[pov. Bella Swan]

     Quando Jasper estacionou na porta de minha casa, ele tirou o cinto de segurança e se virou para mim, encarando-me, enquanto eu olhava pro nada, perdida em pensamentos e com os olhos já inchados de tanto chorar.

- Quer que eu fique aqui com você? - Jasper perguntou. - A gente pode assistir um filme...

     FILME...

- Ou então sair pra algum campo, com uma bela vista.

     CAMPO... BELA VISTA...

- Tá tendo uns ensaios de teatro infantil. Eu posso conseguir uma forma da gente poder assistir.

     TEATRO... Que droga, Jasper não está ajudando..

- Não, Jasper. Eu acho que quero ficar sozinha agora, por favor. Obrigada por tudo.

     Beijei seu rosto e sai do carro. Eu com certeza passaria o dia no meu quarto, sozinha comigo mesma. Toquei a campainha no mesmo tempo em que Renné já ia abrindo a porta para mim.

- Ouvi o barulho do carro. - ela deu de ombros.

- Cheguei. - joguei os braços para cima, sem ânimo.

- Quer conversar sobre o que aconteceu? O telefone não para de tocar...

- Seus namorados? - me fiz de desentendida.

- Não, Bella. É sempre Edward. - ela revirou os olhos. - Quando quiser conversar sobre isso, é só dizer. Vou voltar a fazer o  jantar.

- Tá, mãe.

     Ela escancarou mais a porta e eu entrei. Varri os olhos pela casa, era tudo tão... normal agora. A mesma rotina como sempre tinha sido todos aqueles anos antes de Edward.

- Vou tomar um banho e depois desço pro jantar. - avisei por sobre o ombro.

- Ok, espero você aqui.

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    Sacudi a cabeça duas vezes e subi as pressas pela escada. Eu estava bem... Estava muito ótima. Edward não me mereceria, ele era só um garoto mimado, incompetente, inconseqüente, ridículo e que não sabe ouvir um não. Então porque eu ficaria triste sendo que eu não perdi nada? Eu estava bem... Eu estava...

     Cai de joelho perto da minha cama e ali fiquei, chorando. Eu estava despedaçada... A quem eu estava tentando enganar? E o mais dificil era admitir isso a mim mesma. Eu me odeio... E a raiva não era por Edward ter me feito de idiota esse tempo todo ou ter mentido pra mim e sim porque, apesar de tudo, eu sentia sua falta. Isso era pior do que qualquer coisa. As lágrimas vinham acompanhadas com alguns gritos de dor... Por que doía tanto? Era só um garoto bobo que fizera o possivel e o impossível para me conseguir. Eu não conseguia explicar. Tudo estava indo tão bem...

     Pousei minha cabeça em cima dos braços e continuei ali. Foi tão pouco tempo... Talvez eu tenha me precipitado demais e deixei que as coisas saíssem do controle, mas por que? Isso nunca tinha acontecido, eu nunca tinha me apaixonado dessa forma. Passei as mãos no meu rosto, enxugando qualquer vestígio de lágrimas. Isso doía tanto...

     Nos últimos dias, Edward tinha se resumido em todas as coisas que eu pensava, sonhava, planejava, queria e mais do que qualquer coisa, desejava do fundo do meu coração que eu fosse a mesma coisa para ele. E agora tudo vinha como um murro nas minhas costas... Por que eu queria, do fundo da minha alma, morrer? Como eu pude ter sido tão idiota em resumir minha vida em alguém que tramou só para me ter e satisfazer seu ego? Dói... Perder alguém dói... E só agora eu entendia. Parece que quanto mais a gente gosta de uma pessoa, mais elas nos decepcionam... Talvez porque é natural de nós esperarmos mais dessas pessoas. Esperar que elas sejam verdadeiras e puras e principalmente que elas nunca partam nosso coração, nunca nos decepcione. Mas a página sempre vira e sempre vem uma nova surpresa... e a minha era essa. Eu fui um experimento pra Edward, um troféu que ele ergueu e fez de idiota por todo esse tempo. Até imagino quantas vezes ele deve ter rido de minha cara. Agora eu entendo porque ele ia tanto me visitar no hospital. Pra ver se sua culpa no acidente reduzia um pouco mais... Eu fui tão idiota...

     Por todas as noites que eu passei acordada, pensando nele. Segredos doem... E agora existia uma dor em mim. Eu esperava que alguém pudesse me explicar por que eu não parava de chorar, mas não apareceu... Ou apareceu... Minha consciência dizendo que eu o amava, apesar de tudo. Mas era errado. O que Edward fez não tem perdão. Como alguém pode fazer isso? Mentiras, mentiras, mentiras, mentiras, só mentiras. Só isso que eu tive o tempo todo.

     Talvez eu também tenha errado no passado, mas certamente não fui tão egoísta e competidora como ele. Eu não fui assim... Eu não posso ter sido assim...

     Fechei os olhos, apertando-os e gritei, chorando. Aquelas lágrimas doíam tanto. Mais do que qualquer outra coisa. Nem nos meus piores pesadelos eu senti uma dor tão forte assim. Eu queria parar as lágrimas, mas cada segundo que se passava, significava mais um minuto em que eu teria que me acostumar com a decepção. Pudera eu viver sem coração. Ou então tê-lo só pra não morrer pela ausência dos meus batimentos cardíacos e pela falta de algo para impulsionar a passagem do meu sangue por todo meu corpo. Jamais para amar... Jamais para isso. Depois do amor a pessoa nunca mais fica inteira. Porque uma parte dela morre pelos planos que fizeram em vão, pra depois chegar ao fim... Morre por todas as vezes que achamos que é a pessoa certa e damos o melhor de nós para que o relacionamento dê certo. O amor, o que seria dele se não houvessem pessoas idiotas para o seguirem? Agora mais do que nunca, eu preciso me firmar em alguma coisa, antes que isso acabe comigo e leve embora a Bella que eu era antes de conhecer Edward.

     E aquela seria minha primeira noite sem ele (...)

[pov. Jasper Cullen]

     Eu estava sentado na cadeira atrás de Rosalie Hale durante a aula de Filosofia. Eu tinha que dar um jeito de falar com ela, aproveitando que um aluno debatia inutilmente com o professor, alegando que suas teorias filosóficas sobre quem seguiu quem: Sócrates que seguiu Platão ou Platão que seguiu Sócrates.

     Na noite anterior, Rosalie estava encarregada de agradar Aro da forma que ele quisesse pelo favor que ele fez quando ligou para o quarto de Edward. Se eu bem conhecia Aro, o agrado com certeza seria na cama e Rosalie não poderia negar isso, já que a participação dele foi algo de muita importância em nosso plano para separar Edward e Bella, o casal vinte. Ri comigo mesmo. Nunca pensei que seria tão fácil... Só o passado de Edward Cullen, meu irmão prodígio é o suficiente para acabar com qualquer relacionamento que ele venha ter no futuro e sem ao menos precisar de intervenção minha para ter um fim, embora o fato de que eu me sentiria bem melhor dando uma forcinha para descobrirem logo.

     Me inclinei um pouco para frente, apoiando maior parte do peso do meu corpo na mesa e pigarreei para que Rosalie inclinasse o corno para trás e eu pudesse falar com ela.

- Rosalie... - sussurrei.

- Ai... O que é, Jasper?

     Se bem conheço Rosalie Hale, ela provavelmente revirou os olhos.

- Como foi a noite? - perguntei, sarcástico.

- Honestamente, Jasper. Não acredito que você interrompe minha concentração só pra perguntar como foi minha noite magnífica com Aro Volturi. - ela respondeu, ironizando pesadamente no “magnífica”.

- O que foi? Ele bateu em você ou você não curte um sexo selvagem? - gargalhei baixo.

- Jasper, por que você não vai de...

- Rosalie... Calma, estressadinha. Só queria agradecer por você ter ajudado e facilitado muitas coisas para nossa vingança. - interrompi-a, antes que ela continuasse a frase.

- Já agradeceu.

     Ri. Rosalie não estava nada satisfeita com a noite anterior. Isso estava óbvio demais. Mas não era algo que pudesse me preocupar agora. Agora minha dedicação era totalmente voltada à Bella Swan, minha futura namorada.

[pov. Edward Cullen]

     Intervalo. Meses antes, isso era sinônimo de ver Bella, minha Bella.

- E agora não significa mais nada... - falei alto sem querer.

- Eu hein!? Fim de namoro deixa a pessoa assim? Edward... - Jacob estava com os olhos arregalados, passando a mão de forma circular bem perto de meu rosto, tentando me situar. - Que foi, cara? Qual é a de falar sozinho?

     Não... O dia estava péssimo e com certeza Jacob iria se calar agora e não iria falar mais nenhuma besteira.

- Tem algum espírito aqui? - ele olhou para os lados. - Se tiver, fale agora ou cale-se para sempre. CAAAAADÊ O DEMÔNIO? - ele agora parecia um protestante, mas não... Nem isso me animava.

- Não, Jacob. Não tem. - respondi sem ânimo.

- Ok, cara. Você venceu. - Jacob puxou o prato para o lado e se inclinou sobre a mesa. - Tem alguma coisa que eu possa fazer por você? Se quiser, eu digo pra Bella que fiz tudo isso porque eu sou um ninfomaníaco e queria um vídeo caseiro do meu amigo fazendo besteiras com Bella Swan e que você não tem culpa nenhuma.

- Não, Jake. Mais mentiras pra eu conseguir ter ela de volta? Será que eu não posso conseguir algo sem necessariamente ter que mentir? - perguntei, mexendo com o garfo meu almoço. Eu estava cansado disso já...

- Eu queria ter ido ontem na tua casa, mas foi dificil, você sabe porque. - ele deu dois tapinhas no meu ombro.

- Tudo bem. Eu precisava ficar um pouco só ontem. Jake... - abaixei a cabeça, olhando apenas pro meu almoço...

     Vi o movimento de Jacob virando-se para trás, para entender o que eu havia visto... Bella entrando no refeitório. Todos os músculos do meu corpo queriam levantar e ir em sua direção, mas eu não podia. Bella não queria me ver nem pintado de ouro e ela tinha toda a razão pra isso... Pra não me querer mais em sua vida.

- Cara, você não pode ficar assim pra sempre...

- É recente. - mexi a comida novamente.

- É só um tempo então?

- Não... Eu amo Bella, Jacob. Mudei por ela, mas cometi todos os erros que eu sempre cometi só pra ter ela comigo. Isso não é irônico? - ri de minha própria desgraça.

- Ah... Edward, sai dessa fossa. Já pode levantar a cabeça, ela já saiu da entrada. - Jake me avisou.

- Eu queria ter me tornado menos imaturo... Não devia ter feito isso. Isso do acidente. Eu ia contar pra ela, Jake. Mas Aro ligou e deixou um recado falando sobre isso na secretária eletrônica bem na hora que Bella tava no meu quarto. - contei-lhe pausadamente.

     Ergui meu rosto e olhei pelo refeitório, procurando por Bella e quando a achei... Nossos olhos se encontraram e com a mesma pressa com que nossos olhares se chocaram, eles se desviaram. Droga! Como Aro pôde ter ligado para mim justo naquele dia? E por que depois de meses ele resolveu tocar naquele assunto?

- A gente pode trocar de assunto? - perguntei, afastando o prato de comida na minha frente e deitando minha cabeça sobre a mesa.

- Se fosse outra situação, eu poderia rir da sua cara, mas eu sei que você tá mal. Quando você chegou, as mulheres vieram correndo pra cumprimentar você e se jogar, porque tinha sido a primeira vez que você tinha chegado sem Bella desde que vocês começaram a namorar. Se fosse um tempo atrás, você ia adorar isso. “Garanhão is back”. - Jake ironizou, rindo.

- Jake... - suspirei. - Eu vou melhorar e voltar a ser aquele teu amigo. Que saía contigo pra festa, voltava só de madrugada.

- É isso, cara. Disso que eu tô falando. - Jacob vibrou, provavelmente vendo vestígios do antigo Edward ou então imaginando o que aconteceria com a gente quando eu voltasse a ser o que era antes.

- Mas eu vou precisar de um tempo...

- Edward, você precisa é ocupar seu tempo pra esquecer Bella mais fácil. - ele falou e estava certo... Era disso que eu precisava. Ocupar meu tempo pra poder não pensar mais em Bella.

- Você tá certo! Eu vou me ocupar com meu time de vôlei, vou sair mais com você. Mas eu... Não quero esquecer Bella. Eu só quero dar um tempo pra ver se ela esquece um pouco e deixa eu chegar perto pra pelo menos poder me explicar. - olhei na direção de Bella novamente e ela não estava mais lá. Cerrei os lábios. Se Jacob também não tivesse visto a hora que Bella entrou no refeitório, talvez eu me convencesse agora de que era coisa de minha cabeça, mas ele viu...

- Oi meninos... - uma voz feminina falou e eu me direcionei a ela. Victoria! Ahnnn... Não!

- Oi... - Jacob cumprimentou com um aceno.

- Oi Edward... - ela reforçou...

- Oi, Victoria. - respondi sem ânimo e ela jogou um convite em cima de nossa mesa.

- Vou dar uma festinha amanhã na minha casa. Conto com vocês, principalmente com você, Edward. - ela me olhou com malícia e abriu um sorriso mais malicioso ainda.

- Ok...

     Tentei sorrir com a mesma animação, mas foi tempo perdido. Voltei minha atenção pra Jacob agora que tínhamos nos livrado de Victoria e ele pelo visto olhava atentamente minha reação.

- Vamos? Uma oportunidade...

- Não sei, cara... - respondi confuso.

- Ah, Edward... Vamos. Não custa nada e isso só vai te fazer bem, tenho certeza. Se eu tiver errado, pode fazer o que quiser comigo. Aceito até despacho e boneco vudu. - ele brincou, dando socos de leve na mesa para dar mais veracidade ao que estava falando.

- Não, não. Vou ficar em casa assistindo alguns filmes...

- ...enquanto Bella está você não sabe onde, fazendo você não sabe o que, mas com certeza o possivel e o impossível para te esquecer? Acredita em mim, Edward. Mulheres são vingativas...

     Rimos. Sabíamos as contradições entre aquelas palavras e o bem que elas realmente nos faziam. Jacob estava certo. Bella havia me mudado e eu a amava com todas as minhas forças, mas precisava fazer algo enquanto ela não queria me ter por perto e distração seria a melhor coisa possível. Eu não queria isso... Mas precisava me esforçar. Eu sabia que os dias que estavam por vir não seriam nem um pouco fáceis, começando pela madrugada inteira em que eu passei em claro e agora mais do que nunca eu precisava relutar para ser feliz... mesmo sabendo que se Bella estivesse comigo tudo seria bem mais fácil e sem nenhum esforço. Eu continuaria minha vida, minhas coisas e com minhas metas até o dia em que ela quisesse voltar para mim... Se ela voltar... Se ela quiser voltar...

     A pontada de decepção começava a perfurar meu coração e mais ainda, a dúvida. Ela me perdoaria?

- Sabe, se você pensar bem, vai ver Bella até recebeu esse convite aí. - ele revirou os olhos, querendo insinuar alguma coisa, estava claro.

     Respirei fundo...

     Talvez Jacob tivesse razão...

     Tirei meu celular do bolso e fiquei mexendo nas últimas chamadas: “Bella”, “Bella’s house”, “Bella’s bedroom”. Ah... Bella... Por que você teve que me deixar? Você sabe que eu faria tudo por você, pensei comigo mesmo e me acomodei mais ainda na mesa, pondo meus braços também.