"Foi bom vê-la rindo novamente." -Logam disse passando o braço por trás do pescoço da amiga e a abraçando de lado.

 Ela o olhou e sorriu.

  "Obrigada por ter me chamado para vir. Foi bom ver sua avó." -Annita disse enquanto os dois caminhavam em direção a floresta- "Senti saudades de comer a torta de frutas que ela faz."

  "Sabe que pode vir quando quiser. Quando precisar de um momento longe da sua casa..."

 Annita desabraçou o amigo e olhou para o céu.

  "Que horas são?"

  "Acho que três horas..." -Logam deu de ombros.

 Annita fez uma careta e olhou para a floresta.

  "Eu... Eu tenho que ir, Logam. Te vejo amanha?" 

  "Claro... Mas não quer que eu te acom..."

  "Não, eu vou sozinha." -Ela o interrompeu- "Até." -Ela ficou na pontas dos pés e lhe beijou a bochecha, correndo em direção a floresta em seguida.

 Logam não teve nem tempo de perguntar o que ela tinha que fazer. A garota apenas correu de seus braços e desapareceu entre as arvores. Então ele pois as mãos no bolso do casaco e voltou a andar calmamente em direção a trilha marcada no chão.

 Com a neblina, ficava casa vez pior que enxergar o caminho certo. Logam tinha medo de sair do outro lado da cidade. O bairro inverso ao seu era muito industrial, cheio de pequenas fabricas e lojas grandes, e isso atraía muitos ladrões e pessoas perigosas; pelo menos era o que as pessoas diziam e Logam nunca teve curiosidade de ver.

 Ele continuou a andar, com passos pequenos e cuidados, ele não queria cair de novo, tão pouco se perder, então todo cuidado era pouco.

  "Logam!" 

 Ele ouviu alguém o chamando, mas logo reconheceu a voz.

 Haskel vinha em sua direção. Usava um casaco marrom que parecia muito pesado e um chapéu que ele não se lembrava do nome.

  "Oi." -Logam disse.

  "Esta ocupado?"

 Logam olhou para o caminho e negou com a cabeça.

  "Então venha comigo, preciso devolver sua camisa."

  "Não precisa." -Logam disse balançando a cabeça.

  "Não vou ficar com ela, a camisa é sua." -Haskel riu.

 Logam suspirou e seguiu Haskel até sua casa.

 Como já havia dito uma vez, a casa de Haskel ficava perto da de sua avó, pelo menos na mesma rua, algumas casas depois. Logam ficou um pouco irritado por estar fazendo o mesmo caminho, mas depois nem ligou. 

 Haskel entrou em uma rua meio fechada por causa de algumas arvores e continuou andando. Logam estranhou a localização da casa, mas não disse nada. Como Haskel dissera, havia ficado com a casa de um velho que conheceu. 

 Eles passaram por algumas arvores, e Logam podia jurar que estava de volta a floresta se não fosse pela trilha marcada no chão e algumas casas por perto.

 A casa de Haskel era bem pequena, uma família de cinco não caberia nela; pelo menos era o que aparentava por fora. A casa era toda de madeira e havia uma simpática escadinha na entrada. 

  "Quer entrar?" -Haskel perguntou.

  "Não, eu espero." -Logam sorriu.

 Haskel correu até a porta e entrou, enquanto isso, Logam ficou esperando do lado de fora. Ele percebeu algumas madeiras amontoadas ao lado da casa, o que era estranho. Mas então viu uma pequena chaminé atrás do telhado e acabou deduzindo para que as madeiras serviam.

 Haskel saiu segundos depois com a camisa. Logam a pegou e a dobrou para ficar mais fácil de levar.

  "Obrigado." -Haskel disse sorrindo.

  "Disponha." 

  "Vai para a cidade?" -Haskel perguntou.

  "Sim, por que?"

 Haskel demorou alguns segundos para dizer, mas então disse por fim:

  "Pode me emprestar algum livro que pegou na quele dia?"

 Logam riu.

  "Não precisa nem perguntar. Claro que empresto." -Logam sorriu.

 Ambos seguiram o caminho e voltaram para a floresta. No caminho, Logam foi falando quais livros tinha além do que havia pego na biblioteca, e acabou ficando tão animado que começou a contar a história, cena e personagens preferidos de casa um. Haskel apenas ria e concordava, prestando atenção em cada palavras do amigo.

 Quando chegaram na cidade, os dois foram até a casa de Logam pegar os livros. 

  "Quer entrar? Esta frio aqui." -Logam disse abrindo o portão.

  "Não." -Haskel negou com a cabeça.

  "Venha logo." -Logam riu e o puxou pela gola do casaco, o fazendo entrar na casa- "Já volto."

 Logam subiu as escadas correndo e foi para o quarto. Ele acendeu a luz e foi até a estante com livros. Ele jogou a camisa na cama e pegou todos os livros, mas eram muitos, o que fez com que ele sentasse na cama com o peso no peito.

 Ele pois os livros de lado mas em cima da camisa. Logam suspirou irritado com o que havia feito e então puxou a camisa de baixo dos livros, com medo que a mesa tivesse sujado de pó.

 Olhou para a camisa e lembrou quando a deu para Haskel. Sua pele já havia estado dentro dela... Sua pele marcada e tão branca quando neve... Sua pele.

 Ele sentiu a camisa nas mãos e percebeu que ela estava diferente, com um cheiro diferente. Ele cheirou a camisa e estava com o cheiro dele, um cheiro adocicado misturado com o aroma de eucalipto. Era tão bom...

  "Logam!" -Haskel chamou da sala.

 Logam rapidamente jogou a camisa no chão e pegou os livros. Ele desceu a escada com um pouco de dificuldade e quando chegou na sala, Haskel o ajudou.

  "Muitos livros." -Ele disse.

  "Pode pegar quantos e quais quiser." -Logam disse sentando no chão e espalhando os livros na mesinha da sala.

  "Só quero um, para passar o tempo." -Ele deu de ombros.

  "Você quem sabe."

 Haskel pegou alguns livros, olhou a capa, folheou.

  "Aquela garota que estava com você, é sua namorada?"

  "Anitta? Não uma amiga... Quase irmã." -Logam disse.

  "Ah..."

  "Por que a pergunta?"

  "Nada... É que..." -Haskel o olhou- "Deixa pra lá."

  "Fala." -Logam disse.

  "Não, esquece." -Haskel negou com a cabeça.

  "Fala agora." -Logam empurrou de ombro e riu.

  "Não." -Haskel retribuiu o empurrando de volta, só que mais forte.

  "Agora que começou." -Logam empurrou seu peito e Haskel quase caiu para trás.

  "Eu disse esquece!" -Haskel o empurrou no mesmo lugar, só que Logam segurou seus braços, fazendo com que os dois caíssem no chão.

 Os dois riram como duas crianças bobas.

  "Fale agora." -Logam disse, encarando Haskel, que estava a centímetros do seu rosto. Ele conseguia sentir sua respiração quente e seus peito se movendo a cada inspiração.

  "Não." -Haskel sussurrou. Seu halito quente passou pelo rosto de Logam e ele fechou os olhos.

 Quando os abriu, encontrou com os de Haskel, que pareciam mais perto.

  "Seus olhos são muito legais." -Ele disse quase sem voz, já que o outro estava em cima do seu peito e o impedia de respirar.

  "Seu tonto." -Haskel disse rindo e se jogando para o lado, saindo de cima de Logam.

 Os dois riram novamente, então Logam levantou e olhou para o garoto loiro deitado na sua sala e ofegante por causa do riso.

  "Já sabe qual vai pegar?" -Ele perguntou.

  "Não." -Haskel disse sorrindo e de olhos fechado, como se estivesse descansando na grama em uma tarde de verão- "Seu tapete é confortável, acho que posso dormir aqui."

 Logam riu.

  "Quem sabe um dia." 

 Haskel riu também, mas continuou deitado, ele abriu os olhos e olhou para Logam.

  "Por que não chama sua amiga para ir a festa com você, ela é bonita." 

 Logam ficou serio e pensativo.

  "Já pensei nisso, mas acho que alguém já chamou ela, mesmo ela dizendo que não."

  "Tente." -Haskel sorriu.

  "Hey, como você sabe da festa?" -Logam perguntou intrigado.

  "Posso morar do outro lado, mas eu ouço as coisas. E também ouvi que será uma grande festa."

 Logam assentiu.

  "Gosta de festas?" 

  "Eu nunca fui em uma assim..." -Haskel deu de ombros.

  "Então... Se eu conseguir um convite para você, você iria?" 

 Ele sorriu e deu de ombros.

  "Acho que sim."

  "Então eu vou ver com o meu amigo... Acho que ele consegue um, ele sempre diz que sobra."

  "Mas é obrigatório ir com um par? Por que eu só conheço você daqui."

  "Não... Mas todo ano tem uma valsa. Eu não sei dançar, mas ouvi dizer que é muito legal. Mas não é obrigatório." 

 Haskel assentiu.

  "Eu te ensino a dançar antes então." 

 Logam riu.

  "Não sei se será uma boa ideia." 

  "Sou um ótimo pé de valsa." -Haskel sorriu- "Aprendi com um ótimo professor."

 Logam riu novamente.

  "Quem sabe, então." -Logam riu e olhou pela janela. Uma fina geada começou a embaçar a janela, deixando a sala mais escura.

  "Esta nevando?" -Haskel perguntou se levantando com um salto.

  "Quase." -Logam disse.

  "Droga." 

  "Pode ficar aqui até passar." -Logam disse sorrindo com a ideia e ter Haskel outra vez como companhia.

  "Não... Droga!" -Haskel fez uma careta e sentou no chão- "Acho que eu se eu correr consigo." 

  "Não precisa, fique aqui, é melhor..."

  "Não Logam. Já fiquei muito aqui, sua tia vai achar que eu sou um sem teto."

 Logam riu.

  "Claro que não, ela só chega anoite." 

 Haskel o olhou e sorriu. Ele admirava a bondade do garoto, e queria muito ficar mais com o amigo, mas realmente precisava ir.

  "Eu agradeço, mas não posso." -Haskel disse pegando seu chapéu e o casaco que havia deixado em cima do sofá.

  "Você quem sabe." -Logam disse.

  "Mas eu te vejo amanha, talvez." 

  "Não vai pegar o livro?" -Logam perguntou se levantando e apontando para eles.

  "Claro." -Haskel bateu os dedos na testa e pegou um- "Posso te devolver semana que vem?" 

  "Fique o quanto precisar." -Logam riu e o acompanhou até a porta.

 Haskel pois o chapéu e vestiu o casaco.

  "Como chama isso?" -Logam apontou para o objeto na sua cabeça.

  "É uma boina." -Haskel sorriu a pegando e mostrando.

  "Claro, boina." -Logam disse se lembrando- "Legal."

  "Obrigado." -Haskel abriu a porta e olhou para a neve fina que caía- "E obrigado pelo livro."

  "Não agradeça." -Logam sorriu.