Marylin escrita por Juliana Moraes


Capítulo 3
Tell me just the true


Notas iniciais do capítulo

Olá! Desculpa pela demora! Espero que gostem. Boa leitura!



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Fiquei olhando a mensagem por algum tempo, tentando desvendar quem é que poderia ter me enviado. Porém não encontrei nenhum suspeito, eu não tinha amigos, não tinha ninguém que realmente se importasse comigo, e agora, eu não tinha ninguém nem, sequer, para me fazer companhia em silêncio.

Cheguei ao hospital para assinar todos os papeis. Eram poucos na verdade.

– Sinto muito pela perda. – Uma mulher loira, com um fraco sorriso no rosto, murmurou, segurando em minha mão.

– Tudo bem. – Suspirei. – Você tem alguma noção de quanto ficará o funeral? – Perguntei, eu não sabia quanto me restava.

– O funeral já está pago. – Ela me mostrou o recibo. – Dinheiro vivo. Pouco depois de Janie falecer.

– Isso é impossível. Ela não tinha ninguém. – Pausei, sentindo uma pequena semelhança entre ela, e eu. – Você sabe quem pagou? – Perguntei, me apoiando no balcão para tentar ver algo.

– Não, desculpe, mas quem pagou manteve sigilo total e não se identificou. De qualquer forma, o funeral está marcado para hoje, dez horas da manhã, no cemitério principal. – Ela me entregou um papel, com todos esses detalhes.

– Tudo bem, obrigada.

Olhei no relógio que marcava três horas da manhã. Nas ruas, não se via nem ouvia nada, isso era uma vantagem de Oxford, se você gostar de andar por ai de madrugada, claro.

Pensei em pegar um taxi até minha casa, mas decidi ir caminhando.

A cada passo uma nova pergunta se formava em minha cabeça, e eu até cheguei a questionar, se era meu destino ficar sozinha. O que eu iria fazer a partir de agora? Provavelmente eu volte para Londres, entre em alguma faculdade de ciências criminais, e quem sabe, até comece uma vida nova, sem lembrar do passado. Como se isso fosse realmente possível.

Cheguei em frente a minha casa, Cinthia me esperava no primeiro degrau da porta de entrada, caminhei lentamente até o portão, me equilibrando no salto, o abri, ouvindo-o ranger. Fiquei parada no mesmo lugar, por alguns segundos, minutos talvez. Senti minhas pernas fraquejarem, meu corpo estava tremulo, e lágrimas começaram a pular dos meus olhos, minhas mãos procuraram apoio no portão imundo, mas foi em vão, me rendi a toda aquela nostalgia que me invadia, caindo no chão aos prantos. Cinthia correu até mim, me envolvendo em um abraço, sentou-se ao meu lado, e me puxou para seu colo. Havia sinais em seu rosto, que indicavam que ela tinha chorado, mas agora, ela parecia forte, ela cantarolava uma canção de ninar, por coincidência a canção que minha mãe cantava para mim antes de me por para dormir, seu tom de voz era baixo, quase um sussurro, nada comparado aos meus gritos, que provavelmente, acordariam a vizinhança inteira.

Facadas por todo o corpo parecia ser menos doloroso no momento.

                                                  ~X~

Meus olhos ardiam, minha cabeça latejava, e eu não queria estar aqui. Vestido preto, o mesmo sapato de salto alto vermelho da noite anterior, cabelo preso em um rabo alto, e óculos escuro para que ninguém encarasse meus olhos inchados, me tornavam a garota perfeita para se olhar e sentir pena. E era por esse motivo que eu não queria estar onde estava. Todas aquelas pessoas ali, no funeral, estavam ali porque sentiram pena, não de Janie, mas de mim. Janie não tinha amigos, outra coisa que tínhamos em comum, e tudo o que ela fazia, além de ir a igreja, era usar e abusar do dinheiro que ganhava, para me dar abrigo e alimentação.

– Sinto muito pela perda Marylin. – O padre Benett colocou a mão em meu ombro, logo após dizer belas palavras sobre Janie. – Se precisar de alguma coisa, pode contar com a igreja.

– Obrigada. – Murmurei, observando o caixão ser posicionado no túmulo. – Obrigada Janie. – Sussurrei, jogando uma rosa branca em cima do caixão, agora sujo de terra.

As poucas pessoas ali, jogaram suas flores logo em seguida. Observei cada um presente. Os vizinhos estavam entediados logo a minha frente, algumas pessoas da igreja, cujo o nome eu não sabia, faziam uma oração em tom baixo, Cinthia estava presente com seu marido e sua pequena filha, Janie não a tratava muito bem por causa do seu tom de pele escura, mas mesmo assim, ela permaneceu todos esses anos trabalhando naquela casa, por mim. Cinthia foi muito educada ao me perguntar se, depois de tudo isso, eu gostaria de morar com ela, mas não seria justo, eu tinha que seguir meu caminho e deixar o dela livre, sem meus problemas para afeta-la.

Meus olhos pararam em alguém que me chamou, e muito, a atenção. Ele usava um terno preto, gravata e sapatos da mesma cor, camisa branca, e óculos escuros de uma marca cara. Seu cabelo loiro, estava perfeitamente arrumado em um topete, suas mãos estavam no bolso da calça, e seu corpo balançava lentamente de um lado para o outro.

O funeral acabou, e todas as pessoas caminhavam em direção a saída do cemitério, mas eu permaneci ali, intacta, encarando o jovem rapaz, que agora, me encarava de volta. Tentei achar alguma pergunta para fazer a ele, mas antes de murmurar qualquer palavra, minha memoria me trouxe flashes da noite passada.

– Eu me lembro de você. – Murmurei, dando um passo em sua direção.

– Marylin. – Ele fez o mesmo. – Que bom revê-la. Aliás sinto muito por sua per...

– Não sinta. – O interrompi. – Eu não me lembro do seu nome. – Admiti.

– James. Eu me chamo James Peter Lannes. – Ele deu mais alguns passos, ficando em minha frente, estendeu o braço, capturou minha mão, deixando um beijo nela. –Encantado, novamente. – Ele tirou o óculos, sorrindo.

James, o rapaz da balada. Ele era alto, sua pele era pálida, seus olhos eram azuis, e combinavam perfeitamente com suas covinhas, e seu cabelo loiro. E essa é a hora que eu confesso que ele é incrivelmente bonito, não é mesmo?

– O que faz aqui? – Perguntei, cruzando os braços.

– Eu estou cuidando de você. – Ele estava sério. Eu gargalhei alto. – Do que está rindo?

– Você fez uma piada, então eu ri para que você não ficasse sem graça. – Dei de ombro. – E então?

– Você não acredita de mim, não é mesmo? – Ele olhou para os lados, como se estivesse fazendo algo escondido.

– E eu deveria acreditar? – Dei um passo, ficando a apenas alguns centímetros dele.

– Sim. – Ele me encarou. – Eu sou um agente da MB, Máfia Britânica, e minha missão é cuidar de você. – Ele murmurou tão rápido, que senti a falta de algumas virgulas no meio das frases. – Você não acredita, não é mesmo?

– E como quer que eu acredite em tanta besteira? – Gargalhei. Ele suspirou fundo, olhando novamente para os lados, de repente, ele agarrou meu braço, e me puxou em direção ao final do cemitério, onde a saída era interditada, por causa das reformas. – Onde está me levando? – Perguntei confusa. – Ei, você está me machucando. – Gritei.

– Desculpa! – Ele parou, soltou meu braço, e me olhou com culpa. – Você precisa vir comigo. Estamos perto.

– Preciso porque? Perto da onde? O que você quer? – Cuspi todas aquelas perguntas.

– Você fala demais! – Ele arregalou os olhos. – Eu posso responder todas as perguntas que você quiser, apenas venha comigo. – Ele segurou minha mão, e continuou a me puxar.

– Como posso confiar em você? – Parei de andar, soltando a mão dele.

– Tudo bem. – Ele soltou um suspiro impaciente, revirou o bolso do terno, tirando de lá um crachá, que ele entregou em minhas mãos. – Eu sou mesmo um agente da máfia britânica, e eu posso te responder todas as suas perguntas, você corre perigo, e eu venho cuidando de você a dois anos.

– Você está cuidando da garota errada. – Entreguei o crachá para ele, minha voz exalava espanto.

– Você é Marylin Hayley Benson, filha de Khloe Daren Benson e Scott Benson, assassinados a doze anos atrás, você tinha seis anos e viu tudo, te encontraram no dia seguinte dormindo ao lado do corpo de sua mãe, sua tia, Janie, ficou com sua guarda, e sua vida toda você ouviu histórias terríveis sobre seus pais. Você foi expulsa de três escolas, após agredir seus colegas. Ah! E você tem um pôster da banda The Script na parede de seu quarto. – Eu o encarava sem reação. – Quer que eu te prove mais alguma coisa?

– Isso é muito estranho. – Eu estava com medo. – Eu não sei o que você quer, mas eu sei que eu quero ir embora. – Respirei fundo, e dei alguns passos em direção a saída certa do cemitério.

– E se eu te disser que sei o porque seus pais foram assassinados. – Ele gritou, me fazendo parar. – Eles não eram nada disso do que a mídia menciona, Marylin. – Me virei, voltando a encara-lo. – Por favor, apenas venha comigo, e eu juro que te explicarei tudo.

Aquelas palavras me convenceram, totalmente, a ir com ele. Eu caminhava ao lado de James, com medo, meu corpo tremia e minhas mãos transpiravam. E se tudo isso não passasse de uma armação? E se tudo isso fosse apenas uma brincadeira de mal gosto? E se a verdade sobre os meus pais, fosse pior do que a mídia mencionava? Eu precisava arriscar, eu precisava saber o que aconteceu, eu precisava obter respostas para todos os porquês que surgiam em minha cabeça. E mesmo que nenhuma pergunta não seja respondida, pelo menos eu tentei, eu tentei pelos meus pais, que podiam ser o que fossem, terroristas ou não, eu iria ama-los do mesmo jeito, para sempre.

Paramos em frente a uma enorme van preta. James olhou para os lados, esperou que dois rapazes passassem, e logo depois bateu duas vezes na porta, que se abriu imediatamente. Entramos, e a porta se fechou rapidamente. Dentro da van havia muitos equipamentos, em um televisor estava a imagem em tempo real de todos os cômodos de minha casa, com exceção do banheiro de meu quarto, dois laptops, vários celulares, muitos papeis, e equipamentos que eu não tinha noção de qual era sua finalidade. Um homem também estava ali, ele se levantou, assim que me viu, ele era alto, pálido, olhos negros, careca, e carregava uma arma de cada lado do corpo.

– Marylin. – O homem me cumprimentou. – Sou Jacob Stewart, trabalho para a MB. – Ele pediu para que eu me sentasse, na única cadeira ali, e assim eu fiz. – Bem, pelas suas expressões você está muito assustada. James adiante a ela um pouco da verdade. Vou dirigir até Campus. – Ele saiu da van, voltando segundos depois assumindo o volante.

A van começou a se movimentar, enquanto James me olhava inquieto.

– Então? – Sussurrei.

– De onde quer que eu comece? – Ele perguntou no mesmo tom de voz que eu.

– Do começo, por favor.

– Seu pai trabalhava para a MB, ele era o investigador principal da máfia. Fazia muitos anos que ele estava investigando as empresas Burning Flight, ele se envolveu inteiramente no caso, ganhou confiança do Dono, virou sócio, e descobriu tudo o que precisava para poder impedir os planos do seu sócio e suspeita, mas ai, o descobriram primeiro, e não chegamos a tempo de ...

– De impedir que meus pais fossem mortos. – Fechei os olhos com força.

– Sinto muito. – Sua voz transmitia culpa. – Tudo o que a mídia menciona sobre seus pais, é na verdade o que o dono da empresa queria que seu pai fosse. Eles cessaram todos os planos por algum tempo, temos medo de que eles retomem os planos. – Ele se ajoelhou em minha frente, segurando nos braços da cadeira. – O que a mídia também não mencionou, é que seu pai não morreu naquele dia.

– O que? Mas... eu vi. – Encarei James, sentindo meus olhos arderem.

– Seu pai foi baleado, é verdade, mas quando a MB chegou ele ainda estava vivo, mas sua mãe não. – Ele fechou os olhos por dois segundos, e abriu-os novamente me fitando.

– Eu não me lembro de meu pai após ele ser baleado. – Deixei lágrimas escaparem com as lembranças. – Apenas de minha mãe.

– A MB o tirou de lá, cuidou dele, e o escondeu durante todos esses anos. – Ele fez uma pausa. – A mídia informou sobre a morte dele, o que foi ótimo para toda a equipe, pois ele não estaria em perigo.

– Porque ele nunca entrou em contato? Ele... ele me deixou sozinha, todos esses anos...

– Ele estava na saída da sua escola, disfarçado, todos os dias, eu tinha dezesseis anos quando o conheci, ele me falou muito de você, ele te via através dessas câmeras – Ele apontou para o televisor, onde minha casa aparecia. – Ele cuidou de você mesmo você não o vendo, e até esteve ao seu lado enquanto dormia por muitas noites...

– Você o conheceu? E onde ele está agora? – Murmurei aos prantos.

– Sim eu o conheci. – Ele fechou os olhos com força. – Ele morreu dois anos atrás, e me pediu para que eu cuidasse de você.

– Como? Porque?

– Ele teve um infarto.

– E porque ele pediu para você cuidar de mim? – Eu soluçava, mas mesmo assim, queria respostas o mais rápido possível.

– Eu estava treinando na máfia faziam dois anos, minha mãe é médica perita de lá, e outro cara estava escalado para ser seu protetor, mas seu pai pediu para que fosse eu. – Ele se levantou, ficando de costas para mim. – Ele achou que seria mais fácil você aceitar tudo isso se fosse eu. Eu não sei direito...

– E minha mãe? – O interrompi.

– Seu pai a amou até o ultimo dia da vida dele. Eu não a conheci, era muito novo quando tudo isso aconteceu. Mas acho que não é isso que você quer saber. – Ele me olhou, preocupado talvez. – Ela dava aulas de química na máfia.

– Ela foi morta injustamente?

– Sim. – Ele suspirou.

– Chegamos. – Jacob gritou.

Então tudo o que me falaram sobre meus pais era mentira. Eu sempre soube que era impossível todas aquelas histórias. Meu pai só estava tentando fazer seu trabalho, salvando o país de um ataque terrorista, e minha mãe, nunca teve nada a ver com a história, era apenas uma professora apaixonada. Eu falei com o cara que matou os meus pais, quando fingi ser uma jornalista e fui até as empresas de meu pai, eu fiquei cara a cara com ele. Uma explosão de sentimentos me dominou, nostalgia, ódio, solidão, e um grande desejo de vingança.

James me acompanhou pelo Campus da MB. Era enorme e tinha muita gente nele. Caminhávamos em direção a uma enorme porta de metal. A nossa esquerda havia um extenso gramado, com uma pista de caminhada, onde pessoas uniformizadas corriam por ela, e um grupo de pessoas lutavam com a supervisão de um professor, logo mais a frente da pista, ao meu lado esquerdo, havia várias salas, aparentemente maiores do que minha casa.

– O que são aquelas salas? – Perguntei a James.

– São salas de aula. – Ele sorriu para mim. – Essa parte do campus é onde preparam os novos agentes. É como se fosse uma universidade.

– E isso tudo em Oxford?

– Estamos em Londres Marylin. – James riu, me deixando espantada.

Afinal, quanto tempo fiquei naquela van?

Passamos pela porta de metal, andamos por um longo corredor, passamos por muita gente trabalhando, igual naqueles filmes da CIA ou do FBI, e finalmente entramos em uma sala. Uma sala onde fotos minhas estavam espalhadas por todos os cantos. Era assustador, para não dizer coisa pior.

James abriu um armário, tirando de lá uma caixa, ele pediu para que eu me sentasse, e colocou a caixa de madeira vernizada, em minha frente.

– Seu pai deixou isso para você, pediu para que eu a entregasse. – Ele me olhava cauteloso. – Mas você só poderá abrir, se aceitar as condições da MB.

– E quais são elas?

– Apenas deixe que eu seja seu protetor.


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Notas finais do capítulo

Gostou? Então deixe seu comentário, quando mais comentários tiver, mais rápido o próximo capítulo sairá. Xoxo - JJ