Almost Human escrita por MsNise


Capítulo 23
Revelando


Notas iniciais do capítulo

Ok, ok, ok. Demorei um pouquinho, né?! É que eu queria que esse capítulo saísse muuuuito bom, portanto o reescrevi algumas milhares de vezes. Enfim, espero que sinceramente que vocês gostem de descobrir o grande objetivo de toda essa história. Eu procurei fazer essa parte o melhor que eu conseguia pra fazê-los amar mais minha história. Ok, eu sei que eu falo demais, agora só quero agradecer à MsAbel que revisou pra mim e vocês que continuam acompanhando.
Até lá embaixo :*



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O reconhecimento tomou conta de todo o meu ser. Virei de modo brusco, querendo encontrar seus olhos. Na verdade, querendo confirmar sua expressão. E eu confirmei. Um pequeno sorriso em seu rosto, seus olhos estreitos e sua cabeça balançando negativamente. Eu sabia que era isso que eu encontraria.

A pedra de sabão que estava em minha mão escorregou e atingiu o chão, levantando poeira púrpura. Minha expressão entregava os meus sentimentos. Lágrimas encharcaram meus olhos, mas não inundaram meu rosto. A lembrança me atingiu com uma pancada brusca e eu fui arrastado para longe, sentindo dor em cada parte de meu corpo.

E então foi isso. Naquele instante, tudo o que havia me escapado por anos, dias e meses estavam perfeitamente visíveis. Senti uma facada em meu peito e pude ver todo o sangue de meu sentimento escorrendo pelo meu corpo e inundando as minhas roupas. Meu sangue inundava todo o lugar. Meu sofrimento era contagioso.

Susan percebeu. Compreendi isso pela expressão que seu rosto carregava: deixou de haver um sorriso em seus lábios para dar lugar a queixo franzido pelo choro que ameaçava vir, seus olhos estreitos se arregalaram e ela parou de balançar a cabeça, ficando completamente paralisada.

Recuei alguns poucos passos cambaleantes, percebendo tudo caindo à minha volta. A caverna desabou e levou embora tudo o que eu havia construído e tudo o que eu acreditava, deixando-me protegido por algumas pedras que haviam formado uma cabana sobre mim. Dividia essa proteção com a única pessoa que havia sobrado e que eu menos queria ver em minha frente: Susan.

– Ian... – ela sussurrou, mas não conseguiu concluir. Seu lábio inferior tremia.

Em um único piscar de olhos tudo estava no lugar novamente. Nenhuma caverna havia sido afetada, ninguém foi levado para outro lugar e eu ainda estava em pé no lugar onde faziam sabão. Entretanto, tudo se modificava dentro de mim. Coisas explodiam, conflagravam-me por dentro, mas havia também o gelo se derretendo e se transformando em água gelada que passeava por minhas veias.

Esqueci-me do mundo. Em meio a várias pessoas, eu só enxergava os olhos azuis de Susan, que carregavam mais da verdade do que eu provavelmente conseguiria descobrir. Desejava saber da verdade rapidamente, contudo não conseguia controlar o meu instinto de fugir e de me esconder; eu não queria ver meu mundo desabar novamente estando em meio a tantas pessoas. Portanto, virei depressa e comecei a correr.

– Ian – ela gritou ao longe, mas não me importei em virar-me para saudá-la. Necessitava, antes de tudo, organizar as minhas ideias e por a minha cabeça novamente nos eixos.

Prossegui a correr entre os túneis escuros da caverna. Felizmente, ninguém atrapalhou minha jornada. Queria somente um tanto de privacidade, para reconstruir minha vida. Ansiava por reconstruir minha caverna desabada, onde destroços me impediam de correr com mais velocidade. Quis escapar do mundo, escondendo-me no único lugar onde não me procurariam: na Sala de Jogos. Mas antes mesmo de chegar lá, ouvi a bola ricocheteando em alguma parede e me obriguei a dar meia volta. Segui então para as portas cinza e vermelhas de meu quarto, visto que não existiam outras opções caso eu não quisesse ser solicitado.

Tirei a porta do lugar com destreza e a coloquei novamente no lugar, apoiando minhas duas mãos contra ela, segurando-me e tentando normalizar minha respiração. Lembranças me atingiram. Bolas de fogo queimaram-me. Mostraram-me minha tolice de não ter percebido ainda. Fizeram-me perceber o quanto a verdade estava incrivelmente perto. Fechei meus olhos e bati a cabeça contra a madeira diversas vezes, agredindo-me mentalmente.

Primeiramente, o começo. O resgate. Eu poderia ter começado a perceber lá.

– Mas ela é uma parasita! Ela te enganou! - ela está indignada e mais alguma coisa que eu não consigo identificar. Ela está surpresa? Sim. Assustada? Talvez. Indignada? Com certeza. Mas não é só isso...

Não consegui identificar no passado, mas a clareza é tão clara que chega a me cegar. Ela estava surpresa, indignada, assustada e preocupada. Uma preocupação adulta e materna estava gritando em seus olhos azuis.

Ela é realmente bonita. Tem um rosto meio infantil, mas é bem madura, provavelmente fruto de anos se escondendo da invasão. Fico curioso querendo saber como era sua vida. Seu cabelo é preto como a noite, muito parecido com o meu, na verdade, mas ela mantém ele comprido e ondulado e o meu é mais liso. Seus olhos são azuis também, levemente mais claros que os meus. Ela é de estatura mediana; maior que Peg, porém menor que Melanie. Ela é magra e forte. Ser um humano resistente muda muito as pessoas.

Havia feito comparações sobre as nossas semelhanças. Semelhanças acentuadas e notáveis. Qualquer um ao longe perceberia a verdade sem nem um pingo de convivência conosco, entretanto eu não consegui enxergar estando a poucos centímetros dela.

Susan. Esse nome não me é estranho, apesar de eu jamais ter conhecido alguém com ele. Susan. Toda vez que penso nisso tem alguma coisa que aparece para mim. Uma lembrança? Tento de novo. Susan, Susan, Susan. Nada. Provavelmente minha cabeça está cansada demais. Tentarei mais tarde. Amanhã talvez. De qualquer forma agora não poderei me concentrar em nada, não com tantas vozes falando.

Amanhã? Que amanhã era esse? Eu não pensei no amanhã daquele dia. Na verdade, nunca mais prestei a devida atenção em seu nome. Agora eu me lembrava. Lembrava-me claramente. Então recuei o filme, para muitos e muitos anos atrás, sabendo da origem deste nome.

– Eu queria ter uma filha – mamãe falou, vendo-me jogar xadrez com Kyle.

– Ugh – resmunguei. – Menina não. Não gosto de meninas.

– Mas imagine que legal? Você teria alguém para proteger.

Kyle mexeu uma peça. De cara percebi que poderia dar xeque-mate, mas não o fiz imediatamente. Olhei com uma expressão séria para minha mãe.

– Proteger pessoas não parece ser um bom serviço – murmurei contrariado.

– Dependendo da proteção, faz você se sentir um herói.

– Herói do tipo Super Homem? – perguntei, com meus olhos brilhando de fascinação.

– Isso. Exatamente.

– Então não deve ser tão ruim.

Ela riu. Não soube dizer do que, mas me satisfez naquela hora. Eu a estava fazendo feliz.

– O nome dela seria Susan, apenas para seu apelido ser Susi – ela sussurrou consigo mesma, enquanto eu dava xeque-mate em Kyle. – Isso, seria Susan.

Provavelmente não me lembrei no momento em que solicitei pela lembrança porque não havia me marcado. Aconteceu em um evento normal do cotidiano e eu não a dei atenção especial alguma. Sequer estava escutando o murmúrio de minha mãe naquele momento de concentração.

Pedimos que Susan também contasse de como havia vivido todos esses anos. Ela falou muito superficialmente, dizendo que descobriu quando uma amiga chegou a ela de uma maneira diferente e com reflexo nos olhos. Ela percebeu que todos usavam isso e começou a fugir, se escondendo. As almas continuaram a agir como humanos, mas os títulos que se atribuíam eram diferentes dos nossos e foi assim que ela percebeu a tacada. Disse que gostava quando contavam histórias de ficção científica a ela e que percebeu quando estava vivendo em um cenário de ficção científica.

Sua história era tão vaga que eu me surpreendo agora por não tê-la questionado mais vezes sobre isso. Obviamente era uma mentira, daquelas que inventamos na hora. Contudo, eu não percebi. Aceitei essa resposta e não quis mais tocar no assunto. Por quê? Provavelmente ela deu a impressão de estar chateada ao falar sobre isso – não que eu me lembre disso claramente agora – e eu não desejei submetê-la a isso novamente.

Quando me virei para ela, vi que me olhava de uma maneira que eu já conhecia, da mesma maneira que me olhou quando eu a contei que namorava Peg, só que sem a indignação. Eu até poderia tentar interpretar agora que estava mais fácil, mas estava cansado demais para isso. Virei-me para a janela e olhei para a noite estrelada.

Aquela mesma impressão de uma preocupação quase materna. E eu continuei sem notá-la.

Faço menção de soltar a minha mão da de Susan para pegar o colchão, mas a mesma continua segurando minha mão, um pouco mais forte agora. Viro-me para olhá-la, mas apenas consigo ver uma sombra. Queria tanto ver sua expressão...

Não era por medo, muito menos por receio. Ela não queria soltar a minha mão para confirmar que eu estava ali com ela e que permaneceria assim por um longo tempo. Embora vagamente, agora eu percebia.

– Por que... Por que você a salvou? Por que você quis tanto salvar essa menina?

– Bom, ela é humana. Isso basta.

– Não, não foi só isso. Ela é uma humana, tudo bem, mas têm vários humanos por aqui e fora daqui também. Você se arriscou, arriscou sua vida, a nossa vida, só para salvá-la.

– Eu... senti que não podia deixá-la ir. Ela é uma criança, não merecia ser capturada por ninguém, e provavelmente a descartariam porque acredito que ela resistiria, como Melanie. E não é verdade que eu arrisquei a vida de todos para salvá-la. Eu lhes deixei uma segunda opção quando mandei Peg trocar de lugar com você. Eu só arrisquei a minha própria vida.

– Você apostoua sua vida nela. Você faria isso com Peg, eu posso entender, você a ama como eu amo Mel, mas Susan era completamente desconhecida. Você agiu quase como se já a amasse. Por melhor que você seja, você não é altruísta como uma alma. Você é apenas você, Ian, e é por isso que eu não entendo por que você se arriscou para salvá-la.

Na época achei estranho o raciocínio de Jared, mas agora eu percebia a magnitude de minha atitude. Penso que talvez eu tenha descoberto no momento em que um par de faróis refletiu nos olhos dela.

Susan assentiu de forma mais pronunciada, talvez por causa de minhas palavras. Ela confiava em mim. Uma batida arrependida de meu coração.

Ela confiava em mim. Ela sempre confiou em mim.

Sua maneira de querer reprimir seus sentimentos a fazia lembrar Kyle.

[...]

Mais uma vez Kyle. Até as palavras que ela usava a faziam se tornar parecida com ele.

As comparações e as semelhanças caminhando juntas e eu ainda não as havia percebido.

– Eles combinam, não é?

– Uhum – murmurei, incomodado com alguma coisa indiscernível.

Peg suspirou novamente, ao passo que eu continuei a encarar o chão de areia tentando descobrir o que tanto me pinicava no fundo de minha alma.

O que me pinicava? O fato da proteção. Ela estava com Jamie e eu não me sentia seguro em relação a ele; eu queria protegê-la.

Agora eu tenho 27 anos. [...] Susan tem 15.

A diferença de idade. Sim, isso sempre foi o ponto decisivo. Doze anos de diferença. Com quantos anos eu fui abandonado? Exatamente, com doze. O quebra-cabeça começa a se encaixar melhor.

Uma vontade estranha de atravessar o local e abraçá-la me tomou, mas eu não o fiz. Eu entendia que o clima entre nós ainda não era um dos melhores, mas essa era a minha chance pra provar que eu estava mudando. Que eu estava aceitando a condição de convivência com ela. Que eu estava começando a me orgulhar de minha atitude. Que eu estava começando, sinceramente, a gostar dela.

– Susi, eu não sei... – começou Jared, mas sua frase não se fez ouvir, pois a minha a sobrepôs.

– Você quer de verdade? Você tem certeza?

Ela me olhou de uma maneira estranha. Especulativa, mas ainda assim cheia de certeza. Ela me olhou de uma forma que indicava que ela também estava começando a me compreender. Ou começando a compreender que para tudo o que eu faço tem um motivo. Olhava-me de um jeito terno, meigo. Puxava minha memória para algum lado, mas eu não conseguia identificar qual.

Era a expressão de minha mãe em um rosto mais novo e determinado. Eu via a minha mãe nela.

– Tudo bem com você? – sua voz parece quase materna. Ela parece preocupada de verdade.

Ela se preocupava comigo de verdade, desde o momento de nosso primeiro encontro. Ela sempre se importou comigo e com o que eu fazia, e eu ainda não havia notado-a decentemente.

– Culpado pelo que? Por um crime que você não cometeu? – ela parecia saber mais sobre mim do que eu imaginava. A convicção de sua fala me deixou confuso e curioso; até que ponto ela me conhece? Ela deu a impressão de saber exatamente sobre o que eu estava falando.

Ela conhecia a minha culpa. Tinha conhecimento completo sobre tudo o que eu sentia e sabia sobre o que falava.

Como Susi corria muito rápido, ela tocou a bola com tanta força que ela chegou a levantar voo. Eu não alcançaria com o meu pé, então corri para pegar embalo e pulei, acertando a bola com a minha cabeça.

O último gol foi feito.

[...]

– Nunca, nuncadeixe esses dois jogarem no mesmo time novamente – disse Mel de uma maneira engraçada. – É a mesma burrice que deixar Ian e Kyle juntos no futebol.

A alusão entre mim e Susi e entre mim e Kyle me deixou surpreso. Alguma coisa se acendeu dentro de mim e eu não soube reconhecê-la. Do outro lado do campo, Susi me analisava minuciosamente.

As pistas pareciam eternas. Esfregavam-me à cara de que a verdade estava sempre por perto, quase palpável. Eu só precisava esticar um pouco minha mão.

– Eu te amo – sua voz estava alta, clara e cheia de convicção. Pensei que era ruim o bastante ouvi-la falando que estava apaixonada por ele, mas ouvir que ela o amava era um milhão de vezes pior. Algo mexeu mais forte dentro de mim. Uma percepção. Uma dor.

E então eu entendi o que eu estava sentindo e fiquei mais confuso ainda. Só conseguia pensar: por que ela não está falando para mim que me ama?

Eu não sentia realmente ciúme dela, mas era próximo a isso. Era como se eu quisesse tirá-la de perto dele para agir como o Super Homem que minha mãe havia dito que eu seria. Eu queria que ela dissesse que me amava.

E a última peça:

– Ai, Ian – diz, ainda com vestígios de sua risada. – E você ainda se irrita. Até parece que não conhece seu próprio irmão.

Meu coração se dilacerou. Explodiu em um milhão de pedacinhos. Espatifou-se contra a parede da caverna. Em meus olhos as lágrimas apareceram sorrateiras. O desespero agora também era meu e me cortava por dentro. Senti o gosto do sangue amargo em minha boca.

Estava revivendo todo o passado, ressentindo toda a culpa e abandonando toda a felicidade. Porque quando se tratava de Susan não havia felicidade, porque ela era também o meu passado, e no meu passado distante havia somente a melancolia e a dor.

A verdade estava em minha frente, e mesmo desse jeito eu não consegui enxergá-la. Talvez eu simplesmente não quisesse enxergá-la. Fechei meus olhos e deixei que as lágrimas fizessem um rastro de fogo no meu rosto.

O que eu mais preciso nesse momento é a história na íntegra. Embora não consiga decifrá-la por completo, sei exatamente quem Susi é e qual papel cumpre nessa história. É ridiculamente óbvio.

Susan é minha irmã.


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Notas finais do capítulo

Quero muitos reviews e opiniões, hein! Contem-me: esperavam por isso? Deixei muito óbvio durante a história? Ou foi surpreendente? Quero muuuuuitos reviews, gente! Enfim, não me abandonem por demora quando eu prometo que vai ser rápido pra postar e essas coisas e não se esqueçam: essa história ainda não acabou! Muita água ainda vai rolar por baixo da ponte. Até o próximo capítulo :*



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