POV DE BRUNO
Eu estava pronto pro baile. Vestia uma camisa preta, uma jaqueta branca, calça branca e sapatos brancos. E uma mascara preta.
- Cara, anda – chamou Victor pela milésima vez.
Sai do quarto e o vi vestido de cupido. Comecei a gargalhar.
- Que foi? E porque não está fantasiado? – Victor me perguntou.
- Porque é o baile preto e branco, não a fantasia – eu ria muito.
- Sacanagem vocês dois! – se irritou Victor – mas eu to maneiro.
Eu ri.
- Fala ai cupido – disse Gil chegando e rindo.
- Idiotas – ele disse.

Gil estava todo de preto, e ele seria o DJ essa noite.
- Tá, vamos logo mister cupido – eu disse.
Victor usava uma fantasia de cupido branca, pelo menos, e tinha asas pretas e vermelhas, com plumas. Tava muito engraçado.

 

Eu dirigi e chegamos no baile. Já tinha um bocado de gente. Gil foi pra mesa dele, e eu e Victor ficamos perto das bebidas e comidas.
Todo mundo ria, dançava, e foi quando todos olharam para a porta. Lá tinha a garota mais linda que eu já tinha visto. E ela estava fora do padrão do baile.
Seu vestido era vermelho, destacando seu belo corpo, e seu cabelo caia em cascata por suas costas e seus lábios muito vermelhos destacavam sua pele branquinha.
Junto dela tinham duas garotas, muito bonitas também, mas ninguém superava ela. A morena foi pra perto do DJ, Gil se deu bem, a de vermelho e a loira junto dela vieram para perto.

 

A observei um pouco.
- Cuidado pra baba não escorrer – me disse Victor rindo. 
Eu revirei os olhos. A observei mais um pouco e decidi puxar assunto. Ela não iria gritar porque era eu, ninguém, a não ser Gil e Victor, sabiam quem eu era aquela noite.
Começamos a conversar, só que daí a musica ficou muito alta, e tivemos que gritar para conseguir falar. Decidi a chamar para dançar.
- QUER DANÇAR? – eu fui obrigado a gritar, e parecia que estávamos falando normalmente.
- CLARO! – ela gritou de volta.
Eu a puxei pela mão e a levei para a pista.
- UM MINUTO! – ela gritou. Puxou um mp4 e o levou para o DJ.

 

Ela voltou, e a sua musica começou a tocar. Era um tango meio eletrônico.
Parecia que tínhamos nascido para dançar juntos. Era tudo perfeito.
Uma rodinha se formou em nossa volta. Cochichos começaram imediatamente. Notei o Victor  falando com a loira que tinha vindo junto a dama de vermelho que estava comigo.
Eu a girei e a levantei no ar, ela voltou de forma certa e graciosa para o chão, e continuamos. Eu firmei minhas mãos em sua cintura, e ela caiu para trás, esticando o pé junto, a puxei de volta, nos fazendo ficar frente a frente. Continuamos a dança.
Eu a girei novamente, mas dessa vez, ela se soltou, girando pela “pista” formada. Eu vi umas bolinhas no chão, que a fez se desequilibrar. Mas ela não foi pro chão, consegui a segurar a tempo, fechando o numero com chave de ouro.
Soaram aplausos.

-Você dança muito bem – eu a elogiei.
- Eu quase cai – ela disse.
- Porque tinham umas bolinhas no chão – eu disse.
O relógio soou no alto, vinte para a meia-noite.
Ele me olhou e eu a olhei. Eu tinha que me revelar. Tirei a marcara.
Ela me encarou, mas não parecia alegre, surpresa, e sim assustada. Mais uma badalada.
- Eu... eu tenho que ir – ela falou assustada.
Ela correu pra mesa do Gil, pegou o mp4 e correu.
Ela e as amigas corriam feito loucas pelo salão.
- EI, ESPERA! – eu gritei. Mas ela correu e deixou o mp4 dela pra trás. 

Me abaixei e o juntei. Era branco e tinha umas fadinhas atrás.
Não consegui mais curtir a festa. Eu tinha que saber quem ela era.
- Ei, tudo bem, eu também quero saber quem era a loira linda – falou Victor.
- É só procurar alguém com os cabelos parecidos com o dela. Ou a voz. – eu disse.
- Você o mesmo.
- Não, ela deixou o mp4. Eu já sei o que vou fazer.
- E terá a nossa ajuda – disse Gil chegando perto – a moreninha que veio falar comigo era muito gata.
- Como que “cê” sabe, ela tava de mascara – disse Victor.
- E como você sabe que a loira com você era gata? – Gil revidou.
Eles viviam assim.
- Ou, parem. A festa tá chata, vou embora.
- Claro, a garota mistério foi embora – disse Victor.

- É, bom nome pra eu começar a procurar – eu falei – a garota mistério.
- E como você vai começar? – perguntou Gil.
- Em casa. Vocês vão ficar ou vão ir?
- A festa ta no fim mesmo. Nem de DJ precisam mais – disse Gil – to indo junto.
- Vamos os três – disse Victor.
Fomos pro carro e voltamos para a casa.

POV DE MARIA DE FÁTIMA
Quando a segunda chegou, eu conclui que estava tudo um caus. 
Lia e Juh ficaram o fim de semana todo me incomodado pra eu falar com Bruno, não vou. Eu sou apenas a “empregada” de Andresa, mais nada. Só a garota que quer uma vaga na Academia de Artes.
E elas insistiram muito, mas não. É o melhor. Provavelmente ele nem vai se lembrar de mim hoje. Só sinto falta do meu mp4, na correria toda eu o perdi. Mas eu compro outro.
Voltando ao presente.
Estávamos na aula, inicio, quando os auto falantes da escola são ligados.
“Esse é um anuncio de Bruno Menezes. Aqui quem fala é Victor, o queridinho de todas...”
“Victor” – era a voz do Bruno.

 

“Tá bom. Na verdade nós três temos umas coisinhas pra falar. A minha é: sexta-feira na festa, eu estava vestido de cupido, e dancei com uma garota muito linda, loira, e estava de preto e branco. E bem, eu adoraria saber quem ela é. Passo a palavra para o meu amigo”
Lia me encarava sorrindo. Juh e eu batemos as mãos.
“Aqui é Gil, eu fui o DJ da festa. E lá, eu conversei com uma garota muito linda, que estava de vestido preto de rendas, e era morena, estava de trança. Eu gostaria muito de conversar com ela de novo. E agora, passo para o meu amigo”
Juliana sorriu animada. É, acho que elas se deram bem.
“Bem, aqui é o Bruno. Na festa, eu dancei com uma garota linda, de vermelho. E, quando eu dancei com ela, eu consegui me lembrar o porquê de eu ter começado a dançar. Eu consegui sentir o porque de gostar tanto disso. Você teve que ir embora, saiu correndo e perdeu seu mp4. Eu estou com ele, garota mistério. 
Bem, eu quero muito saber que você é, não só pra te devolver o mp4, mas eu quero muito te conhecer. Eu saberei quem você é quando me disser as quatro musicas favoritas no seu mp4. Estarei te esperando.”

Ai, é hoje que eu morro. Ele tá me procurando. Mas ele não sabe quem sou eu, mas eu era a garota mistério, então ele tá me procurando.Lia e Juh me encararam, com sorrisos iguais. Bati a cabeça na classe.
Na hora do almoço, quando caminhávamos pela cantina com nossas bandejas, vejo o Bruno e seus dois amigos com uma mesa. E uma fila de garotas. 
- Ele não tava brincando – comentou Juh.
- Vai lá, Fadinha – pediu Lia.
- Não. Ele não vai gostar de descobrir que a garota mistério dele é a empregada da Andresa. E eu não quero confusão. Sabem disso.
- Mas Fátima, ele quer saber quem você é!

 

- Mas eu, nesse momento, não posso ser eu. Ele vai cansar quando aquele monte de doidas começarem a se bater pra falar que são elas. 
Elas tentaram argumentar, mas se calaram ao me ver. Eu queria contar, mas seria um conto de fadas, e contos de fadas e felizes pra sempre não existem.
Comi meu lanche quieta na mesa, observando a fila. Victor e Gil tentavam dar conta das histéricas, mas estava difícil. Tinha de tudo lá, até meninos. Que bizarro.
- Ele não vai desistir – falou Lia, que observava Victor.
- Vai falar com ele – eu disse.
- Só se você falar com o Bruno – disse Victor.
- É diferente, e você sabe disso. O meu lado é mais complicado. Vai, se não eu vou ficar mau com isso – fiz uma cara pidona, que elas não resistem.
- AHHH, não faz essa cara – disse Juh tapando os olhos. Loucas.
- Então vão. – bati a mão na mesa.
- Tá bom. E nós vamos te convencer a falar com ele também – disse Lia.
Elas saíram na direção dos meninos e eu sorri.
Fiquei observando pra entender alguma coisa.
Lia falou com Victor, sorrindo abertamente. Eles conversaram um pouco, percebi que Lia descrevia alguma coisa para ele, acho que era a mascara dela, e ele também descrevia acho que a asa de cupido dele. Eles falaram mais alguma coisa, devem ter trocado telefones, Lia deu tchau  e voltou pra mesa.

Agora era Juliana. Ela falava com Gil. Juh começou a descrever algo também, creio que tenha sido seu cabelo, pois ela pegava o próprio e gesticulava com a mão livre. Depois ela provavelmente o fez também mostrar algo que comprove que ele era o DJ dela. Gil fez um tipo de mix com as mãos, e acho que descreveu seu casaco. Falaram mais um pouco, provavelmente trocaram telefones, Juliana beijou a bochecha dele e voltou pra mesa.
- Doeu falar com eles? – perguntei quando se sentaram.
- Não. O Victor é um fofo. Ele me disse que adorou me conhecer – disse Lia sorrindo feliz – e claro, eu o fiz comprovar que era o meu cupido. E tive claro, que provar que eu era a “Lira de mascara” como ele me apelidara. – ela suspirou. Ai, a Lia tá apaixonada.
- O Gil é um lindo. Ele me disse que nunca viu uma garota com tanta atitude. Já que fui eu quem começou falando com ele, e tudo. Disse que eu era muito bonita,– ela suspirou – combinamos de nos falar por telefone hoje. – sorriu.
- Viram? Agora tem praticamente namorados – eu disse.

- Só falta você, porque não fala com ele? – Lia me perguntou.
- Já sabem. Talvez eu mude de ideia quando tudo isso passar, quando a poeira baixar.
Elas suspiraram cansadas.
Três dias se passaram, e o “caso” ainda não tinha saído do esquecimento de ninguém. Principalmente do de Bruno.
Fiquei cansada disso.
- Eu vou contar pra ele – decidi na hora do almoço. Estávamos na lata-velha da Juh comendo lá.
- AI, que tudo! – disse Juh.
- Podemos saber o motivo disso? – Lia me perguntou sorrindo.

- Eu cansei disso. Ele ainda não desistiu! Vou contar que sou eu, que gostei de dançar com ele, pegar meu mp4 de volta, mas vou falar que eu não sirvo pra ele. 
- Como não serve? É a única que nunca fez nada de histeria – comentou Juh.
- Eu sei, mas isso não diz nada, não prova nada. Eu sou apenas Maria de Fátima , a garota simples que é empregada da Andresa. Ele é o astro Bruno Menezes que é rico, e famoso. Seria conto de fadas de mais.
- Seria tão lindo – suspirou Juliana.
- Lindo até de mais – eu disse.
- Pelo menos vai falar com ele? – Lia me perguntou.
- Claro.
- Nem amigos? – Lia perguntou de novo.

- Nem amigos. No máximo conhecidos que dizem oi no corredor da escola. Seria muito conto de fadas até pra Disney – eu disse.
- A Maria tem uma certa coerência, mas não está sendo radical de mais? – opinou Lia.
- Não queremos ilusões aqui – eu disse.
Ficamos em um silêncio chato. Olhei pela janela e o vi.
- Vou lá.
- Boa sorte.
Sai do carro e fui até ele.
- Ei, Bruno – chamei.
Ele e os amigos dele se viraram.

- É...
- Você não é a garota que trabalha pra Andresa? – ele me perguntou.
- Sou, mas isso não vem ao caso. Eu sou a sua garota mistério. Eu...
- Ah, fala sério. A Andresa não desiste nunca! Primeiro a Ana, depois a Clara e agora você. Sei que não tem culpa disso, e não quero ficar bravo com você. Sinto muito, mas a Andresa não vai ter o que quer. Até mais – ele acenou e entrou no carro, dando partida e saindo.
Voltei pra lata-velha da Juliana.
- Eu nem deveria ter ido. Ele achou que eu estava falando por causa da Andresa.
- Ai, vai ver não era pra ser – disse Lia sorrindo solidária.
- Falo. Vamos logo, que temos aula.
Assisti as aulas, mas não prestei atenção nelas. Meu coração estava apertado, acho que fiquei triste porque ele não me encarou nem reconheceu. Mas porque eu to assim? Não era pra estar assim. Que droga!
Quando o sinal bateu, eu simplesmente dei tchau pras meninas e fui pra casa. Acho que um bom banho quente seria bom.