Marylin escrita por Juliana Moraes


Capítulo 2
About all my difficult days


Notas iniciais do capítulo

Olá, primeiramente quero agradecer a todos vocês que deixaram um comentário, sobre o primeiro capítulo. Isso é muito importante para mim. Boa leitura (;



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  Eu era apenas uma garotinha de seis anos de idade esperando a ceia de natal quando meus pais foram brutalmente assassinados. As lembranças daquele dia assombravam minha mente todos os dias. 


Na manhã seguinte, os bombeiros me encontraram dormindo ao lado do corpo frio de minha mãe. Eles me tiraram de lá, me colocaram em um dos vários carros estacionados em frente a minha casa, e me levaram para fazer alguns exames. Não exames médicos, mas sim psicológicos. 

Minha tia Janie ficou responsável por mim, já que ela foi a única que aceitou ser minha tutora. Porém, desde o dia em que cheguei em sua casa, em Oxford, ela deixou bem claro que não estava fazendo isso por amor e sim por dinheiro. 

Janie é irmã de minha mãe porém somente por parte de meu avô. Ela limpou o porão de sua casa para que eu pudesse me hospedar, me matriculou em uma boa escola, e sempre supriu minhas necessidades, mas nunca sequer trocava uma palavra comigo a menos que fosse algo de extrema importância, ou algo relacionado ao dinheiro.  Aparentemente, ela ganhava uma boa quantia do banco para cuidar de mim. 

A minha infância foi roubada por aquela cena. Dos meus seis aos meus onze anos de idade, eu era obrigada a “visitar” a terapeuta quatro vezes por semana. Na escola, durante esse mesmo tempo, eu fui parar na diretoria sete vezes sendo expulsa de três escolas. O que eu fiz para isso acontecer? Quando as pessoas da escola descobriram que eu não tinha pai nem mãe eles começaram a me chamar de órfã, começaram a dizer coisas horríveis a respeito deles, pois era isso o que o noticiário gostava de relembrar todos os anos, e eu sem aguentar ouvir aquelas coisas, acabei me rebelando, nas primeiras vezes apenas aumentei o tom de voz e disse palavras que provavelmente crianças daquela idade não poderiam usar, mas como isso não estava adiantando, em um impulso arremessei uma cadeira de madeira em cima de um menino, que gargalhou de mim quando comecei a chorar. Minha segunda expulsão foi quanto empurrei uma garota que me apelidou de “órfãzinha” da escada, ela apenas quebrou a perna e desarrumou sua trança. Minha terceira e última expulsão foi quando eu tinha onze anos, dois garotos acharam um pedaço de jornal com a matéria sobre a morte de meus pais, eles levaram até a escola e grudaram em minha cadeira, rindo de mim logo em seguida, eu acertei um lápis de cor vermelho  no olho de um deles. Após todas essas coisas, minha terapeuta implorou literalmente para que eu me comportasse, pois assim acabaria em um internato. Eu resolvi aceitar o conselho minha terapeuta, senhora Lacey, era a única que se importava comigo. Minhas notas melhoraram, eu acabei virando uma nerd sem coração.  Ainda se ouvia comentários sobre meus pais e sobre mim, é claro, mas eu não ligava, e após o diretor deixar bem claro aos alunos sobre tudo o que eu fiz nas outras escolas, eles pararam de me dirigir a palavra.

O que comentavam sobre meu pai era a mesma história que se lia em jornais, sites, e a mesma história que Janie me contou quando eu tinha treze anos.

– Seus pais eram terroristas. – Ela murmurava com temor em sua voz. – Seu pai deu um golpe nas empresas aéreas em que trabalhava, ele pagou para um rapaz que trabalhava na inspeção dos aviões colocar uma bomba em um dos aviões que estavam indo a Chicago. A bomba explodiria assim que aterrissasse. Ninguém sabe ao certo o porque ele queria fazer isso, mas o que as empresas me informaram era que o dono da empresa e sócio de seu pai estava no avião, e iria fechar as empresas aqui em Londres para montar uma em Chicago, Boston, Los Angeles, e Nova York. 

– Porque ele faria isso? – Perguntei. As lágrimas escorriam pelo meu rosto enquanto eu lia todos os jornais antigos com matérias sobre isso. 

– Com a morte do dono e sócio, seu pai teria a empresa inteira para ele. – Ela tirou os jornais de minha mão e os amaçou jogando-os na lareira acessa. – Acharam algumas anotações nas coisas de seu pai, ele iria mandar um avião para cada cidade onde as empresas se instalariam. 

– Isso não faz sentido. – Me levantei.

– Tudo faz sentido quando o dinheiro está envolvido. – Ela sorriu terrivelmente me deixando sozinha na sala.

Mesmo com tudo o que me diziam e enfatizavam sobre meus pais, eu tinha absoluta certeza de que eles não eram nada do que mencionavam. Eu tentei por muitas vezes ir mais além desse assunto. Quando tinha dezesseis anos me passei por jornalista de um revista famosa aqui de Londres, e fui até as empresas em que meu pai trabalhava, fiz inúmeras perguntas mas é claro que eles andavam com respostas prontas guardada em seu bolso. Eu fiquei totalmente revoltada com as respostas dadas, e acabei gritando com o dono da empresa que me expulsou violentamente.

Após esse dia o tempo foi passando, sem novidades, sem pressa, sem graça. Nada novo aconteceu, e eu era a mesma garota chata dos últimos anos. Eu não tinha amigos, a não ser uma garota estranha que sentava na mesma mesa que eu no almoço, mas nunca nos falamos e eu nem sei o nome dela, então acho que não posso chama-la de amiga. A escola finalmente acabou, e enquanto todos estavam se arrumando para a formatura eu estava deitada em minha cama, de ponta cabeça, com os pés em cima do meu pôster do The Script, grudado com durex na parede desbotada, com Flip, o gato pulguento de minha tia, ao meu lado, comemorando meu aniversario de dezoito anos.

– Não vai mesmo para a formatura? – Cinthia, a empregada da casa, murmurou me assustando.

– Não. – Meu tom de voz era sonolento.

– Não vai sair para comemorar seu aniversario? – Ela se aproximou. Me endireitei sentando na cama.

– Talvez eu saia. – Tentei sorrir.

– É para você. – Ela me entregou uma pequena caixa vermelha. – Espero que goste. – Ela sorriu e me deixou sozinha novamente.

Abri rapidamente a caixa, sorridente pois alguém tinha lembrado do meu aniversario. Dentro dela havia uma pulseira dourada com pedrinhas vermelhas a cobrindo defeituosamente, coloquei em meu braço e fiquei admirando-a.

Fiquei olhando para o meu reflexo no espelho rachado, pele pálida, olhos azuis tão claros que quase chegavam a ser cinza, cabelo preto, eu parecia minha mãe. Antes que as lagrimas escapassem de meus olhos, suspirei fundo e em um impulso me levantei da cama chegando até meu guarda roupa bagunçado. Vesti um jeans azul escuro rasgado, uma camiseta preta que comprei na Forever XXI alguns dias atrás, e  calcei um sapato de salto vermelho, deixei meu cabelo solto e sai de casa sem rumo, e sem horário para voltar. 

Enquanto caminhava entre todas aquelas pessoas, meus olhos procuravam por algum lugar onde eu pudesse me refugiar.

– Ei! – Senti alguém me puxar. – Parece perdida. – Um garoto alto, com óculos e touca preta, sorriu.

– Não estou. – Sorri para ele. – Apenas procurando algum lugar com música para ir.

– Eu sabia que estava procurando algo! – Ele gargalhou. – Nesse momento está tendo uma festa com música e bebidas. O que acha? – Ele me entregou um panfleto.

“ The Ritz Bar!

O melhor bar de Oxford! You never will see other better.

Festa de inauguração com open bar. ”

– Onde é? – Perguntei interessada. 

– Logo ali. – Ele apontou para o bar do outro lado da rua. – Espero que se divirta!

– Você não vem? – Perguntei ironicamente, rindo logo em seguida.

– Mais tarde, talvez. – Ele riu indo atrás de um rapaz, que passava na rua, para poder entregar seus panfletos.

Fui até o bar, paguei a entrada, que não era cara por sinal, e entrei no local. A música estava absurdamente alta, as luzes coloridas que piscavam no meio a escuridão, me deixavam atordoada.  Caminhei entre as pessoas pulando e dançando e cheguei até o bar, me sentei em uma das cadeiras do balcão, e olhei a lista de bebidas, todas com nomes estranhos para mim, já que nunca tinha bebido antes. 

– O que vai querer baby? – O garçom perguntou se apoiando em minha frente.

– Eu não sei. Qual é a melhor? – Perguntei o encarando.

– Novata. Você tem idade para beber?

– Sim, eu tenho. – Sorri para ele, que revirou os olhos.

– Pina colada é a mais pedida.

– Então é essa que eu quero. 

– Saindo uma pina colada! – Ele gritou pegando as coisas para fazer a bebida.

Eu estava realmente me divertindo essa noite. Durante um longo tempo conversei com o barman, que me serviu inúmeras bebidas, todas com aparências e sabores diferentes, algumas vezes, quando a música era realmente boa, eu corria até a pista e dançava ridiculamente. Me enturmei com algumas garotas que pareciam estar drogadas e que diziam coisas sem coesão, elas dançavam, e bebiam como se o fim do mundo estivesse próximo. 

Enquanto dançava até o bar para pegar outra bebida, esbarrei em um garoto, muito bonito por sinal, fazendo toda a bebida de seu copo cair em cima de mim.

– Droga! – Gritei gargalhando em seguida. – Me desculpa. – Olhei assustada para ele. Minhas visão estava arruinada por tanto álcool, então não me pesam para dizer muito sobre ele, a única coisa que posso dizer é que seu cabelo é loiro, e que seus braços eram de uma aparência muito agradável.

.– Você está bem? – Ele perguntou segurando meu braço. – Você se molhou com a bebida.

– Esta tudo bem. – Sorri. – Qual o seu nome? – Perguntei curiosa.

– James. – Ele riu.

– O meu é Marylin. 

– Eu sei... quero dizer não, não sei... é um prazer. – Ele fez uma cara estranha e depois estendeu a mão me cumprimentando. Aposto que ele estava tão bêbado quanto eu.

– Encantada. – O cumprimentei sorrindo.

Senti meu celular vibrar, o tirei do bolso e com muita dificuldade tentei ver o número marcado na tela, mas era impossível ver e ouvir qualquer coisa naquele lugar.

– Foi um prazer, te vejo em breve Marylin. – James sorriu sumindo no meio das pessoas.

Dei passos rápidos e desequilibrados até fora do bar, e atendi a chamada antes que desligassem.

– Marylin? – Uma voz feminina surgiu do outro lado do telefone. – Aqui é do Hospital San Lucas. Queremos lhe informar que sua tia Janie, infelizmente faleceu. 

– Está brincando? – Eu gargalhei me sentando na calçada. – Ela não tem nada. Nunca teve.

– Ela sofreu uma parada cardíaca, e foi achada em sua casa pela empregada.

– Não pode ser. – Coloquei uma das mãos em minha testa me sentindo atordoada.

– Sinto muito pela perda senhorita Marylin. Poderia vir até o hospital para assinar os papeis para a liberação do corpo?

– Sim, em poucos minutos estou ai. – Desliguei o telefone.

Droga! Minha mente gritou. Como isso foi acontecer? Janie nunca teve nada, ela era tão saudável quanto uma salada verde. Bom, pelo menos para mim ela nunca mencionou nada. E não é para tanto, como iria saber que ela tinha problemas de saúde se nem falar comigo ela falava.

Me levantei rápido do chão entrando em um táxi e pedindo para o motorista correr.

Lagrimas percorriam meu rosto violentamente. Eu realmente não sentia nada além de um pouco de gratidão a Janie. Mas mesmo sem ter um relacionamento com ela, que eu gostaria de ter tido assim como eu teria se minha mãe fosse viva, Janie era a única pessoa que me restava, e agora ela também se foi. Eu estava sozinha no mundo, sem rumo, sem noção do que me aconteceria.

Tudo bem, agora eu já era maior de idade e com certeza não me mandariam para um orfanato, ou internato, ou seja lá para onde mandam as crianças órfãs, mas agora me mandariam ser responsável, por mim, pelo dinheiro deixado pelos meus pais, pelo meu destino, e algo dentro de mim gritava desesperado dizendo que eu não conseguiria sozinha. 

Uma mensagem chegou no meu celular despertando-me dos meus pensamentos.

       “ Você não está sozinha. Tudo ficará bem. Eu prometo!

                                      –– Anônimo


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Quanto mais comentário, mais rápido sairá o próximo capítulo. Não se esqueçam de dar uma olhadinha na minha outra história ~> http://fanfiction.com.br/historia/351030/Perpetua/