Depois de agasalhada - nem me pergunte de onde ela tirou aquele casaco! -, resolvi conversar sobre qualquer coisa que não envolvesse bacon; eu ainda estava meio atordoada com aquela porca me encarando.

Olhei para a garçonete, enquanto a mesma dava salame para o animal, que o mastigava feliz.

Limpei a garganta e tentei tirar aquela cena bizarra da minha cabeça.

__Então...você é de Ohio. Legal.

__Pois é, mas eu não gostava muito de lá. Vim aqui para tentar uma nova vida e me apaixonei pela Sophia.

__A porca.

__Sim, a porca – Ela riu – É complicado explicar, mas o dono é viciado em porcos. Ele deve ter uns trezentos porquinhos em miniatura na sala dele. Sem contar as fotos.

__Não me diga – Estremeci só de pensar

__Sabe, eu tenho que perguntar – Ela fez uma pausa, me olhando interrogativa – Por que você está aqui? Digo, eu percebi que você ia sair correndo mas algo te impediu. Posso saber o que foi?

__Um casal de amigos. Eles se gostam. Bem, ela gosta dele, ele ainda não sabe que gosta dela. Sou o cupido. Não podem me ver.

Ela começou a gargalhar.

__Acho que entendi tudo. Talvez eu possa te ajudar, sabe, ser sua co-cupido.

A olhei desconfiada.

__Isso é sério? Sem querer ofender mas, você é uma garçonete.

__Ah, não, não ofendeu – Ela exalou sarcasmo – Minha querida, é por ser garçonete que eu sei das coisas. Você sabe quantas cantadas baratas eu já levei? Quantos caras retardados eu tive que aturar? Agora, me mostre quem são eles.

Convencida de que aquilo não ia dar certo, nos aproximamos da porta, onde era possível observar a movimentação dos clientes por uma fresta. Inclusive o casal que ainda não era um casal.

Apontei para os dois e Christina - era o nome dela, a propósito - assentiu, passando a analisa-los.

__Hm, cara legal. Garota tímida. Puxa, ela gosta mesmo dele. O cara é meio tapado, mas vê algo diferente nela.

__E você descobriu isso só olhando para os dois? - Falei com deboche.

__Você é a cupido aqui, não é? - Ela respondeu com a mesma voz debochada.

Bufei e vi ela começar a abrir a porta, puxei seu braço e a olhei incrédula.

__O que você está fazendo?!

__Um teste. Relaxa, ninguém vai sair ferido. Eu prometo.

Antes que eu pudesse protestar ela saiu e foi até o balcão, pegando uma caneca e colocando chocolate quente na mesma. Ela olhou o lugar e seus olhos pararam em um cara muito gato.

O que ela pensava que estava fazendo?!

Ela andou até Matt e Stacy, e graças a acústica daquele lugar, pude ouvir o que falavam.

__Aqui. Pra você. – Ela pôs a caneca em frente a uma Stacy surpresa.

__Hm, deve haver algum engano. Eu não pedi isso.

__Eu sei que não. Foi aquele cara que pediu por você – Christina apontou para o cara gato que, percebendo estar sendo observado, ergueu a cabeça e sorriu sem graça.

Stacy ficou vermelha até a raiz dos cabelos e Matt, por algum motivo, fechou a cara. Eles haviam entendido aquele sorriso errado, mas pelas feições alegres de Christina, era exatamente aquilo que ela queria.

__Enfim, aproveite o chocolate. Aproveite também e agradeça pessoalmente a ele, porque... Deus, ele é um gato! – Ela fingiu se abanar e começou a sair, antes que Matt puxasse o braço dela com força.

__Se não percebeu – A voz dele estava rouca e seus olhos estavam mais escuros que o normal – O namorado dela está aqui.

Stacy arregalou os olhos e corou mais ainda [se é que aquilo era possível], atingindo oficialmente o tom da placa de “pare”.

W.T.F? Namorado?

__Ah, é sério isso? Ele é seu namorado? – Christina perguntou disfarçando um sorriso.

__E-eu a-acho q-que s-s-s-sim. – Stacy estava estática.

__Acha? – A garçonete arqueou a sobrancelha. Matt deslizou para o lado de Stacy e colocou seu braço sobre os ombros de minha amiga que estava parada feito um poste. Juro que só faltava a palavra escrita em branco.

__Sim, nós somos e você não tem outros clientes para atender? – Ele falou frio – Ah, e diga para o bonitão ai nunca mais mexer com a mulher dos outros.

Stacy arregalou os olhos novamente. Não tinha como ela ficar mais vermelha.

Christina ergueu as mãos e tentava a muito custo esconder o sorriso que se apoderava dela.

__Desculpe. Não está mais aqui quem falou. Vou dar o fora. – Ela saiu e a Matt olhou para Stacy, sem graça.

__Desculpe. Não quis envergonha-la.

NÃO QUIS ENVERGONHA-LA?! ELA ESTA QUASE SENDO CONFUNDIDA COM UMA PLACA DE TRÂNSITO MEU QUERIDO!

__T-tudo bem. Mas por que fez aquilo? Quer dizer, eu sei que estávamos conversando e ela nos interrompeu mas...

__Eu não sei porque fiz aquilo. Sinceramente, não sei. Não gostei de ver aquele cara sorrindo pra você – Ele estava ficando muito vermelho. Meu deus! Eles se merecem!

Stacy tentou esconder o sorriso, porém, não conseguiu. Matt a observou por algum tempo calado, enquanto ela ainda estava em seus braços.

POV. Matt Torento

Stacy não havia percebido, mas pude ver o sorriso que ela havia dado com minhas palavras.

Então, ela gostava mesmo de mim. Adrian já havia me dito, mas achei que era tudo invenção, coisas da cabeça dele.

Acho que estava errado.

Vi a garçonete intrometida voar em direção ao frigorifico e pensei ter visto mais alguém lá dentro. Stacy se mexeu em meus braços, pouco confortável e a olhei mais uma vez antes de solta-la – hesitantante, devo confessar -; ela possuía as bochechas vermelhas e o olhar baixo, com um sorriso de canto nos lábios.

Ela era linda. Como eu não havia notado ainda?

Pensei em Julie. Eu sabia que ela não gostava de mim e sim de outra pessoa que nunca estava por perto, a garota era meio doida, falando pelos cantos mas se percebia de longe que ela estava apaixonada por alguém.

Cheguei a conclusão, que Julie era como uma irmã mais velha que havia me defendido dos valentões. Por isso talvez, eu estivesse tão agradecido que teria confundido aquilo com paixão ou desejo.

A parte mais estranha e incompreensível desse pensamento, era a de que eu só havia chego a essa conclusão na hora de que vi Stacy sorrir com o meu ciúme.

Sim, ciúme. Não havia outra explicação, apesar de parecer loucura pelo fato de conhece-la, enxerga-la de verdade, apenas hoje. Não sentia que devia cuidar de Stacy como seria com Julie Evans, eu sentia a estranha necessidade de protege-la como minha.

__Então, namorado – Ela sorriu um pouco – Onde estávamos antes de sermos interrompidos?

Dei um sorriso de canto.

__Não me lembro direito. Algo sobre faculdade, acho.

__Ah, certo, a carreira de nossas vidas – Ela falou baixo e calmo, ajeitando uma mecha atrás da orelha.

Sorri novamente.

__Você é linda. Como eu não percebi? – Falei inebriado pelo que havia presenciado.

__O que? – Ela arregalou os olhos e corou novamente.

__O que? – Perguntei assustado. Ela tinha ouvido aquilo?

__V-você disse que eu... hã...

__Disse? Eu? Dizer o que? Não disse nada – Falei sem graça e senti meu rosto pegar fogo. Ah que ótimo, momento mais um pouco gay, por favor?

__Certo – Ela balançou a cabeça tentando se livrar de um pensamento – Acho que eu estou escutando coisas. E acho que deveria ir embora. Desculpe – Ela sorriu sem graça e cabisbaixa, se levantou e pegou sua a bolsa.

Fiz o mesmo, assustado.

Mas. Que. Droga. Você. Fez?!

Enquanto via Stacy caminhar em direção a rua, culpei minha boca grande mais de um milhão de vezes. Ela não podia ir embora, eu tinha que protege-la. Ela tinha que ser minha garota.

Sai correndo atrás dela.

Pov. Julie Evans

Mas. Que. Droga. Você. Fez?!

Eu estava quase ficando diabética naquele frigorifico de tanta melação, quando Stacy se levanta e vai embora.

ELA VAI EMBORA!

Eu e Christina - Chris, para os íntimos – estávamos prontas para sair daquele cubo de gelo e dar uma voadora na cara de minha amiga.

Uma voadora bem forte.

__Qual o problema dela?! Eu fiz aquilo tudo acontecer e ela vai embora do nada?!

__Nem me diga! Estou quase a ponto de ir socar Stacy! – Falei frustrada.

__Quase? E só não vou lá agora porque ela é sua amiga e eu não posso ser despedida – Christina balançava violentamente os cabelos.

__Que feio Evans!

O que foi isso? Uma escola de samba? Ah, não, foi só o meu coração batendo mais rápido feito um retardado por ouvir aquela voz sarcástica novamente.

__Você não deveria falar assim com a sua amiga – Ele riu debochado. Se controla Julie...

__Vá a merda Miller! – Falei sussurrando

__O que? – Chris perguntou confusa.

Rayn ria atrás de mim feito um babaca. Que é o que ele é, é claro.

__Nada não. Coisa minha.

__Eu estive observando aqueles dois e bem, nós somos um casal bem melhor que eles não acha? – Me virei para retrucar e quase perdi todo o folego que me restava.

MEU PAI AMADO ME DÊ FORÇAS!

Como um fantasma podia ser tão malhado? Me diga Deus! Você não poderia ter mandado um mendigo para me atazanar?

__Não somos um casal! – Falei quase sem voz, para que Christina não me achasse mais maluca ainda

__Fala sério Evans! – Ele arqueou as sobrancelhas – Vou fingir que você não disse isso. Somos perfeitos um para o outro! Você é insuportável e eu te aturo. O par perfeito!

Aham, um fantasma e uma retardada. Perfeitos.

Ah, a ironia é uma dádiva...

__Acho que é o contrário Raynzito – Ele rangeu os dentes e sorri contente – Você é insuportável e eu te aturo.

__Viu só? Você admite! – Ele abriu os braços e eu revirei os olhos.

O sorriso dele me deu uma sensação estranhamente familiar no estomago. Familiar pelas histórias contadas sobre...

Ah não.

Não. Isso não.

Não podia ser, era... era... não. Impossível. Não por ele.

Eu, Julie Evans, não poderia estar apaixonada por Rayn Miller.

Ele era o cara mais idiota, egocêntrico, esquisitamente possessivo, mandão, irritante, babaca, galinha e cafajeste do mundo inteiro!

Ah, que droga!

Eu estava perdidamente apaixonada por ele.