Tempos Que Nunca Foram escrita por Bertinelli


Capítulo 2
O Doctor


Notas iniciais do capítulo

Música do Capítulo: http://www.youtube.com/watch?v=GvvyBCNXsUQ



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A menina correu ao corpo daquele homem estranho, mas por mais que o chamasse, cutucasse, sacudisse, nada o despertava. Estaria morto? Não, aquele homem estava proibido de morrer sem antes explicar como viera parar ali. Ela posicionou o indicador e o médio sobre uma veia no pescoço e subitamente se esgueirou para trás ao sentir um compasso de quatro tempos pressionar de volta os seus dedos.

De repente, o som de passos na escada encheu o quarto e seu coração acelerou. Como explicaria à sua mãe sobre aquele homem estatelado no chão? E a cabine de polícia? O que diabos ia dizer sobre a cabine de polícia?!

Ela se pôs de pé rapidamente e enxugou o rosto umedecido pelas lágrimas. Saindo do quarto, bateu a porta as suas costas no instante em que sua mãe chegou.

— O que faz ainda acordada, Mary? — ela olhou com seus olhos castanhos, desconfiada, para o rosto juvenil de sua filha até a porta cerrada em suas costas e novamente ao verde culpado dos olhos da menina.

— Nada, mãe. — ela prendeu os lábios finos antes que eles tremessem. — Eu só ia ao banheiro.

— Pois então vá, oras. — ela fez um gesto impaciente com a mão.

— A senhora não veio aqui para falar comigo?

A mãe cruzou os braços e riu-se por dentro. Mary e suas respostas prontas, sempre deixando o jogo favorável a ela.

— Só queria ver se está tudo bem. — elas se encararam por alguns segundos e logo a menina desviou o olhar.

A mãe abraçou-a com força, mas a deixou antes que fraquejasse novamente e com um “Boa noite, filha” apressado, desceu as escadas.

Mary esperou ouvir o som da porta do quarto de sua mãe bater para entrar e então permitir algumas finas lágrimas rolarem novamente. Porém ao erguer seu rosto, ele estava lá, de pé, com as mãos no bolso e o corpo apoiado na cabine azul, encarando-a fixamente com o rosto sério e uma das sobrancelhas arqueadas.

— Olá. — ele disse quase sem mover os lábios com uma voz baixa e grave — De novo.

Mary limpou as lágrimas do rosto e caminhou furiosa em sua direção.

— Quem é você? E como chegou aqui?

— Eu não sei — ele começou a andar pelo quarto como se procurasse algo importante — estava na minha TARDIS a caminho de Alphalopatrya, ótimo lugar, um rio de baunilha corre no meio da cidade e os habitantes me deixam beber de graça, boas pessoas, bem, os chifres são um pouco estranhos — disse, mexendo nos objetos do quarto com certa curiosidade — Então, enquanto estava a caminho, minha nave travou no meio do vórtex temporal — ele pegou um livro de capa vermelha na estante, olhou, jogou para longe, correu para a parede oposta saltando sobre a cama, e agarrou pelo rabo um gato de pelúcia, chacoalhou diante dos ouvidos e o pôs de volta — fiquei preso por três minutos, TRÊS MINUTOS, por Deus, eu sou um Senhor do Tempo, EU que deveria dominá-lo — ele continuava a bagunçar as coisas de Mary, ignorando a presença da menina, falando mais para si mesmo — mas, bem, não conseguir consertar a TARDIS me deixou meio irritado, não vê? Não é um veículo que você possa descer para empurrar, sabe? Mas o que me deixou intrigado — ele sacou do bolso interno do paletó um objeto prateado que acendeu uma luz azul e emitiu um barulho de constantes ondulações quando ele apontou para um lugar aleatório na parede, fechando um dos olhos como quem olha numa luneta — depois de o tempo parar por “três minutos”, minha nave foi sugada pelo vórtex me levando até a casa de uma simples garotinha em, em, em, em, — ele mirou em várias direções diferentes, movendo a cabeça feito um pássaro esguio até encontrar um porta-retrato com a foto de Mary num parque da cidade — Bristol! Brilhante! — ele andou na direção da menina — Por que o seu quarto? — ele abaixou o tom de voz e fixou seus olhos nos dela — O que faz de você ser tão especial, senhorita...como você se chama mesmo?

— Snow. — ela disse visivelmente confusa — Rosemary Snow.

Rose...Mary — ele tocou no rosto dela, os olhos cada vez mais fixos, como se quisesse ver através dela — Esse é um bom nome, Rosemary Snow.

Ele sacou novamente o aparelho prateado e apontou para ela.

— Bem, Rosemary, existe algo no seu quarto, impregnado em seus móveis e até em você. Pequenas, minúsculas partículas do tempo, resultantes da força explosiva que me trouxe até aqui. Seja o que for que tenha causado isto — ele ergueu o aparelho prateado e o acendeu, caminhando pelo quarto como se a luz azul e o som ondulante o guiassem — emergiu de sua janela. — ele sacou do bolso interno do paletó uns óculos de armação escura e os vestiu, forçando a vista para enxergar através do feixe de luz — E eu preciso descobrir o porquê.

— Quem-é-você? — Mary disse impaciente e ao mesmo tempo apreensiva.

— Eu sou o Doctor. — ele disse à menina, encarando-a com seus velhos olhos castanhos e um singelo sorriso nos lábios.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler :)

Próximo capítulo, após cinco comentários.