− É um aviso. Ameaças não se concretizam, avisos sim. Soltem-no. – Os guardas assim fizeram. – Deixem-no ir.

Rikard ficou parado e encarou-a.

− Tome cuidado. Aqui, neste castelo, as paredes têm ouvidos. E, lembre-se, ninguém é mais ou menos traidor do que eu aqui. Você não deve confiar em ninguém. São tempos perigosos, os quais vivemos.

E ele sabia que ela estava certa.

No dia seguinte, Rikard não acordou.


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