Ferris bebia um copo de água lentamente. Ele estava sentado no banco da recepção.

– Está mais calmo? – perguntou Santiago com a voz ofegante. Ele e o Nicolas correram atrás do Ferris por uns oito quarteirões. Depois que Ferris escutou a nossa conversa ele se estabilizou e saiu correndo.

– Você corre pra caramba garoto! – admitiu Nicolas também ofegante.

– Então não foi você que matou a minha irmã? Nem a tia Ruth e a Margaret? – perguntou Ferris.

– Não fui eu! – respondeu Nicolas – Foi o seu pai!

– Por que ele faria uma coisa dessas? – perguntou meu filho com o rosto triste – Ele amava a Natasha mais do que eu e a Amanda!

– Ele tentou atirar no Nicolas, mas a Natasha se colocou na frente levando o tiro no lugar dele. – respondi.

– Por que ele queria atirar no Nicolas? – Ferris tinha muitas perguntas.

– Como podemos explicar? – começou Santiago – Sua mãe tem um caso com o pai do Nicolas, meu sobrinho.

– Isso não explica o fato de ele ter uma arma! – continuou Ferris. Ele parecia não se incomodar com o fato de eu ter traído o pai dele.

– Querido, depois a mamãe lhe explica tudo direitinho! – falei fazendo um cafuné na sua cabeça.

– Ok! – disse ele com a voz desanimada. Guilhermina estava sentada ao seu lado. Ela o puxou para perto e ele apoiou a cabeça no ombro dela. Ela fez o mesmo.

Depois que Santiago e Nicolas estavam mais relaxados jantamos.

Santiago deu ordens para um dos funcionários fecharem o restaurante no horário de sempre. Saímos de lá. Caminhamos até a casa da família Maciel. Nicolas já estava para abrir o portão.

– Liz – começou Santiago – por mais que você queira matar a Eleonora, deve lembrar que está grávida! Então se acalme!

Entramos. Na sala de estar eu vi a pior visão de toda minha vida: Jonas e Eleonora se beijando.

Senti como se uma lâmina em brasa tivesse perfurado meu coração. Segurei forte as lágrimas que teimavam em descer.

– É melhor conversarmos outro dia. – sugeriu Nicolas. Balancei a cabeça negativamente e respirei fundo.

Eleonora beijava, ou melhor, engolia o Jonas com desejo. Santiago fingiu um incomodo na garganta para chamar a atenção deles. Os dois olharam para nós. Aquela vadia infernal arregalou os olhos surpresa em me ver.

– Você de novo. – disse Jonas passando a mão esquerda nos cabelos – Tio por que a trouxe aqui?

– Jonas, precisamos esclarecer certas coisas! – disse Santiago – É sério!

– Não há nada a ser esclarecido! – pronunciou Eleonora com sua voz irritante. Ela ficou de pé e veio até nós – Eu te conheço? – perguntou a mim. Meu sangue ferveu.

– Bom - comecei – agora você vai conhecer a minha mão! – rapidamente, dei-lhe um tapa na cara. O atrito entre a minha mão e o seu rosto fez ela se afastar. AQUILO FOI ÓTIMO!

Jonas se pôs de pé rapidamente. Puxou Eleonora para trás dele, protegendo a.

– O que pensa que está fazendo? Sua maluca. – disse ele.

– Jonas, - começou Santiago – a Eleonora não é quem você pensa que é! Essa é Elizabeth. Vocês dois namoraram quando eram adolescentes e se gostam até hoje! Tente lembrar. Ela é a mulher que você ama que começa com a letra E!

– É MENTIRA! – choramingou Eleonora – Amor não acredite neles!

– Sua puta pare de mentir! – falei sem me importar de ter crianças ali.

– Quem é você para chamar minha noiva assim? – perguntou Jonas.

– NOIVA? – de novo uma lâmina em brasa no meu coração.

– Exato – disse Eleonora abraçando Jonas por trás – Jonas acabou de me pedir em noivado e eu aceitei.

– Pai a última coisa que o senhor vai querer é ficar com essa aí. – falou Nicolas.

– Nicolas, eu pensei que você iria me apoiar! – disse Eleonora incrédula.

– Pois é eu ia fazer isso! Mas é errado. – Nicolas olhou para Jonas – Pai, o senhor ama é a Elizabeth. Só menti dizendo que era a Eleonora porque eu estava com ódio da Liz e achei que o senhor fosse ficar melhor longe dela. Mas ela sofre muito por estar longe de você. E tem mais uma coisa. – tinha um baú perto do sofá. Nicolas o abriu e tirou um papel todo dobrado e um pote de vidro. Desdobrou o papel – Olha pai! – era uma foto minha e do Jonas quando éramos mais jovens – Esse é o senhor e essa é a Liz. O senhor colocava isso dentro do seu guarda-roupa, mas eu tirei porque não queria que o senhor lembrasse-se dela. E nesse pote de dinheiro que tem escrito Elizabeth, o senhor guarda dinheiro para ir busca-la nos Estados Unidos.

– Essa história não faz sentido! – disse Jonas – Eu não a conheço!

– E como eu saberia que você adora filmes de ação, mas odeia musicais porque as músicas sempre ficam na sua cabeça? – falei me aproximando dele – Como saberia que a sua comida preferida é hambúrguer com uma grande porção de batata frita? Como saberia que o seu pai morreu num acidente de carro? – fiquei cara a cara com ele – Você adora quando eu faço massagem nas suas costas. A gente se conheceu em uma pequena lanchonete em que você trabalhava de garçom. Você derrubou milk-shake no meu namorado que se chama Erick Gomes. Depois de um tempo eu terminei com Erick e nós dois começamos a namorar. Compramos uma bicicleta juntos e você me buscava na escola e me deixava em casa todo dia, mas saía logo para não brigar com os meus pais. E passávamos a madrugada conversando por mensagem de celular.

Ele ficou pensativo. Eleonora e eu ficamos nos encarando. Eu queria poder queimar aquele cabelo brilhoso.

– Tio, - começou Jonas – você contou a ela sobre os meus gostos de filme e comida e sobre o meu pai?

Bufei. Eleonora sorriu.

– E como você explica a foto? – perguntou Santiago incrédulo.

– Deve ser o Nicolas! – falou Eleonora – Vocês são tão parecidos! E essa doida deve ter inventado todas essa histórias de vocês dois, porque isso nunca aconteceu.

– Eleonora sua... – começou Santiago, mas eu o impedi pondo a mão no seu ombro.

– Já chega por hoje! – falei. Eu estava cansada, fisicamente e emocionalmente – Ferris, vamos voltar para o hotel.

– Tchau Guilhermina! – disse ele.

– Tchau Ferris! – disse ela. Os dois apertaram as mãos.

[...]

Depois de ter tomado um bom banho, me deitei na cama. Ferris já estava dormindo na outra me enterrei embaixo do edredom.

– Cadê esse maldito pedido que não chega! – reclamou Erick. Isso foi na época que éramos adolescentes e namorávamos.

– Calma Erick! – falei.

– Calma nada! Já faz séculos que eu espero por esse pedido!

Estávamos numa lanchonete. Olhei meu relógio de pulso.

– Só faz cinco minutos!

– Que seja.

Apareceu um rapaz alto e moreno. Seu cabelo preto estava quase na altura do queixo. Ele segurava uma bandeja que tinha um milk-shake de morango para mim, um suco de laranja para o Erick e um sanduíche para cada um de nós.

– ATÉ QUE ENFIM! – disse Erick.

– Só passaram cinco minutos disse o garçom. – disse o garçom. Eu sorri com esse comentário.

Dois garotos de talvez dez anos passavam correndo por entre as mesas. Um deles bateu no garçom que nos atendia. O garçom se desequilibrou. Erick ficou todo melado de milk-shake e um pouco de suco caiu em mim.

– Seu inútil! Olha o que você fez seu palerma! – rosnou Erick.

– Erick, foi um acidente. – tentei acalmá-lo.

– Desculpa! – disse o garçom.

– Desculpa uma ova! Eu devia fazer com que você fosse demitido...

– Erick chega! Vamos embora! – falei.

Ele saiu chutando as cadeiras. Olhei para o garçom.

– É mesmo namorada dele? – perguntou.

– Sou.

– Tenho pena de você!

Ri de canto. Ele estendeu a mão para mim.

– Eu sou Jonas.

– Eu sou Elizabeth!

Apertamos nossas mãos.

– O banheiro feminino é naquela direção. – ele apontou para o oeste da lanchonete.

– Obrigado. – falei.

Acordei.

Tudo começou com um milk-shake de morango!