A Riddle escrita por petit_desir


Capítulo 10
i won't your war.




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d'you wear a black armband, when they shot the man. who said "peace could last forever" and in my first memories they shot Kennedy.
i went numb when i learned to see; so i never fell for vietnam we got the wall of D.C. to remind us all.
that you can't trust freedom when it's not in your hands, when everybody's fightin'for their promised land.


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Alex,

Sei que faz um tempo que eu não escrevo. Dizer que não tive tempo não pode corrigir nada, e eu sei que você talvez não acreditaria. Sempre achou que tudo isso daqui fosse uma grande brincadeira. Conheço bem o suficiente para saber que pensa disso daqui... Pelo menos, o que finge pensar.

Faz um bom tempo que lhe devo noticias. Mas, não tenho o que lhe contar. Todos os dias, vejo pessoas morrendo. Pessoas sangrando. Eu devia ter ficado com você, aí.

Hoje tivemos uma missão. Existe uma vila, no meio do deserto, onde dizem que há terroristas. Havia uma suspeita deles terem armas atômicas e precisávamos interceptar qualquer chance de ataque deles contra nós ou contra os Estados Unidos. Pelo caminho, meus companheiros mataram tudo que viam. Não pude impedir, se não, eu apenas seria mais um. Eles mataram idosos, crianças, maribondos... Todos que conseguiam. Não entendi por que fizeram isso. Tanto massacre. Alguns deles dizem que estamos aqui para libertar esse povo. Eu não acredito nisso. Hoje eu estive manchado de sangue, mais uma vez.

Alex, me odeio por ter vindo. Será que é esse meu destino... Carrego uma cruz agora, para viver no Céu amanhã?


Ray.
Israel, novembro de 2011.



    Ray,

    É bom ter notícias suas. Imagino que deve ser horrível estar aí... Quer que eu vá tira-lo? Você sabe que eu posso. É só você pedir...

    Bem,
    Não via e não vejo aí nada que me acrescenta. Suas cartas são a comprovação disso. Caralho, negão. Por que ainda continua nessa merda?

    Há indícios de bombas? Diga-me, Ray, tem chance de mutantes por aí? Qualquer tipo. Preciso saber disso, sabe que onde eu estou agora, esse tipo de coisa tem certa importância até, mesmo eu não sabendo o que fazer com tal informação. Essa matança sem limites vêem dos seus companheiros ou são ordens de superiores? Me diga, quando souber de algo.

    Não vejo aí como uma brincadeira. Vejo aí como algo sem sentido. Não tem nada que me faça ver a morte como algo racional. “Matamos para vivermos”. Isso é vazio para mim.






Alex,
Austrália, dezembro de 2011.

 
Alex,

Branquelo, fico feliz por que finalmente decidiu me responder. Sei que não me respondia apenas por pirraça.

Não,
Não venha. Não quero que venha para cá. Foi o que eu lhe disse: carrego minha cruz hoje para poder viver no Céu amanhã.

Eu vou ficar até quando for preciso, e assim que voltar para EUA, não coloco mais meus pés aqui, no Oriente Médio.

Não achamos armas e nem bombas. Nada do tipo. A tal tribo estava devastada mesmo antes de termos chego lá. Eu não contei isso? Havia marcas de explosões e tiros por todos lados, até alguns espinhos nas paredes da casa. Isso significa algo pra você?

Você me perguntou da matança. Alguns não querem falar sobre isso. Na verdade, ninguém parece a vontade falando disso. Perguntei para Bill – meu amigo, aqui -, ele me disse que são ordens superiores, mas, são apenas para determinados soldados. Apenas para os mais sanguinários. Não sei por que faço parte desse esquadrão. Bill disse que normalmente quem está aqui, são aqueles que costumam ser mais frios. Os testes que fizemos mostram isso. Eu não sou frio, apenas, fechado. Enfim. Eu vim parar aqui e agora assisto toda essa matança.

Acha que pode ser uma chance de ataque mutante? Você costumava falar que alguns de vocês são mais revoltados que outros. Se você achar que tem algo disso envolvido, me conte. Não quero estar aqui, caso for isso... tampouco, nos EUA. Você também dizia que por lá as coisas aconteciam. Talvez eu vá para Europa, Norte da África. Algum lugar desses.

Mande notícias.

Ray,
Israel, dezembro  de 2011.



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Não respondi mais Ray depois disso. Sei que parece egoísmo e em parte é, mas, não consigo saber disso. É como ver meu melhor amigo morrendo. Ver a pessoa que ele era sendo tomada por um desespero sem sentido. Porra, eu disse para Ray que ia viajar o mundo, que era para ele vir comigo. Ele preferia ir para guerra. Todos nós sabíamos que isso não seria boa coisa. Ele estava se entregando á toa. Jong dizia que ele queria morrer. Que ele era o típico suicida enrustido. Eu não quis acreditar, mas, sabíamos que isso era verdade.

Ray não gostava de Jong, Jong não gostava de Ray. Mas, às vezes eles conversavam e Jong sempre foi um bom analisador. Sempre soube o que passava na cabeça dos outros. Ele era um telepata de verdade, acho. Apenas, nunca assumiu. Ele sabia o eu era, mesmo antes de me conhecer. Acho que apenas não gostava de falar sobre isso.

Ray ficava longe dele, quando estávamos juntos. Aliás, o que levava a ficar longe de mim também. Agora, eu vejo que talvez Ray não quisesse me perder para o Jong – o que é até impossível, por quê Ray sempre seria e será meu melhor amigo. No final das contas, acho que o Jong disse sobre ele estava certo. Ele era um suicida. Só um poderia ir para a Israel, Iraque, essas porras de Oriente Médio; para se matar assim.

Hoje eu vejo que talvez eu devesse falar para ele voltar. Aliás, eu falo já. Eu devesse buscá-lo, trazê-lo para cá. Falar com Franklin, ou achar um apartamento para ele na cidade. Ray era esperto, trabalhava bem. Sobreviveria aqui.

O que mais me dá raiva foi o incentivo do próprio pai de Ray para que ele fosse. Nacionalista de merda. Aquele homem era movido por uma nação, qual mal compreendia. Não sei como Ray se deixou levar.

Enfim, agora eu só leria as cartas que ele me mandaria. Sei que no fundo, ele sabe que eu não respondo por que para mim é inaceitável perde-lo. Eu apenas não quero dizer.



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my hands are tied for all i've seen has changed my mind, but still the wars go on as the years go by.
with no love of god or human rights 'cause all these dreams are swept aside, by bloody hands of the hypnotized.
who carry the cross of homicide and history bears the scars of our wars?


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