A Riddle escrita por petit_desir


Capítulo 15
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    - - - - Estava frio. Naquele metrô, todos nós usávamos casacos de lã. Alguns, aventuravam-se de jaquetas curtas. Eu era um deles. Mas, eu usava meião e blusa colada ao corpo de lã, para reforçar e me proteger do frio. Jamais imaginei que faria tanto frio assim aqui. Todos estavam quietos. A viagem parecia durar uma eternidade, mesmo quando o metrô tinha as paradas rotineiras. Sempre no horário. É engraçado como metrô em país desenvolvido as coisas costumam funcionar. Ano passado quando estava em São Paulo, um metrô atrasou quase 15 minutos. Não sei o que havia acontecido, mas, me irritou. O metrô aqui passava por fora do sub-solo por algumas partes. Meus olhos pendiam na imagem fria dos prédios, do lado de fora. Tossia, por que estava resfriado. Sim, eu sei. Era burrice. Eu estava doente e mesmo assim, andava com uma jaqueta invés de casaco. Havia uma certa monotonia, aqui. A cidade era diferente de quando se ia para um centro budista no meio da floresta, que ficava próxima da àrea urbana. Eu havia ido algumas vezes para o tal centro. Lá uma tranqüilidade incrível. Agora que estava prestes a completar 21 anos, era o que eu mais procurava. Tranqüilidade.

    - - - - O Japão seria minha última parada. Eu havia encontrado o lugar para onde eu queria ir. Fazia alguns dias que estava na Tailândia. Havia chego lá, depois de ter ficado um tempo na China, e antes, na Índia. Estava sem destino certo e confesso: estava desistindo. Já havia corrido todos os continentes, ou melhor, quase todos e nada. Tailândia sempre foi um lugar que eu quis ir. Paradisíaco, bonito. Tranqüilo. Se nada desse mais certo, ficava por lá mesmo, nem que eu tivesse que limpar chão de banheiro em um barzinho qualquer. E tinha esperanças de que a lenda fosse verdadeira. “Thai”, eu ouvi dizer que significava “Livre”. E eu esperava ser livre, finalmente.

    - - - - Eu havia chego em Bankok. Iria passar alguns dias, em busca de informações. Eu era bom nisso, discreto. Ir em bares, procurar mutantes que não conseguiam se esconder, esse tipo de coisa. Sempre dá pra encontrar algo em grandes pontos. Depois disso iria para Ko-phi-phi e Phuket. Isso era pura vaidade. Sim, eu iria aproveitar. Havia conseguido juntar muito dinheiro com apresentações por ai. Diferente do que se acreditava; aqui as pessoas são mais fáceis impressionáveis do que nos EUA ou na EUR.

    - - - - Como esperado: tranqüilidade. De todos os dias que tive viajando, possivelmente aqueles que passei na Tailândia foram os mais agradáveis. Não demorou muito para que eu fosse para Phuket. Era um lugar conhecido por suas baladas. E isso me atraía. Havia arranjado um albergue, no centro. Algo simples, como todo mochileiro – que, aliás, pareciam formiga em doce por aqui. Na minha primeira noite, como me lembro, havia ganhado na sorte grande.

    - - - - Era um barzinho. Estava cedo demais para ir à qualquer lugar. Eu poderia, mas, queria “esquentar”. Bebia saquê, fumava cigarro de palha e andava apenas de chinelo de dedo e couro. Por incrível que pareça, EU, estava assim. Estava me tornando “da ilha”. Enfim. O interessante dessa situação não era isso. Eu havia me sentado em uma mesa sozinho, no canto do bar. Era escuro e ficava perto da janela, que dava para o mar. Conseguia ver a praia inteira daqui e sentia a brisa refrescante, que quebrava o calor que eu sentia. Amanhã seria lua cheia e eu queria ir para Ko-Phangan. Teria uma festa e tanto por lá. Adorava esse tipo de porra. Minha cabeça estava longe. Eu já disse, estava desistindo de procurar. Não achei nada em Londres, nada em Paris, São Paulo, L.A. ou mesmo em Hong Kong. O que esperar daqui? Naquele dia, eu estava calmo. Não queria uma ressaca. No dia seguinte, eu teria mais que isso.

    - - - - Me distraía com a vista do mar, enquanto bebia o saquê. Lembro-me de como ele era mais forte dos aqueles que bebíamos. Naquele momento, eu soube que eram falsificados. Minha mente ia longe. Lembro-me que tudo era muito vago, naquele tempo. Minha preocupação de não achar algum lugar estável era grande, mas, não tanto. Nunca fui muito de foder minha cabeça com essas coisas. Passaram-se alguns minutos, até que vi três homens e uma mulher entrando. Falavam alto e riam também. Bêbados. Já disse o quanto odeio bêbados? Eles conversavam sobre qualquer coisa. Não me interessava. Queria apreciar meu saquê, apenas. Havia visto em algum lugar que o homem que não sabe apreciar um bom saquê, não sabe nada da vida. Não que eu acreditasse nisso, mas, por que deveria ser uma mentira inteira?

    - - - - Então, a mulher. Ela sim havia chamado atenção e não era pelo top quase transparente que usava. Era sobre “poderes”. Ela falava sobre níveis de poderes e sobre tipos de poderes. Sem deixar meus olhos longe do mar, comecei a prestar atenção no que diziam. Foi quando mencionaram finalmente sobre um lugar. Sydney, era esse? Eu soube que era. Havia reaberto o Instituto Xavier, mas, não era o Professor Charles e sim, um casal de mutantes. E que talvez, fossem para lá. Esse tipo de coisa. Não haviam falado como havia descoberto o lugar, apenas falavam da existência do mesmo.

    - - - - A vida é engraçada. Quando estamos prestes a desistir – olhe bem! eu até pensava em limpar banheiros! -, ela vem e nós dá uma pequena “luz”. Lembro-me de não ter ficado tão satisfeito assim, mas, estava tranqüilo pelo menos. Iria checar sobre a existência do lugar. Os dias que se seguiram foram tomados por drogas, orgias, bebidas e todas essas coisas. Eu queria aproveitar, por que afinal, logo eu iria para um lugar receber comando de algum superior. Sim, era isso que eu esperava.

    - - - - Depois que fui embora de Ko-phi-phi, minha parada depois de Ko-Phangan, eu estava cada vez mais mole. Esse lugar tinha me dado um astral novo. Ilha paradisíaca. Tranqüilidade. Sim. Era o que eu mais gostei, sempre. Mas, eu estava pensando em voltar para Bankok, para aprender boxe tailandês. Muay Thai parecia algo bom para se saber, uma vez que já conhecia o boxe tradicional. E foi o que fiz.

    - - - - Minha estadia na Tailândia durou mais que dois meses. Havia achado um mestre, que me ensinou tudo que sabia. Sem motivo aparente. Eu sabia que havia algo errado nele. Ou simplesmente havia simpatizado. Apenas me ensinou tudo que eu poderia aprender nesse período. E eu treinaria adiante – como treino até hoje. Artes Marciais sempre foi um dos meus fortes. Não havia achado difícil na época aprender e havia me dedicado ao máximo para saber tudo que podia. Treinos diários, noturnos. Poucas horas de sono. Mas, valia a pena. Eu estava correndo o mundo. Era minha chance ter essas oportunidades e eu aproveitaria. Quanto mais eu aprendia sobre Muay Thai, mais eu queria aprender. A fome me deu essa chance de me tornar bom em tão pouco tempo. Determinação. Valia à pena. Havia me fodido para aprender a movimentar as pernas. Eu era campeão de boxe e não de Luta Livre. Não sabia usar elas direito para isso, mesmo sendo fortes. Com o tempo, Dteh e Kao foram aprimorados, e não deixaram a desejar. Pongkan foi outra coisa que me especializei. Defesa. Sempre necessário. Hoje eu vejo como.

    - - - - Fazia frio naquele dia, enquanto eu me lembrava de tudo que havia passado olhando através da janela do metrô. Minha cabeça ia longe, realmente. Lembro-me de sair para ir comprar comida. Estava vivendo de favor em um Dojo e eu que fazia as compras para os meus mestres. Minha parada era sempre a última, longe da cidade. Depois, tinha que pegar o carro e ainda ir além, perto de um lago, onde havia uma ilha e nessa ilha, estava “minha casa”. Lá eu tinha dois mestres e quatro companheiros. Todos eram bons. Todos dedicados e todos japoneses. E isso significava, que eu sofria uma série de preconceitos. Irritava-me, certas horas. Certas horas, não me importava. Estava lá para aprender. Passara cinco meses nessa merda. Dentro do nosso Dojo, nós mesmos pescávamos nossa carne. Plantávamos nossos vegetais. Tratávamos nossa água. Minha ida à cidade era simplesmente para comprar tofu, temperos adicionais e saquê. Revistas, mantimentos, materiais higiênicos. Esse tipo de coisa. Éramos em 7 naquela casa. Não tínhamos energia. Vivamos como se estivéssemos séculos atrasados. Segundo um dos mestres, era necessário conhecimento das origens. Alguma porra dessas. A maior parte do tempo, não me preocupava com suas filosofias budistas. Queria o conhecimento sobre as lutas.


    - - - - Sempre que chegava, era atacado pelos outros. Dois dos meninos, eram mais novos. Tinha 14, 15 anos. Um dos mais velhos tinha 20, minha idade. E o outro 24. Estava quase pronto para ir embora. Eles me atacavam, atrás de suas revistas, os mais novos. Punheteiros, claro. Pediam coisas com loli-com e essas coisas estranhas de japonês. Hentai e sei lá mais o que. Enfim. Eu havia dito punheteiros? Muito punheteiros. Eles estavam caçando meios de segurar um gozo por horas. Essa coisa de indiano, Kama Sutra, Sexo Tântrico e tals. Será que eles sabiam que era indiano e não japonês isso? Não era problema meu. Os mais velhos queriam apenas as coisas de higiene e os mestres, os condimentos, tofu e saquê – mesmo sendo nós os responsáveis pela comida.

    - - - - Lá eu aprendi tudo que podia sobre Bugei. Tinha mais treinos que os outros e tinha o mesmo esquema de sono que tinha na Tailândia. 04 horas diárias. Se não era um mestre, era o outro. Os dois eram irmãos. Akira, a mais nova, era quem me treinava na alvorada. Ela era o mestre mesmo de Bugei. Exigia de mim muito mais que seu irmão, Sano. Sôjutsu havia se tornado minha melhor ascensão. A técnica era basicamente na utilização de lanças, em batalhas. No começo,era obrigado a usar uma yari de bambu. Depois, foi me permitido usar de metal. Com tempo, me aprimorei cada vez mais. Enquanto Akira treinava minhas habilidades, tanto como agilidade e percepção, Sano me treinava a resistência. Ele era diferente de sua irmã. Não era tão... Delicado? Não. Akira não era delicada. Não era tão leve. Muitas vezes, fui forçado à ir com ele passar dias na floresta sem nada. Fui treinado e testado. E eu não gostava, mas era necessário. Como eu sempre disse, se eu soube que houvesse lucro no final, eu daria meu máximo. Se não, não começaria. Quando voltava desses testes, mal conseguia me sentar. Era atacado por Sano enquanto menos esperava e não conseguia reagir. Eu evitava usar meus poderes. Não queria que eles soubessem que eu fosse mutante. Talvez isso fosse interferir no treinamento. Talvez eu fosse expulso. Quando eles terminassem de me ensinar o que eu precisava, eu mesmo colocaria meu próprio toque.

    - - - - Eu passei cinco meses treinando com eles. Nesse meio tempo, Yurikato, o cara de 24, já havia ido embora. Sanko estava com 21 e eu, de saco cheio dos pirralhos. Estava prestes a matar algum deles. Eu havia aprendido toda aquela porra de meditação, paciência e blábláblá. Mas, eles eram irritantes. Causavam peças sempre que podiam. Eu e Sanko nos tornamos bons amigos, durante esse tempo também. Tínhamos personalidade parecida. Eu me interessava pela sua irmã e ele pela minha vida. Era uma boa troca, no final das contas. As duas não valiam nada mesmo. Sanko estava fazendo treinamentos com espadas. Queria ser o melhor em todas essas técnicas, todas que aprendesse, tudo que viesse. Eu era determinado, mais, ele me superava. Aliás, sempre superou. Quando treinávamos juntos com Akira, sempre ficava para trás por não conseguir acompanha-los.

    - - - - Então, um dia, eu decidi ir embora. É claro. Meu treinamento não estava completo, houveram outros motivos. Mas, eu precisei ir. Finalmente, alguns dias depois, me encontrava aos portões da Mansão X. demorou um pouco até que eu encontrasse o local. Mas, boatos são boatos. Alguns são verdadeiros, alguns são falsos. Você segue rastros e de repente, se encontra. Eu ainda era o mesmo Alex. Não havia me acostumado tão bem assim com os hábitos daqueles doidos. Comer tofu nunca foi para mim. Sou americano e isso faz de mim um porco pintado de azul e branco, cheio de estrelinhas vermelhas desenhadas no rabo.

    - - - - É engraçado eu lembrar logo hoje dos últimos meses antes de eu chegar aqui. Hoje parece distante, mas, às vezes lembro deles. Com certo pesar. Para ser bem honesto, não sei se teria partido mesmo.


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    [THE YELLOW MONKEY]

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