Depois da interrupção de Renji, o clima ficou deveras estranho na sala de Ichigo e o ruivo cereja se repreendeu mentalmente por estragar tudo. Mas não se podia voltar atrás. Além de ter ido perguntar sobre a Inoue, ele ainda tinha que chamar Kurosaki para a reunião a portas fechadas para traçar a estratégia de infiltração. Aquilo seria perigoso, fora da lei e extremamente emocionante.

“Oe, Ichigo, é hora daquela reunião, lembra?”

“Que reunião seu idiota?” Ichigo respondeu.

“Sobre a HM.”

“HM?? Que porra é essa de HM?”

Inoue ficava olhando de um lado para o outro, sem um foco aparente, embora ficasse muito rubra quando ouvia as palavras de baixo calão do patrão.

“Ichigo, não vou dizer o que é HM! Você sabe o que é. Agora para de ficar de mimimi com a secretária, deixa ela descansar e vamos trabalhar porque alguém aqui precisa.” Renji respondeu com sua delicadeza costumeira.

Orihime achou que o patrão estava dizendo que ela não fazia nada. Isso era mentira! Se bem que o horário de almoço tinha acabado há um tempo e ela não tinha voltado para sua mesa, levantou-se, ajeitou os cabelos com as presilhas que ela sempre usava, desculpou-se imensamente pelo incômodo e disse que se dependesse dela, eles nem perceberiam que ela trabalha ali, que algo dessa conjuntura jamais aconteceria novamente. Ela pediria transferência do setor ou até mesmo demissão. Desculpou-se pela enésima vez e saiu, não sem antes agradecer Ichigo por tudo.

Quando ela fechou a porta, Renji ficou apavorado. Ele sentia que tinha feito coisa errada, mas quando olhou pra Ichigo teve a certeza absoluta que deveria ter seguido seu instinto e ter ficado na cama, podia ter tentado convencer a mulher a permanecer com ele, se bem que ela ficaria irada, mas seria uma ira vantajosa, mas não. Ele tinha que ir trabalhar, além de ser objeto de escárnio do cunhado, mesmo sem querer, tinha acabado com toda e qualquer chance de Inoue querer se aproximar dele. Sem falar que a Hueco Mundo estava com uma abordagem agressiva de mercado, sem falar nas estratégias de marketing desonestas. E quando nada pode parecer pior, ele entra bem na hora em que eles iam se beijar, fala uma coisa e ela entende outra e a salvação de Ichigo e da empresa se esvai pelos dedos. “Que dia de merda.”

“Merda é o que eu vou fazer com você caso ela se demita, seu imbecil.”

“Oras, mas por quê? Se ela se demitir ou sei lá, você vai fazer o que por que?” Renji simplesmente perdeu o amor à vida.

“Eu...eu...Renji, eu não sei. Ela me deixa calmo. Não sei porquê e essa sensação me deixa desesperado. Eu não sei como lidar com isso, faz tempo que eu não a via e faz tempo que eu não sei bem o que é essa coisa de atração, de flerte, essa merda toda. Eu quase a beijei e eu não sei que porra eu estou fazendo.” Ichigo disse desconsolado. “E se você contar pra aquela pulga que é sua esposa, eu te mato ou faço coisa pior, uso o seu cunhadinho amado.”

Tudo bem que Renji achava que tava tudo uma bosta mesmo, mas nada de usar o cunhado. “Vou levar esse segredo para o túmulo.”

“Talvez seja melhor ela ir. Eu sou o chefe dela, isso é errado em tantos níveis. Ela pode me processar por assédio, por agressão, por estupro, sei lá.” Ichigo estava puxando os próprios cabelos.

“Ichigo, eu sou casado com a Rukia e nós nos relacionamos há um tempo considerável, mas tem uma coisa, começamos a nos entender em uma reunião da empresa, você lembra? Daquela da Argentina. Bom, tudo bem que agarrá-la na frente de todo mundo pode ser enquadrado, mas Ichigo, ela te rejeitou? Depois de todos os cursos de assédio que essa empresa já promoveu, das aulas de defesa pessoal da Arisawa, você acha mesmo que ela te rejeitou?!” Renji exclamou.

“Eu sou chefe dela, ela podia ter ficado com medo de ser demitida.”

“Mas ela disse que pediria demissão, quem pede demissão não tem medo de ser demitido.” Renji completou.

“Enfim, Renji, pra que diabos você me chamou aqui?”

“A reunião da Hueco Mundo, falando nisso, soletra Hueco Mundo pra mim?” Renji caçoou.

O simples levantar do dedo do meio foi o suficiente para acabar com aquela discussão e eles saíram. Quando chegaram ao hall, viram Nemu e nada da Inoue. Ichigo se preocupou, mas achou melhor não perguntar nada e foi em rumo à diretoria geral para aquela maldita reunião de portas fechadas.

Inoue corria sem parar. Ele iria beijá-la e ela não iria pará-lo. Ela queria, e como queria aquele beijo. Se bem que achava que era apenas uma tentativa de acalmá-la e pôs-se a pensar se ele acalmava todas daquela maneira. Permitiu-se ficar com ciúmes, claro. Era uma mulher que gostava dele, ma não como se deveria gostar de um patrão. Ficou envergonhada nesse momento, mas o que será que aconteceria se ele fosse aluno dela, como no sonho? Será que ela teria chance? Será que daria tudo certo? Ela não sabia pra onde estava indo, só sabia que precisava ir e acabou chegando onde Tatsuki trabalhava.

Ofegante, ela a chamou. E a amiga, vendo a ruiva descabelada, veio ao seu encontro.

“Orihime, o que diabos aconteceu com você?” Tatsuki perguntou.

“Eu fiz uma coisa errada hoje. Tive um ataque de pânico, o Kurosaki-kun me ajudou e quase nos beijamos.” Orihime disse bem rápido.

“Ah, sim, mas O QUE????? Eu vou arrebentar aquele desgraçado, abusando assim de você?? Opa..espera, você disse nos? Você também queria? Ele abusou de você?”

“Tatsuki-chan, desde quando você sabe que eu gosto dele?” Orihime disse bem direta.

“Acho que antes de nós nos conhecermos, não?”

“E você acha mesmo que eu desgostei?”

“Pela sua reação quando soube que ia trabalhar com ele, acho que não.”

“Você acha mesmo que se eu fiquei gostando dele a adolescência toda, a juventude toda e não estou chegando nem perto de desgostar, acha que eu não ia querer o beijo dele, mesmo sabendo que ele não é atraído por mim?” Orihime perguntou.

“Orihime, você é a mulher mais linda que eu já vi, só se ele fosse um idiota em não querer ficar com você. Então, por que você não o beijou? Ou simplesmente aproveitou o momento?” Tatsuki perguntou.

“Abarai-san entrou bem na hora.” E nesse momento ela cobre o rosto com as mãos.

Ela não sabia, mas estava sendo espionada por nada mais nada menos do que a esposa de Abarai-san que naquele momento queria fazer ensopado de marido. Ela estava com tanta raiva que quase que não ouve as propostas dela querer se demitir e perguntando quem era responsável pelas demissões.

“Orihime, você não precisa do dinheiro? Pra que você vai se demitir? Você não fez nada de errado.”

“Eu estou realmente apaixonada, como sempre estive, mas parece que aumenta, sabe? E eu não tenho chances, como nunca tive. Então pra que ficar sofrendo assim? Eu posso me virar com o dinheiro da escola e arrumar outro emprego. Melhor do que isso.” Orihime disse desconsolada.

“Como assim melhor do que isso? Orihime, coloca essa cabeça ruiva pra pensar se você não quer que eu te bata outra vez como na escola. Quando que você teve oportunidade de ficar perto dele assim? Você lembra que nas cartas você me perguntava dele, toda a carta e você sempre se arrependia de não ter tentado nada. Bom, você pode não se arrepender agora. Você disse que sempre gostaria dele, não? Você mesma disse que nunca o esqueceria, não importava se você estivesse com alguém ou se ele estivesse. Então, ele não está! Nunca namorou ninguém e antes que você fale que eu não o conheço bem, você sabe que eu namoro o Sado, não? Que só é um dos melhores amigos dele, então...nem vem falando nada.” Tatsuki disse.

Rukia fez uma nota mental para aumentar o salário da Arisawa e parabenizá-la pelo namoro. Mas olha isso, até o mudo do Sado-kun namorando e o idiota do Ichigo não. Só que ela não sabia que Orihime gostava dele, nem que gostava tanto assim. Se antes ela estava empolgada para juntá-lo pelo seu bem e da empresa, agora pegou um apreço pela garota. Já que ela amava tanto assim e Rukia sabia bem o que era amar por muito tempo sem esperança alguma, estava mais do que na hora de se unirem, certo? O plano estava traçado.

Orihime ficou mais um tempo com Tatsuki até voltar ao hall, onde se deparou com um olhar muito curioso de Nemu. “ Inoue-san, onde você costuma comprar suas ervilhas?”

“Ah, eu comprei na feira perto da minha casa, por que, Nemu-san?”

“A sopa estava uma delícia. Obrigada por me oferecer.” Ela respondeu.

Inoue não acreditava! Nemu tinha mesmo comido a sopa??? Mas por quê?? E a dieta dela? Não importava. Ficou mesmo muito feliz.

Na verdade, Nemu não tinha mesmo provado a sopa. Passou perto. Falou com Ishida sobre o ocorrido, sem falar no sumiço dela. Ficou sentida, já que a moça, além de ser sua professora de dança, tinha mesmo boas intenções. A terapeuta dela ficaria satisfeita com certeza.

O dia correu normalmente, algumas ligações, mais alguns documentos e algumas risadas, já que Matsumoto tinha passado lá para fazer algumas fofoquinhas e deixou as meninas rubras, mas era muito bom. Deu o horário de ir embora e elas deixaram tudo levemente arrumado para o outro dia. Orihime correu para conseguir se arrumar para a escola.

Matsumoto, esperta como era e sendo instruída por Rukia, ofereceu uma carona que foi aceita de bom grado, levando em consideração que ela só morava do lado oposto de Inoue. Quando chegou à casa dela, constatou que ela morava até perto da casa do patrão. Informações colhidas, foi pra casa, rumo à garrafa de saquê, mas não sem antes passar os detalhes para Rukia sobre a localização da casa da garota, sem falar nos dados extraídos da conversa da tarde, adicionando que ela é mesmo uma garota muito boa e está deixando até aquele robô da Nemu mais agradável.

Rukia sentiu o celular vibrar e mais que depressa foi checar. A reunião tinha acabado e foi um fracasso sem precedentes. Byakuya acabou com todos eles, disse que os esforços foram em vão e que a única coisa que parecia em ordem eram os documentos que as secretárias organizaram, porque era a coisa mais fácil a ser feita. Algumas ações foram adquiridas do modo menos possível. Orihime e Nemu ficaram fazendo o leilão das ações e Nemu ficou intrigada com um nome de empresa e elas começaram a adquirir essas ações.

Elas não souberam, mas conseguiram uma parte boa das empresas Hueco Mundo, na verdade, da Arrancar LTDA. Que é só a empresa que detém a maior parte dos empreendimentos do complexo. As ações estavam disfarçadas, mas precisavam ser vendidas, sem falar que a intenção era difundir os acionistas, sem que eles soubessem e assim poderem decidir sobre os rumos da empresa, sem muita interferência da diretoria. Era um plano excelente e rentável, só que mesmo sem querer, a SS acabou ficando com uma parte. Isso era uma informação que nem Ishida sabia, já que Nemu só tinha dito que seguiu a intuição. No entanto, as ações estavam no nome dela e de Orihime, que nem tinha ideia na confusão que tinha se metido.

Quando Aizen descobriu essa falha imensa no plano, praticamente arrebentou Grimmjow, já que ele era o responsável pela difusão das ações. O pobre funcionário foi se consolar com Neliel que também estava furiosa pela manhã na SS. Ele anotou o nome de quem comprou as ações e disse que iria pesquisar e fazer com que a pessoa se arrependesse daquela aquisição descabida, mas antes, iria cuidar de outra coisa.

“Vamos Neliel.”

“Tá, mas não me puxa assim.”

Na Soul Society, todos ficaram pasmos com a sagacidade de Nemu, que mesmo sem querer acabou salvando a estratégia de ser um fracasso total, sem falar na prova de lealdade que ela demonstrou pra eles, só que Ishida ficou preocupado. Certamente Aizem já sabia o que tinha acontecido e ele teria meios mais do que suficientes para armar uma represália digna de filmes de ação, mas claro ele como o vilão psicopata. Sobressaltou-se e disse que tinha que ir.

“Pra onde você vai Ishida?” Ichigo perguntou.

“Pra aula de dança, não posso faltar.” respondeu ríspido.

“Aulinha de dança? Mas além de costurar, você também dança? Por que não faz uma cirurgia de mudança de sexo de uma vez.” Ichigo tripudiou.

“Você vai também, vamos todos.” Rukia determinou.

“Mas hein? Eu por que?” Ichigo disse

“Se você não fosse esse boçal que é e não ficasse brigando com coisas que não são da sua conta, podia ter visto essa operação antes, sem falar que é bom fazer coisas diferentes. Ah, e eu estou de TPM, acho bom todo mundo aqui fazer o que eu estou falando.” Rukia disse bem calma.

Ichigo iria começar falando que não era marido dela, mas quando a viu, não pôde deixar de sentir um frio na espinha. Era impressão dele ou até Byakuya estava com medo? Bom, o que ele ia perder indo nessa aula de dança, não?

Chegaram na escola e Nemu foi de encontro com Ishida.

“O que houve? E o que a diretoria está fazendo aqui?” Nemu sussurou.

“Eles vieram junto. Não pude evitar, mas eu não estou atrasado, o que está rolando?” Ishida perguntou.

“A professora está fazendo uma exibição, com a roupa da apresentação, sabe? Aí vai durar uns trinta minutos antes dela dar a aula. Vamos ali perto ver. Ela está divina hoje.” Nemu falou.

Ishida se surpreendeu por Nemu demonstrar alguma emoção em relação à dança, sem falar que pareceu preocupada com ele. Isso era uma coisa boa no meio de tanta confusão, não?

Mas nada poderia prever, Ichigo ao menos não poderia acreditar quem era a professora. Inoue! Ela estava mais do que divina, estava magnífica e todos os adjetivos que ele sabia e não sabia. Sem falar que a roupa que ela estava usando era igual ao sonho que ele teve essa manhã.

Aquilo era inacreditável. Sem falar no inacreditável ciúme que estava sentindo daquele moreno que estava dançando com ela. Os movimentos dela eram perfeitos, fluídos, nem parecia a mesma moça que caiu no primeiro dia de trabalho. Como aquilo era possível? Como alguém podia ficar tão maravilhosa com um vestido desses? Como ela podia se equilibrar naqueles saltos e por que diabos ele está com a mão na coxa dela?

“Nemu, onde que vai pra se matricular?”

Rukia olhou para Renji e mandou uma mensagem para Matsumoto, enquanto Ichigo se encaminhava para a recepção.