"Sua avó ligou hoje de manha. Disse que se você quiser ir ver sua roupa para festa, ela te ajuda."

 Logam vestia seu casaco e se preparava para sair. Finalmente nevará, e o dia estava muito frio. Ele colocou duas blusas, um suéter e mais o casaco; e mesmo assim se corpo tremia as vezes.

  "Claro." -Logam disse pegando o cachecol.

  "Hoje eu volta mais cedo." -Ela disse pondo as luvas de couro- "E por favor, tome cuidado se voltar para casa. Se perceber que for nevar, fique na sua avó."

  "Não se preocupe." -Ele sorriu e pegou suas chaves.

  "Amo você." -Ela o beijou na testa e ambos saíram de casa. 

 Sua tia seguiu a direita para o restaurante, e Logam foi em direção a floresta. Mas antes, decidiu passar na casa de Annita, para ver como estava a amiga.

 Apesar da fina camada, a neve cobriu levemente a calçada. Tudo estava branco e molhado, as pessoas não conseguiam sair de casa sem pelo menos dois casacos. Algumas crianças já tentavam construir bonecos de neves, mas sem muito sucesso. Enfeites de natal eram postos em frente as casas e as cantigas natalinas eram tocadas nas lojas. Tudo estava tão bonito. Logam adorava dezembro, e adorava a neve.

 Chegando perto da casa da amiga, ele pode ver seu avô saindo pela porta. Ele usava uma toca verde meio velha e um sobretudo marrom surrado. Logam tentou dizer um oi, mas o velho passou reto, sem ao menos perceber a presença do outro; mas isso já era esperado por ele.

 Logam subiu as os degraus de madeira da velha casa de Annita e bateu na porta. Segundos depois, sua prima, Carolla, atendeu a porta.

  "Olá, Logam." -Ela o olhou de cima a baixo e sorriu.

 Carolla era uma moça muito alegre, sempre tentava ajudar os outros, mesmo que tivesse que se prejudicar para isso. Ela era ruiva, como a prima, mas tinha olhos verdes e um sorriso que ia de orelha a orelha.

  "Annita esta?" -Logam perguntou sorrindo ao ver o sorriso da moça.

  "Claro." -Ela disse- "Entre, esta muito frio ai fora."

 Logam entrou e fechou a porta atrás de si. Carolla gritou por Annita, que respondeu do quarto.

  "Pode subir." -Carolla disse.

 Logam assentiu e subiu as escadas velha de madeira, que rangia a casa passo. A casa de Annita era muito velha e acabada, tinha sido do seu avô e ele nunca a reformará. Mas Logam não via problema nisso, apenas se preocupava com a casa caso nevasse muito.

 Ele andou pelo estreito corredor até o quarto da garota. A porta estava meio aberta, então ele entrou.

  "Oi." -Ele disse.

  "Quando tempo não te vejo." -Ela disse sorrindo e dobrando um vestido.

  "É." -Logam sorriu sentou na cama.

 Annita terminou de dobrar suas roupas e então as guardou na gaveta, setando-se depois na cadeira.

  "Esta tudo bem? Eu vi seu avô saindo e ele parecia meio... Bravo." 

 Annita negou com a cabeça olhando para o tapete do quarto.

  "Esta tudo bem. Nada que não seja diferente." -Ela disse.

  "Você esta bem?" 

 Ela o olhou como se despertasse de transe.

  "Estou." -Ela assentiu.

  "Que bom." -Logam sorriu- "Eu estou indo para minha avó, não quer ir junto. Ela pode fazer a quele chá que você adora."

 Annita sorriu, mas seu sorriso era frio e seus olhos distantes, o que fez Logam desacreditar em sua afirmação passada.

  "É... Eu adoro a quele chá." -Annita disse voltando a olhar para o tapete.

  "Anni, esta tudo bem?" -Logam se levantou e ajoelhou-se na frente na garota.

 A menina o olhou e fechou os olhos rindo. Logam estranhou sua reação, mas depois percebeu que ela chorava.

  "Não estou bem." -Ela disse com a voz fina por causa do choro. Lágrimas escorriam pelo seu rosto e suas bochechas ficaram vermelhas.

  "O que foi?" -Logam segurou seu rosto com as mãos, a forçando a olhar para ele.

 Ela lambeu os lábios e abriu a boca para responder, mas nada saiu. Seu olhar era triste, como se ela pedisse desculpas por algo.

  "Annita, esta tudo bem." -Ele a abraçou e sentiu os braços da garota apertando a sua cintura- "Me conte, o que houve? Foi seu avô de novo?"

 Ela negou com a cabeça e se afastou, tentando limpar os olhos que transbordavam.

  "Eu sou uma pessoa muito ruim, Logam." -Ela disse sentando na cama- "Você não deve ser meu amigo."

  "Não diga isso." -Ele sentou-se na sua frente e olhou tristemente para a garota.

 Ela tentava segurar as lágrimas, mas as mesmas escorriam por seu rosto desesperadamente.

  "Eu... Fiz coisas terríveis." -Ela o olhou.

 Logam acariciou seus rosto e limpou as lágrimas com o polegar. Ver sua amiga assim o deixava triste, como se ele pudesse sentir seu frustramento.

  "Você não fez." -Ele sussurrou- "E se fez.... Quem liga?" -Ele sorriu, fazendo a garota sorrir também.

  "Mas..."

  "Você não precisa explicar." -Ele disse se levantando- "Pegue seu casaco." 

 Annita limpou o rosto com a manga do vestido e se levantou pegando o casaco da mão do amigo.

x

  "Que bom te ver, Annita." 

  "É muito bom ver a senhora também." -Annita sorriu e abraçou a avó de Logam.

  "Vó, a Annita só concordou vir comigo, caso você prepare aquele chá que ela ama tanto." -Logam disse tirando o casaco.

  "Ah, o chá! Faço sim querida, vão para a sala que eu já levo."

 Annita riu e acompanhou Logam até a sala.

  "Adoro a sua avó." -Ela disse sentando-se.

  "E ela adora você." -Logam sorriu.

 Annita suspirou e olhou em volta.

  "Você já recebeu o convite da festa do Thomas?" -Ela perguntou.

  "Sim... E você?"

 Ela assentiu.

  "E... Você já foi convidada?" -Logam levantou uma sobrancelha.

 Annita o olhou e negou com a cabeça.

  "Não." -Ela mentiu- "E você já convidou alguém?" -Ela perguntou mordendo a bochecha.

  "Não." -Ele disse.

  "Ah." -Ela suspirou.

  "Mas pretendo." -Ele completou.

  "Pretende?" -Ela o olho novamente.

  "Sim..." -Ele assentiu desviando o olhar.

  "Quem?" 

 Ele negou com a cabeça.

  "Ainda não sei." -Mentiu.

  "Ah." -Ela suspirou novamente.

 Logam encostou na poltrona e encarou o fogo estalando na lareira. A sala estava silenciosa e o único barulho eram suas respirações. O fogo estava realmente bom para o clima frio, deixava o lugar mais abafado e aconchegante. Ele abriu alguns botões do suéter, já que não estava mais frio e acabou lembrando-se de que havia emprestado sua camisa para Haskel, e ele ainda não havia devolvido.

 Seus pensamentos foram então para a cena da noite passada. No seu quarto, na partida de xadrez, em Haskel...

  "Você é bom em xadrez?" -Ele perguntou pondo as peças no tabuleiro.

  "Mais ou menos." -Haskel respondeu.

  "Então vou acabar com você." -Ele disse encostando na cama e esperando o outro começar.

 Haskel olhou o tabuleiro e umedeceu os lábios lentamente, em seguida moveu duas casas o pião.

  "Quem te ensinou a jogar?" 

 Haskel o olhou e deu de ombros.

  "Meu tio." 

  "Você não era intimo do seu pai?"

  "Não muito..." -Ele desviou o olhar- "É sua vez."

 Logam moveu o cavalo e voltou a olhar para ele.

  "Por que?"

  "Não quero falar sobre isso." -Haskel disse.

 Logam assentiu.

  "Sabe... Eu não conheci meu pai... Mas o que eu ouvi dele também não me orgulho."

 Haskel suspirou.

  "Aposto que foi melhor assim então."

  "Não sei. -Logam deu de ombros- "As vezes eu acho que ele poderia ter me ensinado alguma coisa de família, ou ter me levando a escola. Mas então eu lembro que eles nos deixou."

 Haskel moveu outro pião.

  "Queria pelo menso ter uma foto, sabe. Para ver como ele era." 

  "Se ele deixou você e sua mãe, não devia ter orgulho dele." 

  "Eu sei..." -Logam moveu um pião- "Mas e se ele deixou a gente por algum motivo? Talvez não pudesse ficar na cidade, ou tivesse que resolver algumas coisas." 

  "Você é muito bom, Logam. Cuidado com isso." 

 Logam o olhou.

  "E não devo? Sempre ver o lado bom das coisas? É o que dizem para a gente." 

  "Nem sempre. As vezes é melhor não aceitar tudo que ouve."

 Logam assentiu.

  "Talvez." 

 Haskel moveu seu bispo.

  "Eu ouvi você... E agora está aqui." -Logam sorriu.

 Haskel o olhou e sorriu também.

  "Rara exceção." 

 Logam riu...

  "Quer chá, Logam?" -Sua avó perguntou.

  "Claro." -Ele piscou e olhou para a avó.

  "Eu disse que ele estava sonhando. Só sentar nessa poltrona, que bum, dorme acordado."

 Annita riu.

  "É sempre assim, senhora Musil, sempre assim."

 Eles tomaram o chá e depois a avó de Logam foi para a saleta ver o que tinha de pano para sua fantasia.

  "No que pensou?" -Ela perguntou abrindo o armário e mostrando rolos e mais rolos de tecido.

  "Annita saía. Minha roupa será um segredo." -Ele disse fechando a porta quando a garota foi passar.

  "Deixe de bobagem Logam." -Sua avó brigou.

 Os dois riram e Annita entrou.

  "Prometo não contar para ninguém." -Ela disse, sentando-se no pufe.

  "Eu pensei para você, uma fantasia nova e diferente." -Disse sua avó- "Sabe querido, ainda sobrou muito pano e forro vermelho do seu casaco, podemos usar."

  "Vou de tomate."

 Annita riu.

  "Muito engraçado. Mas eu estava pensando, e o que você acha de ir de chapeuzinho vermelho?"

  "Chapeuzinho vermelho? Isso é coisa de garota."

 Annita riu mais ainda e Logam olhou feio para ela.

  "Eu ouvi dizer por ai, que você é o chapeuzinho de Innsbruck."

  "Meu Deus!" -Logam disse horrorizado.

  "Ah querido, vai ficar tão fofinho." 

  "É, só falta achar seu lenhador e lobo mau." -Disse Annita que não parava de rir.

  "Você pode ser o lobo, e ai eu mato você." -Ele disse e depois a empurrou do pufe, mas ela continuou rindo.

  "Estou falando serio, Logam. Olhe, fazemos uma capa de lado e você vai com uma mascara preta. Vai ficar lindo."

 Logam bateu na testa e negou com a cabeça.

  "Você vai do que Annita?" 

 A menina voltou a sentar no pufe e suspirou aliviada.

  "Eu não sei ainda. Minha prima diz que me faria o vestido, mas acho que não irei de uma fantasia a certa." 

  "O Logam irá de chapeuzinho vermelho."

  "Não!" -Logam negou com a cabeça.

  "Pelo menos deixe-me fazer a capa?"

  "Se você fizer, prometo usar, mas não irei a festa fantasiado disso." 

  "Você quem sabe." -Disse sua avó sorrindo e piscando para Annita.