–Eu não sei como, mas é isso. É a primeira vez que eu vejo algo assim.

–Foi um milagre. É a única explicação.

Mary havia voltado a si, mas não tinha vontade de abrir os olhos. Estava deitada em uma cama de lençóis macios. Percebeu que estava em um hospital pelo forte cheiro característico. Mexeu os dedos da mão e do pé. Tudo inteiro. Sentiu uma agulha no braço. Devia estar com soro na veia. Gostaria de ficar assim o resto da vida, mas acabou abrindo os olhos.

Confirmou que estava no hospital. As paredes eram todas brancas. Uma mulher dormia na cama ao seu lado. Realmente estava ligada a um tubo de soro. Os apitos do aparelho que media as batidas de seu coração a deixavam com sono. A porta estava entreaberta e duas pessoas estavam do lado de fora. Um médico e uma enfermeira, deduziu. Eles entraram e ela fechou os olhos, fingindo que ainda dormia.

–Vamos esperar ela acordar para dar-lhe a notícia. – sussurrou ele.

–Não. Ela pediu para acordá-la se tivéssemos alguma novidade.

–Mas só agora que ela dormiu, ela precisa descansar um pouco.

–Não, você não é mãe, não sabe o que é isso. Eu vou acordá-la.

–O que aconteceu? Como ela está? – a outra mulher devia ter acordado. Sua voz não era estranha aos ouvidos de Mary, mas não conseguiu reconhece-la, por mais que tentasse.

–Boas notícias. Ela não tem mais nada. Está apenas dormindo.

–Mas eu quero que ela fique aqui por um tempo. Quero fazer uns exames nela ainda. Não sei o que aconteceu, ela estava morta.

–Já te falei, foi um milagre. Mas precisamos saber se não ficou nenhuma sequela. Quando ela acordar, por favor, nos chame.

Então o seu caso era grave. Tentou se lembrar de como havia ido parar lá. Mas não obteve sucesso. Não havia muitas coisas em sua memória. O melhor jeito de saber era acordando.

Abriu os olhos com força. A mulher agora se encontrava sentada ao seu lado. Ela era bonita. Os cabelos castanhos estavam presos, mas alguns cachos escapavam do coque. Os olhos cor de mel estavam vermelhos, como se ela não fizesse outra coisa além de chorar. Estava pálida e parecia cansada, mas ainda assim continuava bonita. Seus olhos se encontraram e ela sorriu, exibindo dentes brancos e perfeitos.

–Meu anjo, que bom que você está bem! Vou chamar o médico, já volto. – ela se levantou. Era alta e esguia, com seios levemente avantajados. Usava calça jeans colada, tênis e jaqueta, tudo branco. E mais uma vez, Mary sentiu que já a conhecia.

–Olá querida. Você já está bem melhor, mas precisamos fazer alguns exames para sabermos se está realmente bem. – o médico era alto, cabelos e olhos bem escuros, pele bronzeada. Não era exatamente bonito, mas tinha um corpo um pouco atraente.

–Mandou me chamar, doutor? – a enfermeira entrou no quarto, fechando a porta atrás de si. Era alta, loira, os cabelos presos em um coque perfeito, seus olhos eram de um preto muito escuro, sua pele era muito branca. Usava uma maquiagem leve. Seus lábios eram de um vermelho forte, não parecia ser batom, e seus dentes eram extremamente brancos e alinhados. O uniforme lhe caía perfeitamente bem e ela era realmente muito bonita. Porém, algo nela despertou uma sensação ruim na garota, nem boa nem ruim, mas ela não disse nada. – Ah sim, ela já acordou. Vamos começar então.

Testaram os movimentos das pernas e dos dedos. Verificaram se ela conseguia se se apoiar sozinha e se manter em pé. Conferiram se sua fala estava boa, assim como a audição, a visão e o olfato. Tudo estava perfeitamente bem.

Porém, ao realizar o teste de memória, não conseguiu se lembrar de várias coisas. Lembrava seu nome, sua idade e várias outras coisas relacionadas apenas a si própria e a alguns amigos. Mas não sabia nada sobre o acidente, sobre a sua família nem nada relacionado. Sentia que lhe era familiar, mas não reconhecia. Não fazia ideia do que tinha acontecido.