A viagem foi longa e demorada até chegarmos no vilarejo de quatro setas. Clara conversou com a minha mãe durante todo o caminho, enquanto eu e Snow apenas escutávamos calados.

É aqui. — Falou a minha mãe ao parar o carro em frente a uma velha casa de madeira na entrada de uma floresta.

A casa até que é grande. — Falou Clara ao observar a velha, porém conservada casa.

O Nicolas sempre cuidou muito bem dela. E como as pessoas da vila provavelmente tem medo desse lugar, a casa deve ter ganhado fama de mal-assombrada. — Explicou a minha mãe ao se aproximar da porta e abri-la com apenas uma girada de maçaneta.

Entramos todos na velha casa e Snow logo começou a farejar e a fazer comentários sobre ratos e outros roedores que estavam vivendo naquele local.

Isso é normal Snow. — Falei ao abrir a porta do banheiro e ver tudo coberto de poeira. — A casa esteve abandonada por muito tempo.

Foi então que Clara me chamou de um dos quartos: — Nero, vem aqui!

Fui até ela e a encontrei segurando uma foto velha com a imagem de minha mãe grávida e meu pai sorrindo felizes.

Bonito, quem será que tirou esta foto? — Perguntei ao perceber que não foi nem meu pai nem minha mãe que poderia ter fotografado eles mesmo.

Não sei, podemos ir perguntar a ela. — Opinou Clara ao segurar na minha mão e me puxar para fora do quarto.

Dona Silvia, dona Silvia! — Gritou Clara chamando pelo nome da minha mãe.

Aqui em cima! — Respondeu uma voz feminina que vinha dos quartos do primeiro andar da casa.

Apressados, subimos as escadas e entramos em um quarto onde havia uma grande cama de casal, onde minha mãe estava sentada, e do outro lado do cômodo um berço para bebê, velho e empoeirado.

Era aqui onde você dormia... — Sussurrou a minha mãe ao olhar e apontar para o velho berço.

Acho que eu não caibo mais aí. — Brinquei ao me aproximar do velho móvel e toca-lo com as minhas próprias mãos.

Clara olhou para o berço também, mas logo se virou e perguntou para a minha mãe — Senhorita Silvia, quem tirou essa foto de vocês dois juntos?

Minha mãe olhou para a foto e ao sorrir ao se lembrar do momento, respondeu — Foi Crixus. Um dos amigos de seu pai. Ele aparecia aqui de vez em quando.

E o que houve com ele? — Eu perguntei curioso.

Não sei. — Respondeu minha mãe desolada. — Só me lembro de seu pai ter falado que ele retornara para casa um dia e nunca mais o veríamos novamente. Provavelmente está morto. — Finalizou ela com um olhar triste.

Eu entendo. — Concordei em um sussurro.

Bem... A casa é bem legal. Por que nós não descemos para explorar um pouco mais Nero? — Sugeriu Clara ao perceber que o clima se tornara bastante triste e pesado.

Sim. Você vem mãe? — Perguntei motivado pela ideia de explorar um pouco mais.

Minha mãe apenas olhou para a cama de casal onde ela estava sentada e ao tocar carinhosamente o velho colchão, respondeu — Vão na frente. Eu quero ficar aqui um pouco mais.

Nós concordamos com a minha mãe e descemos até avistar Snow farejando uma velha porta de madeira e murmurando — Eu conheço esse cheiro...

Clara ficou bastante curiosa e ao se aproximar do cachorro, perguntou — Ei Snow, o que tem aí?

O cão continuou a farejar e arranhar a porta enquanto dizia — Eu não sei, mas lembra muito o cheiro do Nero e dos outros daquela ilha.

Foi então que eu me aproximei da porta e a abri. O.O Era um armário.

Olha essas roupas! — Exclamou Clara eufórica. — Lembra muito as roupas do Veros e dos outros demônios da ilha negra.

Sim. Provavelmente era do meu pai. — Comentei ao me aproximar de um casaco negro e pegá-lo em minha mão.

Bom, agora são seus. Eu acho... — Comentou Clara ao se aproximar de mim e me dá um beijinho rápido no rosto.

Sorri com o ato doce e carinhoso de Clara e após beijá-la de volta e concordar com ela, perguntei — O que achou da casa?

O que eu achei? — Perguntou Clara meio confusa. — Bem, bastante conservada para o tempo em que ficou abandonada.

Você aceitaria morar e viver aqui? — Perguntei para deixar claro as minhas verdadeiras intenções.

Sim. — Respondeu Clara sincera. — Com uma boa limpeza e uma reforma este lugar ficaria lindo.

Então já temos uma casa onde morar. — Sorri para ela com um olhar emocionado.

Clara entendeu a proposta e ao se aproximar lentamente, falou — Sim. Nós temos... — E então ela me beijou como se fosse o nosso primeiro beijo novamente.