Sunset Valley escrita por Dawn01


Capítulo 16
A contraparte mais perfeita




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– Quem é vivo, sempre aparece... – disse Gunther. Cornélia estava entrando na cozinha, e ela quase gritou, tamanho que foi seu susto ao vê-lo!

– Ah! Gunther! Não esperava te encontrar em casa essa hora...

– E eu não esperava te encontrar em casa – respondeu Gunther, em tom sarcástico. Havia entre os dois um certo clima constrangedor – Hoje é quarta feira, e mesmo que não fosse o meu dia de folga, eu estou com horas extras – completou ele, numa tentativa de evitar que o silêncio se estabelecesse no ambiente.

– Quarta é seu dia de folga, mas você sempre trabalhou nas quartas... – disse Cornélia, tentando reprimir um sorriso involuntário (oh céus, como tudo era constrangedor!)

– Bem, eu não estou afim de trabalhar hoje... E dos assuntos do partido, eu posso terminar de resolver depois! Eu apenas quero ficar em silêncio...

– Ora essa! – disse Cornélia, intrigada – Acho que nunca te vi sentado aí sem o seu fiel notebook...

– É, eu não estou fazendo nada... Eu nem sei bem porque estou sentado aqui, com tantos lugares mais confortáveis nessa casa! Acho que eu apenas gosto da iluminação dessa cozinha... Sempre lembro da minha mãe fazendo sanduíche grelhado de queijo para o brunch... Me dá certa nostalgia...

– Reticências... – disse Cornélia, dessa vez, sem conseguir impedir o sorriso!

–Muitas reticências! – Gunther sorriu também – Ah, bons tempos! Saudades dessas nossas piadas internas...

– Reticências de novo! – os dois acabaram rindo.

– Gosto do jeito que você pronuncia essa palavra... – disse Gunther – Ei, eu não estou entendendo mais nada, nós não estávamos brigados?! –

– É... Acho que não precisa também ser assim... – houve uma breve pausa – Talvez eu tenha exagerado na minha raiva... Acho que podemos ser amigos!

– Oh, droga, eu ia falar reticências de novo! – disse Gunther – Acho que por isso estamos casados por tantos anos, não consigo ficar com raiva de você por muito tempo! – ele então parou e pensou no que Cornélia havia dito.

Silêncio. Havia certa nostalgia nos olhos dos dois... Os tempos em que os dois conversavam sobre personagens históricos, filmes de terror indie, bandas de rock gótico... Os tempos que os dois iam juntos a concertos de música clássica (pois Lolita, a noiva de Gunther, nunca podia ir, dizia que tinha que estudar, mas talvez ela estivesse saindo com o seu amante professor às escondidas...), os tempos aonde a amizade era (aparentemente) despretensiosa e sincera, isto é, antes de ser corrompida pelo sexo e pela gravidez não planejada!

–Então... Eu tenho uma garrafa de vinho Necteaux que a Nancy comprou em Champs Les Sims e me deu de presente... – disse Gunther, já se abaixando para pegar a garrafa no armário de uma das bancadas.

– Primeiramente: Nancy Landgraab?! Ela definitivamente quer te bajular para ver se fica com o seu cargo assim que você sair! – Cornélia revirou os olhos, num sinal de desdém.

– Pois é...

– Segundamente: Essa estratégia é velha e não pense que eu vou cair de novo...

– Não posso mais simplesmente querer tomar um bom vinho?! – disse Gunther, abrindo um sorriso irônico – Tudo bem, eu não estava pensando em nada... E ei, eu nunca te obriguei a nada!

– Não, nunca me obrigou... Mas eu errei, na verdade, isto nunca esteve certo! Eu amo o Mortimer, ele certamente é um excelente menino, e nossa, como ele melhorou nesses últimos tempos! Mas entenda...

–“Ele melhorou”... Você quis dizer quanto à personalidade introvertida, certo? Você mesma não me culpava tanto pela melancolia de nosso filho?! – interrompeu Gunther.

– Sim... Mas não foi por que você deixou de ser ausente, e sim porque ele começou a andar com a menina Bachelor!

–Mas então, o que você quer que eu faça?! – Gunther disse, enquanto servia o vinho – O que você QUERIA QUE EU FIZESSE?! Eu faço a minha parte, vocês nunca podem reclamar que eu deixo vocês passando necessidades!

– O filho é seu também, não é? Eu nem sempre posso sair com ele, ajudar ele com a lição de casa...

– ...Por que você prefere ficar vigiando as empregadas, às vezes até fazendo o trabalho que elas são PAGAS para fazer!

– Mas eu não confio nelas tanto quanto confio em mim! – disse Cornélia – Eu sou muito perfeccionista, você sabe disso!

– Que você tem T.O.C.?! Claro que sei!

– Como se você não exagerasse também no trabalho! – Cornélia bebeu todo o vinho da taça de uma só vez!

– Eu gosto de ser o melhor no que eu faço! - Gunther fez uma breve pausa, e encheu de novo sua taça – Escuta... O Mortimer é menino inteligente e autossuficiente, e ele me parece estar bem do jeito que está, isso que importa!

– Realmente... – Cornélia assentiu com a cabeça, o álcool já começava a fazer efeito – Aquela menina Bella trouxe muita alegria para a vida dele!

– Ela é uma menina bem educada e com belos olhos... Certamente, ficará muito bonita quando crescer...

– Eu acho que sei o que você está insinuando... – Cornélia suspirou, e havia certo peso nesse seu suspiro – Eles são bem mais jovens, mas realmente não tem como não ver semelhanças... Apesar de que talvez não seja o caso, há muito ainda pela frente!

Eles ficaram um tempo em silêncio, apenas tomando o vinho; quase que finalizaram a garrafa nesse meio tempo!

Então... Espero que você tenha entendido melhor o motivo de... Tudo isso. E espero também contar com a sua concessão para realizar a festa de lançamento da candidatura aqui em casa...

– Tanto faz – respondeu Cornélia – Eu pretendo morar com a Agnes por algum tempo, mas não vejo nenhum problema em te ajudar, afinal, isso é importante para você e eu quero que você seja feliz!

– Isso tudo é vontade de se divorciar? Sério mesmo que você não quer me dar nenhuma outra chance?!

Cornélia não respondeu. Apenas colocou mais vinho em sua taça.

– O Mortimer está bem, você não tem raiva de mim e eu não tenho raiva de você... – Gunther coçava a cabeça, tentando entender – Eu sei que eu estou em falta com você, mas eu realmente não queria que nós separássemos! – ele faz uma breve pausa – Eu sei que você não é muito chegada a galanteios excessivos, e isso de certa forma me deixa um pouco sem saber exatamente o que fazer para te dar a atenção que você gostaria de receber... Mas eu realmente prezo muito por seu companheirismo, e sempre fui grato por ter encontrado uma mulher tão decente e admirável! Não consigo, simplesmente, imaginar uma contraparte mais perfeita, ainda que sejam muitos os problemas... Foi um imprevisto, mas não foi tão imprevisto assim, pois sempre me senti muita atração por você, mesmo quando ainda estava comprometido...

– Mas se ela não morresse, você ainda estaria com ela... – falou Cornélia. Ela parecia querer chorar, mas estava se contendo!

– Se ela não morresse e não tivesse me traído... Mas éramos pessoas muito diferentes, talvez não tivesse dado certo por tanto tempo... Não gosto muito de falar sobre isso... A questão é o que aconteceu, e não o que teria acontecido!

– É apenas... Eu não sei... – Cornélia parecia tentar encontrar alguma palavra. Nesse momento, Gunther a abraçara, beijando o canto de sua testa. Ela deixou escapar algumas lágrimas – Tudo parece tão errado... Aconteceu, mas parece que não era para ter acontecido... Eu nunca nem fiz questão de casar, a Agnes é que sempre quis encontrar sua alma gêmea... – Gunther enxugou os olhos dela – E acabou que ela está sozinha, viúva, e eu estou casada, com um filho... Um filho fruto de uma gravidez acidental e sofrida, mas um filho, nascido da mistura de nossos genes, e que muito me orgulha por sua inteligência e bom caráter!

Algumas coisas simplesmente acontecem... – Gunther não sabia bem o que dizer. Os dois ficaram abraçados por um tempo, em silêncio, até que ele então falou:

– Eu também deveria ter sido mais empático nesse ponto... Talvez transferir as cinzas dela para algum outro local seja o certo a se fazer! Sei que você nunca comentou nada, mas eu imagino que isto te incomode de alguma forma...

– Ah! Você não precisa fazer isso, quero dizer... – disse Cornélia

– Não, eu acho que é preciso! – Gunther interrompeu – Você tem ciúmes, e eu entendo seus motivos... Ei, que tal decidirmos isso melhor quando estivermos sóbrios?!

Cornélia assentiu, e Gunther de repente parecia tão bonito aos seus olhos! Eles se abraçaram; depois, ela passou a mão pelo cabelo longo e liso dele, e ele tirou a franja do rosto dela, beijando-a. Talvez por efeito do álcool, ela acabou não hesitando quando ele pegou sua mão e a levou a até o quarto. Ele definitivamente sabia como convencê-la a fazer a coisas, e aquela noite não poderia ter acabado de um jeito diferente!


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Notas finais do capítulo

Perdão pelo atraso, mas espero que vocês tenham gostado mesmo assim! Talvez a história não seja finalizada no prazo planejado, mas ela certamente será finalizada :) Aguardem... E também cometem, recomendem, favoritem!



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