A Riddle escrita por petit_desir


Capítulo 16
promises,




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you're just throwing it all away, maybe we should burn the house down.
leave the cobwebs in the closet cos' tearing them out is just not right.
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Eu abri meus olhos. Naquele instante, eu senti o sol ferver sobre minha pele, deixando-a quente pra cacete. O cheiro de incenso infestava o lugar, fazendo-o feder. Ela havia queimado mais de 05 ontem. Talvez tentasse me matar. Já faziam 07 dias de festa constante. Parece que essa cidade pára quando o Carnaval acontece. Eu me afundava entre as almofadas, respirando pesadamente. Eu me lembro bem. Tentava filtrar - de maneira impossível - o ar que era forçado a inspirar. Ultimamente, eu andava com um humor terrível. Poderia matar alguém, se fosse capaz. Mas, eu havia achado um jeito de me concentrar em outro tipo de coisa. Frustração não me levaria à porra nenhuma. Tentava inspirar e respirar ainda. Tentava abrir os olhos, mas, o sol os feria. Estava tarde. Dava notar pela cara do dia. Ela morava no último andar do prédio, dava para ver o céu com facilidade. Uma visão e tanto. Ontem havíamos assistido os fogos de artifício da sacada, antes de treparmos. Sabe como é. Ela parece uma atriz de cinema francês, do começo do século passado, vivendo em um romance escrito por um boêmio doente de sífilis.

Quando finalmente consegui me ajeitar, meus ouvidos começaram a filtrar todos os barulhos à volta. Seus canários dourados cantavam. A parada lá fora já estava acontecendo. E ela, estava no banho, em sua banheira no canto do quarto. Os gritos de crianças, risadas de mulheres. Tudo isso poluía o som. Dor de cabeça. Havia cheirado mais cocaína ontem que o normal. Tinha usado meus poderes mais do que o normal, também. Ainda tinha dificuldade em abrir totalmente os olhos. Tudo parecia borrado. Só consegui tatear a pequena mesa do lado da cama, e pegar o maço de cigarros. Estava muito quente aqui, minha sorte era de estar nu. Quem trepa de roupa, atualmente? Só crianças que não tem para onde ir e nem conseguem pagar um motel. Trepam na rua por falta de opção. Enfim. O cigarro já estava aceso e eu fumava, sem muita preocupação. O tempo durante o dia passava devagar e durante a noite, muito rápido. Que diferença fazia? Eu estava perdido num paralelo estranho mesmo.

- Você dorme demais. - Ela tinha a voz sexy, meio vulgar. Também tinha dinheiro e se comportava como uma louca. Excêntrica. Era bonita, mas, quando a beleza se fosse, não teria mais nada para segurar essa excentricidade. Limpei os olhos, com a ponta dos dedos e suspirei, olhando o chão. Bingo! Uma garrafa de champanhe. Me esgueirei pela cama até que pudesse a pegar e tomei um gole. Horrível, mas matava a sede. Olhei para a janela em volta. Os véus pendurados nela me confundiam. Finalmente, me levantei, indo até a banheira e entrando, junto dela, entretanto, contraposto. Joguei a cabeça para trás, apoiando-a na borda. - Você dorme demais - Repetiu. Sem olhar, entreguei a garrafa - ainda tem 3 dias aqui. Eu paguei por isso.

Então, meus olhos voltaram para ela e eu sorri, consentindo. - E o que você quer? - Perguntei, dando mais um trago no cigarro. Ela também deu um no seu. - Quero o mesmo de 07 dias atrás, quando te encontrei no meio da rua, Riddle. - Ela continuava a me prender com aquela voz. Há 07 dias atrás, lá estava eu no meio da rua, enfrente da Basílica de São Marcos, fazendo truques, quando ela se aproximou. Estava com um vestido até o pé, sandálias antas e boca pintada de vinho. Esperou até que o show terminasse e me ofereceu uma quantia razoável para ser seu acompanhante durante 10 dias. Não pretendia passar todo esse tempo em Veneza, mas, o dinheiro era bom. Me sustentaria, quando fosse para África. Lá eu tinha a impressão de que não iria conseguir me dar muito bem. 5.000 euros era grana pra caralho. - Hoje temos uma festa importante para ir. Consegue se manter de pé até lá? - Ela me olhou desconfiada e eu ri, sonoramente. - Quem sabe. - E voltei a jogar a cabeça para trás, sem a olhar.

Naquela noite, a festa era na socialite italiana. Todos os grandes nomes italianos estavam presentes, desde o prefeito, até senadores e o caralho. Eu e ela usávamos máscaras pretas. A minha mais simples, de couro e uns remendos que era para ser supostamente naturais, já que o couro aparentava velhice. Ela havia escolhido, por que cobria apenas um olho, deixando o outro livre. Era uma espécie de semi-máscara. A dela, entretanto, cobria boa parte de seu rosto. Boa parte era de renda, couro, tecido bordado. Tudo cobria seu apenas a parte superior de seu rosto, e mesmo os olhos, tinham uma camada de renda fina. Os lábios pintados de marrom/ameixa a deixavam incrivelmente sexy. Entramos, e logo, depois de poucas horas estávamos bêbados. Eu já me apresentava novamente, afinal, eu era o novo artigo dela. Ela gostava de pessoas como eu. Pessoas que faziam truques, que eram artistas, boêmios, essas porras. Eu me fodia, fazendo várias ilusões. Todos eles se maravilhavam com as brilhantes cores que saltavam em seus olhos. Como eu tinha classe ao me apresentar e como eu poderia ser um novo Houdini, caso fosse do meu interesse. Todos os dias ganhavam cartões com telefones. Pessoas que queriam investir em mim, em meus talentos. Achavam maravilhoso o fato de eu ser um menino de rua e saber tanta coisa. Enfim, era um zoológico e eu o macaco fazendo graça e ganhando amendoim. No final daquela noite, eu estava cansado.

Beviláqua era uma mulher sedenta. O nome combinava com ela. E o problema, que o pau que tinha que ficar duro todas as noites era o meu. Não tinha sossego. Boemia. Libertinagem, qualquer porra dessas. Sua foto apareceria do lado, no dicionário caso procurasse o significado dessas palavras. Acho até que de putaria, puta, orgia e derivados. Lá estaria ela, com seu rosto estampado. Eu queria dormir. Queria comer. Queria tomar um banho. E ela queria foder. Nunca vi uma mulher como aquela. Ela tinha tudo para ser considerada estranha. Digo, ela era rústica, mas, sofisticada. Conhecia artes, tocava piano e tinha a porra de um cravo em sua casa. Quem tem cravos hoje em dia? Nem sabia que esse tipo de relíquia existia ainda. Exótica, sei lá. Ela com aqueles cabelos pretos e curtos, cortados um pouco a cima da linha do queixo. Ela era um complexo ambulante.

Faltavam 02 dias para meu serviço acabar. Logo eu iria embora. Logo tudo isso acabaria. Não é que eu não gostasse. Mas, o custo benefício era um pouco alto. Meu pau estava parecendo uma uva passa. Se eu gozasse mais 5 vezes por dia, durante uma semana, eu ia morrer desidratado. No meu último dia, ela pediu para que eu ficasse. Eu teria um futuro aqui. Recusei e sem hesitar, fui para o Egito. Meu adeus havia sido um beijo em seu rosto, na manhã do décimo primeiro dia, logo que acordei. Ela não havia me visto sair. Seria mais fácil assim.

Quando não dizemos adeus, ir embora é sempre mais fácil.


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