Hymn To Love escrita por AprilandDawn


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Yay! Desta vez tem uma pequena interação entre Éponine e Montparnasse. Espero que gostem do novo capítulo. :)



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Alguns meses se passaram desde que a distribuição dos jornais à Universidade e por toda Paris havia iniciado. Com o nome Les Amis de la Patrie, todos na cidade já ou haviam lido, ou ouviram falar do jornal que circulava sem a menor menção de seus autores. Esse ponto da questão, as possíveis pessoas inseridas, gerava conversas e debates em todos os lugares. As notícias passavam a ser esperadas pelos cidadãos a cada semana, e dentro da Universidade ficava cada vez mais difícil para aqueles estudantes esconderem as suas atividades.

Um dia, suspeitando da circulação livre destes jornais dentro do local de estudo, Monsieur Lacombe, um senhor de cerca de 70 anos que dá aula aos alunos do curso de Direito, foi verificar com o responsável pelas prensas quais eram as últimas atividades realizadas lá. Ao reconhecer uma pilha dos jornais encostada ao fundo da sala, percebeu que havia uma clara ligação entre as publicações e os estudantes. Após várias perguntas, soube dos alunos envolvidos e determinou que eles estivessem proibidos de voltarem e imprimirem mais edições e que, caso isso acontecesse mais uma vez, os alunos teriam que enfrentar a comissão de reitores para decidir qual seria o destino deles.

Tal fato gerou um impacto em Enjolras, Combeferre e todos os outros envolvidos. O entusiasmo em poder comunicar a população, mesmo que envolvesse outros esforços como passar a madrugada prensando e distribuindo os jornais por Paris, parecia cada vez mais recompensador diante dos efeitos. Enjolras decidiu reunir todos mais uma vez na biblioteca para discutir o que seria feito, só sabia que não podia parar naquele momento.

- As coisas ficaram complicadas, mas não quer dizer que vamos parar. - disse Enjolras para o grupo, que parecia desmotivado perante os últimos acontecimentos.

- Já sabia disso... Mas o que a brilhante mente está planejando agora? - disse Grantaire, que apesar de não ajudar em todos os momentos, sempre fazia o que lhe pediam e algumas vezes chegou a entregar os jornais em bairros próximos de onde mora.

- O Combeferre hoje de manhã me passou as informações de um outro local, clandestino, de onde vamos poder prensar os próximos jornais. Então, neste sentido não temos problema.

- Então o que acontece? - questionou Courfeyrac.

- O ponto é que ainda precisamos nos reunir para dividir as tarefas de entrega, para escrever as notícias e planejar os assuntos que serão tratados. Monsieur Lacombe veio conversar comigo e disse que não quer mais nos ver fazendo reuniões aqui dentro. Então precisamos de algum outro lugar  para discutir. Mas não qualquer lugar.

- O que acham do café Voltaire aqui próximo à Universidade? O ambiente de lá é ótimo, e propício para discutirmos de uma forma mais reservada. - Marius deu a sugestão, o que fez Enjolras virar seus olhos.

- Não podemos escolher um lugar próximo daqui. Ou até podemos, mas não deve ser um lugar no qual as pessoas minimamente nos reconheçam. Vocês não têm noção de que descobrir nossa identidade anda sendo o assunto pela cidade? Não será muito difícil encontrarmos um espião, ou simplesmente uma pessoa curiosa.

- Eu pensei sobre isso desde que fiquei sabendo da descoberta do Monsieur Lacombe, mas sinceramente não tive nenhuma ideia. - acrescentou Combeferre.

- Eu tive. E neste momento, talvez pela primeira vez, acho que precisarei de uma grande ajuda sua, Grantaire.

O estudante, que estava desenhando em um papel, logo percebeu que os olhares foram para ele, e o dele foi para Enjolras, incrédulo com o que acabara de ouvir.

- Minha ajuda?

- Sim. Você comenta algumas vezes daquele Musain Cabaret. Me parece um lugar reservado e, bem, ouvi dizer que é... Bem secreto.

- Infame, você quer dizer. - Joly interrompeu, e completou com um riso.

- Tem certeza que quer se esconder lá, Enjolras? Alguém como você?

- Nós não temos opções.

- Devo alertar que lá não é o lugar mais seguro. Mas digo em outro sentido, e não no de sermos descobertos.

- Pouco me importa. Se nossa identidade não for revelada, melhor. Os problemas que vierem depois disso, nós devemos enfrentar pelo bem da nossa causa. Enfrento o que for necessário, e todos devem fazer o mesmo.

- Está bem, se é assim que você quer. Hoje à noite nós vamos para lá.

- Muito obrigado, Grantaire.

- Como o meu senhor mandar.

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- Como andam as coisas naquela espelunca que você mora?

- Como sempre. Com os trocados que sobram é a única pensão que posso pagar. – disse Éponine, espirando a fumaça de seu cigarro, e tragando um gole de sua taça de vinho. Como faltava ainda uma hora para seu show começar, não viu outro jeito além de gastar seu tempo com Montparnasse, já confortável em sua mesa de sempre, ao lado esquerdo do pequeno palco.

- ‘Ponine, você sabe bem que pode ter algo melhor que aquilo. Muito melhor. – seus olhos sérios encaravam Éponine com certo desprezo e ao mesmo tempo cuidado. Desprezo não por não gostar dela, mas justamente por viver todos os dias com a rejeição dela.

- Não venha com este assunto de novo. Não moro com você nem morta. – e deu uma risada, tomando mais um gole de seu vinho.

- Vamos ver.

- Por que não veio ontem?

- Tive que sair cumprir mais algumas pequenas ordens. Coisas de trabalho.

Éponine deu uma gargalhada. Sempre achava estranho e ao mesmo tempo engraçada a forma como Montparnasse falava das atividades da máfia, como controlar um contrabando ou matar por ordens de superiores. Ela sabia de cada atividade que ele realizava e, ainda, não conseguia sentir medo dele. Talvez por terem crescidos juntos, ela sempre o olhou como um menino, fazendo os mesmos erros de sempre.

- Não acredito como consegue chamar isso de... Trabalho.

- Mas é. O seu não é tão mais digno que o meu.

- Claro. Mas você algum dia vai me deixar colocar os pés para fora daqui? – deu um riso de canto  para ele. Na verdade, queria parecer engraçada, mas o fato de ser praticamente condicionada a cantar lá a incomodava verdadeiramente. Sabia que se quisesse sair teria que enfrentar não só Montparnasse.

- Nem morto. – Montparnasse sorriu ironicamente.

- Tem ido à Montfermeil recentemente?

- Não... Mas fiquei sabendo que seu pai precisa tomar cuidado. Ou vai ser cortado também. De tudo isso.

- Como assim? Cortado como? – os olhos de Éponine cresceram. Ele também realizava algumas atividades do grupo de Montparnasse. Isso a incomodava profundamente, mas sabia que não podia impedir.

- Bem, conseguiram arrancar algumas informações importantes dele. E nosso chefe odeia isso.

- Mas... Montparnasse!  - apesar da forma como seu pai sempre lhe tratou, o pensamento de perdê-lo por conta das atividades da máfia sempre passou pela sua mente e essa possibilidade lhe dava medo. – Você não vai... Você sabe...

- Fique tranquila, mon chérie. Enquanto eu continuar dentro disso, não deixarei acontecer. Nem com seu pai, e nem com você.

Ela deu um suspiro de alívio. Montparnasse significava isso para ela: sufoco e alívio ao mesmo temp. Ele tornava a vida dela um inferno às vezes, mas em outras a deixava mais suportável. Conviver com ele sempre foi viver do pensamento: Ruim com ele, ainda pior sem ele.

- Me diz uma coisa, por que quer me proteger tanto?

- Não é te proteger, ‘Ponine. Até mesmo porque você sabe muito bem como se proteger por conta própria. Mas eu sei que você é uma menina sozinha. Que precisa de alguém que te guie, que esteja ao seu lado. Ou estou mentindo?

- Eu estou sozinha sim, mas não preciso de ninguém para me guiar. Desde sempre me virei como pude. E consegui.

- Conseguiu? Tem certeza?

- Já está quase na minha hora. Até logo.

 Já faltava meia hora para o início de seu show, então Éponine apagou e deixou seu cigarro na mesa, bem como sua taça de vinho e seguiu para sua pequena sala que usava como camarim, para tentar se arrumar e aquecer sua voz. Na verdade, as palavras de Montparnasse a incomodaram mais uma vez e ia só tentar passar algum tempo até chegar o momento da apresentação.

Logo que saiu, um outro grupo entrou. Grantaire, Enjolras, Marius, Courfeyrac e Combeferre entraram no local. Todos, exceto Grantaire, olhavam com curiosidade cada pedaço do lugar pequeno e abafado, de paredes vermelhas e luzes fracas.

- O que acha?

- Não é o lugar perfeito, mas é o que temos. – deu de ombros Enjolras. Realmente não gostava de estar num ambiente como aquele, mas faria o que fosse necessário para manter as atividades do grupo secretas.

- Acredito que ninguém vai nos incomodar. Até mesmo porque eles não querem que a gente os incomode. – deu um riso, e Grantaire continuou – além disso, vai ter um show daqui a pouco, como é de costume, e eu acho que vocês...

- Show? Então é hora de sair.

- Por que, Enjolras? Podíamos ficar pra conhecer melhor o ambiente...

- Não, Courfeyrac. Não temos nada para alinhar por enquanto e não quero ficar aqui sem nada para fazer. Mas acho que podemos nos fixar aqui mesmo. Nos encontramos aqui na próxima noite.

Grantaire deu um suspiro, olhou para Courfeyrac e balançou a cabeça. Era clara a curiosidade e o interesse em ficar por parte dos outros companheiros, mas uma sugestão do Enjolras era praticamente uma ordem. E assim todos saíram. Seguidos pelo olhar desconfiado de Montparnasse, que nunca havia visto aqueles rostos, exceto o de Grantaire.


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