A Riddle escrita por petit_desir


Capítulo 4
YOU ONLY LIVE ONCE;;




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Quando eu estava no final dos meus 15 anos, eu fui achado pelo Tutelado de Menores. Como eu já tinha certa idade, eu pensei que teria que viver em um abrigo, por que não seria tão cedo que achariam algum casal que me quisesse. Eu estava até planejando um plano para sumir dali, até que, duas semanas depois recebi a notícia de que eu havia sido escolhido por uma família no Texas.

Minha primeira reação foi horrível. Como assim deixar a urbanidade de NY para ir para um mato no Texas? Foi um cacete enfiado no rabo e pior, eu fui forçado a ir. Minha viagem havia sido torturante. Em momento algum tive paz. Oras, dá pra entender o meu desespero? De pessoas alternativas, moderninhas, esse caralho todo e de repente: pow! Caipiras. É, foi bem foda de início. Quando eu cheguei, ainda fiquei mais aflito. Nem meu suborno (vender meu corpinho) deu certo.

O casal que me recebeu era até que simpático, mas, não passavam de dois sitiantes. A mulher era uma senhora de porte médio, com o rosto afável e simpático. Não que eu tivesse gostando da idéia de ir para lá, para a casa deles, mas, não dava para negar que ela era afável. Já o seu marido, ele parecia um barril de banha. Não parecia mal, entretanto, só era bem gordo. Devia comer como um também.

Joguei minha mala nas costas e respirei fundo. O cara do Tutelado me deu um tapinha de “coragem” nas costas e me fez ir até eles. Olhei meio desgostoso pro filho da puta do tutelado e tentei sorrir para o casal. Não era culpa deles, anyway. Eles só fizeram o que tinham que fazer. Meu sorriso não conseguiu durar muito. Eu estava era mesmo emburrado.

- Está com fome, Alex? – A mulher me perguntou. Afirmei que sim com a cabeça. Não conseguia esconder minha indiferença, mesmo ela sendo tão gentil. Sua voz era carinhosa, sabe? Bem maezona. Perguntava-me por que adotar um menino de quase 16 anos, sendo que pareciam ser novos. O cara passou a mão nos meus cabelos, bagunçando-os. Fui um pouco arisco e sai de perto. Ele olhou para mim desconfiado e riu.

- Garoto esperto, não é mesmo? – E pegou a outra mala minha que estavam no chão. O cara do Tutelado os apresentou para mim como Bess e Juan. Bess era americana, nascida mesmo no Texas e Juan era mexicano, havia fugido para cá atrás de empregos melhores e se casou com Bess, anos depois. Não falou mais que isso. Se despediu de nós e foi embora. Filho da puta. Um dia o pegaria, ele ia ver só. Nós arrastamos nossos rabos para fora dali e eu ficava um pouco mais desesperado, conforme andávamos e mais nos aproximávamos daquela caminhonete velha. De que ano seria aquilo? 67? Deus, estava caindo aos pedaços. Grande pedaço de merda.

A primeira coisa que fiz, foi jogar as malas na caçamba como Juan também havia feito. Entrei no carro e continuei emburrado, até chegarmos à uma lanchonete na puta que me pariu. O lugar cheirava bem, tinha o ar caseiro. Essas coisas do Texas. Jamais fui capaz de entender como nos USA as pessoas conseguiam ser tão diferentes. Eu sei que aqui é o pólo pobre, pólo agropecuário, pecuário, essas porras todas, mas, mesmo assim. NY ~ Texas.... NY ~ TEXAS! Nada a ver.

Entremos naquela lanchonete, finalmente. Bess e Juan haviam conversado o caminho todo, que havia durado mais ou menos uma hora e meia. Não morávamos na cidade grande, pelo que eu percebi e sim, algum lugar perdido no mato. Grande, Alex, Grande! Eu simplesmente havia ignorado tudo que haviam dito, mesmo quando se dirigiam à mim. Estava com saudades de Ray, de como ele me ajudaria. Ah, merda. Todos os meus amigos ficaram para trás. Ray, Jing, Lou. É, eu estava na merda sem esses caras por aqui. Sentei-me no canto, perto da janela.

- Então, Alex, o que achou de nós? – Juan perguntou de sopetão, querendo que eu falasse algo além dos suspiros.
- Para ser bem honesto, Juan, nada. – Falei seco, mas, era a verdade. O que eu falaria? “Nossa, estou tão feliz!”. Esquece, cara. Se é isso que você procura, se fudeu de verde e amarelo. Não seria afável. Se quisesse um bichinho pra criar em um cercado, que fosse caçar outro bicho. Esse daqui é um rato dos esgotos de NY e não, um burro de carga no campo. É um fato isso.
- Hãã... Certo. – Ele respondeu. Ele não parecia intimidado em si, mas, um pouco ofendido. Sei lá. Eles achavam que tinha me dado um prêmio de loteria? Aaah, cara, só me faltava.
- Com o tempo formo uma opinião. – Acabei tentando quebrar o gelo. Não queria ser ingrato, anyway.

Os dois pediram o que queria e eu apenas pedi um café bem forte. Olharam para mim e perguntaram se eu não era muito novo para tomar cafeína e se não queria nada mais. Respondi que não e que não. Estava bem assim. Meu, nada tirava da minha cabeça como eu era um fodido. Muito bem fodido, por sinal.

Eles comeram e conversavam enquanto isso. Finalmente eles pagaram a conta, quis pagar meu café, mas Juan não deixou. Ele queria dar uma de pai. Ótimo, era isso que dava por ser descuidado ao andar nas ruas. Sempre tem um filho da puta do Tutelado te caçando. Enfim, entramos no carro e ele tentou puxar conversa comigo.

- Sei como você se sente... sabemos tudo sobre você...
- Sabem? – Perguntei, indignado. Meu, como ele estava começando mal.
- Sim, perder uma amiguinha – O quê? Ele havia se referido à Emy como “amiguinha”? – daquele jeito...
- Que jeito, Juan?
- Trágico... sabe?
- Não, não sei. Me fala, acha que foi trágico?
- Um pouco, se não quiser falar sobre isso Alex...
- Juan, melhor parar – Bess interferiu pela primeira vez, percebendo a hostilidade de minhas palavras.
- É, não quero por quê, primeiro: você não me conhece. Segundo: você não sabe o que rolou. Terceiro: você não é meu amigo, então, não me trate como se eu fosse um seu.


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