Hymn To Love escrita por AprilandDawn


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem do novo capítulo! Enfim os dois interagem bastante, e se conhecem melhor! :)



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Musain Cabaret

21h30

- Ai, me solta! – Éponine levantava sua voz e sacudia seu braço esquerdo, em uma tentativa de Montparnasse larga-la. – Por que me trouxe para fora?

- Preciso te dizer algo muito importante – o rosto de Montparnasse não só encarava o de Éponine mas estava muito próximo do dela, como uma de suas tentativas de amedronta-la.

- Diga... Mas antes, ME SOLTE! – gritou Éponine, finalmente se desvencilhando dele.

- É o seguinte: fiquei sabendo que hoje o Monsieur Casseroux virá aqui especialmente para assistir você. Caso tenha memória fraca ou não saiba, ele é dono do Le Moulin de la Galette. Então, deve estar achando que você tem talento o suficiente para trabalhar com ele.

- É... É mesmo? – os olhos de Éponine brilharam. Nunca o trabalho dela foi observado por alguém da área e, saber que alguém tinha interesse nela lhe deu uma espécie de ânimo.

- Sim. Mas não comemore. Meu recado é bem simples: qualquer convite, disse bem – Montparnasse abaixou o tom de sua voz de tal modo que quase Éponine não o conseguia escutar -  qualquer tipo de convite, você irá negar. Estamos entendidos?

- Por que? E se eu quiser? Eu mereço um lugar melhor que esse aqui!

- Éponine, não tente me contrariar...

- Eu já estou fazendo isso! E quero que você vá para o inferno!

Andando pelas ruas estreitas de Paris, finalmente Enjolras estava perto do Musain Cabaret, com suas cartas que ele logo pretende transformar em notícia, seus papeis para as anotações de cada atribuição, os tópicos que podem se tornar as próximas pautas, enfim, tudo praticamente pronto e organizado. Mas algumas vozes interromperam os seus pensamentos e, bem à frente ele viu: uma moça de vestido escuro, boina e bota, com um homem de roupa social e cartola. Eles estavam gritando e tão próximos um do outro, que Enjolras ficou preocupado e foi se aproximando mais, para tentar entender sobre o que falavam. Logo que chegou mais próximo reconheceu o rosto da garota: era aquela, da Marsellaise. A cantora de rua que tomou o seu tempo e que o provocou há alguns meses atrás.

- Por quanto tempo acha que vai me prender aqui? – falava alto, diminuindo ainda mais a paciência de Montparnasse.

- Não me faça perguntas! Não seja atrevida comigo! Você sabe que quem vai se prejudicar é só você! – gritava, até que com a última frase Éponine paralisou-se.

- Não só você. – completou Montparnasse, dessa vez num tom de voz baixo.

A raiva de Éponine foi crescendo dentro de si, de tal forma que não conseguiu impedir suas lágrimas.

- Eu te imploro... – Éponine se ajoelhou, e segurou os joelhos de Montparnasse, que agora a olhava com uma expressão fria. – Me deixe em paz... Me deixe viver... – as lágrimas e o desespero dela não o impressionavam.

- Que vida? Você não tem vida. E levante, você está sendo patética. – afastou suas pernas dos braços dela e continuou – Está avisada. Se fizer o contrário, já sabe as consequências. – E a deixou sozinha na rua, voltando para o Musain Cabaret.

Éponine não queria ser tão clara assim para Montparnasse, mas naquele momento não conseguiu segurar as suas emoções. E, naquele instante, mal conseguia se levantar. Enjolras observou tudo em um canto, sem que eles percebessem, e sentiu pena daquela menina. Não podia entrar e deixa-la no chão, em prantos. Apesar das primeiras impressões que teve, era claro que algo ali não estava certo, e que ela precisava de ajuda.

- Éponine... Posso ajudar? – se aproximou dela e viu que ainda estava soluçando. Ele ofereceu sua mão e ela pegou, ajudando a se levantar.

- Obrigada, monsieur.

- Não sei se lembra de mim, sou o Enjolras.

- Como ia me esquecer? Se te irritei tanto que você fugiu, da última vez em que nos falamos.

- Olha... Não precisa me chamar de monsieur.

- Está bem. – disse, enxugando com as mãos, as lágrimas que tinham caído.

- Posso saber o que houve? – a expressão de preocupação dele era sincera. Vê-la naquela situação o deixou desconfortável.

Éponine chacoalhou a cabeça, respirou fundo e respondeu:

- Você nunca vai entender.

- Por que?

- Porque é um bourgeois. Mas obrigada por me ajudar a levantar. Já foi o suficiente. – e tentou retirar um sorriso, em meio a seu rosto triste.

Ambos se olharam por alguns segundos e Enjolras tentou tirar um sorriso de si, para tentar reanima-la mas, isso era muito difícil ainda para ele. Ambos seguiram rumo ao Musain Cabaret, que estava ao lado deles, e, ao perceber que um seguia o outro, ambos pararam, e voltaram a se olhar de novo. Sem entender o que um e outro estava fazendo.

- Você vai... Entrar? – Éponine apontou para o lugar.

- Sim... E você? Também? – Enjolras a olhava com incredulidade. Não acreditava que ma

- Bourgeois, eu trabalho aqui! – e deu uma pequena risada.

- Não é possível. – Enjolras sacudiu a cabeça e a olhou com incredulidade.

- Eu é que não acredito. Tantos lugares em Paris para você ir, muito mais prestigiosos que este, você escolheu justo aqui?

- Escute, para o que estou fazendo, é necessário que seja aqui. Eu só lembrei daqui por culpa do Grantaire.

- Sim... – Éponine olhou para o lado, soltou uma risada abafada e completou:

- O destino mais uma vez querendo rir da nossa cara.

- Não acredito nesse tal destino. São apenas coincidências.

- Claro... Você é muito sério para acreditar nesse tipo de coisa.

Ele a encarou sem saber o que responder à ela. Estava quase entrando, quando ela completou:

- Mas pensando bem... Prefiro acreditar em coincidência também. Assim, vamos esgotar todas as chances de nos vermos para os próximos anos da nossa vida... Não é mesmo?

- Sim, Éponine. Você aprende rápido. – deu um leve sorriso de canto.

Os dois olhares se analisavam de novo. Ambos gostavam de afirmar ao outro o quanto era um fardo estes encontros, mas, internamente cada momento desses era desafiante para cada um. Sem excluir o fato de que Enjolras, e apenas ele, sabia o quanto vê-la tão triste o tinha impactado de certa forma. E o quanto a ajuda dele significou para ela, em termos de extinguir um pouco a imagem de arrogante que ele possuía. Depois disso, ambos entraram no Le Musain Cabaret. Éponine foi para seu camarim, e ele arrumou uma mesa, apenas esperando os outros amigos chegarem.

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Já estava quase na hora do show começar, e todos os amis estavam no local, já conversando entre si e escutando as novas recomendações de Enjolras e também Combeferre. Após alguns minutos, o local foi aos poucos ficando mais silêncioso, como num sinal de que já estava para entrar a cantora de todas as noites. Ao perceber a calma dos outros, eles também pararam de conversar de forma a não chamar a atenção. Apenas Enjolras aproveitou para continuar escrevendo. Ela foi anunciada, e logo que o nome Jondrette foi citado Éponine entrou, com um largo sorriso no rosto. Respirou fundo, olhou ao lado para seu amigo pianista e a canção começou.

Pourquoi m'avoir donné rendez-vous sous la pluie,

Petite aux yeux si doux, trésor que j'aime

Tout seul comme un idiot, j'attends et je m'ennuie

Et je me pose aussi plus d'un problème

Quando a voz de Éponine invadiu o salão, Enjolras não resistiu e, num impulso, deixou de escrever e começou a ver e ouvi-la. Seu talento era inegável e seu timbre extremamente forte, fazendo impossível com que a sua presença no palco passe despercebida. Os amis comentavam entre si sobre aquela voz incrível, e dentre eles apenas Grantaire, Jehan e Marius sabiam as letras daquelas músicas.

Éponine, por sua vez, já tinha avistado Monsieur Casseroux em uma das mesas, e por isso naquela noite ela se dedicava além do normal, para tentar impressioná-lo. As horas foram se passando e, nas últimas músicas o grupo de amigos pôde finalmente continuar a escrever e conversar entre si.

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03h00

Metade do público já havia ido embora, inclusive Monsieur Casseroux, que pareceu gostar do show da menina Jondrette, mas que Montparnasse fez questão de distrair e leva-lo embora rapidamente consigo. Éponine ficou ligeiramente triste por não ter tido a oportunidade de conversar com ele, mas pensou que talvez ele não estivesse mesmo interessado em leva-la para seu cabaret, e tentou compensar sua frustração em algumas doses de whisky. Dentre os Amis, sobraram apenas Enjolras e Grantaire. O último encostado com a cabeça na mesa, depois de tantos drinks... E o outro, como sempre escrevendo. Éponine deixou o bar e seguiu em direção à aquela mesa:

- Monsieur, já está bem tarde... Pare de escrever. – interrompeu Enjolras, sentando em uma das cadeiras vazias, de frente à ele. Observou os papeis na mesa e não pode deixar de comentar. – Então são vocês que escrevem o jornal.

- Sim... Mas não conte a ninguém, está bem? – disse, olhando para uma pequena pilha de papeis que tentava arrumar.

- Pode contar comigo. – respondeu, observando o esforço do jovem.

- Então já chegou a ler algum deles? – seu olhar encontrou o de Éponine, tentando esconder um certo ânimo.

- Sim – e depois de alguns segundos completou. - Quem em Paris já não leu?

- Bom saber. – e voltou a arrumar suas coisas, dessa vez colocando dentro da sua bolsa.

- Agora entendi porque veio aqui. E... Me diga: gostou da minha apresentação?

Enjolras demorou algum momento para responder, e fingiu estar distraído na organização da mesa, para ter tempo de pensar.

- Não finja que não ouviu o que eu disse. Vi você me olhando enquanto eu cantava. – e sorriu de canto para ele.

- Difícil não olhar... Você canta um pouco... Alto demais. – completou Enjolras, fechando sua bolsa.

- Seja sincero! Pelo menos uma vez... Eu fui sincera, e disse que já li o jornal. E posso dizer que achei interessante.

- Não pense que sendo gentil comigo, serei gentil de volta com você. – e levantou de sua cadeira, seguindo em direção a porta. Éponine suspirou pesado, e seus nervos voltaram à tona.

- Pois é, eu achei que você poderia ser gentil, mas me enganei. Aquela cena mais cedo foi pura encenação.  – Enjolras continuava seu caminho, com ela o seguindo atrás, e não sabia se respondia de forma mais suave ou esquecia aquela menina e ia embora. Ela tratou de tomar a atitude por ele. O segurou pelo braço, o fazendo ficar de frente para ela.

- Enjolras, quer saber? É tudo mentira o que eu disse! Eu achei o seu jornal uma inutilidade! Une merde!*² - praticamente gritando a ultima expressão, largou o braço dele e passou em sua frente, indo embora à passos largos.

Enjolras continuou andando, mas um misto de raiva pela resposta dela, e uma ponta de arrependimento passaram por sua cabeça. Pensou se aguentaria conviver com aquela presença por mais dias, ou quem sabe meses, em nome do Les Amis de la Patrie. Só não queria assumir para si mesmo que aquele ser lhe intrigava de uma forma que não podia explicar ou entender.

*¹ - Música: Rende-vouz sous la pluie (Jean Sablon)

*² - Uma merda!


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