Incógnita escrita por C W Elliot


Capítulo 2
Absurdos Gloriósos




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Athos se virou para olhar os recém-chegados e arqueou uma sobrancelha, admirado. Não recebiam um semideus 'decente' há meses. Largou a espada no chão e andou em volta dos novatos, analisando-os como se fossem um pedaço de carne que havia achado para o jantar. Eram dois, um garoto e uma garota. Pareciam assustados, porém era visível que eram jovens e saudáveis. Portanto, nas atuais circunstâncias, estava ótimo.
-Como se chamam? - Perguntou ríspido. Tinha que parecer um líder, mas sabia que era difícil manter essa postura o tempo inteiro. A maioria ali não era muito mais nova que ele e realmente não se sentia pronto pra liderar alguma coisa.
-Sou Lyle Baker. - Murmurou a garota, com a voz trêmula. Ela tinha cabelos castanhos claros e usava roupas hippies. Bizarra. O garoto começou a gaguejar e Athos revirou os olhos.
-Se precisa de ajuda para se lembrar do próprio nome não vai ser muito útil aqui, podemos te oferecer como oferenda, o que acha? -Se aproximou vagarosamente do novato, que ia ficando mais vermelho a cada segundo. Lyle se colocou entre os dois antes que o garoto tivesse um ataque cardíaco.
-O nome dele é Brian. Brian Lewis. Só está com um pouco assustado. - Ela engoliu em seco quando Athos abriu um sorriso.
- Bem-vindos ao abrigo dos esquecidos. Sou Athos Brown, líder desse fim de mundo.
Os iniciados foram para o dormitório descansar. Segundo Pack, eles tiveram uma longa viagem, vieram da Bélgica para cá, mandados por um desconhecido, depois de serem atacados por Keres. Elas vinham se tornando um problema bastante comum nos últimos meses. Pareciam inofensivas á primeira vista, e era isso que costumava enganar os semideuses. Eram jovens, bonitas e aparentemente humanas, acabavam chegando ao meio sangue sem maiores problemas. Só tinham que atacar. Simples.
Na verdade, elas eram a razão de tanto desespero em relação á proteção dos semideuses. estavam vuneráveis a tudo e todos, principalmente á elas. Filhas de Nix e Thanatos, as Keres não precisavam de mais que um minuto para matar centena de pessoas. Eram uma tribo enorme, porém haviam cinco principais: Anaplekte, Ahklys, Nosos, Ker e Stygere. E eram elas que Athos mais temia.
***
Todos comiam em volta da mesma fogueira, comendo cachorros-quentes e sentados em bancos de madeira úmidos. Todos estavam cientes do estado precário do lugar: o grande barracão onde os poucos campistas dormiam tinha rachaduras nas paredes, estavam sem renda para suprimentos e os lutadores eram poucos. Tudo ali parecia ter sido esquecido. Esquecimento, aliás , era uma coisa bastante presente na mente de todos ali.
Filhos do desaparecido. Era assim que se sentiam. A maioria não tinha mais que um ou dois irmãos, nem nunca haviam visto seu pai ou mãe imortal. O próprio Athos, que estava se acostumando á ideia de comandar um bando de adolescentes, tinha receio que nunca viesse a conhecer sua mãe. Mas também temia em conhecê-la, afinal não era nada fácil ser filho dela. Engoliu em seco.
Brian se sentou ao lado do mais velho, seus cabelos eram muito claros e seus olhos quase transparentes, era fácil desconfiar de quem era filho, mas Athos prometera a si mesmo que não daria palpites até seu pai ou mãe imortal o reclamar. Da última vez que fizera isso, arrumou briga com todos os seis filhos de Momo. Não foi nada legal.
-Desculpa por hoje á tarde. Eu estava meio assustado com toda essa loucura que estão colocando na minha cabeça. Eu não consigo acreditar. - Athos sorriu verdadeiramente, sabia bem como o garoto estava se sentindo.
-É assim com todo mundo, não se preocupe. Eu demorei três dias para conseguir falar depois que disseram pra mim que minha mãe era um a deusa grega. - O loiro fez uma careta.
-É só que parece tudo tão irreal... E Lyle... Ela sabia. Por que não me contou? - Ele apoia a cabeça com as mãos. O outro o encarou.
-Como assim, Brian? Ela sabia?
-Acho que sim. - Murmurou. - Disse que precisava me contar uma coisa, então apareceu com duas passagens de avião e me obrigou a vir para cá. Disse que era mais seguro aqui. - O moreno apertou os punhos. Sabia muito bem que o abrigo não era nada seguro, as últimas invasões haviam acabado com a proteção mágica. Estavam mais vulneráveis do que nunca.
-Aonde ela está? - Athos sentia a respiração ficar mais rápida. Ela não podia estar no lugar em que ele achava, seria perigoso.
-Disse que foi falar com uma velha amiga. - "Droga, droga, droga..." Repetia mentalmente.
-Você sabe o nome dessa amiga?
-Pítia. - Ele saiu correndo em direção ao barracão menor, na parte sul do pátio frio, deixando um Brian assustado e curioso para trás.
***
Lyle sorria. Isso deixou Athos confuso quando a viu, ao lado da única sacerdotisa da Antiga Grécia ainda viva. Pítia tinha a pele enrugada e cabelos negros e cacheados, seus olhos eram fundos e possuíam olheiras sob a íris amarelada.
Na verdade, ninguém sabia exatamente porque ela vivia ali. Chegara muito antes que todos os abrigados e provavelmente sairia muito depois de todos morrerem, era apenas mais uma alma esquecida pelo mundo, que se agarrava á vida de uma forma mais forte que qualquer outro ser. Sempre esteve sentada sobre um alto banco de madeira, que se equilibrava sobre suas pernas bambas e apodrecidas, acima de um chão rachado, de onde saiam vapores e mais vapores. O habitual manto vermelho e laranja se enrolava em volta do corpo da sacerdotisa e um sorriso banguela nascia em sua boca.
A novata estava a alguns metros de Pítia, encostada em um pilar branco. Mordia uma maçã e estava cercada por fitas alaranjadas e avermelhadas, que voavam ao seu redor. Seus olhos haviam possuído um estranho tom de dourado. Ela acabara de ser reclamada.
-Que bom que chegou, Athos. Estava esperando por você.- A voz áspera e rouca da sacerdotisa ecoou pelo pequeno barracão. - Vejo que já conhece Lyle, Filha de Moros, Deus do Destino, e sua companheira na missão que começará amanhã.


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