Hymn To Love escrita por AprilandDawn


Capítulo 6
Capítulo 6




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Já havia se passado algumas semanas desde em que aqueles dois mundos se colidiram mais uma vez. Durante estas últimas noites, Éponine sempre conversava com Grantaire após seus shows e até mesmo havia iniciado uma amizade com alguns dos seus amigos como Jehan Prouvaire, Marius e Combeferre. Mas qualquer menção ao Enjolras seu rosto se alterava. Cada vez em que os dois olhares acidentalmente se cruzavam dentro do Musain Cabaret, Éponine fazia questão de esconder seu sorriso e o transformá-lo em algum tipo de careta. E Enjolras por sua vez a retribuía com uma expressão emburrada. Naquela noite, a situação parecia não ser tão diferente no início. Éponine estava em sua pequena sala antes de começar o show, de frente ao espelho simulando alguma espécie de aquecimento. Isso a fazia bem e a dava uma sensação de importância.  Dessa vez Grantaire resolveu entrar e sentar ao seu lado.

- Ainda bem que me deixou ficar aqui. As vezes me canso daquelas conversas tão sérias. – e ambos compartilharam umas risadas.

- Sim. Não sei como suportam conviver com o Enjolras. – disse Éponine, que só de dizer o nome já deixou o seu sorriso de lado, enquanto mexia em seus cabelos.

- Não diga isso. Ele é uma ótima pessoa. – o que fez Éponine lançar um olhar de surpresa para Grantaire.

- Tem certeza do que está dizendo? Só se for com vocês, porque comigo ele sempre vira um arrogante. E estraga tudo.

- É que ele... Bem, como posso dizer... Não tem muito jeito com palavras e, principalmente, mulheres.

- E o que posso fazer? Não tenho culpa.

- Claro que você não tem. Jehan já o aconselhou várias vezes... A conhecer melhor a si mesmo, e se permitir demonstrar um outro lado seu. Menos sério, sabe?

Éponine respirou fundo e completou:

- Melhor mudarmos de assunto, que esse já está me dando indigestão. Aliás, melhor irmos lá para frente que já está na hora!

- Oui madame!

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Clap! Clap! Clap! Bravo!

Merci!

Ao sair do palco, Éponine como sempre seguiu ao bar e, para sua alegria lá estava ela de novo, Cosette, com seus cabelos longos e loiros, seu olhar curioso e alegre ao mesmo tempo. Ao ver sua amiga e irmã de longa data, sorriu e correu para abraça-la.

- Ma belle! Você é uma louca mesmo! – disse, enquanto as duas estavam abraçadas.

- Estava sentindo muita falta da sua voz, como sempre. – e retribuiu com um de seus doces sorrisos.

- Só da minha voz?

- Claro que não, ma soeur! De você também. Mas se pudesse eu viria todos os dias te ver.

- Excuse-moi? – interrompendo a conversa das duas, Grantaire, que estava com Jehan e Marius ao seu lado – 'Ponine, você estava incrível hoje!

- Sua voz passeia neste ambiente, e é como um sopro de força e alegria em meus ouvidos. – completou Jehan, que seguiu para abraça-la também.

- Acalmem-se! – disse, disfarçando seu rosto que ficou ligeiramente vermelho. – Eu não mereço tudo isso. Na verdade só canto porque gosto. 

Enquanto isso, na mesa aos fundos, como sempre os mais concentrados em seus trabalhos eram Enjolras, Combeferre e Courfeyrac. E este último, algumas poucas vezes gostava de sair para aproveitar um pouco o lugar e a banda também. Cada noite em que Grantaire e Jehan saíam para conversar com Éponine, os outros Amis tinham que suportar um Enjolras zangado, e que de minuto em minuto reclamava da irresponsabilidade de seus companheiros. Dessa vez ficou mais bravo ainda, pois estranhamente Marius saiu junto com eles. O desagrado dele de certa forma se duplicou.

- O que há, Enjolras? – perguntou Combeferre, que observava seu amigo escrever algumas poucas palavras, para depois observar de canto a turma à sua frente.

- É impossível me concentrar aqui.

Combeferre voltou aos seus papeis, que revisava, e mais uma vez ouviu o amigo resmungar.

- Não sei porque eles vêm comigo, se não me ajudam. – seu olhar não se retirava da turma que conversava, sorria e se abraçava.

- Calma, Enjolras. Nem temos tantas notícias para repassar hoje. Nós dois podemos te ajudar. – respondeu Courfeyrac.

- Acho que o problema dele é outro. – com o comentário de Combeferre, os dois amigos riram.

- O que? Você fazendo esse tipo de comentário, Combeferre?

- Que tipo de comentário? – apesar da pergunta, ele e Courfeyrac ainda estavam tentando segurar o riso.

Enjolras sacudiu a cabeça em desaprovação, porém, quando voltou o seu olhar ao grupo observou que Grantaire arrastava Éponine para o meio do local e Jehan fazia isso com a outra menina, que ele percebeu se chamar Cosette pela voz de Éponine. Ele resolveu continuar observando enquanto a banda começava a tocar Cheek to Cheek. Na verdade, apenas Marius ficou de canto, sem ir dançar com os outros. Mas mal lhe importava ficar ali os observando, com tanto que aquela nova garota o percebesse, e visse as suas intenções.

Éponine dançava de forma mais desajeitada com Grantaire. Ele a colocava mais próxima, abraçava, depois a afastava e fazia algum tipo de graça que a fazia sorrir. Enquanto isso Jehan era mais habilidoso, pegando Cosette e a girando várias vezes, o que a fazia rir e, principalmente, trazia muitos sorrisos ao Marius também. Algumas vezes, quando Jehan ficava de costas e ela de frente para Marius, seus olhares se cruzavam, e ela lhe dava alguns sorrisos tímidos.

Enquanto isso, Enjolras também observava o momento dos quatro amigos, sem nem perceber aquele seu momento de distração. Dessa vez, não reclamava, ou sequer soltava resmungos. Apenas ficou intrigado com o momento de alegria entre todos ali, vê-los sorrirem e darem pequenos gritinhos a cada passo, a sensação de aproveitar cada segundo daquela dança, era algo que ele raramente tinha visto. Enquanto Combeferre e Courfeyrac continuavam a fazer suas tarefas, Enjolras continuou a observar o grupo dançar. Até que, depois de tanto olhar na direção deles, Grantaire em um de seus giros desajeitados fez Éponine, que estava sorrindo, ficar de frente à Enjolras, o que inevitavelmente fez os dois olhares se cruzarem. Seu sorriso instintivamente o fez sorrir também. Quando percebeu o que havia acabado de fazer, rapidamente voltou às suas expressões habituais. E ela, rapidamente olhou para o lado, de forma a não mostrar para Enjolras que tinha olhado para ele, e para tentar processar o fato de que aquele homem havia lhe dado um sorriso. De fato, ele ficava impressionado como, naquele dia há semanas atrás a tinha visto tão triste. E observá-la tão feliz naquele momento era algo contraditório. Mas de algo ele teve a certeza: que aquele lugar realmente a deixava feliz. Mesmo que por algumas horas. Depois, achou estranho estar pensando  naquela garota. Em algo que aconteceu entre eles semanas atrás. Logo que a música estava acabando, pensou que de fato devia se desculpar para ela. Concluiu que talvez dessa forma ele a tirasse de sua cabeça. Talvez aquilo fosse o peso de sua culpa, pela forma como a tratou da última vez que conversaram.

O tempo foi passando e, ele percebeu que não conseguiria conversar com Éponine normalmente para se desculpar e decidiu que seria mais fácil tomar um gole e outro de vinho para se sentir menos preso e resolver de vez seus problemas com ela e fechar aquele capítulo. Resolveu esperar Combeferre e Courfeyrac terminarem suas revisões, o que aconteceu cerca de uma hora depois. Ao irem embora, Enjolras reservadamente pediu um vinho. Naquele momento, nem Éponine, nem seus amigos poderiam sequer observar ele, já que todos também já haviam bebido demais e estavam absortos em conversas. Ele pensou consigo mesmo, é só dessa vez. Um copo, dois copos, três copos. E já estava bem para falar com ela. Talvez até demais. Agora era só esperar ela ficar um pouco mais livre. Era necessário, repetiu para si mesmo.

Já passava das duas da madrugada e sobraram alguns poucos. Até mesmo Jehan havia deixado o local alguns minutos mais cedo. Quando Éponine, Grantaire, Marius e Cosette se cruzaram com Enjolras perto da saída se surpreenderam ao vê-lo ainda por lá.

- Ainda aqui? – perguntou Grantaire, piscando seus olhos várias vezes, sem saber ao certo se eram efeitos da bebida.

- Sim. Éponine, precisamos conversar. – seu olhar sério encarou o dela.

- Não, não precisamos.

- Vá, dê uma chance. Esse é um grande passo para ele. – Marius cutucou e sussurrou no ouvido de Éponine.

Ela respirou fundo e assentiu com a cabeça. Os outros três estavam quase indo embora quando ela voltou e gritou para Grantaire, o fazendo olhar para trás.

- Fica de olho neles. – e apontou para Marius e Cosette.

- Não se preocupe. Eu irei. – e sorriu, voltando ao seu caminho.

Quando finalmente ficaram sozinhos, ela respirou fundo, e ambos se encararam.

- E então?

- Quero te pedir desculpas. Por tudo que tem acontecido entre nós nas últimas semanas.

Éponine virou os olhos, deu uma risada abafada e fez seu caminho para fora do Cabaret Musain, deixando Enjolras parado de pé. Ao continuar seu caminho na rua, Enjolras logo apareceu atrás dela, a seguindo.

- O que há? Estou te pedindo desculpas! – disse Enjolras em tom de voz levemente alto nas costas dela, enquanto ela subia a rua. – É isso? Não vai me ouvir?

Ela parou de andar e voltou pra ele, seu olhar ligeiramente indicando que havia ultrapassado na bebida. Se aproximou dele e, com sua voz mais alta que o normal lhe respondeu:

- ISSO MESMO! Não adianta nada isso porque amanhã você vai me tratar mal de novo. – vociferou contra Enjolras, e muito dessa atitude veio dos vinhos que havia bebido. – VOCÊ NÃO SENTE NADA! PARECE UM MÁRMORE! DURO E SEM SENTIMENTOS!

O olhar intimidador de Éponine logo congelou, quando Enjolras segurou seus braços e a colocou mais próxima.

- Sou mesmo um mármore? – respondeu baixo Enjolras, que foi de certa forma afetado pelas palavras dela.

- SIM! – gritou mais uma vez na cara dele.

- Acha mesmo que um mármore estaria aqui na sua frente pedindo desculpas? E que este mesmo mármore esperaria a noite toda acabar para vir falar com você, porque a consciência dele estava o perturbando? Estou falando sério, Éponine, eu preciso ouvir uma resposta sua.

Éponine o encarou sem saber o que dizer. Mas estavam tão perto um do outro que ela pode sentir o aroma do vinho perto dos lábios de Enjolras.

- Você bebeu? – ela o olhava sem acreditar no que estava acontecendo.

- Sim. Mas não me leve a mal... Eu precisei. Para criar coragem. Mas, me desculpe. Não sei porque estou aqui praticamente de joelhos para você. Me diga apenas se me perdoa ou não. Se podemos apenas conviver civilizadamente.

Aquelas últimas palavras enfim mostraram um pouco de fraqueza da parte dele. O olhar dele, quase sem defesas, de certa forma aqueceu Éponine, e a fez perceber que Grantaire tinha razão. Ela chegou mais próxima a ele, seus olhares se encararam e ela, lentamente, foi aproximando seus braços dos ombros de Enjolras, até o alcançarem em um abraço. Quando ela finalmente o abraçou, ele não sabia o que fazer. Instintivamente um de seus braços tocaram as costas de Éponine, e ficaram assim por um tempo que ambos não conseguiam definir. Ele nunca havia sido abraçado daquela forma, por uma mulher que não fosse de sua família. A ternura daquele abraço o capturou, apesar dele ter ficado todo o tempo quieto. Antes de terminar o abraço, ela aproveitou e sussurrou no ouvido dele:

- Tudo bem, Enjolras. A bandeira branca está hasteada. Está perdoado. – e se afastou para olhar para ele mais uma vez.

- Merci, Éponine. Precisava ouvir isso. – respirou fundo e olhou para o lado, sem saber muito o que falar em seguida.

- Agradeça o Grantaire. Ele conhece você talvez mais do que você mesmo.

- O que? – Enjolras olhou sem entender o que ela havia dito.

- Nada, nada. Bonsoir, Enjolras. Durma bem. – sorriu para ele enquanto ia se afastando.

- Bonsoir, Éponine. – respondeu Enjolras, deixando um leve sorriso escapar de seu rosto.


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