I Hate Myself escrita por Lady SunDame, Lia Mayhew


Capítulo 6
Trégua




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Pensei em correr em sua direção, mas ignorei-o. Dhiren já havia desaparecido de minha visão. Voltei para a mesa e sentei-me.

Nílima e Yesubai me olharam, confusas.

– Por que ele te puxou? – Nílima perguntou.

Dei de ombros.

As duas se entreolharam e então, Yesubai aproximou mais a sua cadeira.

– Ele por acaso... Te chamou para um encontro? – Perguntou, entusiasmada.

Torci o nariz.

– Por que ele faria isso? e... Por que você está tão entusiasmada? Você era a namorada dele!

Yesubai fez um gesto com a mão.

– Isso é passado. Pas-sa-do.

Revirei os olhos.

– Vocês dois ficariam bonitinhos juntos – Yesubai murmurou.

Arregalei os olhos.

– Hey! Caso tenha esquecido, ele e eu somos rivais!

Nílima riu.

– Desculpe Kells, mas eu preciso concordar com a Yesu. Vocês dois ficam mesmo, bonitinhos juntos.

Bufei.

As duas riram e então, mudei de assunto.

* * *

Domingo chegou mais rápido do que o esperado.

Eu, Nílima e Yesubai havíamos planejado passar o dia juntas.

Havíamos planejado assistir alguns filmes na casa de Yesubai (o que não era tão ruim, pois estava chovendo muito!).

– Qual filme vamos assistir? – Nílima perguntou, enquanto sentava e ajeitava-se no sofá da casa de Yesubai.

No fim, assistimos ‘’Jogos Mortais Quatro’’.

Estávamos nos divertindo, até que, eu me lembrei de algo.

Olhei para o meu relógio.

16h50min.

– Droga – murmurei para mim mesma

– O que aconteceu? – Yesubai perguntou, enquanto apertava a tecla ‘’pause’’ do controle.

Levantei-me do sofá.

– Ah... Desculpe, eu me lembrei de algo. Eu preciso ir embora.

– Mas está ‘’caindo o mundo lá fora’’ – Lembrou-me, Yesubai.

Olhei pela janela. A chuva havia aumentado.

– Não tem problema – Apressei-me em dizer.

Yesubai levantou-se do sofá e foi para seu quarto, voltando logo depois, com um guarda-chuva.

– Me devolva Segunda-Feira.

Sorri.

–Obrigado.

Abri a porta e sai.

Corri por entre as ruas, segurando um guarda-chuva. Eu estava muito atrasada.

Corri entre uma rua e outra, até que, eu cheguei na Praça da Torre do Relógio.

Eu pensei que ele não estaria lá. Eu tinha quase quatro horas de atraso e estava chovendo muito.

Eu estava errada.

– D-Dhiren... – murmurei.

Ele estava apoiado em uma parede, tremendo. Fiquei observando-o por alguns segundos, até que ele reparou em minha pessoa.

No mesmo instante, ele correu até mim.

– Que droga você estava fazendo? Você sabe que horas são?

– Eu não disse que viria – retruquei.

– Então, por que você está aqui?

Fiquei em silêncio. Ele estava certo.

– Vamos... – Respondi.

– Para onde?

Revirei os olhos.

– Você, por acaso, quer ficar no meio dessa chuva e morrer de pneumonia?

Ele me seguiu e a chuva diminuiu.

Dhiren espirrou uma, duas, cinco vezes seguidas.

– Você está bem? – perguntei.

– Eu fiquei durante quatro horas na chuva e, você acha que estou bem?

Dei de ombros.

Viramos uma rua e atravessamos outra, até que, entramos em um Starbucks.

Sentamos-nos em uma mesa vaga.

– Vamos esperar a chuva passar, ok? – perguntei.

Ele assentiu com a cabeça.

***

Beberiquei um pouco do meu Chocolate Quente Clássico, enquanto Dhiren bebia um Caramelo Macchiato.

A chuva havia diminuído... Muito.

– Então...? – comecei a dizer.

Ele me olhou, confuso.

– O quê?

– Por que você me chamou? Outro dia, no colégio, você me disse para ir na área aberta do jardim, na Praça da Torre do Relógio... Por quê?

Ele abriu a boca para falar algo, mas a fechou logo em seguida. Ficamos em silêncio por alguns segundos, até que ele abriu a boca novamente e, disse:

– Na verdade... Eu queria pedir trégua.

Arregalei os olhos.

– T- Trégua?

Ele assentiu com a cabeça.

– Sim, trégua.

Eu devo ter feito uma cara estranha e confusa, pois, segundos depois, ele disse:

– Eu não acho que ter uma mulher como inimiga seja algo bom.

Antes que eu pudesse pensar duas vezes, eu respondi, energicamente.

– Você está me chamando de fraca?

– N- Não é isso o que eu quis dizer – Ele respondeu, surpreso – Eu quis dizer que não queria ser seu inimigo... Ou rival... Sei lá.

Arregalei os olhos. O que era aquilo, tão de repente?

– Mas, se você não quiser aceitar, tudo bem. – Ele continuou, depois de dar um gole em sua bebida.

– Não, não! – Apressei-me em dizer – Eu... Aceito sua trégua.

Ele sorriu vitorioso.

Terminamos nossas bebidas e saímos.

– Onde você estava antes de vir me encontrar? – Ele perguntou, subitamente.

– E te interessa?

Ele sorriu.

– Se eu estou perguntando, deve ser por que me interessa, não?

Bufei.

– Eu estava com a Nílima e com a Yesubai – Respondi, quase sem abrir a boca.

Ele me olhou, firmemente.

– Você não veio mais cedo... Por que estava com... Elas?

Assenti com a cabeça.

– Eu não sabia que você ia ficar me esperando – respondi.

– Eu tenho um bom motivo... – Ele murmurou para si mesmo, mas foi alto o suficiente para que eu pudesse escutar.

– O quê?

Ele colocou uma mão na cabeça e tentou disfarçar.

– Hãn? Ah... Nada.

Ficamos em silêncio por um tempo, até que o telefone de Dhiren tocou. E ele atendeu.

Ele trocou algumas palavras e então, desligou.

– Ãhn... Você quer ir lá em casa assistir alguma coisa? – Dhiren perguntou, subitamente.

– Quê?

Ele deu de ombros.

– Não tem nada de anormal nisso... Tem? Além disso, é um bom modo de recomeçar.

– Não... Não tem nada de anormal nisso... É você deve ter razão.

Ele riu baixinho.

– Então... Vai querer vir?

Assenti com a cabeça.

***

Sentei-me no sofá enquanto Dhiren colocava um DVD no aparelho.

– Que filme é? – perguntei.

– As Vantagens de ser invisível

***

Eu estava lendo alguns nomes dos créditos finais, quando Dhiren perguntou:

– Quer assistir algum outro?

– Qual?

Ele deu de ombros.

– Você gosta de animais? – perguntou.

Assenti levemente com a cabeça e o vi colocar outro DVD no aparelho.

Dhiren sentou-se ao meu lado novamente e, a tela da televisão brilhou.

– Qual o nome do filme? – perguntei antes mesmo de o filme começar.

– Perigo em Alto Mar.

***

Eu gritei pela décima quinta vez.

– Droga, Kelsey, para de gritar.

Eu estava agarrada a uma almofada.

– Não dá!

– Por que não?

Apontei para a tela da televisão.

– Tubarões.

Ele me encarou por um tempo e então, riu.

– Você, tem pavor de tubarões? – Ele riu mais uma vez – Eu nunca ia pensar uma coisa dessas!

– Qual o problema?

Ele balançou a cabeça.

– Nada, é que... Você tem esse seu jeito de durona e... Disse que gostava de animais.

Arregalei os olhos.

– Quando você disse animais, eu pensei que se referia a cachorros, gatos, cavalos, ursos polares... Menos tubarões!

Dhiren riu mais uma vez

Ele abriu a boca para dizer algo, mas eu olhei para a televisão.

Gritei.

– Eu vou tirar esse DVD, você está me dando dor de cabeça com essa gritaria.

Balancei a cabeça, como se dissesse ‘’Ok, tira logo’’, enquanto mantinha meus olhos arregalados.

Dhiren pegou outro filme, chamado ‘’Era uma vez, dois irmãos’’.

Peguei a caixinha do DVD e li a sinopse:

‘’A história desenrola-se nos anos 20 na Indochina, durante a colonização francesa dessa região. Conta à história de dois jovens tigres irmãos que nascem nas ruínas de um templo antigo.

Estes dois tigres viviam tranquilamente e são capturados por dois homens Os dois irmãos são separados e vendidos, um a um príncipe local e outro a um circo.

Anos mais tarde, os dois se encontram numa arena de um anfiteatro, onde teria lugar um combate mortal entre os dois felinos. No decurso dessa batalha, ambos se lembram que são irmãos e recusam-se a combater visto serem irmãos. Os dois tigres iniciam uma fuga que os levará de novo à selva onde tinham nascido. ’’

– Hum... – Murmurei, sem perceber.

– O quê?

– Hãn? Como assim, ‘’o quê?’’

– Você tinha dito alguma coisa, não disse? – Dhiren perguntou.

– Não... Eu disse?

Dhiren me olhou, como se dissesse ‘’Você está brincando com a minha cara?’’ e então, sentou-se ao meu lado.

Na metade do filme, senti algo em minha nuca.

Olhei para a esquerda, sem mover minha cabeça e então, percebi...

Dhiren estava com o braço esticado em meus ombros.

Senti minha respiração falhar e meu coração bater rápido.

Dhiren deve ter percebido e me olhou. Retribui o olhar e sorri para ele.

Ele sorriu enquanto engolia seco.

E foi vendo aquele sorriso dele que senti meu coração bater rápido e me perguntei mais uma vez o que estava acontecendo comigo.

***

Dhiren me levou até a porta de sua casa e a abriu. Em seguida, nós saímos e ficamos na calçada. A rua estava deserta.

– Ãhn... Obrigado – Disse.

– Pelo o quê? – Dhiren perguntou.

– Pelos filmes.

Ele riu.

– Até mesmo aquele do tubarão?

Era minha vez de rir.

– Menos esse.

Ficamos em silêncio por uns dois segundos.

– Obrigado – murmurei, enquanto tentava disfarçar um sorriso.

Ele sorriu e nos despedimos.

***

Segunda – Feira chegou voando.

Acordei meio grogue por conta do despertador e fui tomar uma ducha e escovar os dentes.

Sai do banheiro envolvida apenas com um roupão e vesti-me como sempre: Um Jeans, uma camiseta, uma blusa de moletom e tênis.

Sentei-me na borda da cama e olhei para o relógio.

08h20min

Do lado do relógio, estava um pequeno retrato de quando eu era criança. Na foto, eu estava com uma trança, abraçada a minha mãe.

Sorri sem perceber e então, me veio à ideia.

Fui ao banheiro e arrumei meu cabelo.

Trancei-o e prendi-o com uma fita branca, do mesmo jeito que minha fazia em mim, quando pequena.

Olho-me no espelho e sorrio enquanto penso se meus pais estariam orgulhosos de mim.

Pego o guarda-chuva de Yesubai e saio.

***

Passo pelo portão do colégio as 08h45min e logo avisto Nílima e Yesubai.

Andei até elas e devolvi o guarda-chuva de Yesubai, que sorri.

– Onde você foi com tanta pressa, no Domingo? Devia ser importante, já que saiu no meio da chuva...

Olho para as duas, pensando no que dizer. Mas o silêncio diz mais do que mil palavras.

As duas se entreolham e sorriem de canto.

– Você por acaso... Encontrou-se com alguém? – Nílima pergunta, enquanto aumenta seu sorriso.

– Não... – Digo – Não exatamente.

– Como assim, não exatamente? – Yesubai pergunta, dando ênfase no ‘’Exatamente’’.

Dou de ombros. Não sei como reagir. As duas me olham e sorriem novamente.

– Vai! Fala! Você encontrou alguém, certo? – Yesubai pergunta, entusiasmada.

Murmuro um ‘’sim’’ e as duas se agitam.

Logo, a pergunta é inevitável:

– Com quem você se encontrou? – Yesubai pergunta mais entusiasmada do que o normal.

Não sei como reagir a isso. Consequentemente, fiquei quieta.

Nílima e Yesubai se entreolham e cochicham entre si, dando uma risadinha no final.

Yesubai então se aproxima de mim e fala:

– Você se encontrou com o Ren, né?

Engasgo com minha própria saliva e começo a tossir, sendo obrigada e receber tapinhas nas costas.

As duas começam a rir.

– Ai, Kells, era verdade? – Nílima pergunta em meio aos risos.

Sinto minhas bochechas queimarem.

– Mas... E então? O que aconteceu? Onde vocês foram? – Nílima perguntou.

– Nós só... – Comecei a dizer – Tomamos café enquanto esperamos a chuva passar... Só.

As duas se olharam.

– Só? – Perguntaram em coro.

– Você está brincando, né? Ele não é o tipo de pessoa que só toma café e vai embora – Yesubai respondeu, colocando uma das mãos na cintura.

Olhei para as duas e coloquei minhas mãos atrás das costas.

– Nós também... Assistimos filmes na casa dele.

As duas começaram a pular, entusiasmadas, sem se importar com o que os outros pensassem.

***

Eram 11h15min.

Estávamos na terceira aula. Geografia.

– O nome Índia é derivado de Indus, que por sua vez é derivado da palavra Hindu, em persa antigo. Do sânscrito Sindhu, a denominação local histórica para o rio Indus. Os gregos clássicos referiam-se aos indianos como Indoi, povos do Indu– Professor Kadam, dizia.

Eu me sentia sonolenta. Geografia não era o meu ponto forte. Mas ao mesmo tempo, prestava atenção. Querendo ou não, era o país para qual Kishan havia ido.

Kishan.

Eu quase não pensava mais nele.

No momento, eu pensava em Dhiren.

Os dois eram diferentes. Muito.

Deixei meus pensamentos me levarem.

– Senhorita Hayes? – Escutei alguém dizer.

Pisquei algumas vezes.

– Senhorita Hayes – Professor Kadam disse mais uma vez, tirando-me de um transe.

– S-Sim?

– Poderia me dizer onde se localizam os pontos extremos da Índia?

– Ah... Claro. Os pontos extremos se localizam a 6° 43' e 39° 26 'de latitude norte e 68°7' e 89°25' de longitude leste.

Professor Kadam sorriu.

– É realmente ótimo saber que a senhorita sabe do que estou falando, mas, por favor, certifique-se de que sua mente esteja em minha aula e não no mundo da lua.

Sinto-me envergonhada e digo um simples ‘’Está Bem’’.

Ele continua a aula e logo, o sinal toca.

Saio da sala e desço as escadas junto de Nílima e Yesubai. Andamos em direção ao refeitório e, entramos na fila do almoço. Pegamos um prato e nos servimos.

No meu prato, há um pouco de arroz, batatas fritas e um bife.

Escolhemos uma mesa e nos sentamos.

– Deuses, Kells! Como você soube responde a aquela pergunta? – Nílima pergunta, logo que nos sentamos.

– Que pergunta? A dos pontos extremos? – pergunto

As duas assentem com a cabeça.

– Ah... Eu não sei... Apenas sabia – Digo enquanto dava uma garfada na comida e levava-a para a boca logo em seguida.

Ficamos conversando sobre diversos assuntos, mas às vezes, eu olhava para os lados e via Dhiren me olhando. Ele, após perceber que eu o havia visto, desviava o olhar e eu, fazia o mesmo.

Almoçamos rapidamente e saímos da mesa.

Andamos para o jardim do colégio e nos sentamos à sombra de uma árvore.

– Eu não suporto Segundas-Feiras – Nílima disse, espreguiçando-se.

– Idem – Yesubai disse.

Sorri.

– Eu gosto de Segundas-Feiras – Disse – Segundas-Feiras são dias em que não temos muita agitação...

Conversamos sobre alguns assuntos aleatórios.

– Hey, por que vocês não dormem na minha casa hoje? – Yesubai perguntou

– Por mim tudo bem – Nílima disse, olhando para mim, logo em seguida.

Dei de ombros.

– Por mim, tudo bem, também... Mas... Hum... A Jennifer vai estar lá? E, seus pais não vão se importar?

– Não, meu pai não se importa com essas coisas e, ele e minha madrasta foram com a Jennifer esta manhã para uma viagem ‘’sabe-se-lá-do-quê’’ e só voltam semana que vem.

Sorrimos.

– Então... Está combinado? – Yesubai perguntou.

– Combinado – Nílima e eu dissemos em coro.

***

Eu estava preparando minhas coisas, para ir à casa de Yesubai.

Eu havia acabado de chegar do colégio.

Peguei uma mochila e coloquei meu pijama, colocando logo em seguida, uma troca de roupa.

Havíamos combinado de estar na casa de Yesubai às 14h45min.

Ainda eram 13h45min.

***

Eu e Nílima chegamos na casa de Yesubai mais cedo.

14h25min

Ficamos assistindo ‘’As Vantagens de Ser Invisível’’

O mesmo filme que eu assistira com o Dhiren.

Durante o filme, pensei sobre Dhiran e sobre Kishan.

Por que meu coração batia forte quando estava com eles?


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