Valerie não estava tendo muitas dificuldades para se adaptar, afinal. Ela tinha aulas das nove da manhã ás duas da tarde. No seu tempo livre, podia fazer o que quisesse. Ela geralmente ficava fazendo os deveres ou andava por aí com Bethany - que ela descobriu depois que era o nome da garota do dormitório.

 - Não é muito diferente dos outros colégios normais. – disse Bethany certo dia, no café da manhã. – A única coisa que muda é que você precisa aguentar as mesmas pessoas e o mesmo lugar o dia todo. Quer um biscoito?

 O café da manhã era a única hora do dia em que Valerie via suas irmãs, pois todas as séries ficavam juntas. Pietra parecia bem, sentada conversando com seus amiguinhos na mesa. Karinne estava encarando seu prato em silêncio ao lado de um menino estranho de cabelos escuros demais e pele clara demais que usava fones de ouvido ridiculamente grandes.

 Os dois pareciam um casal de emos revoltados.

 Quando ela olhou para Karinne tentando chamar sua atenção, o garoto a encarou com um olhar tão assustadoramente frio que ela baixou os olhos na mesma hora.

 - Se eu fosse você, - Bethany falou com a boca cheia – falaria pra sua irmã não chegar tão perto do Luke Bizarro.

 - Luke Bizarro?

 - É, aquele branquelo. – ela apontou para o garoto.

 - O que tem ele?

 - Bem, ninguém sabe o nome dele de verdade, mas chamam ele de Luke Bizarro. Ninguém sabe por onde ele anda, ele quase nunca aparece nas aulas. Ele também sempre some de noite.

 - Sério?

 - Bem, é o que dizem. Eu já volto.

 Antes que Valerie pudesse perguntar qualquer outra coisa, Bethany já tinha pulado da cadeira para buscar mais empadinhas. Valerie nunca viu uma pessoa tão magra comer tanto como Bethany. A garota era um poço sem fundo.

  Estava quase levantando também quando um garoto se aproximou e sentou-se do outro lado da mesa. Ele era loiro e tinha muitas sardas no nariz, seus olhos eram claros e podia-se dizer que ele era muito bonito.

 - Ei! – Ele falou enquanto cruzava os braços sobre a mesa e olhava para ela.

 - Oi. – Valerie respondeu sorrindo. – Quem é você?

 - Pode me chamar de Leo. – ele beijou a mão dela em um gesto espontâneo – Ao seu dispor.

 Valerie foi realmente pega de surpresa. Antes que ela pudesse se descongelar e falar alguma coisa, ele continuou:

 - Se me permite saber, você é por acaso da família Bordallo?

 - Sou. – ela respondeu. – Sou Valerie Bordallo.

 Era simplesmente tão irritante como todas as pessoas aqui pareciam querer lembra-la da tragédia horrível que destruíra sua família há apenas alguns meses. Quer dizer, somos todos órfãos e estamos todos na mesma, mas será que eles não podiam calar a boca?

 - Uau. – ele riu – você não parece o tipo heroico que escapa de um incêndio, não é? Bom, mas a sua irmã caladona é pior, então eu não duvido de nada.

 Nesse momento, Valerie queria mesmo dar um soco naquele garoto ali mesmo e quebrar em pedaços aquele rosto de anjinho.

 - Bem, você também não parecia um completo idiota até abrir a boca. As aparências enganam, não é? – ela retrucou.

 Mas Leo apenas riu.

 - Completo idiota? Mas que tipo de ofensa foi essa? Vamos lá, Valéria, você consegue fazer melhor que isso!

 “Valéria” foi demais. O momento de hesitação que ela teve antes de decidir quebrar o nariz daquele menino foi sua desvantagem.

 Leo agarrou seu braço com força e chegou bem perto dela.

 - Opa! Nem pense nisso. – ele olhou para o bolinho que estava no prato de Valerie. - Você não vai comer aquilo, vai?

 Ele pegou o bolinho e deu uma mordida.

 - A gente se vê, Valéria!

 Valerie ainda estava com os punhos cerrados quando Bethany voltou.

 - Nossa, não tem nada melhor do que essas empadas! Quer uma?- Valerie sacudiu a cabeça - Ei, tudo bem com você?

 - Tudo, só tinha um garoto me irritando.

 - Aham. Te irritando, sei. – Bethany riu.

 Valerie olhou para ela irritada.

 - Calma! Não precisa fazer essa cara, é brincadeira! Quem era o chato?

 - Um tal de Leo.

 Bethany parou de repente e olhou Valerie bem nos olhos. Ela falou devagar como se quisesse fixar a ideia na cabeça dela.

 - Valerie, não tem nenhum Leo aqui.

 - Talvez você não conheça, é um loiro, com umas...

 - Valerie! – ela fez uma careta – Não tem nenhum Leo aqui, entendeu?

 - Se você diz...

 - Deve ter sido outro garoto. – Ela disse com uma expressão estranha- Ei, a gente se fala depois, eu tenho umas lições pra terminar, ok?

 Bethany levantou-se da mesa e andou pelo mesmo caminho que o menino se fora.

 Sem saber exatamente o porquê, Valerie decidiu segui-la.