Era noite. Mary estava arrumando seu material escolar pela décima vez. Estava com medo de ir para a escola. Se lembrava de bastante coisas, mas havia algumas lacunas. No entanto, não podia mais perder aula.

Já fazia uma semana desde que saíra do hospital. No total, o acidente havia sido há duas semanas. Estava fazendo várias terapias para tentar recuperar a memória, sem obter nenhum sucesso.

Ninguém sabia exatamente como acontecera o acidente. Ela estava sozinha em casa e uns vizinhos ouviram um barulho estranho. Ligaram para a mãe dela, que voltou imediatamente para casa. Chegando lá, encontrou a menina caída atrás de um armário, cheia de arranhões e com um corte profundo na cabeça, além de alguns hematomas.

Ficou três dias no hospital, passando por cirurgias e exames. No inicio do quarto dia, começou a reagir, mas, do nada, parou completamente. Tentaram reanimá-la, sem sucesso. Deram um calmante para sua mãe para que ela conseguisse dormir. Foi quando a garota voltou. Ao realizar mais um exame, descobriu-se que ela já estava curada. Nesse momento ela acordou.

Três dias depois ela teve alta e foi para casa. Se lembrava do lugar, mas não de sua mãe ou do acidente. Não recebeu nenhuma visita neste período. E, no domingo à noite, se preparava para ir para a escola, insegura se estava pronta para encarar pessoas de quem talvez não se lembrasse.

Acordou bem cedo no dia seguinte. Tomou um banho e foi para o quarto se arrumar. Sua mãe ainda dormia. Colocou a camiseta do uniforme. Como estava frio, vestiu calça jeans e um moletom, ambos pretos. Foi para a cozinha comer algo e saiu.

Não havia muitos alunos no colégio quando chegou. Sentou embaixo de uma árvore, colocou fone nos ouvidos e fechou os olhos. Não percebeu os outros alunos chegando, nem a pequena aglomeração ao seu redor. Só abriu os olhos e voltou para a realidade quando alguém a cutucou. Tirou o fone do ouvido, reconhecendo vários colegas, que faziam várias perguntas.

– Gente, ela está assustada. Vamos deixar ela se acostumar de novo, depois fazemos as perguntas. – um garoto parou ao seu lado e as pessoas foram se afastando. – Bem vinda de volta, Mary.

– Obrigada. – olhou para o garoto, percebendo que não se lembrava dele. Cabelo castanho e curto, olhos muito verdes, pele branca. Ele sorria, exibindo lindos dentes brancos. Tinha o rosto um pouco redondo. Era um pouco bonito. – Desculpe, mas quem é você? É que eu perdi trechos da minha memória e ainda não recuperei nada.

– Tudo bem, anjinha. Meu nome é Ray, nós somos bastante amigos.

– Estranho, minha mãe não me falou de você, quando estávamos falando dos meus amigos... Imagina o por quê?

– Claro que sim. Ela não gostava de mim, achava que eu era má influência. Não sei porque, mas é isso. Vamos para a sala?

Passou a manhã toda tentando responder as perguntas de todo mundo. Reencontrou sua melhor amiga, de quem se lembrava perfeitamente bem. Ray ficou ao seu lado o tempo todo, tirando as pessoas de perto quando a atormentavam demais.

Mary só estranhou quando Ray lhe pediu para que não comentasse com ninguém fora da escola que haviam se encontrado. Não deu mais explicações, apenas disse que na hora certa ela iria entender tudo.