Ferris, Nicolas e eu tomávamos café da manhã. Nicolas tinha trazido pão, eu comprei café.

– Mãe, - começou Ferris – se a senhora ficar com o Jonathan...

– Jonas. – corrigi.

– Isso fez de mim... Irmão do Nicolas?

– Acho que sim. – respondeu Nicolas.

– Então você não vai poder ficar com a Amanda! – terminou Ferris.

Nicolas quase engasgou.

– Por que não? – perguntou perplexo.

– Porque vocês vão ser irmãos também e incesto não é permitido! – respondeu simplesmente.

Ri um pouco.

– Mas não somos irmãos de sangue. – explicou Nicolas – E eu a amo!

– Ela também é louquinha por você! – disse Ferris – Eu já li o diário da Amanda. – Nicolas e eu arregalamos os olhos – Ah, o Nicolas é isso! O Nicolas é aquilo! Ah, o Nicolas me beijou! – ele falou afinando a voz – Li o da Natasha também! – sorriu maliciosamente para o Nicolas – Você é rapidinho né? Depois de um mês de namoro você não levou minha irmã para cama, a levou para a areia da praia.

– FERRIS! – falei lentamente.

– E a propósito – disse Ferris – a Amanda também sabe que você desvirginou nossa irmã na praia.

Dessa vez Nicolas engasgou. Dei tapinhas nas costas dele.

– O QUE? AGORA É QUE ELA NÃO VAI ME QUERER MESMO!

– Qualquer coisa, leve a para praia. – brincou Ferris.

– Já chega! – falei.

Nicolas deitou na cama do Ferris e ficou encarando o teto. E agora? O que eu digo a ela? Que tipo de garota vai querer um cara que teve relações com a irmã dela na praia? Perguntava ele a si mesmo.

Como será que a Amanda estava? Bem, eu espero! E se o Erick já tiver voltado pra casa? Preciso fazer com que o Jonas recupere logo a memória.

– Nicolas – sentei ao seu lado – o que faremos para fazer seu pai recuperar o quanto antes. Eu não posso ficar aqui para sempre e... – não consegui terminar.

– Que foi? – perguntou se sentando.

– Eu tenho medo dele acabar gostando da Eleonora. De verdade.

– Acho difícil isso acontecer!

– Como pode ter tanta certeza?

– O pai consegue ser ele mesmo quando está com você. Com a Eleonora ele fica mal-humorado, se zanga com qualquer coisa, fica respondão e ignorante. Eu acho que a única coisa que eles tem um pelo outro é ilusão.

– Mas ela realmente gosta do seu pai.

– Se ela gostasse mesmo dele, faria ele se apaixonar por ela sabendo quem ela é.

Ficamos calados. Ferris brincava com um vídeo game portátil vermelho.

– Você não tem algo que faça o pai lembrar de você?

– Tipo o que?

– Sei lá. Uma música que vocês costumavam ouvir juntos, um filme, uma roupa que ele gosta quando você usa... Um presente que ele te deu, algo assim.

Uma lâmpada se acendeu em cima da minha cabeça.

– Nicolas você é um gênio! – falei.

– Eu sei! – falou convencido.

Peguei minha bolsa vermelha.

– Tomara que esteja aqui dentro. – disse a mim mesma.

– O que? – perguntou Nicolas curioso.

Tirei tudo que tinha dentro da bolsa. Batom, protetor solar, identidade, passaporte, tudo. Abri um dos bolsos de dentro.

– Achei. – falei animada.

– Fala logo o que é! – disse Nicolas.

Retirei daquele bolso um anel de aço. Nele estava preso uma corrente.

– Foi o Jonas que me deu! Ele botou a corrente do pai dele para o anel ficar perto do meu coração. – coloquei no meu pescoço.

– Liz, - disse Nicolas – você sim é um gênio!

[...]

Chegamos ao restaurante. Nicolas disse que não poderia fiar comigo porque ele tinha que ir fazer uma prova. Avistei Santiago.

– Olá! – disse ele – Está melhor?

– Sim. E como está o Jonas?

– Está furioso com tudo e com todos. O que faremos agora?

– Tá vendo esse anel? – puxei o objeto para mais perto – Ele me deu antes de eu voltar para os Estados Unidos da última vez que eu estive aqui. Será que ele vai lembrar?

– Tomara que lembre.

– E eu preciso voltar logo para casa. Amanda está...

– Não fale em Amanda! – disse Santiago fechando a cara – Ontem o Nicolas passou a noite inteira: Amanda não vá! Fiquei mais um pouco comigo! Eu te amo! – suas narinas bufaram. Ri um pouco.

– O que mais ele fala?

– Muitas coisas! Estou apaixonado por você! Eu vou manter você no meu coração não importa o que aconteça. Eu adoro os seus olhos azuis. Coisas assim!

– Enfim, ela está sozinha em casa e o Erick pode chegar a qualquer momento. Cadê o Jonas?

– JONAS! – gritou Santiago.

Jonas apareceu com a cara fechada e xingando no modo silencioso.

– O que ela faz aqui? – perguntou indignado – E eu não sou criança pro senhor ficar gritando comigo.

– Queremos te mostrar uma coisa. – falei.

– Não me interessa o que você vai me mostrar! Eu não te conheço!

– Você continua o mesmo Jonas de sempre! – admiti.

– Como assim?

– Gaiato, teimoso e valentão. – falei. Ele bufou.

Tirei a corrente do meu pescoço.

– Essa corrente era da sua mãe. – expliquei. Ele arregalou os olhos – Você me deu para que esse anel ficasse perto do meu coração. – cheguei mais pertinho dele – E você também me deu esse anel.

– Dei? – ele parecia pensativo e confuso.

– Sim. Eu ainda lembro o que você disse.

– E o que eu disse?

– Eu quero passar o resto da minha vida ao seu lado. Quero fazer de você a mulher mais feliz do mundo. Prometo não te magoar ou abandonar. Nunca me esquecerei de você. Eu te amo e vou te amar até o momento da minha última respiração.

Ele segurou a corrente e o anel. Admirou aquilo.

– Sinto que já vi isso. – falou. Santiago e eu arregalamos os olhos – Mas porque não consigo lembrar...

Coloquei minha mão atrás da sua nuca e puxei o para mais perto de mim.

– Eu te amo. – falei baixinho.

Juntei meus lábios nos seus. Ele não queria me corresponder mais eu o forcei. Depois de um tempinho, ele começou a me corresponder. Senti suas mãos segurando meu rosto. Será que ele já lembrava?

Escutei alguns gritinhos de histeria do Santiago.

Separamo-nos por falte de ar. Ele me olhava de forma confusa e duvidosa.

– Lembra de mim agora?

– Não. – falou calmamente.

– AH! QUAL É? – Santiago se revoltou.

– Mas eu me lembro dessa sensação. – continuou – E lembro-me desse anel e dessa corrente também.