Acordei com uma leve dor nas costas. O sofá não era nada confortável. Me espreguicei e observei o relógio. Eram cinco para as nove. Ainda lembrava com clareza o tom da voz de Kat na noite anterior. Era até preocupante, mas agora estava um pouco mais tranquilo por ter atendido ao pedido dela.

                Fui até seu quarto e entrei cautelosamente, sem ao menos bater. Não com más intenções, mas apenas não querendo acordar ela repentinamente.  Aproximei-me da cama onde Kat dormia de forma indescritível. Dormia tranquilamente, lembrando até uma Purrloin.

                Sem saber direito o que fazer, toquei delicadamente sua bochecha com a ponta do dedo.

                - Kat... – Falei em um tom baixo. – Está na hora de acordar.

                Não obtive resposta. Repeti o seu nome. Ela abriu os olhos lentamente, ainda sem processar o que estava acontecendo. Parecia não discernir o que era real ou não. Ela me encarou com uma expressão de sono e dúvida, mas conforme seus olhos reluzentes iam se acostumando com a claridade, Kat abriu um sorriso verdadeiro. Era uma alegria contagiante. É até difícil de explicar a grande mistura de sentimentos. A única coisa que sei é que era lindo de se ver.

                Sem jeito, esbocei um sorriso sem jeito falando:

                - Bom dia, Kat. O café da manhã está na mesa.

                Ela não respondeu. Levantou-se e parou alguns centímetros perto de mim. Me pegando completamente de surpresa, Kat me abraçou. Não um abraço rápido ou envergonhado. Um abraço quente e caloroso. Um abraço de obrigado. Retribuí o abraço delicadamente. Pude sentir o coração de Kat bater calmamente, mas o meu estava acelerado. Era como se nossos corações se tocassem e eu pudesse finalmente ver tudo o que ela sentia. Ela queria que eu ficasse porque não havia nada na casa de Kat. Ninguém estava lá por ela e tudo o que ela sempre pode fazer foi se virar sozinha. Aquilo estava completamente errado. Uma necessidade enorme de cuidar de Kat começou a surgir dentro de mim.

                Ela se desvencilhou do abraço e deixou o quarto. A segui logo atrás até a cozinha e percebi que os olhos de Kat estavam brilhando enquanto contemplava a mesa do café perfeitamente arrumada. De fato caprichara. Até flores coloquei para dar um toque mais vivo. Alguns podem até achar isso “afeminado”, mas prefiro ver tudo perfeito quando for para agradar alguém.

                Ela devorou as torradas amanteigadas com voracidade e tomou o suco de laranja natural com a mesma vontade. Parecia realmente satisfeita com tudo aquilo. Assim que ela terminou, sugeri:

                - Acho que temos um dever com todos aqueles Pokemons... o que você acha de voltarmos ao jogo?

                - Estava esperando você falar isso! Busque o GBA, Landro.

                - Sério mesmo que você vai ficar me chamando assim?

                - Para sempre! – Falou com divertimento.

                - Vou buscar o jogo. – Falei enquanto corria para a sala.

                Alguns segundos depois, Kat apareceu atrás de mim. Dessa vez foi Kat quem segurou minha mão para adentrarmos no mundo ainda pouco conhecido.

                Ao invés de acordar diretamente no mundo Pokemon, tive um sonho estranho. Estava imerso em trevas e escuridão, completamente sozinho. Não havia chão, nem nada mais além de mim. Eu ainda era um humano. Uma voz ecoou até o local mais profundo de minha mente.

                “Não volte mais. Ou colocará em risco tudo o que tem.”

                Depois disso, nada mais fez sentido.

                Ao abrir meus olhos, me deparei com os brilhantes de Lifa, cheios de orgulho e admiração.

                - Sobre a nossa aventura... – Lifa começou. – Mestre Ho-Oh estava esperando vocês acordarem.

                Ainda sonolento, me certifiquei de que era o bom Psyduck. Peguei impulso com minha cabeça desproporcional e saltei da cama. A Purrloin já estava me encarando com seus olhos de felino.

                - Demorou, hein? – Disse Kat.

                - O que?

                - Você demorou para acordar. Dormiu mais que eu.

                - Eu tive um pesadelo... algo me disse para não voltar mais para cá. Ou eu iria perder tudo que tinha.

                - O que você acha que pode ter sido?

                Entei entrou apressadamente no quarto. Parecia estar esperando do lado de fora há bastante tempo.

                - Darkrai, mas é claro. – Falou Entei. – E essa é nossa missão. Venham comigo. Temos muito o que fazer. Mestre Ho-Oh irá explicar o resto.

                Sem tempo para conversar, eu e Kat seguimos Entei até o trono do grande pássaro lendário.

                - Então vocês estão finalmente aqui. Como Entei já deve ter falado, devemos ver Darkrai. Ele pode nos dar a resposta de onde Lugia pode estar, com o devido preço, claro. Ele é difícil de ser encontrado, mas há rumores de um torneio Pokemon que permite o vencedor acessar o mapa de localização de Darkrai.

                - Mas isso não é confirmado... – Disse Entei.

                - É nossa única escolha. – Falou Ho-Oh.

                - Então temos que fazer isso, Kat. – Falei.

                Ela concordou com seu olhar felinamente malicioso.

                - Sem mais delongas, então. Lifa virá conosco. Ela os guiará. Articuno, Zapdos, Montres, leve-os até o local da competição.

                As três aves deram o sinal para que Lifa, eu e Kat pudéssemos subir. O trio levantou voo, sendo seguido por Ho-Oh. Os três felinos lendários saltaram da torre e percorreram todo o percurso a pé atrás de nós.

                Passamos por diversas pequenas cidades e vilas e pudemos ver todos os mais variados tipos de Pokemons, mas a cidade do torneio era infinitamente maior. Inúmeras casas de todos os tamanhos se espalhavam por uma área incontável. Até encima de árvores haviam casas, e todas habitadas por várias espécies. Toda a cidade rodeava apenas uma grande maravilha: um enorme coliseu.

                Ele era tão grande que se estendia aos céus, formando uma enorme parede de pedra no centro da cidade. Do céu, podia-se perceber ondas e ondas de Pokemons entrando na majestosa arena.

                Entramos pela abertura circular no meio da arena. Parecia que estávamos atrasados.  Um Pokemon irreconhecível falava em um microfone, ecoando sua voz por todo o ginásio:

                - E finalmente! Os campeões de Ho-Oh deste ano chegaram! Como podemos ver... – Ele parou de falar por alguns instantes ao olhar diretamente a um telão que estava focado em nossa entrada. – Um Psyduck, uma Purrloin e uma Chikorita?

                Toda a animação das criaturas do coliseu cessou. Baixos murmúrios começaram a circular. Em cada canto da arena, um Pokemon lendário estava marcando presença. Em um dos cantos, o Rayquaza permanecia enrolado ao lado de seu campeão, um Regigigas. Do outro lado, Groudon e Kyogre com seus respectivos lutadores, acompanhados de Dialga, Palkia e Giratina. Era uma reunião de gigantes, e nós éramos os pequenos alvos ali.

                O comentarista continuou:

                - Mas estão está tudo certo! Todos os mestres estão aqui, exceto Lugia por seus motivos pessoais! Como tudo está preparado, vamos começar a primeira batalha!

                A multidão vibrou de emoção. O anunciante continuou:

                - Do lado de Groudon, temos um Blaziken como campeão! Contra... Os campeões de Ho-Oh!