Rapunzel ainda estava jogada no chão. A magia que havia usado nela mesma foi tão poderosa que ela não conseguia se levantar... Nem havia, afinal, motivos para isso. Ela jamais sairia daquela torre...

Planos e planos para fugir foram passando por sua mente, mesmo assim. Um mais cansativo e impossível que o outro. Ela não podia voar como Jack ou Soluço, com Banguela. Se pulasse a janela morreria...

Espere! Não, ela não morreria. Se curaria! Agora sabia que tinha esse poder. Mas parecia impossível se levantar. Ela estava cansada demais e já sentia que o processo de cura estava terminando. É um pouco mais devagar quando é nela mesma...

Pascal lambia a bochecha dela. Mas ela estava cansada até mesmo para rir. O pequeno camaleão estava na cor verde habitual. Ela consegue sorrir um pouco ao pensar no velho amigo. Haviam passado por muita coisa naquele inverno.

Inverno... Como estaria Jack? Ele não têm se empenhado no inverno. As crianças devem estar desacreditadas. E agora? O que ele faria? Ela tentaria ajudar, é claro. Mas conseguiria? Mesmo agora que a mãe e o Bicho Papão estava em posse da adaga mais poderosa do Universo?

Não... Estavam condenados. Gothel se tornara um bruxa incrivelmente poderosa. A ponto de não precisar mais da "Fonte da Juventude" que Rapunzel era.

Um brilho prateado surge no canto da sala. Rapunzel treme de medo e não consegue se esticar para ver o que era. Provavelmente a mãe veio terminar o trabalho, a ver que ela não morrera. Certamente Gothel a aprisionaria num lugar sem janelas, onde passaria a eternidade sem poder fugir...

O desespero começa a tomar conta de Rapunzel. Então uma figura familiar surge olhando para ela com incríveis olhos cinza-azulados.

Jack Frost.

Ele estava bem. Não havia morrido. Nem tudo estava condenado. Uma chama de esperança começar a crescer no peito de Rapunzel.

Ela sorri. Teria sorrido muito mais se não gastasse tanta energia. Jack se abaixa perto dela, as sobrancelhas franzidas de preocupação. Ela levanta mais os olhos e sorri mais um pouco, mostrando que estava bem.

Ele também sorri.

- Merida... Ela tá bem!

A cabeleira ruiva da amiga surge no campo de visão de Rapunzel. Merida sorri ao vê-la respirando. Depois um par de olhos surge. Olhos castanhos de uma linda garotinha. Os cabelos dela também eram castanhos. Ela sorria de forma gentil e encantadora. Um sorriso um tanto familiar.

- Jackie, ela é sua amiga? - a garotinha pergunta.

- É sim, Lucy. - Jack retorna a olhar para Rapunzel - Punz, consegue se mexer?

Rapunzel faz um som em negativa.

Jack passa a mão nos cabelos dela. Estava preocupadíssimo, com os olhos marejados e tudo. Então ele olha para onde havia um ferimento de adaga na barriga de Rapunzel e arregala os olhos.

- Punz! Você parou de sangrar?

Rapunzel reúne todas as forças que pode. Ela sorri e consegue dizer:

- Eu... curo.

Ela não sabia se o sorriso de Jack era de alívio, orgulho ou simplesmente pura felicidade. Mas ele era gigante. Jack põe uma mecha do curto cabelo atrás da orelha.

- Sabia que conseguiria...

Rapunzel começou a sentir mais energia. A força voltava aos poucos. Ela poderia tentar se levantar, mas não tem certeza se conseguiria...

Ela levanta o braço e Jack a ajuda a se suspender. Rapunzel cai num momento, mas na segunda vez consegue se manter de pé. Ela olha para a garotinha que Jack chamou de Lucy, que agora brincava com Pascal.

- Qual é o seu nome? - Rapunzel pergunta a ela.

- Lúcia - ela responde sorridente, mostrando uma janelinha nos dentes de leite.

- É um prazer, Lúcia. Sou Rapunzel. Mas todos estão acostumados a me chamar de Punz.

Ela olha para Jack num tom brincalhão. O Guardião pisca para ela.

Merida se aproxima, a expressão ainda preocupada.

- Frost... Punz, lamento interromper esse momento lindo de vocês... Mas temos que encontrar o Soluço.

Rapunzel franze o cenho, agora séria.

- O Soluço foi capturado?

- Todos nós.

- Como se salvaram?

- Longa história... mas não tão complicada quanto o plano do seu namorado.

Rapunzel olha para Jack e se sente vermelha como um tomate.

- Ele não é...

- Enfim - Merida interrompe - ele vai te explicar a maluquice que inventou.

Jack dita como se soltou da prisão de Breu, salvou a irmã pela segunda vez e como ajudou Merida com os ursos cinzentos. Rapunzel ficou admirada com o desempenho dos dois. E ficou mais surpresa ainda com o plano de Jack.

- Isso vai dar certo? - ela pergunta.

- Tem que dar...

Mas aquilo não era a afirmação nem segurança de que daria. O plano havia falhas... Elas poderiam vir em avalanches quando o momento chegasse.

Todos sabiam disso. Era notável pelo desconforto de Merida depois de Jack contar. Rapunzel sabia que havia acontecido alguma coisa entre ela e o Soluço. Se Merida não temia por ela (ela era Guardiã da Coragem, afinal), temia por ele.

- Tenho uma coisa para contar pra vocês - ela diz.

Merida franze o cenho.

- O que?

- Descobri meu cerne.

Jack sorri.

- Eu já sabia. Havia descoberto no túnel... Guardiã da Cura.

Rapunzel retorna o sorriso, um pouco confusa.

- Como descobriu?

Jack enrubesce, um pouco sem graça. Por que ele ficara desse jeito?

- Eu... hã...

- Você explica depois, Frost - diz Merida preparando o arco - como encontramos Soluço?

- Não sei onde ele está, ruiva. Estava tudo escuro, eu te disse!

Merida suspira, tristonha e preocupada.

- E o que tem lá fora?

- Só neblina - Rapunzel responde.

- Tem que ter alguma coisa...

Merida caminha até a janela. Os olhos estreitos, procurando alguma imagem nítida em meio a toda aquela bruma que Rapunzel vasculhara com os olhos.

- Não vejo nada... - ela murmura consigo mesma - Jack, ajuda aqui!

Jack e Rapunzel vão até a pequena janela. A irmã dele estava tão distraída brincando com Pascal que nem notou a tensão ocorrida com os outros.

Jack suspende o cajado e uma rajada de vento é liberada dele. A partir que o vento gelado corria, a neblina forte se espalhava, revelando uma paisagem de grandes montanhas verdes, tornando-se brancas com o contato da geada de Jack.

Jack franze o cenho quando a paisagem é mostrada.

- A Toca do Coelhão não fica muito longe. É melhor irmos para lá, com a bola de neve...

- Então ele pode nos ajudar a encontrar o Soluço? - pergunta Merida animada.

- Sim... - Jack suspira - Norte conhece técnicas de espionagem que eu nunca tive contato...

- Então vamos!

- Lúcia! Vem... Vou te apresentar outro amigo meu...

Lucy foi correndo com Pascal no ombro e pulou no colo de Jack. Merida e Rapunzel trocaram olhares. As duas sabiam o quão difícil seria para Jack deixa-la novamente.

Jack criou uma bola de neve e a tacou na parede. O Portal se abriu.

Merida foi a primeira a pular dentro dele. Antes de Rapunzel entrar, Jack segura o braço dela e a puxa para perto dele. Ele sussurra uma frase que muda tudo o que ela sentia. Uma frase que também afirmava tudo. Ela teve confiança e entrou com ele no Portal mais corajosa.

Jack Frost havia sussurrado: "Eu te amo".