Incógnita escrita por C W Elliot


Capítulo 3
Filha da Alma


Notas iniciais do capítulo

Oi amores. É eu sei que fiquei um tempo sem escrever, mas adivinhem? Estou trabalhando. Milagre, não? Enfim, agora sou uma atriz quase profissional u.u e ensaio todos os dias das duas até as nove da noite, então fica puxado :/
Porém arranjei um jeitinho de vocês lerem aqui com mais frequência: O Paulo! Tchã-nã!
Isso mesmo, pobres leitores criativos, um co-autor! Se vocês gostavam da minha escrita, vão gostar bastante da dele também ;) Esse chapter foi iniciado por mim e terminado por ele, comentem aí c:



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Maia estava confusa. Quer dizer, isso era normal para ela.
Era do tipo de garota que gostava da dúvida, do questionamento, de nunca ter absoluta certeza de coisa nenhuma. Mas ela já não sabia que tipo de garota era. Estava com uma incontrolável vontade de gritar, questionar... Saber. Estava cansada de andar ás cegas, em busca de qualquer lugar, com a lua como companhia.Os cabelos cacheados e longos voavam para trás, os olhos se espremiam para tentar enxergar na escuridão e ela já não sentia seus dedos sobre o guidão. O frio estava quase insuportável e ela não sabia mais quanto tempo aguentaria.
Estava evitando pensar no corpo do meu pai no caixão, nas garotas-demônios que tentaram me atacar e no que havia acontecido com Mel. "Não parar, não parar, não parar..." Piscou os olhos mais uma vez e se perguntou se não poderia tomar um café.
A viagem já durava horas e havia apenas árvores e arbustos nos últimos quilômetros. Maia suspirou, exausta. Havia perdido a noção do tempo, apenas seguia, sem plena consciência. Seus olhos estavam quase fechando quando avistou um barracão velho e cinzento, esquecido entre o nada. Suspirou aliviada, foi aí que descansou as mãos e perdeu a direção da moto.

***
A garota sentiu o pulmões arderem ao acordar, sua visão estava embaçada e a cabeça, enfaixada. A cama de campanha sob seu corpo rangeu quando ela tentou se levantar, mas estava fraca demais para qualquer movimento. Os hematomas e cortes espalhados pelos membros ardiam e latejavam, porém Maia havia desmaiado assim que sentiu a primeira batida, mal se lembrava de como haviam surgido.
Um garoto com cabelos ruivos e sardas espalhadas como constelações pelo rosto passou correndo, ela tentou chama-lo, mas sua garganta rouca não permitiu, ele mal reparou em sua presença. Ela sentiu os olhos pesarem novamente e caiu no sono.
Quando acordou, sua visão ainda estava turva, mas não sentia dores. Não tentou levantar dessa vez, e ficou analisando o lugar onde estava. O lugar, era semelhante uma velha enfermaria de hospital, mas precariamente equipada, só haviam camas e velhas cadeiras, alguns recipientes de barro que tinham um líquido que soltava um leve vapor e haviam algumas toalhas espalhadas pelas camas de campanha, uma camada de pó e um cheiro acre pairavam no ar. Não haviam janelas,penas buracos na parede de aço, que permitiam a entrada de uma luz baça.Só se ouvia passos distantes e ecos de vozes.
Ao olhar para o seu corpo, teve uma surpresa.Estava coberto de trapos quentes e úmidos, faixas enroladas em seus joelhos. Alguém tinha cuidado de seus machucados, alguém a resgatou do acidente. Será que foi aquele garoto ruivo? quem era ele? como ela foi parar naquele lugar? As perguntas ainda zumbiam em sua mente quando uma sombra apareceu na porta daquela enfermaria.
- Olá, como se sente? - disse aquela sombra, se aproximando da cama, quando o pouco de luz solar que tinha naquele lugar revelou o rosto daquela sombra,Maia se sentiu, não sabe como, melhor. Era um jovem, em seus 18 anos, mas que tinha uma expressão que demonstrava
experiência, sabedoria, como se ele fosse muitos anos mais velhos.
- Bem, eu acho - respondeu a garota, sua voz já voltara ao normal.
- Você estava bem machucada,foi um acidente feio.Mas nada que o tempo não curou. Você teve sorte de Athos estar fazendo sua ronda e encontrá-la. A propósito meu nome é Édipo, filho de Geras.
- Eu sou Maia, Maia White, filha de Howard White - falou a garota, sem jeito.
O rapaz deu uma longa risada, parecia se divertir com o nome do pai de Maia.
- Algum problema? - ela perguntou, nervosa com o fato dele rir do pai, que há pouco tempo, ela esta velando.
- Não, não.-respondeu ele se recuperando da risada e retomando a expressão austera. – É que não costumamos usar o nome de nossos pais mortais. Mas creio que você ainda não foi reclamada. Bom, você me parece recuperada, vou buscar umas roupas pra você, pode tirar essas compressas e as faixas, já está há 3 dias com elas.
- 3 dias? Eu fiquei desacordada por tanto tempo? e aonde eu estou mesmo? - Ela se surpreendeu.
Já se passaram 3 dias que ela tinha velado o corpo do pai... Pareceram só algumas horas...
3 dias que ela havia encontrado Mel e tudo aquilo tinha acontecido.
- Sim, foram três dias, e você está no único lugar em que gente como nós pode chamar de lar.
Gente como nós? Definitivamente, Maia White não era como ele. Ela não entendia nada do que ele falava, tudo era confuso. Mas ela não queria ficar ali para sempre e então começou a tirar aqueles trapos de seus machucados, eles, os machucados, já estavam quase curados e seus membros estavam funcionando novamente. Édipo  voltou com algumas roupas dobradas em seus braços e entregou para a garota.
- Acho que deve servir - disse o rapaz, olhando das roupas para Maia - Vista-se logo, estarei esperando ali fora para lhe mostrar o nosso abrigo. - e saiu do quarto.
As roupas, não eram bem o estilo de Maia, entretanto, eram melhores que o vestido negro rasgado, sujo de sangue e de terra, e aquele vestido a fazia lembrar do pai, pálido, inerte naquele caixão, com as mãos sobre o peito. Vestiu aqueles jeans pretos surrados, que serviram perfeitamente para ela,ao contrário da camiseta escarlate, que ficou larga nos ombros. Calçou os coturnos que tinham deixado ali e cruzou a porta.
A primeira vista que deve do "Lar para gente como nós" não foi nada bonita, o lugar não era nada bonito. Parecia aquelas cidades abandonadas de filmes de faroeste. Vários barracões feitos de aço, ferro, madeira e outros materiais que ela desconhecia. O ar cheirava a mofo e abandono.
- Aquele lá é o dormitório - falou Édipo apontando para um barracão ligeiramente maior que os outros. Haviam vários furos e rachaduras no que seriam as paredes, e Maia ficou se perguntando como seria aquele dormitório quando chovia - E aquele lá é o refeitório, mas comida não é algo abundante por aqui. - completou o jovem, apontando para uma velha cabana de madeira que parecia movimentada.
 Nem de longe, ela poderia chamar aquele local de lar. Outro rapaz se aproximou dos dois, tinha cabelos castanhos bagunçados, olhos verdes e profundos, traços firmes e arrogantes, ele era bonito.
- E aí Édipo? tudo beleza? - o garoto se dirigiu a Édipo, como se Maia não estivesse ali-
Acabamos de voltar de uma caçada, não conseguimos muita coisa, mas teremos um belo ensopado de

lebre pro almoço.- aquilo não pareceu muito apetitoso para Maia -  e quem essa novata? é aquela garota do acidente? - perguntou o garoto a Édipo, sem olhar diretamente para ela.
- Sim é ela, acabou de sair da enfermaria, até que se recuperou bem. O nome dela é Maia. - respondeu Édipo.
- Maia, é? - Agora o garoto olhou para ela, com uma expressão de interesse - Sou Athos, prazer em conhecer - disse, oferecendo a mão à garota.
Ela aceitou o aperto, e logo se arrependeu de ter feito isso. Um tremor percorreu seu corpo, a mão dela começou a esquentar, ela sentia um ardor, parecia que estava em chamas. Retirou a mão em um movimento brusco,o que pareceu despertar ainda mais o interesse do garoto, e o fogo que queimava dentro dela cessou.
- Já foi reclamada, Maia? - quis saber o garoto, girando em torno dela.
- Como? O que disse? - Ela não tinha escutado o que ela havia dito, ainda estava abalada com aquela sensação estranha, nunca tinha sentido isso.
- Perguntei se você já foi reclamada, Novata. - perguntou novamente o garoto, num tom mais ríspido.
- Não, não fui,hum, reclamada - respondeu ela, falando mentalmente o quão absurdo era essa história de ser reclamada.
- Então, venha, eu vou lhe mostrar o resto do abrigo, Édipo, volte para a enfermaria, o Peter foi ferido na caçada. Aquele idiota enfiou a mão na toca de algum bicho. - ordenou o garoto a Édipo, que imediatamente se virou e entrou na enfermaria.
- Espera, você disse que se chama Athos? - ela sem lembrava desse nome, Mel disse algo sobre Athos.
- Você é surda? Sim, meu nome é Athos - disse o garoto impaciente. - Por quê?
- Mel... ela me disse para falar com você... - a garota estava se lembrando do que Mel tinha dito.
- Mel? Quem é Mel? o que ela quer que você fale pra mim? Vamos no dormitório e você me conta isso melhor- Athos parecia preocupado,então segurou a garota pelo braço e seguiu em direção ao barracão maior. quando chegaram lá, ele se sentou Maia em um dos
muitos beliches de ferro que havia ali e ficou de pé andando de um lado para o outro.
- Então, quem é essa Mel? - perguntou Athos, firme.
Maia contou toda a história do funeral do pai, de quando Mel apareceu, daquelas garotas se jogando contra janela, tentando pegar Maia. Ela ia contando e percebendo o quanto tudo isso foi louco.
- Mel... Mel... - o garoto repetia para si mesmo - Ah sim, aquela deusa inconsequente... e tem algo mais?
- Ela disse pra você consultar alguém chamada Pítia. - completou a garota, recordando esse nome.
- Isso não pode ser bom... o que ela quer... - mais uma vez Athos falava com si mesmo - consultar Pítia?
por que? Não, isso não pode ser bom... Vem, quero te apresentar a famosa Pítia.

***

A "sala", se é que se podia chamar aquilo de sala, de Pítia estava num silêncio absoluto. O chão, cheio de rachaduras e buracos que exalavam um vapor cinzento e fino, e que girava em torno de uma senhora muito velha, a pele enrugada e pálida, davam aquela mulher um ar fantasmagórico, como se ela fosse feita de luz. Os cabelos negros cacheados caíam cortinados sobre os ombros, olhos fundos que demonstravam ainda mais idade do que ela parecia ter.  Parecia cansada. Não percebeu de imediato a aproximação de Athos e Maia.
- Maia White – sibilou Pítia – é um privilégio conhecê-la. O que te traz ao meu humilde recinto? – questionou a velha, sem olhar para Maia.
A garota estava surpresa, com uma senhora que vive numa choupana cheia de rachados no chão, sabia o nome dela? Havia algo muito estranho naquele lugar.
- Ela veio aqui a pedido de "Mel" – Athos fez um sinal de aspas com os dedos – e "Mel" disse que eu deveria consultar você, sacerdotisa.
- Mel? – mais uma ruga surgiu entre as sobrancelhas de Pítia - Oh, sim, Melinoe e suas artimanhas, estive em contato com ela e ela me disse que uma garota chamada Maia viria até mim, e que essa seria a hora de agir. Bom, vejo que a hora realmente chegou. Bem- vinda Srta. White. Presumo que ainda não teve ter sido reclamada.
- Me perdoe interrompê-la, senhora, mas o que é ser Reclamada? – Agora Maia queria acabar com as perguntas que voavam em sua cabeça, ela queria e ia saber o que estava acontecendo.
- É quando seu progenitor divino a reconhece como filha. – respondeu calmamente.
Então, a mãe de Maia, a vagabunda que fugiu e a deixou com o pai, era uma divindade? Uma deusa? Aquilo não fazia sentido para a garota.
Pítia olhou de forma profunda e invasiva para Maia, parecia que ela estava lendo a mente da jovem, como se pudesse ver a dúvida e a estranheza que aquelas palavras causaram na garota.
- Sim, tudo isso parece muito estranho – disse Pítia, confirmando a idéia de que ela parecia ter lido os pensamentos de Maia – Mas é a verdade, e terá que aprender a lidar com isso o mais rápido possível. Temos uma longa batalha pela frente e você muito importante para o futuro dessa guerra que estar por vir. – e com isso fez um breve aceno com a mão e disse umas palavras em uma língua que a menina nunca tinha ouvido, e então, aconteceu.
Várias fitas alaranjadas e vermelhas e uma única e bruxelante fita branca circundaram Maia, as fitas emanavam uma luz que refletia no corpo do garota. Ela foi suspensa no ar, seus cabelos esvoaçavam, um símbolo diferente e desconhecido brilhou a cima de Maia. Ela sentia como se sua alma e não ela, estivesse ali. Era como se sua alma estivesse de certa forma mais viva, mais intensa. E de repente tudo parou, Maia estava vestida com uma simples e cordial manta branca, seu cabelo estava trançado, e uma auréola branca estava sob sua cabeça.
- Ave Maia White – proclamou Pítia – Filha de Psiquê. Personificação da Alma. . Detentora de Beleza Inigualável. Senhora da Mente.


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Notas finais do capítulo

Sugestões ou reclamações? Podem falar com a gente, somos filhos de Atena, mas não queremos guerrear com ninguém ;)



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