Estávamos todos à mesa tomando nosso café da manhã: Panquecas com ovos mexidos e torradas.

- Como está a escola Amanda? – perguntou Erick. Todos nós olhamos para ele. O que será que aconteceu para Erick se interessar na escola de artes?

- Está... Muito bem. – ela falava de uma forma impressionada e surpresa – Hoje vou fazer um teste para interpretar a Julieta do drama de Shakespeare. Vamos fazer um musical.

- Estou torcendo por você! – declarou ele. Terminamos o café.

- O QUE ESTÁ ACONTECENDO COM VOCÊ? – perguntei a Erick.

- Que é?

- Desde quando você fala assim da escola de artes?

- Decide que quero estar mais próximo dos meus quatro filhos! Você deveria estar mais feliz!

- É bom o fato de você decidir isso. – bufei e tentei fingir que estava concordando.

- Você terá uma surpresa! – falou ele.

- O que é?

- Você verá... – ele olhou no relógio -... Em breve.

Ele saiu.

- Vamos crianças, ou vocês vão se atrasar! – chamei meus filhos.

O som da companhia ecoou por toda a casa.

- Eu atendo. – falou Margaret andando até a porta. Ela a abriu.

- Onde estão meus netinhos? – perguntou minha mãe entrando em casa.

- Vovó! – meus filhos foram até ela.

- E o vovô! – meu pai apareceu. Meus filhos abraçaram os avós maternos.

- Vocês esqueceram de nós! – anunciou o Sr. Augusto Gomes, pai de Erick. Ele estava acompanhado da Sra. Clarisse Gomes, minha sogra. Pegue todo o ódio que Eleonora sente por mim, multiplique por cem e o resultado é o que Clarisse sente por mim. Ela odeia o fato do filho dela ter me comprado. Ela odeia meus pais também.

- Trouxeram presentes para mim? – perguntou Ferris. Augusto chamou seu chofer e ele trouxe varias caixas decoradas. Meus pais também trouxeram presentes.

- Suzana, Rafael o que fazem aqui? – perguntei.

- Por que não nos chama de pai e mãe? – perguntou Rafael.

- Ah, não vamos brigar! – disse Suzana. – Qual é Liz? Você achava mesmo que íamos perder o nascimento do nosso quarto neto e a festa de aniversário de dezesseis anos das nossas netas?

- Ainda faltam dois meses pro aniversário das meninas e faltam muitos meses pro bebê nascer. Onde vocês vão ficar?

- Aqui! – falaram os dois ao mesmo tempo. “Preciso arranjar uma forma de sair daqui” pensei.

- Crianças, vamos logo! – anunciei.

- Não será preciso hoje Liz! – falou Augusto – Nosso chofer pode leva-las! – droga!

O dia foi passando. Tive de aturar as pessoas passando a mão na minha barriga o tempo todo.

- Chegamos! – anunciou Ferris.

- Como foi a escola? – perguntou Rafael.

- Bem, eu tirei C em matemática. – respondeu.

- Eu tirei A! – falou Natasha toda orgulhosa.

- Eu consegui o papel de Julieta! – disse Amanda.

- Parabéns a todos! – falei.

- Você parabeniza seus filhos por terem feito tão pouco? – Clarisse começou a fazer seus shows dramáticos contra mim – Natasha você deve sempre tirar A, isso deve ser uma coisa corriqueira. Ferris, você precisa estudar mais, C é uma nota péssima! Amanda, não fique toda orgulhosa por ter conseguido o papel de uma garota tola que se mata só porque o namoradinho morreu! – ela se virou para mim – É assim que se devem educar filhos Elizabeth. Aprenda! – essa última parte ela falou bem devagar. Meus filhos ficaram de cabeça baixa, aquilo realmente desanimou eles, mas Natasha logo abriu um sorriso no rosto.

- Bom, eu vou tomar um banho e trocar de roupa, pois tenho um encontro. – anunciou ela.

- Não apareça aqui com outro ator, como da última vez! – falou Erick se referindo a Hunter.

- Ele está na faculdade! – respondeu ela. Arregalei meus olhos e perguntei:

- Ele cursa o que? – “não seja engenharia” pensei.

- Engenharia. – respondeu.

- Deve ser um bom rapaz! – começou Erick – Qual o nome dele? – “Não seja Nicolas” pensei.

- Nicolas. – respondeu ela. Os olhos de Amanda ficaram sérios. Mas, ela não pronunciou uma palavra se quer.

- Se acontecer algo mais sério, - continuou Erick – traga-o pra casa! Não quero filha minha se pegando com um universitário qualquer na rua.

- Ele está certo! – disse Augusto. Assim como Amanda e Erick ele tinha olhos azuis, mas seu cabelo era castanho claro quase loiro. Clarisse era loira, mas seus olhos eram dourados. – Divirta-se!

- E use camisinha! – ordenou Clarisse – Isso serve pra você também Liz.

Pensei: “Liz, mantenha a calma ou você deixará o Erick órfão de mãe.” O Sr. Augusto nunca foi de implicar comigo, diferente da esposa dele. Ele e ela construíram uma grande empresa de corretória de imóveis e matérias de construção. Depois que eles morressem, a empresa seria dividida entre Erick e seus dois irmãos: Ruth e César. Todos moravam nos Estados Unidos, por isso me mudei para cá, quando casei.

- Amanda, você me ajuda com cabelo, figurino e maquiagem? – perguntou Natasha. Amanda fez sim com a cabeça. Eu percebi que ela também gostava de Nicolas, porém, não tinha coragem de se expressar.  As duas subiram pra o segundo andar. Uma hora depois Natasha desceu as escadas usando um vestido rosa bebê de ombro único e uma sapatilha preta. Ela deve ter usado uma prancha para transformar sues cachos perfeitos em liso brilhoso. Sua maquiagem estava impecável.

- Você está lindíssima! – falou meu pai.

- Obrigado! – agradeceu.

- Aonde vocês vão se encontrar? – perguntou Erick.

- Ele vem me buscar aqui em casa! – respondeu. Fiquei desesperada, pois se Erick visse Nicolas iria perceber a semelhança dele com Jonas. Escutei um som de buzina de carro. – Ele chegou!

- Vou conhecê-lo! – disse Erick. Ele se levantou do sofá.

- Espera querido. – comecei. Fiquei atrapalhando a passagem dele. – Deixe que eu vou.

- Por que eu não posso ir? – perguntou levantando uma sobrancelha.

- Você... Deve estar cansado! Você recebeu seus pais, tratou de negócios da empresa, deixe que eu vou.

- Tudo bem. – ele falou desconfiado.

- A deixe ir. A Liz nunca faz nada mesmo! – disse Clarisse.

Eu e Natasha saímos de casa. Vi um carro azul escuro e pequeno. Nicolas estava escorado nele.

- Oi! – falou Natasha.

- E aí? – começou Nicolas – Como vai Liz?

- Posso falar com você um momento? – pedi.

Natasha entrou no carro.

- O que pensa que está fazendo? – perguntei cutucando o ombro dele.

- Ela que me chamou pra sair. E eu não sou louco pra dar um fora numa gata como a sua filha.

- Onde conseguiu o carro?

- Eu estou trabalhando numa lanchonete e o dono é quem administra a pensão. Ele é legal, me emprestou o carro.

- Você não tem medo do Erick te ver? Você é a cara do seu pai.

- Relaxe! É apenas um cinema!

- Desculpe eu estar tão estressada. É que estou tendo de aturar minha sogra, o Erick e os meus enjoos.

- Tudo bem, eu entendo. Agora, tchau se não eu perco a sessão.

Ele entrou no carro e saiu. Fiquei super preocupada. Três horas depois, quando todos já tínhamos jantado e estávamos prontos para dormir, eu estava no meu quarto indo tomar um banho, quando passei perto de uma janela e vi um carro azul estacionando em frente a minha casa. Saí do quarto e desci as escadas. Abri a porta e fui para calçada. Chegando lá, observei Natasha escorada no carro enquanto Nicolas a beijava. Ele estava espremendo minha filha. Comecei a tossir de mentira para chamar atenção, mas eles nem ligaram. Balancei as mãos e nada.

- EI! – gritei. Eles olharam para mim rapidamente com a respiração ofegante. – O que... – eu nem sabia o que dizer!

- O que foi mãe? – perguntou Natasha – Não posso beijar meu namorado?

- Na... Na... – gaguejei – Namo... Namorado?

- Isso mesmo sogrinha! – disse Nicolas.

- Natasha, entre! – ordenei - Eu quero conversar com meu querido genrinho! – ela fez o que eu mandei, mas antes deu um selinho no seu namorado.

- Durma com os anjos querida! – falou alto Nicolas.

- Você é louco? – perguntei estapeando sua nuca. – Pensei que fosse só um cinema!

- Era só um cinema, só que a Natasha estava muito bonita! Ela é linda! Acabou rolando!

- Eu queria poder fazer você rolar ladeira a baixo! Ah, você me lembra seu pai!

- Sou valentão como ele?

- Não, você é gaiato como ele.