Mary teve alta do hospital no dia seguinte. Nesse tempo, pediu que sua mãe permanecesse ao seu lado. Não queria ficar sozinha, ainda mais com Lira. A garota tinha certeza de que não gostava dela e que esse sentimento era recíproco.

Ray voltara para a escola. Se mantinha um pouco afastado dela, mas havia dito que era por pouco tempo. Ele se culpava pelo último acidente e falara que isso ia prevenir mais um. Porém, ela não concordou e insistiu que ele podia e até deveria ajudá-la a recuperar a memória. Mesmo que não soubesse o porquê, tinha certeza disso.

- Mary, não! – ela havia passado a tarde toda de quarta-feira lhe mandando mensagens. Ao fim do dia, ele havia ligado para ela.

- Então por quê? Eu preciso saber porquê você não vai me ajudar.

- Porque você foi parar no hospital da última vez que eu tentei.

- Então era isso que a gente estava falando no telefone.

- Sim. E não. Desculpe, você tem que conseguir sozinha.

- Eu não consigo! E não faço ideia de como conseguir.

- Meu anjo, me escuta, por favor. Você consegue sim. Conseguiu se lembrar do que tinha acontecido na casa da Luna, não foi?

- Porque você me ajudou... Por favor, não me deixe sozinha.

- Você já está no caminho certo. No hospital, no domingo, eu achei que você estava recordando de algumas coisas...

- Mas eu não recordei! Me dê ao menos uma luz...

- Você não precisa. E eu já dei. Mais de uma. Pense bem. Tem algo, além disso, que está te intrigando? Pense direito e vai achar a resposta. Agora eu tenho que desligar. Boa noite,anjinha. – ele deu uma ênfase maior na última palavra. Ela então se lembrou da pergunta que fizera a ele no hospital. Correu para a sala, onde sua mãe estava vendo televisão.

- Mãe, posso fazer uma pergunta?

- Mas é claro, meu anjo. É sobre o quê?

- Sobre isso mesmo. Sabe, desde que eu saí do hospital, da primeira vez, há um mês, eu venho percebendo uma coisa.

- Como assim? Continue, minha anjinha.

- A senhora e algumas outras pessoas só me chamam assim, de anjo, anjinha... Não me chamam de querida, de amor, de linda, de nenhum outro apelido carinhoso. E essas pessoas são todas pessoas de quem eu perdi minhas lembranças. Por que isso?

- Eu não sei... Talvez porque você é uma pessoa muito boa... Não faço ideia. – ela deu uma risada que pareceu forçada. Mary percebeu um brilho de preocupação surgir nos olhos de sua mãe. Ela estava no caminho certo. – Por que, você não gosta de ser chamada assim?

- Não, por nada. Só achei estranho. Bem, vou para o meu quarto.

Ela correu para o quarto. Sentou-se em sua cama, pensativa. Lembrou-se então de mais uma coisa. Ray havia falado que já tinha dado mais de uma luz para ela. Seu pensamento voou para uma semana atrás, quando foram ao parque. “Tinha esperanças de que esse lugar despertasse alguma lembrança sua.”, ele dissera. Angel’s Park. Angel. Anjo. Mandou uma mensagem para ele,com apenas duas palavras. “Anjo, certo?”.

Uma forte dor de cabeça tomou conta dela. Várias pontadas na cabeça lhe atormentaram. Pontos pretos surgiram na frente de seus olhos. Deitou-se para esperar que passasse e acabou dormindo.