Arregalei os olhos ao ler a mensagem. Guardei o celular rapidamente em minha bolsa, e resolvi parar para beber água antes de ver Hanna. Na verdade, eu só queria pensar e enrolar um pouco. Ando até o bebedouro mais próximo e pego um copo.

Ao encher o copo de água, senti meu celular vibrar. Temi ser “A” incomodando-me novamente, mas mesmo assim o peguei.

“Cadê você?

– Han”

Suspirei de alívio, e respondi:

“Estou entrando no hospital nesse momento, Sra. Desespero. Espera mais um pouquinho.

– Em”

Esperei ela responder, mas como não o fez, resolvi terminar minha água e seguir meu caminho. Enquanto bebia a água, pensei na ameaça de “A”.

Tenho certeza de que “A” não está pra brincadeira. Acho melhor falar para Hanna. Mas e se ela não quiser ser mais minha amiga? O que eu faço agora?! E em um segundo o celular vibrou e apitou novamente.

“Tick Tock. O tempo está passando, é melhor se apressar, mentirosinha. Você tem meia hora.

–A”

Após terminar minha água, arrumei minha bolsa no ombro e segui meu rumo, determinada a contar à Hanna, por puro medo da escola toda souber. Mas e se eu contar e perder Hanna de amiga?!

“Concentre-se, Emily.” Dizia a si mesma. “Se Hanna não te aceitar como você realmente é, ela não é uma amiga de verdade, simples.” Suspirou de nervoso e apertou o passo até o balcão da recepcionista da ala de internação.

– Com licença! – disse à uma senhora baixinha de cabelos loiros quase brancos que usava óculos, uma calça jeans e um jaleco branco. – Estou procurando o quarto de Ashley Marin. Poderia informar-me onde fica?

A senhora respondeu e segui até o quarto.

Antes de entrar no quarto, respirei fundo e fechei os olhos com força. Abri-os e dei de cara com Hanna olhando-me confusa.

– O que diabos está fazendo? – perguntou.

– Hãn... Rezando. – respondeu ela. Hanna olhou para ela erguendo a sobrancelha. – Pela sua mãe.

– Ceerto... – ela disse, dando o assunto por encerrado.

– Enfim, o que aconteceu com sua mãe? – perguntei. Ela me contou toda a história e eu fiquei pasma. – Você sabe o porquê dela ter feito isso?

Hanna assentiu.

– Está mal pelo divórcio de nossos pais. – ela disse.

Abracei-a, passando confiança a ela, mas logo soltei.

Ela olhou-me confusa.

– O que foi? – perguntou.

– Preciso lhe contar algo. – comecei.

– Vá em frente. – ela me olhou curiosamente.

Respirei fundo e arrumei-me no sofá. Umedeci os lábios e comecei:

– Bem, o que eu vou te contar já tem algum tempo que queria contar-lhes, mas não tive coragem. – disse. – Bem, Hanna...

Mas antes que eu começasse, meu celular apitou... Uma, duas, três, quatro, cinco, seis vezes, sete vezes, oito vezes, nove vezes, dez vezes! Isso significa dez mensagens! E ao mesmo tempo! Olhei para Hanna pedindo desculpa e percebi que o décimo toque veio do celular dela.

“O tempo acabou, Liar. Já se passaram meia hora. Fique mais atenta da próxima vez.

–A”

“POR QUE DIABOS EU RECEBI UM VÍDEO DESSE TAL ‘A’ QUE MOSTRA VOCÊ ME BEIJANDO, E BEIJANDO A VADIA DA MAYA?! EU DISSE PARA VOCÊ NÃO CONTAR PARA NINGUÉM, SUA VAGABUNDA! ONDE VOCÊ TÁ?!

– Ali”

“Hey, Em! Está tudo bem você ser gay, não julgarei você. Acho até bom termos descoberto, porque assim temos um tempo para assimilar isso. Estou do seu lado, Em. Para o que der e vier. Depois falo direito contigo.

– Spence”

“Oi, Em. ‘A’ me mandou uma mensagem com um vídeo de você beijando a Alison e a Maya. Achei chato ‘A’ nos contar ao invés de você, mas te apoio totalmente. Beijos.

– Aria”

“Caramba, não sabia que a Alison tinha tanta ciúme de mim assim, Emily. Mande-a relaxar e parar de dizer ao mundo que você é gay. Eu paro de andar com você se ela quizer.

– Maya”

“Ai, Emily, se quer fazer escândalo pendura uma melancia no pescoço. Isso não é novidade para ninguém do colégio, honey.

– Número desconhecido”

“EMILY FIELDS, VENHA PARA CASA IMEDIATAMENTE, TEREMOS UMA CONVERSA MUITO SÉRIA.

– Mãe”

“Filha, o quê que é isso?

– Pai”

“Sorteio dois iPhones, um Tablet e um iMa, mande para este número ‘Popcorn’ e seja sorteada!

– Número desconhecido”

Depois que terminei de ler, estava chocada. Olhei para Hanna, e percebi que ela recebeu o mesmo sms que “A” enviou para o resto da cidade.

Hanna parecia pasma e congelada. Pareceu ver que eu estava assustada e com medo de sua reação e forçou um sorriso.

– Bem... – ela disse. – Pelo menos não está apaixonada por mim, né?

Arregalei os olhos.

– Não! Claro que não! – disse. Ela riu e eu a acompanhei, às vezes rir é melhor pra alma. Parei de rir e virei-me para ela. – Mas... O que você pensa sobre isso?

Hanna parou de rir e virou-se para mim.

– Bem, eu acho meio estranho não termos percebido, e você também não ter contado... – começou. – Mas, tirando isso, acho que tudo bem.

Abri um sorriso e a abracei, até lembrar de responder as mensagens. Soltei-a e peguei o celular.

“No hospital, vendo a mãe de Hanna, mas vou para casa agorinha. E para de surtar.

– Em”

“Ah, Spencer! É tão bom ouvir isso. Obrigada pelo suporte. Sim, depois nos falamos.

– Em”

“Hey, Aria! Desculpe não ter contado antes, fiquei com medo de vocês não quererem ser mais minhas amigas. Mas obrigada por me apoiar.

– Em”

“Maya, não vou parar de andar com você por causa da Alison. E não foi ela que lhe enviou esse vídeo, foi uma pessoa anônima.

– Em”

“Quem é você?

– Emily”

“Já estou indo, mãe. Aí conversamos direito.

– Emily”

“Ai, pai, depois de explico, mas por favor, pense sobre isso e tente me apoiar. Eu só quero ser eu mesma.

– Emily”

“Fuck off

– Emily”

Despedi-me de Hanna e correu para casa. Ao chegar a minha casa, minha mãe encontrava-se sentada no sofá sem se mexer, com o celular em cima da mesa, mostrando um vídeo. Minha mãe percebeu minha presença e virou-se com um aspecto voraz.

– Temos que conversar. – disse. – E eu quero a verdade.

Ouvi o celular apitar e o peguei.

“Se ferrou. Da próxima, aprende a ser mais rápida, pobre Emily. XOXO,

–A”