Almost Human escrita por MsNise


Capítulo 4
Indignada


Notas iniciais do capítulo

E aí? Voltei, acho que acordei meio inspirada haha Queria agradecer quem leu, quem gostou e tudo isso. Bom, acho que é só isso. Acho que esse capítulo ficou melhor que o outro e espero que não se decepcionem com ele. Nos vemos lá embaixo :*



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Seu grito me assusta, embora eu possa ver que ela não está assustada. Está indignada. Muito indignada. O fato de eu namorar uma parasita a faz perceber que o mundo não é mais o mesmo. E subitamente eu fico com raiva dela. Quem ela é para julgar quem eu namoro? Quem ela é para não gostar de Peg? Eu a salvei, ela deveria ser um pouquinho mais grata!

– Mas ela é uma parasita! Ela te enganou! - ela está indignada e mais alguma coisa que eu não consigo identificar. Ela está surpresa? Sim. Assustada? Talvez. Indignada? Com certeza. Mas não é só isso...

– Peg não enganou ninguém - rosno. Começo a me arrepender de ter salvado-a, talvez ela estaria melhor com uma parasita dentro dela e não com uma ao seu lado.

– Enganou sim! Enganou todos vocês! Vocês não conseguem ver? Me deem um motivo para ela estar tão quieta - diz ela. Sua colocação faz todos pararem por um momento. Eu sei por que Peg está quieta; está se sentindo culpada demais para falar qualquer coisa. Jared e Melanie ainda não perceberam e então a encaram, confusos com a ideia de Peg estar silenciosa; ela não cala a boca por um segundo.

– Não vejo nada que eu possa falar - diz Peg, se encolhendo em seu assento.

– Nem em sua própria defesa? - pergunta a humana.

– Em minha defesa? - deve ser a primeira vez que eu escuto Peg subindo um pouco o tom de voz. - Se eu me defendesse você diria que eu estava enganando eles com minhas mentiras e como eu não me defendi você acha que eu os estou enganando do mesmo jeito. Nada que eu possa falar vai mudar sua opinião. Eu conheço isso... A rejeição, a incredulidade. Você não é a primeira a nutrir sentimentos assim por mim e não será a última.

A resposta de Peg desestabilizou a garota, que esperava outra coisa, completamente diferente. Peg me surpreendeu, também. Estou meio orgulhoso dela, de sua atitude.

– Ouvi falar que os parasitas são todos pacíficos - disse a garota, por falta de argumentos.

– Seja uma alma e conviva com humanos por um ano para ver se você não aprende a usar o sarcasmo ou a se irritar.

Sorri com a resposta de Peg. Ela já está conosco faz um ano, já faz parte de nossa família faz um ano. Queria saber o dia que ela entrou nas cavernas para poder contar certo, mas lá não têm calendário nem relógio. Eu sempre procuro pelo relógio quando acordo; um hábito que eu não consegui perder em seis anos. Kyle brigava comigo por causa disso, porque eu sempre acordava e demorava um tempo para me lembrar onde estava.

– Então você é uma alma domesticada?

– Por assim dizer.

A garota faz um som de nojo com boca. Encaro-a.

– Acho que já podemos trocar de lugar Peg - diz Jared na deixa, tentando evitar que a discussão prossiga, talvez.

– Tudo bem - diz Peg enquanto tira o cinto de segurança.

– Não! Vocês podem ter aceitado ela, ela pode ter salvado nossas vidas hoje, mas eu não vou me sentar ao seu lado - disse ela.

Reviro meus olhos diante de sua teimosia.

– Venha por aqui, Peg - convido, me retirando do carro e esperando com a porta aberta enquanto ela contorna o carro. Ela entra primeiro, fazendo a garota se encolher contra a porta, em uma tentativa desesperada de ficar longe dela. Entro no carro em seguida e logo que o faço envolvo Peg com meus braços. Ela se aconchega na curva de meus ombros.

– Por que você não fica no meio? - pergunta-me a menina.

– Porque provavelmente eu sou um pouco grande demais para isso - Peg dá uma risadinha com minha resposta e eu dou a menor e mais discreta risada, somente para ela ouvir.

Ao passo que a garota continua espremida contra a porta, tentando manter a maior distância possível entre ela e Peg.

Jared arranca o carro e segue reto, entrando em uma rua pouco movimentada, indo direto para as cavernas. Para a nossa caverna.

Ficamos um bom tempo em silêncio. Peg abraçada comigo e a garota tentando ficar longe de nós, fingindo desinteresse olhando pela janela. Percebo que não sei seu nome. Franzo meus lábios. Ela é realmente bonita. Tem um rosto meio infantil, mas é bem madura, provavelmente fruto de anos se escondendo da invasão. Fico curioso querendo saber como era sua vida. Seu cabelo é preto como a noite, muito parecido com o meu, na verdade, mas ela mantém ele comprido e ondulado e o meu é mais liso. Seus olhos são azuis também, levemente mais claros que os meus. Ela é de estatura mediana; maior que Peg, porém menor que Melanie. Ela é magra e forte. Ser um humano resistente muda muito as pessoas.

– Vocês dizem que confiam na parasita, apesar de eu não fazê-lo - começou a garota, ainda fingindo desinteresse. - Como começou essa relação?

– Eu posso te contar, se você me contar seu nome - disse Melanie.

– Ah, Susan. Susi, apenas.

Susan. Esse nome não me é estranho, apesar de eu jamais ter conhecido alguém com ele. Susan. Toda vez que penso nisso tem alguma coisa que aparece para mim. Uma lembrança? Tento de novo. Susan, Susan, Susan. Nada. Provavelmente minha cabeça está cansada demais. Tentarei mais tarde. Amanhã talvez. De qualquer forma agora não poderei me concentrar em nada, não com tantas vozes falando.

– Então, eu vivia com Jared e Jamie, que é meu irmão, quando fui capturada e inseriram Peg em mim... - Melanie começou.

– Ui, que nojo! - Susan a interrompeu.

Estava com raiva novamente daquela garota. Ela não podia ficar de boca calada?

– Calma - Peg me sussurrou secretamente, provavelmente por ter sentido que meu corpo se tensionou. - É uma reação comum, você também teve ela quando eu entrei na caverna - Sim, quando ela entrou na caverna. Minha cabeça era tão obtusa, eu não a havia aceitado, quase matei-a. Na época eu pensava que eu a estava perdoando quando percebi que ela era uma boa pessoa, mas isso nunca foi verdade. Foi ela quem me perdoou, quando aceitou meu amor e correspondeu ele.

– Arrependo-me tanto disso - sussurrei.

– Shh. Isso é passado. Estamos aqui agora, não estamos? Todos sentem essa repulsa por mim quando me conhecem. Você sentiu, Jared sentiu, até Melanie sentiu, Jamie também sentiu, embora menos que os outros. Vamos dar algum tempo a ela, tudo bem? - ela me olhava com aqueles olhos prateados incríveis, que eu já tinha odiado. Meio hesitante concordei e em troca ela me deu um selinho. Susan fez um som de nojo. Peg se separou de mim e riu da cara da garota. Sua boca estava enviesada no meio da cara e ela estava mais encostada à porta que o normal. Era engraçado, de fato.

– Posso continuar? - perguntou Melanie, meio aborrecida com a interrupção.

– Pode. Prometo que não vou interrompê-la - Susan disse. Finalmente sua curiosidade superou seu medo.

E então Mel contou. E Peg também. Eu e Jared fazíamos alguns comentários no meio da história. Era incrível ver como Mel e Peg se amavam; ela aprenderam a dividir um corpo, uma consciência. Era engraçado ouvi-las contando sobre as brigas internas, lhe fazia querer ter alguma companhia em sua cabeça. Eventualmente Peg corava, lembrando de tantas coisas que viveu. Susan relaxou aos poucos. Talvez tenha apenas ficado cansada, mas prefiro acreditar que ela baixou a guarda. Ela saiu de sua posição de encolhida contra a porta e se sentou normalmente. Ela até ria das histórias. Aposto que Mel e Peg faziam parecer mais engraçado do que realmente era. Trocávamos os turnos no volante. Uma boa parte eu dirigia, depois Melanie e depois Jared novamente. Até Peg dirigiu em uma parte. Pedimos que Susan também contasse de como havia vivido todos esses anos. Ela falou muito superficialmente, dizendo que descobriu quando uma amiga chegou a ela de uma maneira diferente e com reflexo nos olhos. Ela percebeu que todos usavam isso e começou a fugir, se escondendo. As almas continuaram a agir como humanos, mas os títulos que se atribuíam eram diferentes dos nossos e foi assim que ela percebeu a tacada. Disse que gostava quando contavam histórias de ficção científica a ela e que percebeu quando estava vivendo em um cenário de ficção científica.

Finalmente nos cansamos e relaxamos, apenas esperando o momento que chegaríamos em casa. Susan pediu que lhe contássemos o lugar onde vivíamos, mas concordamos que teria que ser uma surpresa. Ela suspirou derrotada, sem ânimo para teimosias.

Quando me virei para ela vi que me olhava de uma maneira que eu já conhecia, da mesma maneira que me olhou quando eu a contei que namorava Peg, só que sem a indignação. Eu até poderia tentar interpretar agora que estava mais fácil, mas estava cansado demais para isso. Virei-me para a janela e olhei para a noite estrelada.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Comentem, me mandem sugestões, digam no que eu posso melhorar e tal, isso é muito importante pra mim. Me desculpem pelos erros que eu não tenha percebido e até o próximo capítulo :*



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