Domingo é o único dia que Percy não aparece por aqui, segundo a minha vó. Ele e a família dele fazem um almoço para se reunir e conversar. Mas eu tinha certeza de que ele preferia estar aqui, conosco, do que lá.

De um dia para o outro ele se tornou meu melhor amigo. É difícil explicar, mas, logo que ele me mostrou o esconderijo eu já senti que nós seríamos bons amigos; não só porque ele ficaria o dia inteiro aqui em casa, mas, porque nós vamos cuidar um do outro, como ele fez me dando um lugar para fugir quando eu estivesse com problemas.

Já era uma hora da tarde e eu e minha vó estávamos sentadas na varanda. O sol dava-nos uma luz ambiente e confortável, e o vento estava fresco. Minha vó estava fazendo tricô e eu estava lendo um livro que eu comprara quando estava vindo para Nashville.

Minha mãe havia me ligado logo cedo, dizendo que as coisas estavam ótimas e que ela já estava com saudade. Mas eu só sentia saudades dela - e do meu padrasto também -, e é só. Ninguém de lá fazia falta para mim.

Amanhã seria o meu grande dia. Primeiro dia de aula, fazendo novas amizades, começando mais um ano cheio de problemas. Só esperava que Percy não tivesse vergonha de mim.

Meu vô estacionou sua caminhonete Chevy na frente de casa e trouxe uma sacolinha branca, aquelas de mercados.

Eram linhas para minha vó poder tricotar, e ela pareceu ficar muito feliz com o presente.

Eu admirava muito eles. Quero dizer, não é nada fácil manter um relacionamento de 1 ano. Imagina um de 45? Mas eu acredito que eles não estão juntos só por causa de nós, mas sim por causa deles. Eles nunca conseguiriam viver separados por mais de uma semana - ou até menos.

-Annie, meu bem, espero que você não se esqueça de que amanhã te levo para a escola - começou meu vô, sentando-se do lado da minha vó.

-Não precisa vô - eu disse, com um sorriso no rosto. Ele é a melhor pessoa do mundo, não tem como negar. - Obrigada.

-Tem certeza? - ele insistiu.

-Absoluta.

-Percy vai acompanhá-la, Ethan - disse minha vó, cutucando-o com o cotovelo, e me lançando um olhar malicioso.

-Vó! - eu disse, com vergonha.

-Sério? - disse meu vô, com um sorriso no rosto.

-Nós somos amigos, só isso - eu esclareci. Mas algo me dizia que eles não estavam acreditando em mim.

-Ele vai ter que vir conversar comigo primeiro se ele quiser namorar com a minha netinha - disse meu vô, se dirigindo para a minha vó.

-Ele é um rapaz bom! Annie é sortuda - disse minha vó, sorrindo para mim.

-Nós não estamos namorando, gente - eu falei quase desesperada. Imagina se isso cai nos ouvidos dele?

Depois de um pouco mais de insistência, consegui persuadi-los.

Minha vó foi preparar o nosso café da tarde e eu e o meu vô fomos assistir televisão. Mas nós acabamos desistindo, quando nós percebemos que nada de bom iria passar na televisão àquela hora, naquele dia.

Então ele colocou uma fita de um dos jogos do time de futebol favorito dele e eu fui à cozinha, ajudar a minha vó a preparar as coisas. Nós comemos bolo de laranja e chá mate, e, logo depois de terminar, eu fui deitar um pouco.

Depois de ficar minutos olhando para o teto, eu acabei adormecendo. Tive um sonho ótimo.

Eu e Percy estávamos passeando pela baía de uma praia linda. Ele estava segurando a minha mão, e me dizia coisas tão meigas que são impossíveis de descrever.

-Eu amo você - ele disse, e depois ele me beijou.

Antes que eu pudesse retribuir, comecei a ouvir uma voz.

-PERCY - eu exclamei. Será que eu havia falado o nome dele enquanto eu estava sonhado? Ou feito biquinho? Ou, pior, babado?

-Ver você sonhando é engraçado - ele disse.

-Sério - eu disse, sentando na cama e arrumando o meu cabelo.

-Sobre o quê você estava sonhando? - ele perguntou, sentando-se ao meu lado.

-Não lembro - eu menti.

-Parecia legal, pelas expressões que você fazia - então ele riu um pouco.

Eu fiz uma careta para ele, que acabou retribuindo.

Mas a questão é: porque eu havia sonhado com ele?

-O que você está fazendo aqui? Pensei que você estaria em um almoço em família - eu disse, tentando desviar o assunto.

-Annie já é cinco horas da tarde.

Ele me chamou de Annie. Meu coração pulou, e eu não pude evitar ficar feliz.

-Ah tá - eu disse, tentando disfarçar minha felicidade.

-Então, o que nós fazemos agora? - disse ele.

-Vamos andar um pouco - e então ele concordou.

Nós ficamos andando pelo quarteirão durante meia hora. Ele falou sobre o colégio, e eu começava a me sentir mais nervosa a cada instante. É péssimo ser a aluna nova. Mas, a minha sorte é que o Percy é da mesma série que eu.

-Espero que você não tenha vergonha de andar comigo – ele disse, quando terminou de falar sobre as mesas do pátio e a capa das apostilas.

-Vergonha de você? Porque eu teria? - eu estava intrigada. Ele tinha o perfil de garoto popular.

-Porque eu vou fazer de tudo pra você passar vergonha – ele me olhou, com um sorriso bobo no rosto.

Começamos a rir e então ele começou a falar sobre as pessoas que eu iria andar, caso quisesse andar com ele. Elas pareciam legais, pelo que ele dizia, mas será que elas conseguiriam me aceitar? Se elas fossem um terço do que o Percy é comigo com certeza eu ia estar boa acompanhada.

Ele me levou até a minha casa, prometendo passar ás 6h45 amanhã. Eu assenti um pouco nervosa, mas começava a me sentir confiante.