__VOCÊ O QUE?! - Stacy berrou pelo telefone – MAS COMO ISSO É POSSIVEL?!

__Eu já te expliquei Stacy – Suspirei, cansada daquela conversa, aquilo fazia meu coração apertar a ponto de doer e eu não estava gostando nada daquelas reações. Nada mesmo.

__Eu sei, mas é que você ter beijado ele é surreal demais! -Ela fez uma pausa, o que me deixou apreensiva – Mas e ai, como foi?

Meu coração falhou uma batida.

__Como foi o que? – Falei com a voz meio rouca

__Ah, deixa eu pensar... Minha viajem ao Caribe que não né Julie! – Revirei os olhos com a ironia dela e minha garganta se fechou ao relembrar de todos os sentimentos que passaram pela minha cabeça naquela hora.

__E-Ele foi... E-Eu...

__Deixa eu te ajudar – Ela falou rindo – Seus lábios era o mesmo que tocar em nuvens e você sentiu o sabor de hortelã dos seus beijos quentes.

Sorri mais idiota do que nunca. Que patético. Eu, apaixonada, quem diria.

__Frios. Eles eram frios. Foi um choque, na verdade, eram muito frios. E seus beijos tinham gosto de jujubas e chocolate. Nada de hortelã. Quanto a parte das nuvens... Você pode ter razão.

Stacy gargalhava alto do outro lado da linha. Eu sabia bem o porquê. Julie Evans, a garota que jurou nunca se apaixonar, a garota irônica e sarcástica que nunca ligou para os garotos, estava contrariando seus próprios ideais. E o pior de tudo: ela teve que se apaixonar por alguém inacessível; um tanto quanto irônico, eu diria.

__Ai meu deus eu achava que nunca veria esse dia! Qual o seu problema? Você deve ter um dom, não é possível! Ninguém pode ser tão azarada assim!

__Nossa amiga, como se nós não estivéssemos no mesmo barco – Ela gargalhou desacreditada.

__Ele não me nota Evans. Ao contrário do Rayn que suponho ter os mesmos sentimentos que o seu pelo modo de tudo o que ele fez para beijar você. E um outro detalhe, menos importante talvez; o meu está vivinho da silva.

Bufei indignada.

__Já chega né? Eu nem estou tão apaixonada assim. É só uma paixão passageira, não coloque coisas onde não existe Stacy.

__Aham. Quem não te conhece que te compre Evans. Se você não está caidinha por ele, eu sou a Madonna.

__Ótimo, aproveite a sua idade, cave uma cova e se jogue nela – Stacy apenas ria com a situação

__Quando você se tocar do óbvio, a gente volta a se falar, tudo bem Evans?

Ela desligou e eu suspirei. Quem dera eu ainda não tivesse me tocado.

Me joguei na cama e esperei morrer sufocada pelos travesseiros que foram meus companheiros desde muito tempo atrás.

__Evans?! – Escutei uma voz conhecida. AH NÃO! SATANAS ESTÁ PASSANDO DOS LIMITES AQUI! NÃO É POSSIVEL! – Que depressão é essa? Ta na fossa é? Quem é o coitado? Eu fico fora por um dia e você já fica assim? É muito amor por minha pessoa.

Apertei mais meu rosto contra o tecido. ME MATA LOGO DEUS!

__O que você quer troço? – Falei com o rosto ainda enterrada no travesseiro para que ele não visse minha cara de tapada. Se eu olhasse para aqueles olhos, perderia a sanidade.

__Eu venho aqui com a maior boa vontade e você me dá patada desse jeito? – Revirei os olhos e sorri um pouco.

__Aham. Bem assim.

__Tudo bem então. Não vou te convidar para ir na piscina comigo – De que piscina esse retardado estava falando?

__Rayn você não pode ir na piscina, caso não tenha percebido ainda. Além do mais, está frio! – Falei enquanto ria e tirava minha cabeça do tecido sufocante. Quando meus olhos se encontraram com o corpo parado no meio do quarto, parei de respirar.

MEU SENHOR AMADO ME DÊ FORÇAS! MAYDAY! MAYDAY! ALGUÉM ME AJUDE AQUI!

Rayn estava sem camisa e me olhava com um olhar que vou te falar, era muito sexy; aqueles olhos azuis brilhando sacana e um sorriso de lado, não ajudavam nem um pouco. Vocês estão entendendo a gravidade da minha situação? ELE ESTAVA SEM CAMISA COM UM OLHAR SEXY! ONDE ESTÁ A MASCARA DE OXIGÊNIO QUANDO SE PRECISA?

__Julie, você está bem? Você parece meio... roxa.

Tudo bem Julie, se acalma, não é nada demais. Esses gominhos não fazem nenhuma diferença para você. É, tudo bem, solte o ar e puxe de volta.

Rayn começou a me olhar estranho, talvez por eu estar meio histérica; logo seu olhar mudou para um que eu conhecia muito bem.

__Você, por algum acaso não está incomodada com alguma coisa, está? – Ele chegou mais perto. Ai caralho Julie, ele é um fantasma! Se controle!

__E-Eu? Incomodada? N-Não. P-Por que a pergunta?

Ele abriu um sorriso maravilhoso e chegou ainda mais perto.

__Não sei, talvez pelo fato de você não ver muitos garotos sem camisa. Ou pelo fato de me ver sem camisa.

__Você é muito convencido sabia? – Meu rosto fervia e eu não conseguia disfarçar minha vontade de sair correndo dali. Ou me jogar em seus braços, mesmo sabendo que não iria adiantar muita coisa.

__Ou ainda, talvez...

Ele chegou mais perto, perto o suficiente para sentir uma brisa fria arrepiar minha nuca, perto o suficiente para ouvir minha respiração entrecortada, perto o suficiente para se inclinar em direção ao meu ouvido e sussurrar:

__Pelo fato de querer sentir as jujubas e o chocolate novamente.

[...]

POV. Stacy

Eu estava largada no sofá, assistindo um filme sem graça. Já passava da meia noite e eu tomava meu chocolate quente sem vontade.

Sinceramente, eu não sei o que seria de mim sem as loucuras da Julie, por que vou te contar, minha vida é um tédio.

Olhei para o quadro ao lado da TV e sorri involuntariamente. Nós cinco estávamos em uma sorveteria, um dia depois de Julie ter beijado Rayn –naquela época, eu não sabia daquilo-. Adrian sorria para a câmera, com o nariz sujo de sorvete de morango enquanto seus braços estavam sobre os ombros de Mile, que gargalhava pela palhaçada que ele fazia. Eu estava fazendo uma guerrinha de colheres com Matt, que estava com um sorriso maravilhoso no rosto e Julie ria sobre alguma coisa, enquanto havia um espaço vazio ao seu lado.

O sorveteiro havia tirado a foto para pôr no mural de clientes e pedi a foto assim que vi como havia ficado. Aquela era uma lembrança dos novos e velhos amigos que eu havia feito. Aquela foto era uma recordação das coisas idiotas, e mais felizes que eu havia presenciado.

Olhei com mais atenção para o sorriso de Matt. Por que ele não me notava? Eu deixava bem claro que gostava daquele garoto. Aquele dia na lanchonete, pensei ter visto um olhar diferente nele e aquilo me deu esperanças que eu não podia ter. Matt não gostava de mim, apenas me via como uma amiga e eu teria que aceitar isso.

Uma música me tirou do torpor em que eu me encontrava e notei que meu celular vibrava sobre a mesa.

__Stacy Mongmery, você pode me explicar por que Matt Torento fica me ligando a cada 5 minutos perguntando o porquê de você não atender o celular?! – Mile berrou no meu ouvido assim que atendi a ligação.

Era verdade que eu estava evitando Matt depois daquele desastroso encontro. Mas, se eu tivesse que olhar para aquele sorriso novamente, eu poderia cometer a loucura de beija-lo e ele provavelmente me chamaria de maluca e sairia correndo.

__Oi pra você também Mile – Eu falei rindo nervosa.

__Nem venha desviar do assunto! – Ela berrou furiosa – Se aquele cara ligar mais uma vez para meu celular, eu juro que faço ele engoli-lo.

__Meu deus! Calma ai, esquentadinha! – Falei irônica – Por que você está tão nervosa?

Antes que ela pudesse falar alguma coisa, ouvi um ruído ao fundo, alguma coisa como “Vai Mario! Vai Mario! ”. Revirei os olhos.

__Milene Hastings! A culpa não é do Matt se você e Adrian não podem pausar essa droga de jogo para atender um telefonema!

Ela riu, percebendo que eu havia descoberto. Fala sério! Adrian poderia ser mais idiota? Ele era viciado naquele jogo, mas aquele definitivamente não era o melhor jeito para se conquistar uma garota.

Mile devia estar mais desesperada do que eu imaginava.

__Eu pausei. O problema é que não dava para jogar por que a cada 5 minutos, o telefone tocava novamente! Francamente, como se eu fosse a sua única amiga... – Ela resmungou – De qualquer forma, atenda esse celular quando ele ligar ou eu quebro a sua cara!

Antes que eu pudesse falar mais alguma coisa, ela desligou. Eu ri. Como pude achar amigos tão malucos?

Como se fosse algum tipo de macumba, a música começou a tocar novamente e meu coração foi parar na boca ao ver o nome na tela.

Com as mãos um pouco tremulas, atendi.

__A-Alo?

__Stacy! – Ouvi um suspiro aliviado no outro lado da linha. Oh lord! – Você está bem? Por que não atendeu ao telefone? Sabia que eu fui ameaçado de morte umas três vezes por sua causa?

Oh, quem poderia ter sido?

__Oi Matt! – Comecei a rir com sua última frase – Acho que eu deveria me desculpar então. Hm, me desculpe?

__Vou pensar no seu caso – Ele riu - O que aconteceu? Você está bem?

__Estou é só que... Eu...

Ouvi ele suspirar também. O imaginei passando as mãos furiosamente no cabelo, como fazia quando ficava frustrado.

__Eu sei. Olha, eu fui um idiota com você. Me desculpe.

__O que? Não! Matt você não fez nada! – “É exatamente por esse motivo” Pensei – Eu saí de lá sem nenhuma explicação, fiquei assustada porque pensei ter ouvido você dizer... Bem, não importa, eu é que deveria estar me desculpando agora.

__Eu não pedi desculpas sobre isso Mongomery – Ele bufou - Estou me desculpando por não ter percebido antes.

__P-Percebido? – AI MEU PAI AMADO O QUE É QUE ELE PERCEBEU?!

__Percebido o quanto você era minha, é claro.

Wait.

Wut?

__Não precisa dizer nada, só me deixe explicar, ok? – Eu não conseguiria dizer alguma coisa nem se eu quisesse, meu querido! Estou parindo jamantas aqui – Eu não via você de verdade, até aquele dia, na lanchonete. Não sei o que me despertou, mas provavelmente foi aquele cara dando em cima de você. Eu tive a necessidade de cuidar de você Stacy, não como um irmão, mas como um alguém que você pode te contar, um companheiro.

“Eu não havia percebido o quão bonita você ficava quando corava – o que acontece frequentemente-, eu não tinha percebido o quão inteligente você é, eu não tinha percebido o quão forte você é. E quando eu finalmente notei isso, foi chocante demais para não ficar possessivo a ponto de demonstrar para todos que quisessem ver. Eu disse aquilo sim, Stacy. Não foi sua imaginação. E talvez isso seja precipitado, mas eu realmente quero que você seja unicamente e exclusivamente minha. ”

Eu não sabia se eu chorava, pulava de alegria e emoção ou dançava.

Na dúvida, fiz tudo aquilo.

__Agora, será que você poderia abrir a porta? Aqui fora está um gelo.

__O que?! – Sai correndo em direção a porta e quando a abri, lá estava ele. Com um gorro na cabeça, os óculos um pouco tortos e as bochechas rosadas por conta do frio. O sorriso era envergonhado e suas mãos estavam escondidas no bolso do casaco.

__Belo pijama – Ele sorriu de lado e notei que usava um moletom rosa e velho da Minnie, com uma calça larga. Minha cara não ajudava já que meu nariz estava vermelho, por conta do choro recente e meu cabelo amarrado já se desprendia.

Ótimo! Maravilhoso!

E depois eu dizia que a azarada era a Julie.

__Você vai pegar um resfriado se ficar ai fora – Falei com as bochechas pegando fogo. Ele se aproximou e tocou as mesmas com as pontas dos dedos.

__Eu aguento. – Falou em um sussurro – Você fica mesmo linda quando cora.

__Se continuar falando isso eu vou ficar esplendida – Disse ironicamente, enquanto ele sorria com o rosto muito próximo ao meu.

__Essa é a minha intenção.

__Matt...

__Sim? – Ele sorriu meigo.

__É melhor você parar de falar essas coisas se não quer que eu te beije – WATAFUCK? DA ONDE EU TIREI ESSA CORAGEM?

Ele sorriu mais largo ainda e chegou mais perto, colando seu corpo no meu.

__Você. é. maravilhosa – Ele sussurrou no meu ouvido e inesperadamente, ergui meu corpo para alcançar seus lábios. Seus braços contornaram minha cintura e me apertaram mais contra ele.

Se aquilo era algum tipo de sonho, eu esperava não acordar.

E se alguém o fizesse, iria ganhar uma bela voadora.

POV. Julie

Eu engasguei e arregalei os olhos. Ele tinha escutado aquilo?! Não era possível!

__D-Do que você está falando Miller? Ficou maluco? – Falei me afastando, o que era ridículo, já que ele era um fantasma.

__Só estou falando o que eu ouvi Evans – Ele sorriu de lado. Ai caralho.

__Então devia limpar esses ouvidos, porque você com certeza ouviu errado.

__Ah, jura? – Ele não se abalou com a minha provocação e chegou mais perto, ainda sorrindo sacana.

__É claro que sim! Eu nunca falaria que...

__Você gostou do meu beijo? Acho que falaria sim. Talvez não para mim, mas para sua melhor amiga, sim você falaria.

Que droga!

__O quanto você ouviu? – Falei começando a ficar vermelha. Ele sorriu largo e feliz pela minha derrota.

__O bastante – Ele riu, ficando perto do meu rosto. Trinquei os dentes.

__E você quer que ainda fingimos que nunca aconteceu nada?! – Falei revoltada e começando a andar furiosamente pelo quarto. Rayn deu um passo para trás, assustado pela minha mudança brusca de humor – Quer dizer, você também gostou do meu beijo não gostou?

__Acho que vou ter que me acostumar a essa bipolaridade – Ele disse sorrindo de lado outra vez – Ninguém merece.

__Que droga! – Falei puxando meus cabelos, ainda andando pelo quarto, alheia a ao que ele falava – Mas que grande droga!

__Qual o seu problema Evans? – Ele franziu o cenho, se aproximando preocupado.

__VOCÊ É UM FANTASMA, MERDA! – Gritei, erguendo os braços em um gesto protetor. Meus olhos embaçaram. Não chore Julie!

Rayn arregalou os olhos com meu surto repentino e seu rosto fechou.

__EU SEI MUITO BEM DISSO EVANS! SOU EU QUEM ESTÁ NESSE INFERNO! EU SÓ NÃO SEI QUAL O PROBLEMA QUE VOCÊ TEM COM ISSO!

__EU ESTOU APAIXONADA POR VOCÊ SEU ÓTARIO! – Falei furiosa, olhando em seus olhos e seu rosto se contorceu em uma expressão completamente surpresa.

__Você...

__E VOCÊ É A DROGA DE UM FANTASMA! – Puxei meus cabelos mais uma vez – EU NÃO POSSO TER TANTO AZAR ASSIM!

__Eu...

__EU SÓ POSSO TER COLADO CHICLETE NA CRUZ! SALGADO A SANTA CEIA! NÃO É POSSIVEL!

__Evans dá pra você calar a boca? – Olhei para ele e vi o sorriso mais lindo do mundo em seus lábios – Eu não acredito no que você acabou de dizer, mas...

Parei de ouvir o que ele dizia assim que percebi uma coisa.

EU FALEI TUDO AQUILO EM VOZ ALTA?!

Sim, não foi a minha intenção falar tudo aquilo pra ele. Até parece! Eu nunca admitiria uma coisa dessa.

__Evans! – Rayn passava freneticamente a mão em frente ao meu rosto – Você tem sérios problemas garota.

__Desculpe, o que você disse? – Falei com minhas bochechas queimando.

Ele gargalhou e balançou a cabeça com um sorriso no rosto. Aquele gesto de “essa daí não tem mais salvação”, me irritou profundamente.

__Eu disse que... – Ele pareceu ficar constrangido, mas se aproximou mais do meu corpo – Eu também gostei do seu beijo.

Ok. Vamos Julie, respirar não é difícil. Inspira e solta.

__Para falar a verdade – Ele chegou mais perto e senti seu hálito frio bater de encontro ao meu rosto – Eu também acho que estou apaixonado por você.

OK, PODEM COMEÇAR A PEGAR OS APARELHOS RESPIRATÓRIOS AGORA!

Dei um sorriso largo e estendi a mão para tocar em seu rosto.

E a realidade caiu como um canhão de 500 quilos em nossas cabeças.

Ele estava morto. Eu não.

Rayn olhou em meus olhos e vi que ele havia percebido o mesmo que eu.

Estávamos em mundos diferentes.

Meu celular começou a tocar e debilmente o peguei e atendi. Antes que pudesse falar alguma coisa, um soluço irrompeu do outro lado da linha.

__Julie – Mile falou, soluçando mais uma vez – É o Adrian.